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    Personagens Desistentes

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    Mensagem por Vinah Qui Ago 06, 2015 3:03 am

    Uma figura distorcida pela nevasca que caía naquele dia caminhava com dificuldade. A neve fofa que forrava o chão fazia com que seus passos se tornassem lentos e desajeitados. Sua vestimenta era apenas um pano preto com sinais de um desgaste avançado, provocando no homem espasmos de frio ao longo do caminho. Se alguém estivesse vendo-o passar por aquela trilha - o que era improvável, ninguém seria louco o suficiente para arriscar sua vida diante daquele tempo; caso houvesse alguém disposto a tal feito, certamente não o faria em um lugar inóspito como aquele -, acharia que era um homem solitário que caminhava em seus últimos momentos de vida, mas se observasse lentamente a situação, perceberia que o homem segurava uma espada longa com mãos firmes, como se aquilo lhe emprestasse mais alguns segundos de vida.

    Delfir Hornwood sentiu uma onda de dor percorrer a sua perna quando tropeçou em algo duro escondido sob a camada avantajada de neve. A dor serviu como um estimulante, tornando seus pensamentos fluídos novamente. Era difícil ter noção do tempo em meio a uma nevasca como aquela, mas ao que tudo indicava a noite logo chegaria, trazendo um frio que nem mesmo um nortenho como ele suportaria sem o calor de um abrigo para lhe aquecer. Com a mente desperta, Delfir analisou a situação.

    Há dois dias Qhorim Meia-Mão havia organizado uma pequena patrulha para reconhecimento da região, uma área que englobava o início da Garganta. Era uma tarefa rotineira, de modo que apenas cinco homens foram designados para explorar o local, onde deveriam retornar a Torre Sombria em apenas um dia e meio. Qhorin Meia-Mão ficara com os dois novatos é claro, pois a patrulha não poderia se dar ao luxo de perder homens em seus primeiros meses de patrulha. Sobrara então para Delfir e Kiran Tavyne a missão de se infiltrar perto da entrada da Garganta. O local tinha um solo rochoso, mas a nevasca havia transformado tudo em um manto branco e mortífero. Seja como for, Kiran havia sumido na manhã daquele dia.

    Delfir Hornwood havia percebido o sumiço do patrulheiro assim que acordou, tendo não só esse fato como surpresa, mas também a presença da neve em abundância. Uma forte nevasca havia se iniciado durante a noite. Delfir ainda podia ouvir as palavras que Qhorin Meia-Mão havia dito quando estavam em fase de organização da patrulha.

    "Você não acha estranho que os selvagens tenham sumido dessa maneira? A Garganta parece um terreno morto agora, mas ambos sabemos que os selvagens por lá eram frequentes. Capturamos cerca de sete selvagens nos meses anteriores. E agora? Não conseguimos ver nem um homem sequer. Nós temos que investigar isso, ao menos fazer um reconhecimento discreto da região novamente. O tempo vai estar firme, não creio que irá fazer muito frio. Temos uma boa oportunidade aqui."

    Qhorin Meia-Mão era um dos patrulheiros que tinham mais experiência, mas mesmo assim havia errado. A neve caía em grandes flocos, transformando a paisagem parada em sombras dançantes e distorcidas. Qhorin tambem havia dito para que se encontrassem perto do Guadaleite, onde o primeiro a chegar esperaria o outro. Lá havia uma casa abandonada, mas que era frequentemente usada pelos patrulheiros de reconhecimento e por alguns selvagens ocasionais, rendendo assim uma noite repleta de tensão e adrenalina. Quando Delfir olhou para ver no que tinha tropeçado, percebeu que se tratava de algo metálico. Era um escudo, sendo prontamente reconhecido como o escudo de Kiran Tavyne, pois havia uma fita verde desbotada amarrada na empunhadura, algo que Kiran atribuía como um objeto da sorte.

    Kiran Tavyne era um homem alto e forte. Seus braços eram musculosos e sua constituição física era impressionante, o que acabou lhe rendendo a posição de patrulheiro, mas tendo um foco na sua ocupação em derrubar as árvores da Floresta Assombrada que estava próxima demais a muralha. De certa forma, era um patrulheiro experiente. Ele fora treinado pelo próprio Delfir, assimilando uma grande parte de conteúdo que o experiente patrulheiro exibia. Delfir e Kiran possuíam uma ligação forte se analisada em termos da Muralha, compartilhando muitas viagens de reconhecimento pela região.

    Alguns segundos após esse momento, Delfir ouviu algo se movimentando a sua frente. O som era abafado pelo gemido incessante do vento, mas Delfir era um veterano, de modo que acabara concluindo o certo. Era sim o som de algo se movimentando, um som irregular e débil em meio à paisagem. Havia sombras dançantes por todos os lados, a neve parecia ganhar vida por causa do vento, vários montantes significativos de neve haviam se acumulado em cima das rochas pontudas, projetando-se como grandes fantasmas naquele lugar. O vento estava frio, mas de repente Delfir sentiu uma nova rajada de um vento excruciante. A sua frente uma sombra se formou aos poucos, ganhando um contorno grotesco de um homem. Delfir Hornwood nunca havia sentido um frio tão intenso assim.
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    Mensagem por Escaravelho Sex Ago 07, 2015 2:07 am

    Um, dois, três... Delfir mentalmente contava cada um de seus passos, e, sempre que não conseguia retirar seus pés afundados no solo nevoso para dar um novo sem que isso o desequilibrasse, inclinava-se para frente e se apoiava na espada longa firmada solo a frente, segurada com suas duas mãos e que lhe servia como uma espécie de bengala. E, claro, após recuperar o equilíbrio, também recomeçava a contagem... Certa vez, chegara até vinte e cinco. Mas isso já parecia fazer tanto tempo... Parecia fazer até mesmo anos, mas qual fora o último valor que alcançou mesmo? Não importava; era irrelevante. Assim como a própria contagem, a propósito. Mas não é que tivesse muito mais no que se concentrar.

    Sim, poderia pensar em como o aparente bom tempo de muito atrás enganara até Qhorim, ou no misterioso sumiço dos selvagens, ou no maldito lugar em que se metera seu companheiro de patrulha, Kiran Tavyne – que parecia ter sido simplesmente abduzido por aquela mesma ventania gelada que agora fustigava-o –, mas já pensara e repensara em tudo isso e muito mais, e agora estava simplesmente cansado de pensar. Em condições normais, ao invés de, com a cabeça reclinada, se deter a observar vagamente o próximo monte nevoso que receberia sua pisada, ficaria atento ao seu entorno, a procura de algo que lhe despertasse atenção. Mas sabia que, ali e naquela nevasca, não veria Kiran, não veria Qhorim, não veria selvagens, não veria merda nenhuma, e nem se existisse de fato alguma merda por perto, a não ser que ela estivesse tão perto que ele pudesse esbarrar nela, porque a nevasca tornava sua visibilidade tão baixa que a paisagem ao seu entorno não era muito mais distinta do que a abaixo dele. Então, apenas continuava caminhando. Era só isso de que precisava, por ora. Mais adiante...

    Mais adiante discerniria Guadeleite – na verdade, discerniria um despenhadeiro, e então deduziria que Guadeleite ainda serpenteava em seu vale abaixo –, e a partir dali – e a uma distância segura das margens do despenhadeiro – o seguiria a jusante, não por muito tempo e até uma casinhola caída aos pedaços de madeira que nestes momentos costumava ser chamada de abrigo... E que também era o ponto de encontro com Qhorim e os demais. O que será que os novatos estão achando do tempo? A fim de descobrir, tinha de continuar caminhando... Também queria viver, e a fim de viver, tinha de chegar até aquele abrigo, logo mais adiante. Era difícil ter certeza – não havia como ter uma noção segura de tempo em meio àquela nevasca, por seus ventos de neve ofuscante terem levado-a embora junto com Kiran –, mas ainda assim parecia que a noite logo chegaria; sua esperançosa aposta, porém, era a de que ele chegaria ao abrigo primeiro. Não haveria consequências se perdesse essa aposta, pelo menos. Bem, na verdade, deveria morrer, mas o consolo era que, então, não se lamentaria por isso. Será que o grupo de Qhorim realmente estará lá?

    Ele e os dois novatos, que de Torre Sombria rumaram para o norte, estariam a uma distância do abrigo maior do que Delfir e Kiran, que, passando inclusive pelo abrigo, margearam aquela colina da Garganta a procura de alguma atividade no vale que se estendia abaixo. Quando a noite de ontem chegou, era provável que estivessem a uma distância menor do abrigo do que Qhorim e os demais. Mas já estava enfadado com essas divagações. Por hora, continuaria a caminhada mantendo-se fiel à contagem; mais adiante, veria...

    Vinte e três, vinte e quatro, [...] – estava conseguindo; pela primeira vez chegaria a vinte e seis, e além – vinte e... tropeça em algo sólido, que a neve ainda não conseguira soterrar. A dor chega à sua perna, mas sua espada novamente evita uma queda, apesar de isso não ter bastado para contentá-lo nem um pouco. Merda, eu vou... Mas ele não ia nada. A dor que sentia por aquele mero tropeço o faz enxergar isso. Mesmo "ir" só podia agora o fazer andando, e até isso se mostrava cada vez mais exaustivo. Meio que desalentado, se vê novamente pensando em como tudo aquilo começara – uma simples excursão de um dia e meio; ainda podia se lembrar das palavras de Qhorim como se fosse... Bem, ontem, o que não parecia que era –, e, quando avalia melhor aquilo que quase o derrubou, vê que era um escudo.

    Não, engana-se. Era o escudo. O escudo com a fita verde amarrada na empunhadura. O escudo de Kiran. Pela Muralha, mas o que...

    Quase que imediatamente então, percebe outra coisa que não o deixa refletir muito sobre aquela, e que era tão inesperada quanto. Um som abafado, mas ainda assim discernível, de... Passos? Vê uma sombra avolumando-se a sua frente, e – nossa! –, que rajada de vento é essa que parece a acompanhar!?

    Seu corpo quer apenas permanecer encolhido, e sentindo ainda mais frio do que segundos atrás. Ainda assim empertiga-se e, com a canha protegendo os olhos, estreita-os em direção a silhueta que se aproximava, tentando discerni-la. Aquilo que vinha lá era mesmo um ser humano? Não estava mais só! Podia ser Kevin, podia ser outro patrulheiro, podia ser... Um inimigo. A destra segura a empunhadura da espada com ainda mais firmeza. Achava improvável que, em meio àquela nevasca, um selvagem – que parecia tão moribundo quanto ele – gastasse suas forças tentando atacá-lo, mas também achava o aparecimento repentino de uma nevasca improvável, encontrar o escudo de Kevin no meio desta improvável, ver então uma figura misteriosa saída do nada improvável, e agora conclui que é melhor não achar mais improvável nem a possibilidade de um salteador emergir da espessa camada de neve entre ele a a misteriosa figura para tentar abrir a goela de um dos dois com uma adaga dentada.

    A cautela enche-lhe os pulmões, e ele tenta fazer-se ouvir em meio àquela intensa nevasca:
    – Pare aí mesmo e identifique-se! Identifique-se, agora!

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    Mensagem por Vinah Sex Ago 07, 2015 11:47 am

    A voz de Delfir Hornwood silenciou a nevasca por alguns milésimos de segundos. O brado do patrulheiro havia sido alto o suficiente para ser ouvido em uma distância de alguns metros, significando que seu alvo havia sido atingido por suas palavras. Durante esse breve período, a neve perdeu o protagonismo no cenário, tornando-se quase invisível diante dos olhos de Delfir. Tudo que restava a sua frente era a sombra de seu possível algoz, movendo-se desajeitadamente em sua direção. A habilidade em manter o foco no perigo era uma reação do corpo de Delfir diante daquela situação, mas o grande mérito residia em quem ele era. Delfir Hornwood possuía uma mente afiada e um coração intrépido, qualidades que foram testadas diversas vezes durante sua vida na Patrulha da Noite.

    A estranha figura parou de se mover por um momento, mas logo inclinou o corpo em direção ao patrulheiro. Por entre os flocos de neve que giravam no ar, um rosto clamou por seu espaço. A incógnita dissolveu-se lentamente, os contornos que se apresentaram traziam lembranças agradáveis. Não se tratava de um inimigo, mas sim da presença de um amigo e companheiro de patrulha. Kiran Tavyne estava a sua frente. A face do companheiro de juramento estava parcialmente branca, uma leve camada de gelo havia tomado conta de sua pele. Os olhos eram negros, repletos de um sentimento de terror e de súplica. Karin nunca fora o tipo de homem que costumava pedir ajuda, sempre determinado a resolver seus próprios problemas, mas não naquele momento. Quando o corpo do homem vestido de negro também veio a tona, Delfir pôde perceber o estado debilitado que o homem se encontrava.

    A roupa negra da patrulha ainda lhe servia como proteção ao frio, mas ao que tudo indicava não havia servido como defesa para o que lhe acontecera. A orelha do homem havia sido arrancada, não por um corte reto e preciso de uma espada, era mais parecido com uma mordida de algum animal feroz. Na coxa direita de Karin havia um grande corte, sangue fluía de maneira abundante do local, dando um toque vermelho a neve macia que cobria o chão.  O estado geral de Karin não era bom, mas ao menos ele havia conseguido encontrar Delfir em meio aquela nevasca. O patrulheiro estava em pânico, mas porque o homem não havia ficado quieto mesmo após ver Delfir?

    A voz de Karin Tavyne saiu embolada e sem força, uma voz falha que quase não foi ouvida por causa do tempo ruim.

    — Eles...aqui...frio. — O patrulheiro deu o último passo em direção a Delfir, fazendo com que seu corpo musculoso ficasse a tutela de Delfir. — Mortos no gelo... eu vi...aqui. — Ele começava a perder a consciência, um fruto do cansaço e do esforço excessivo que aparentava ter feito. O rosto dele tocou seu corpo e ele então desmaiou em cima de Delfir.

    Enquanto seu companheiro desfalecia, Delfir Hornwood viu de canto de olho um novo movimento. A imagem que viu foi lentamente processada por seu cérebro. O que Delfir havia suposto ser uma das centenas de pedras pontiagudas encobertas de neve, era algo diferente. Dois pontos azuis o encaravam, brilhando como pedras preciosas obtidas em Tarth. O brilho era tão intenso que parecia pronto para se estender para os lados. Então veio o barulho. Um som do quebrar de uma rocha, um estalo súbito. Quando Delfir piscou, o azul havia desaparecido, restando apenas a neve como companheira. Seja lá o que for, havia tomado uma direção diferente do abrigo, indo para o lado contrário. O frio pareceu diminuir de imediato, o vento se tornou mais brando e os flocos de neves começaram a cair de maneira mais leve.

    Karin Tavyne ainda sangrava e não havia recobrado a consciência. Certamente o patrulheiro havia perdido muito sangue, caso o sangramento não fosse estancado ele poderia morrer em breve. A única certeza que havia naquele momento envolvia uma decisão perigosa. Se Delfir Hornwood ficasse parado ali por muito tempo, certamente viria a óbito em algumas horas, mas se Kiran Tavyne não despertasse isso implicaria em duas coisas; Delfir poderia abandona-lo e partir para o abrigo, preservando a sua vida, a outra opção seria carregar Kiran nos braços, ficando alheio a qualquer perigo que se apresentasse, inclusive com a certeza de alcançar o abrigo somente a noite.


    Spoiler:
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    Mensagem por Escaravelho Sáb Ago 08, 2015 3:04 am

    Kiran. Achara-o, enfim. Se por um lado sentiu algum alívio por o patrulheiro ainda estar vivo, por outro a ausência de sua orelha esquerda, coxa direita mutilada e condição geral decrépita – ao menos esta, algo que podia ser atribuído à tempestade – indicavam que, se nada fosse urgentemente feito – e, Delfir tinha o mau pressentimento, mesmo se alguma coisa fosse –, ele não continuaria nesse estado por muito tempo, o que, por sua vez, angustiou-o mais que seu sumiço por si.

    Kiran... Mas... O que houve...
    Viu-se dizendo, embora sob um murmuro que parecia mais endereçar-se a si mesmo – e suspeitou que aquela ventania incessante de fato assegurou-se disso. Mas Kiran aproximava-se – um passo, e depois o outro; o incessante ímpeto de Kiran agora encontrara um estorvo acima de sua altura.. Mas lá vinha ele, e... Estranhamente, a tempestade parecia se abrandar, como se estivesse se envergonhada por ter estado atrapalhando aquele momento... E...
    Você está tentando dizer alguma coisa?

    Poupe suas forças... — Diz sem muita pertinácia; nem ele próprio, e tampouco Kiran, parecia relevar muito com o que acabara de dizer. O patrulheiro falava a sussurros entrecortados; precisava estar realmente atento para discernir aquelas sílabas...

    "Eles"? Quem?— replicou então Delfir, extremamente inquieto. Mas era tarde demais para descobrir quem; Kiran, que ao que parecia gastou suas últimas reservas de energia na emissão daquela mensagem, desaba em seu torso, mor... Não. Desacordado. Ele está apenas desacordado. O coração confirmava, mas ainda antes a obstinação de Delfir falara por si só. Ainda antes sequer de vislumbrar os pontos azuis. Olhos azuis, possivelmente. E no que antes julgava que fossem apenas outras rochas pontiagudas. Eles encaravam Delfir, que estava fascinado demais por eles para deixar qualquer outra emoção o dominar. Muito fascinado. Mas então ouve-se um estrondo similar a uma rocha se esfacelando, e, literalmente em um piscar de olhos, os pontos azuis desaparecem.

    Mas o que foi aquilo? Fosse o que fosse, parecia que ele e Kiran não eram, pelo menos até segundos atrás, os únicos a estarem por ali. Bem, que havia mais um – mais um que arrancou uma orelhada de Kiran, e estraçalhou a coxa do lado oposto – era óbvio, mas se aquela coisa que vira fosse aquele mesmo "mais um"... Sempre se considerou um patrulheiro valente, intrépido diante de muitas situações que fariam outros curvarem-se ao perigo, mas mesmo para si era inegável que havia algo de sinistro demais naqueles olhos. Esperava nunca mais vê-los. Nem eles, nem o ser que os portasse. E dane-se, ninguém o julgaria covarde, até por que ninguém precisaria saber daquilo que vira. Talvez. Pensaria melhor naquilo depois; primeiro, tinha um amigo com quem se preocupar.

    Kiran ainda jazia em seus ombros. Sem saber muito bem o que fazer, o deita gentilmente no chão nervoso. Estranho, parecia que parte do frio, e parte da própria nevasca, desaparecera junto com aqueles olhos cintilantes. Não, não apenas parecia; agora que notava, podia atestar aquilo claramente. A tempestade amainara. Não muito – ainda estava em apuros, de todo modo –, mas o suficiente para causar-lhe algum estranhamento.

    Seus olhos relanceiam outra vez o escudo de Kiran – logo ao lado do próprio –, com a já desbotada fita verde que o patrulheiro acreditava que lhe trouxesse sorte. Kiran sempre fora muito cuidadoso em certificar-se de que pequenas eventuais ajudas da fortuna como aquela lhe viessem a seu favor. E, pelo tanto de vezes que, a despeito de sua intrepidez para enfrentar quantas coisas e selvagens lhe caíssem em cima – parecer-se-ia até consigo, se cultivasse prudência –, escapara vivo, havia começado a acreditar que aquela velha fita verde lhe trazia de fato alguma proteção; que era seu pequeno e, ao mesmo tempo, poderoso talismã pessoal, ao menos apenas de estima. Mas parece que a sorte lhe foi negada dessa vez, não é, irmão? Queria matar quem tivera a audácia de violar a proteção de seu precioso talismã. Desgraça, a ira começa a borbulhar dentro de si, e se aqueles malditos olhos azuis tivessem a ousadia de se revelarem outra vez, ia lhes mostrar que a ira podia fazer da postura de um homem uma visão mais sinistra ainda – e decididamente perigosa. Dane-se o que pensara segundos atrás; agora daria seu maldito braço inábil para com o hábil poder desfigurar em fatias de presunto o troço de olhos azuis.

    Mas ele ainda não morreu. Está apenas de-sa-cor-da-do. E não permitira que morresse. Proibia-o. Ele ainda tinha de lhe dar satisfações: Por que sumira? Quem eram "eles"? Ele ainda tinha de dar à criatura que o deixou naquele estado satisfações. O valoroso patrulheiro também simplesmente ainda tinha a dar muito pela Patrulha, incluindo mais de suas conversas jocosas sobre com o que Gobis – o cozinheiro da Torre Sombria – incrementou seu novo guisado ou feições emburradas ao tentar perseguir animais que sobrepunham sua velocidade; mais de si mesmo, mais de Kiran.

    Era hora de ele descobrir quão graves eram aqueles ferimentos. Desgraça, suspeitava que se demorasse demais tentando o tratar, ele mesmo cairia desacordado em meio à nevasca, mas ao menos daria fim a sua vigia com a honra de um patrulheiro que lutou até seu último suspiro para conceder um novo fôlego da vida a seu irmão. E que os Deuses Antigos – ou a fita de Kiran – lhe ajudassem no processo.
    Vinah
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    Mensagem por Vinah Sáb Ago 08, 2015 10:29 am

    O ferimento na orelha de Kiran Tavyne só podia ser tratado em Torre Sombria, Delfir até poderia realizar os procedimentos necessários para que a cartilagem não corresse o risco de infeccionar, mas ali em meio a nevasca, não dispunha de tempo e nem de materiais necessários para tal ato. O foco então se deu no grave ferimento na coxa do amigo. A carne havia sido cortada com alguma lâmina afiada, o que contradizia a presença do que parecia ser um ataque de animal na orelha do amigo. Mesmo sem a resposta clara para esse questionamento, Delfir conseguiu se concentrar e realizar um torniquete perfeito naquele momento, estancando o fluído vermelho que anteriormente alimentava a neve branca e macia.

    A vida do irmão de negro fora preservada, pelo menos o seu rosto começava a ganhar uma cor rósea. Poeticamente, Delfir Hornwood achara a resposta para o torniquete enquanto pensava no amuleto da sorte de Tavyne, a estranha fita colorida que ele sempre usara na empunhadura do escudo. A fita era grossa e o tecido estava parcialmente limpo, isso se comparado com as vestes negras que os patrulheiros usavam. Caso a opção para o torniquete fosse usar o tecido grosso da patrulha, o risco de adoecimento seria alto. Delfir Hornwood aprendera isso quando tivera os primeiros contatos com uma personalidade marcante em sua vida. Meistre Halthes havia ensinado ao jovem rapaz Hornwood algumas técnicas básicas para momentos como aquele. O resto do aprendizado Delfir havia conquistado após várias dezenas de viagens para-lá-da-Muralha. Meistre Halthes ficaria satisfeito com a reprodução de suas técnicas daquele modo grosseiro que fora realizado?

    Após um tempo quase infinito, Kiran Tavyne havia despertado. Ele ainda estava visivelmente fraco e precisando de novos cuidados, mas ao menos já seria capaz de suportar seu corpo durante a caminhada que estava por vir. Ele acordou com um semblante frágil, parecendo não se importar com o que havia acontecido. Se Delfir fosse um patrulheiro qualquer, seria realmente ludibriado pela calma do amigo. Delfir Hornwood era mais do que isso, afinal ele fora ensinado durante toda infância por Meistre Halthes, um grande homem dotado de uma mente afiada e observadora. O silêncio do amigo provavelmente era um mecanismo de defesa da sua mente, a qual relutava em em reviver aquela experiência quase fatal e aterrorizante. Kiran então se recuperou por um pouco mais de tempo, decidindo que finalmente estava pronto para caminhar em direção ao abrigo e ponto de encontro da patrulha.

    Não foi preciso gastar um tempo necessário para pensar no que fazer, era lógico que qualquer patrulheiro fosse em busca de refúgio naquele mal tempo. Kiran se levantou e apoio seu peso nos braços de Delfir, caminhando desajeitadamente ao seu lado. Os olhos de Delfir não registraram nenhum movimento a mais no cenário enquanto eles começavam a percorrer os primeiros metros, de certo pareciam estar "seguros" em meio a nevasca.

    Logo mais a frente, Delfir avistou um sinal de trilha que havia sido escondida pela nevasca, ele pôde localizá-la pelo formato e a disposição com que as rochas estavam ordenadas. O caminho seguiu-se sem imprevisto, logo a margem rochosa da Garganta ganha um tom mais vivo, grandes pinheiros pareciam ganhar espaço a medida que avançavam. Finalmente depois de uma jornada exaustiva, os dois homens de negro avistaram o casebre que tanto chamavam de refúgio. O local em que estava localizado era um pequeno bosque cercado por grandes pinheiros e algumas árvores mortas, mas a grande característica do lugar residia no abraço estranho de uma árvore especial.
    O represeiro parecia vivo e triste.

    O tronco principal era grosso e levemente esbranquiçado. Os braços retorcidos do represeiro pareciam reivindicar toda aquela extensão, lançando sombras ao solo sempre que eram movidos pelo vento. O vento aliás, parecia ser bloqueado por entre os braços do represeiro. O local parecia mais calmo, como se estivesse presente em outra região. Isso no entanto não significava muita coisa, a nevasca ainda era imponente e poderia facilmente drenar a vida de um homem despreparado. A árvore parecia chorar, gotas de uma seiva avermelhada que se concentravam em irregularidades na madeira, - a qual formavam estranhos olhos repletos de sentimento, o que despertava a sensação de estar sendo observado -, escorriam lentamente pela casca maciça da árvore. Os Deuses Antigos exalavam sua presença de uma forma impressionante naquele local.

    Em meio a todo esse cenário místico, localizado quase no limite dos braços do represeiro, havia um pequeno casebre de madeira caindo aos pedaços. A madeira era velha e uma parte da fauna local parecia reivindicar aquela casa para si, o teto estava inclinado para um dos lados, parecendo que ia desabar com o acúmulo de neve durante a nevasca. Era um refúgio precário mas vital, comumente utilizado pelos irmãos da patrulha da noite em boa parte das estações. A porta estava trancada, mas como a noite já começava a escurecer o céu, era possível ver que uma fonte de luz estava sendo usada, uma vez que a parte debaixo da porta estava levemente quebrada, possibilitando uma vista antecipada do que o aguardava. Alguém estava usando o abrigo naquele dia, Delfir Hornwood carregava seu companheiro ferido, Kiran Tavyne, para o mesmo local. O represeiro o encarava com olhos tristes e sangrentos, lamentando enquanto você se locomovia para o casebre.
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    Mensagem por Escaravelho Dom Ago 09, 2015 4:05 am

    Delfir examina atentamente os ferimentos de seu companheiro de patrulha: A orelha esquerda, que parecia ter sido em grande parte arrancada pela mordida de um animal robusto – sua melhor aposta era um urso, embora nesse caso fora uma proeza Kiran ter sobrevivido a um embate chegado a esse ponto –, estava além de seus cuidados, mas vê que pode fazer algo para estancar o sangue de sua mutilada coxa direita, que aparentava que deixaria de jorrar para a neve cada vez mais enegrecida somente quando pouco mais houvesse o que fluir dali. Aquilo pedia um pedaço de tecido para servir de torniquete; uma tira de suas vestes serviria, embora sua grossura e sujeira fizessem com que não fosse o objeto mais adequado... Bem, mas era com o que no momento podia contar. Já começava a rasgar uma de suas mangas quando, no entanto, lembrou-se que naquele momento, na verdade, podia contar com mais: A fita da sorte de Kiran ainda estava lá, fielmente atada a seu escudo. Provavelmente mais limpa que as vestes negras de qualquer um dos dois – e de espessura adequada –, Delfir tinha poucas dúvidas de que ela fosse uma candidata mais próxima do ideal. A pensar que ainda a pouco estava refletindo justamente sobre ela. Um sorriso, tênue como seria, teria sido esboçado pelos lábios de Delfir, não fosse o fato de a gravidade da situação ainda tensioná-lo de modo a não se permitir a quaisquer momentos de bom humor, por menores que fossem.

    A fita cumpriu seu papel de estancar o sangue; Kiran não se debilitaria mais por aquilo, pelo menos. Ainda assim, estava ciente de que não era muita coisa. Mas o fato é que, quanto mais pensava sobre aquilo, mais certo estava de que, ali, não havia mais o que fazer. Em Torre Sombria, seria diferente; recursos mais apropriados, irmãos mais experientes como curandeiros do que Delfir... Se pelo menos Kiran resistisse – mais que isso, despertasse –, após aquela tempestade passar era para lá que rumariam, e mesmo antes da existência de alguma tempestade ou de um patrulheiro mutilado, a propósito. Estavam inclusive atrasados; se aquele patrulhamento tivesse ocorrido de acordo com os moldes da previsibilidade, bem poderiam já estar abrigados naquele castelo, e não ainda em busca da casinhola de madeira. As palavras de Qhorim ressoam mais uma vez em sua mente, agora com um requinte de ironia cruel, como se a natureza tivesse ao longo deste dia se empenhado para ridicularizar o patrulheiro: "O tempo vai estar firme, não creio que irá fazer muito frio. Temos uma boa oportunidade aqui."

    Mas, pelo que vê de Kiran, parecia haver algo mais perigoso que aquele horrível tempo intencionando desgraçá-los. Será que Qhorim e os outros dois patrulheiros também foram atacados por algo semelhante? Com uma preocupação crescente, recorda-se dos últimos dizeres de Kiran... "Eles" e "Mortos no gelo" sobressaem-se. Seriam "eles" os "mortos no gelo"? Provável. Então, quem seriam os mortos? Delfir, com um aperto no coração, compreende que, pelo fato de Kiran ter se referido aos seres através de um pronome, deveria supor que Delfir soubesse a resposta, e ele temia que de fato soubesse. Qhorim e os novatos! Seria isso? A coisa que atacou Kiran – que, até onde sabia, podia bem ser o detentor dos olhos azuis que há pouco o observavam com interesse – também atacou – e, pior, matou – os demais patrulheiros? Não... Estava sendo muito precipitado; não pode garantir que foi isso que Kiran tentou dizer. Talvez "eles", na verdade, se referissem aos "selvagens", o motivo por que essa patrulha estava sendo feita. Os selvagens, que, quando não conformados com suas comunidades tribais, costumeiramente tentavam atravessar Garganta no intuito de contornar a Muralha, haviam inexplicavelmente desaparecido daquela região – e, pelo que era reportado pelos outros dois castelos ativos da Patrulha, de suas regiões também. Talvez Kiran tenha encontrado alguns selvagens, que estariam mortos no gelo... Mas, apesar de ser uma explicação mais cômoda, era menos crível; até ontem, nada indicava que encontrariam apenas um selvagem que fosse, quem diria um grupo durante uma nevasca, e que ainda estaria morto no gelo por um terceiro elemento... E, agora que pensava sobre isso, na primeira conclusão, os selvagens poderiam ser os responsáveis pela morte dos patrulheiros, não havendo necessidade desse terceiro elemento – mas onde aqueles olhos azuis entrariam, então, naquilo tudo. Talvez simplesmente não entrariam; talvez nunca sequer tivessem existido. Fora tudo tão breve que podia creditá-los como impressão sua... De fato, isso também lhe seria muito cômodo, e... Bem, se o ser de olhos azuis tivesse sido o causador dos "mortos no gelo", então não só seria imperativo haver mais de um como também um motivo para aquele não ter atacado Delfir e o já moribundo companheiro, o que tornava essa hipótese a mais improvável de todas, para seu alívio... Mas seja o que fosse, uma coisa era certa: Um humanoide capaz de portar uma lâmina – que no momento, provavelmente, era uma espada curta – fizera aquele ferimento na coxa de Kiran; Delfir já vira muitos ferimentos semelhantes para negar a origem desse, por mais conveniente que lhe fosse. Mas, de modo a deixar as coisas mais misteriosas – ao invés de menos –, aquilo contradizia com seu ferimento na orelha, que parecia ter sido trabalho de uma mordida; não era preciso ser um patrulheiro experiente para saber que Para-lá-da-Muralha não existia nenhum selvagem cujas mandíbulas se rivalizassem com as de um urso, e tampouco tivera a oportunidade de conhecer um patrulheiro tão feroz. Poucos foram os dias de serviço na patrulha – talvez, nenhum – que transcorreram sob uma sucessão de acontecimentos tão improváveis ou misteriosos como aqueles, e, para seu desagrado, pressentia que aquele onirismo pesadelar ainda não atingira o máximo de si.

    Delfir, porém, pode prever com muita acurácia o próximo patamar de desgraça que aconteceria aos dois caso permanecessem ali: Morte por hipotermia. Kiran, vamos, acorde! Não deixaria o patrulheiro abandonado a própria sorte; isso já decidira mesmo antes de saber se realmente podia fazer algo por seus ferimentos. Nesse caso, porém, sua única opção era permanecer ali: Sentia-se debilitado demais para carregá-lo; o fato de Kiran ser um patrulheiro mais robusto e pesado do que Delfir contribuía para essa impotência – certamente –, mas, ainda que carregasse uma criança, também era provável que seu avanço em direção ao abrigo lentificasse-se mais, além do fato de que, se não conseguisse colocá-lo a suas costas, necessitaria prescindir também do apoio de sua espada ao caminhar na neve, que por tantas vezes já evitara quedas.

    Felizmente, sua espera não foi em vão. Após o que lhe pareceu uma eternidade de torturas pelo frio e vento incessante, o alívio cresce ao ver Kiran despertar; um alívio logo também convertido na comedida euforia por saber que tanto as vidas sua como a dele ainda não estavam entregues à natureza implacável. No entanto, o patrulheiro portava feições calmas, senão apáticas; era quase como se o prazer de ter mais tempo para viver lhe escapasse. Delfir sabia, contudo, que isso era um mecanismo de defesa que se podia esperar de alguém que fora abatido por experiências tão desagradáveis como as que passou. Fora o Meistre Halthes que o ensinara isso; ainda se lembrava do momento, uma tarde de seus dez ou talvez onze anos, enquanto ele lhe explicava os padrões do comportamento humano ante a situações de risco... Mas não era hora para pensar em Halthes; agora que Kiran estava desperto, não era, na verdade, hora para pensar em nada que não envolvesse a sobrevivência dos dois.

    Kiran levanta-se com morosidade, e a ajuda de Delfir. Com ele apoiando-se em seu ombro – não obstante todo o vigor e estoicidade que o patrulheiro em outras situações demostraria –, os dois iniciam um resto de jornada silencioso até o abrigo. Delfir se perguntava se o que ocorrera a Kiran foi intenso o suficiente para que os deuses permitissem que sobrevivesse como uma lembrança. Mas as perguntas a fazer eram tantas que ele estava esperançoso de que, ainda que Kiran tivesse se esquecido do ou dos confrontos por que passou naquele dia, ainda encontraria a resposta para algumas, como o motivo de ele ter se afastado do local onde dormiam sem o seu conhecimento, e para onde foi após isso. Mas Delfir, que esperava que o companheiro, em algum momento da caminhada, revelasse-lhe então isso – ou qualquer coisa de que se lembrava, ou ao menos perguntasse, confuso, o que havia acontecido se não se lembrasse de coisa alguma –, decepcionou-se com o silêncio que imperou. Em um ponto do percurso suspeitou, frustrado mas reconhecendo certo exagero, que voltar à tarefa mental de contar seus passos seria mais interessante do que a até então expectativa mental pelo que o amigo l(o...o...o...o)go lhe diria. Ele simplesmente ainda está abalado demais para falar qualquer coisa; precisa de um tempo para organizar seus pensamentos... Convenceu-se por fim. De todo modo, não tomava por bem pressioná-lo, principalmente após esse estranho silêncio que já se instaurara.

    Felizmente, não houve novos incidentes até a chegada ao abrigo, embora a nevasca – para Delfir, uma das mais desagradáveis incidências que poderia ter ocorrido durante aquele patrulhamento que já não seria mais de um dia e meio – persistisse, afincada em sua tarefa de fatigá-los mais e mais. Desde que partiu com Kiran, não demorou muito para que localizasse, a partir do formato e disposição das rochas circundantes, uma trilha que, margeando o despenhadeiro acima de Guadeleite, levava diretamente ao abrigo. Muito pouco antes de a noite chegar, os pinheiros que ladeavam o lado oposto ao despenhadeiro adensaram-se de modo a Delfir ter segurança de que o bosque no centro de que situava-se a casa de madeira estava muito próximo. E, de fato, após continuarem seguindo a trilha por uma curva que afastava-se do despenhadeiro, os patrulheiro avistaram-no e, por fim, adentraram-no.

    Seu represeiro, como esperado, continuava lá, como a árvore mais proeminente do bosque, o que, naturalmente, condizia com o desejo dos deuses da floresta. Deuses aos que tenho de agradecer por terem salvado Kiran. Estava certo de que foram eles que fizeram seu companheiro despertar; que salvaram, assim, os dois da morte pela neve e sob a desolação. Ele ainda os agradeceria por isso, com toda a certeza; mas, primeiro, precisava guarnecer-se com Kiran na casa de madeira até a tempestade acabar. Uma casa que, também como o esperado, continuava ao lado do represeiro. Porém... Nesse momento, com luzes acesas em seu interior, pelo que via por uma abertura na parte inferior de sua porta. Delfir tinha a impressão de que uma ou mais das respostas que tanto esperava serem ditas por seu companheiro poderiam ser descobertas quando abrisse aquela porta, para o seu bem, ou para o seu mal.

    Kiran continuava apático, alheio ao ambiente em torno e, ao que aparentava, profundamente imerso em devaneios que Delfir julgava que não fosse sábio interromper com perguntas sobre quem eram "eles" ou sobre suas lembranças de ter visto alguma criatura de olhos bem azuis... Mesmo assim, julgava que seria ainda menos sábio entrar naquela casa sem saber se encontraria um anfitrião ou um algoz quando podia ter a oportunidade de o saber; considerava, logo, válida tal tentativa para certificar-se de que o que estava lá dentro não seria outra das surpresas indesejadas do dia. Em adição – e assumindo, na pior das hipóteses, que independentemente disso fosse morrer –, queria pelo menos que seu amigo lhe falasse alguma coisa pela última vez – qual seria o sentido de tê-lo salvo, se assim não fosse e ele também viesse a ser morto por quem estivesse lá dentro?
    Kiran, me escute, o que aconteceu com você hoje... Você sabe quem pode estar lá dentro? Ou quem não pode estar?

    Inevitavelmente pensou Qhorim e nos dois patrulheiros novatos ao fazer a última pergunta, desejando, em todo o seu íntimo, estar enganado. Poderiam ser precisamente eles que estavam lá dentro, e se perguntando, sob ironia da reciprocidade, se ele e Kiran não estariam mortos, pela que está sendo uma inesperada demora para chegarem.

    Poderiam também ser selvagens, mas essa possibilidade não o atemorizava tanto quanto o atemorizaria em outras circunstâncias; sim, se aquele fosse o caso estaria diante de uma ameaça em potencial, mas, assim como a nevasca o debilitou, provavelmente fez o mesmo a eles, pelo que mesmo os mais bárbaros não poderiam ter sequer interesse pelo conflito – e quanto aos menos... Bem, se dependesse de Delfir, ele não via nenhuma razão para atacá-los apenas pelo fato de estarem a procura de um abrigo para se protegerem da tempestade, e sua experiência como patrulheiro lhe indicava que a mentalidade de selvagens mais pacíficos era similar, a despeito de sua cultura mais primitiva. Além disso, se fosse esse o caso e os selvagens também, por alguma extrema improbabilidade que aquele dia ainda reservava, fossem-lhe simpáticos, poderia até mesmo saber o motivo do desaparecimento dos demais.

    Por fim, uma última possibilidade que lhe vinha em mente... Não, não queria pensar na criatura de olhos azuis. Ela, para começar, não poderia passar de um momentâneo delírio que aquela tempestade lhe provocou...
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    Mensagem por Vinah Seg Ago 10, 2015 4:15 am

    Kiran Tavyne sentia sua coxa latejar, seus movimentos exigiam uma dose cavalar de energia, algo que ele estava longe de possuir. Se fosse ferido daquele forma em qualquer outra ocasião, ele simplesmente se deitaria na neve e adormeceria para sempre. Seria uma morte agradável, ser coberto por uma camada de gelo e deitar em sono eterno, uma morte que traria pouca dor. Até mesmo a morte por combate seria ideal, mesmo que suas tripas vazassem de sua barriga e o cheiro de fezes invadisse o ar, ainda sim seria uma morte honrada e prazerosa. Kiran sabia que não deveria desistir e morrer naquele lugar, não perto de coisas terríveis como as que ele tinha visto mais cedo. Qualquer morte lhe traria honra e prazer, mas não aquela. Ao pensar no que tinha acontecido, um calafrio percorreu toda a extensão de sua espinha. Sua visão pareceu voltar ao foco normal, dando-lhe a imagem do patrulheiro honrado que estava postado ao seu lado, admirou-se então ao ouvir a voz do irmão de negro.

    "Será que ele matou a criatura? Como podemos estar vivos se nada seria capaz de matar aquela besta? Os amaldiçoados deuses do norte tem muito poder aqui, sinto tanta falta da proteção dos setes. Oh, por que vim parar nessa terra da perdição?"


    Kiran Tavyne tentou falar, estava alheio ao desespero de Delfir Hornwood, não sabia nada do que estava acontecendo, mas podia ouvir. Tentou nesse meio tempo dizer o que lhe tinha acontecido. Kiran gostaria de nunca mais pensar naquilo novamente, no entanto, sua cabeça estava repleta de imagens e fatos do que acontecera, alguns que pareciam irreais, era como se estivesse dentro das histórias que um selvagem contava. A sua mente pareceu despejar tudo em uma só hora, Karin Tavyne desejava se ver livre de todas as lembranças daquele dia.

    — Eu estava esperando você acordar, mas eu vi um movimento bem perto de nós. Eu ia te chamar, mas julguei que se tratava de um coelho ou mesmo algum animal selvagem, pensei que poderia abatê-lo se o pegasse de surpresa, uma carne fresca seria muito agradável, os novatos certamente ficariam gratos com esse presente. — Ele fez uma pausa, seus olhos fitando o nada. — Fui seguindo a trilha que ele havia deixado, mas havia começado a nevar, então eu não tive certeza do que eu estava perseguindo. Uma hora eu acabei chegando perto de uma clareira, eu sabia que não seria visto pelo animal, havia alguns pinheiros me escondendo. Quando observei a clareira, vi uma fogueira apagada e dois corpos estendidos no chão. Levei um susto quando percebi que eram selvagens, nessa hora pensei em voltar e te chamar, mas eles estavam mortos. Me atrevi a entrar silenciosamente no local, descobrindo que eles haviam morrido por causa do frio. Eles não estavam só, pois havia uma trilha que seguia para o norte, o que insinuou que eles não tentavam cruzar a muralha e sim se afastar dela. Capturar um desses selvagens nos daria a resposta do desaparecimento. Eu concluí que era apenas dois selvagens, a trilha era estreita e um parecia estar levemente ferido, havia locais que eles paravam por um curto tempo. Então eu os vi, uma mulher e um homem com cabelo vermelho. Os dois eram guerreiros, levavam espadas amarradas na costa. Eu então decidi voltar com a informação. — Ele fitou os olhos de Delfir Hornwood. O semblante agora era de puro medo, as mãos de Kiran Tavyne tremiam freneticamente, ele perdeu um pouco de força e seu corpo quase se projetou ao solo. O homem parecia fora de si, perdido dentro de sua própria mente, mas o olhar ainda encarava o patrulheiro ao seu lado. — Eles estavam mortos, no entanto não havia ninguém na clareira. E fazia frio lá, um frio como eu nunca havia sentido. A nevasca ficou tão forte que acabei me perdendo da trilha, então adentrei entre os pinheiros para procurar novamente um novo sinal. Eu vi alguém bem perto de mim, inicialmente pensei que era você, mas a coisa me segurou com uma mão fria e me arrancou um pedaço da orelha quando eu a empurrei para trás. Senti que a coisa havia me acertado um golpe de espada, mas tudo que eu consegui fazer foi correr sem olhar para trás. Eu sentia que eles me seguiam, mas pareciam que não estavam com pressa em me perseguir. Olhei para trás apenas uma vez, uma coisa que eu nunca deveria ter feito. Os dois selvagens me encaravam, a expressão neutra de um morto presente em suas faces. Eles estavam mortos, mas de pé e pareciam caminhar. Isso foi terrível, mas bem atrás deles havia algo mais assustador ainda. Um par de olhos azuis como o lago onde eu me banhava quando menor, me olhavam  com frieza, a criatura que portava parecia mais um grande bloco de gelo. Foi então que na hora que eu estava quase desistindo, acabei tropeçando em uma das pedras e desisti. Fiquei parado por um tempo, dando apenas pequenos passos. Vi uma sombra perto de mim e tentei me jogar em cima dela, mas ai vi que era você e imediatamente eu apaguei.

    Kiran dissera essas palavras fortes em sequência, não se importando no que estava dizendo. Sua mente cansada derramava todo acontecimento em um torrente de palavras. Aquilo pareceu acalmar o patrulheiro, ao menos agora seus olhos pareciam ter ganhado foco novamente. Ele retira o olhar em Delfir e foca no casebre a sua frente.

    — Talvez seja Qhorin... ou os selvagens.

    O silêncio então toma conta do local, a luz que irradiava pelo buraco da porta tremeluzia, alguém havia feito uma fogueira dentro da casa. Fogueira? Delfir se lembrava que Qhorin havia escolhido uma pequena lamparina de óleo extraído de animais para ocasiões como aquela. O casebre era de madeira e o chão de palha, era improvável que alguém que prezasse pelo abrigo pudesse tentar fazer algo parecido. O represeiro o encarava, olhos vermelhos repletos de agonia.
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    Mensagem por Escaravelho Ter Ago 11, 2015 12:48 am

    Delfir escutou o relato de Kiran completamente teso e atento, que ao fim o inquietou sob uma intensidade acima do que acreditava que fosse possível – e suas expectativas já estavam em alta, considerando o conjunto atípico de ferimentos com os que achou o companheiro e a criatura de olhos azuis que momentos depois o fitou. Kiran foi perseguido por selvagens mortos? E com aquilo de olhos azuis como seu líder; algo que parece ser feito de gelo? Não, isso estava acima do crível, não era o que se poderia afirmar em sã condições...

    Se estivessem nos primórdios de Westeros – tempo em que os Primeiros Homens coexistiam com os Filhos da Floresta, e usando magia para combater abomináveis seres, como os Outros –, relatos como aquele não teriam o deixado nenhum pouco surpreso, porém já faziam oito milênios desde a Longa Noite, e dos Filhos da Floresta e de sua magia não se via sinal desde seis; nos tempos atuais, erigidos pelos falsos deuses dos ândalos e seus costumes distorcidos, os Deuses Antigos, provavelmente como punição por a maior parte dos contemporâneos estarem os negligenciando, privaram a qualquer um o domínio da magia, e por isso coisas como mortos-vivos não podiam existir, não deviam existir, do contrário... Que os Deuses Antigos ajudem a todos nós.

    Mas, na verdade, tal ajuda não viria a ser necessária, exatamente porque de fato não havia como aquilo ser verdade. Kiran, ainda abalado com a visão da criatura de olhos azuis – o próprio Delfir por isso não podia censurá-lo, já que testemunhara quão perturbadora ela de fato era –, deixou que o pânico turvasse suas constatações: Os selvagens que a acompanhavam deviam ser diferentes daqueles encontrados mortos, ou estes, quando Kiran os vira pela primeira vez, estavam na verdade apenas fingindo essa condição a fim de tramar uma armadilha – como aquela perseguição –, ou adormecidos... Mas serem mortos-vivos? Não, havia explicações mais plausíveis para se acreditar do que aquela.

    Kiran, sei que você ainda deve estar abalado com o que aconteceu... Também vi o ser de olhos azuis, que, pelo que você falou, parece estar liderando alguns dos selvagens... Conversaremos melhor sobre quem ele pode ser assim como outros pormenores lá dentro. Delfir aponta para a casinhola de madeira, após o que começa a se dirigir para lá.

    Qhorim deveria saber quem era a criatura de olhos azuis; Delfir, não tinha palpites. A propósito, o alívio invade o patrulheiro ao saber que, afinal, ele e os demais não eram os mortos; agora, sentia-se confiante de que sabia quem estava naquela casa de madeira... Até observá-la melhor.

    Mas aquela luz não é de uma lamparina, e sim de uma fogueira! Delfir conhecia Qhorim bem demais para saber que ele nunca não correria o risco de incendiar o abrigo acendendo uma fogueira se pudesse evitar, e ao carregar para os patrulhamentos sua pequena lamparina de óleo se assegurava de que sempre podia. Aquela luz não sinalizava conforto, e sim problemas.

    Kiran, veja, aquilo é a luz de uma fogueira; não são Qhorim e os dois novatos que estão no abrigo... Delfir avalia a condição do companheiro de cima a baixo, tentando decidir se ele ainda estava com vigor suficiente para fazer este de serventia a um eventual combate. — Sente-se capaz de almejar sua espada?

    Caso a resposta seja afirmativa:

    Caso a resposta seja negativa:

    Delfir se aproxima da entrada da casinhola e bate sua porta, desejando que uma postura amistosa bastasse para passarem uma noite lá abrigados sem a necessidade de um embate com os refugiados atuais.
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    Mensagem por Vinah Ter Ago 11, 2015 11:48 am

    Kiran Tavyne ainda conseguia ouvir a voz de seu companheiro, apesar de suas forças serem tragadas a cada instante. Seu corpo exigia o máximo de esforço para não desmoronar. Kiran temia que pudesse cair em um sono profundo e letárgico. Ele ouviu as constatações do outro patrulheiro, desejando que ambos estivessem loucos. Seria melhor ser tratado como um enfermo ou ser abandonado ao acaso do que conviver com aquela dura realidade. Ao que parecia, tudo que ele havia passado era real. Ele suspirou quando Delfir acusou que lá dentro se encontraria os selvagens. Ele só queria sair dali, abandonar aquele lugar frio e voltar para Torre Sombria. " Talvez desertar, me livrar dessas lembranças para sempre." Ele pensou. Kiran gostaria daquilo, forçou-se a ficar de pé novamente, suas mãos agarraram a espada e ele se postou ao lado do companheiro de patrulha.

    Os dois então avançaram rumo a casa, Kiran se movia com dificuldades, ficando alguns pequenos passos atrás, tomando conta da retaguarda. Ao bater na porta, Delfir Hornewood percebe que havia pessoas lá dentro. O arrastar de pés foi alto, o barulho indicava que se tratava de ao menos duas pessoas, houve também o barulho de uma lâmina sendo retirada da bainha. Quem quer que estivesse lá dentro possuía uma má organização, algo tipicamente parecido com o comportamento de selvagens. A porta se abriu após um estalo e Delfir Hornwood viu quem estava lá dentro.

    Em frente a porta uma figura se estendia com uma espada apontada para Delfir Hornwood. O braço que a empunhava tremia ligeiramente, o dono de tal corpo exibia uma expressão de pânico. Não houve tempo para dizer alguma coisa, a espada simplesmente se moveu na direção do patrulheiro. A estocada do rapaz foi extremamente lenta e confusa, pois no meio do golpe o movimento havia cessado. Não importava se o golpe havia se reduzido, Delfir havia facilmente realizado uma manobra defensiva. A experiência do patrulheiro era alta demais para ser vencida por aquela figura.

    Gunder Duas Damas estava assustado em frente a Delfir Hornwood. O experiente patrulheiro pôde ver tudo o que havia dentro do abrigo improvisado. Havia dois patrulheiros em seu interior, um deles era Gunder Duas Damas, o qual apontara a espada para ele naquele momento. O jovem era um recruta cru, ele havia sido trazido a muralha após roubar e matar um taverneiro em Rochedo Casterly. Apesar de seus "feitos", o jovem se orgulhava de ter levado para cama duas irmãs que eram filhas de um pequeno lorde perto de Rochedo Casterly. Suas habilidades com a espada eram quase inexistentes, mas a patrulha precisava de mais homens, então certamente fariam o uso daquele tipo de homem. Mais ao fundo da casa, outro homem estava se aprontando para um possível combate. Era um outro recruta o qual chamavam de Lyseno, pois ele parecia não entender o Idioma Comum, se comunicando apenas através de gestos. Havia uma fogueira queimando lá dentro, a luz tremeluzia quando a brisa fria entrou de rompante dentro da casa. A fumaça se esvaía da casa pelas pequenas aberturas nas junções de madeira e palha.

    — Desculpe senhor... — A voz saiu embolada, Gunder quase havia gaguejado naquela hora. — Eu não queria te acertar, eu pensei que era um selvagem. — Ele abaixou a espada e saiu de frente a porta, abrindo passagem para que vocês dois entrassem. Kiran Tavyne apenas observava, parecendo extremamente cansado. — Nós pensamos que algo tinha acontecido com vocês. Qhorin Meia-Mão saiu para procurá-los, ele disse que assobiaria quando chegasse novamente, por isso pensamos que você era um selvagem. — Ele parecia surpreso agora. — O que aconteceu? Entre, está muito frio ai fora.
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    Mensagem por Escaravelho Qua Ago 12, 2015 11:51 pm

    Ao escutar como resposta de sua batida na porta o soar do que parecia ser uma espada sendo desembainhada, Delfir compreende que aqueles refugiados provavelmente não estavam muito dispostos a compartilhar o refúgio com qualquer um, que tinham meios eficazes de demonstrar essa insatisfação, e que, admitindo que fossem selvagens, suas roupas negras apenas minoravam as chances de aquilo ser resolvido pacificamente. Suspira. Bem, eu não devia ter esperado outra coisa que não a diplomacia da espada. Escolha suas ações preparando-se para a pior das situações; nunca era demais relembrar-se disso, e essa recomendação quem estava lá dentro já parecia ter assimilado muito bem.

    Sua espada já estava à mão, contudo, antes que tivesse tempo de se colocar em posição de combate, a porta abre e uma figura – trajando igualmente o preto, não deixa de notar – o recebe com uma tentativa canhestra de estocada com espada, tão desajeitada que o atacante parecia ter mudado de ideia quanto à tentativa de acertá-lo instantes depois. Não que isso em si importasse muito; Delfir acreditava que teria uma facilidade para se desviar dela similar a que no momento teve mesmo se o ataque fosse empreendido até o fim, e principalmente após reconhecer o portador da espada. Gunder Duas Damas. Habilidades de combate, na melhor das avaliações, medíocres; motivos pelo que vestia o preto nefastos. Outro patrulheiro de pouco valor para o que ele acreditava que devia ser a Patrulha da Noite; outro patrulheiro comum. Em sua companhia estava, mais a fundo na casa e se aprontando para uma batalha, o que era conhecido simplesmente como Lyseno, devido à sua procedência de fora e ao fato de que não entendia bem a língua de Westeros. Em geral, a visão de nenhum dos dois o agradaria muito, mas naquelas circunstâncias só podia se felicitar pelo bom fortúnio: Aqueles eram os novatos que acompanhavam Qhorim; enfim ele e Kiran reagrupavam-se com os demais patrulheiros... Ou não exatamente? Onde estava Qhorim?

    Gunder então lhe balbucia essa informação, junto com seus pedidos de desculpas por tentar matá-lo, embora ele nunca teria conseguido efetivar essa tentativa. Qhorim saiu em meio a essa nevasca? E a nossa procura? O zelo que esse patrulheiro tinha pelos demais não deixava de o impressionar; esse sim era alguém honrado, merecedor de um lugar na Patrulha da Noite. Mas, por outro lado, a tempestade estava muito forte, e Delfir temia que se Qhorim ficasse fora por muito tempo poderia não voltar mais ao abrigo... Principalmente se encontrasse aquele ser de olhos azuis, que, em adição, parecia estar acompanhado por selvagens que ficariam muito satisfeitos em ver em um espeto a cabeça de um dos mais proeminentes patrulheiros que a Patrulha tinha. Bem, mas Qhorim era um genuíno sobrevivencialista, preparado para muitas nevascas como aquela, e situações de risco muito maior; se tudo ocorresse bem, estaria de volta. Mas se desde o início tudo tivesse ocorrido bem, não teria havido nevasca, ou ataque ao Kiran; Delfir odiava ficar à mercê de probabilidades. Qhorim, que os deuses da floresta o protejam.

    O patrulheiro suspira novamente, entra no abrigo, espera por Kiran e então, quando a porta torna a ser fechada, responde a Gunder.
    Kiran foi severamente atacado. Como vê, parte de uma de suas orelhas foi arrancada, parte da outra de suas coxas foi cortada por uma espada. Os deuses me ajudaram a o encontrar a tempo de estancar o sangue que escorria de sua perna, mas ainda assim ele precisa o quanto antes dos cuidados de Lester.
    Lester fazia o papel de curandeiro na Torre Sombria. Delfir relanceia o irmão ferido e nota o quão apático ainda estava, além, naturalmente, de seus sinais de intensa fadiga – uma que o próprio Delfir compartilhava ao menos parcialmente, em virtude daquela maldita nevasca. Agora, não lhe parecia uma ideia tão ruim terem acendido a fogueira; certamente desejava recostar-se perto dela naquele mesmo momento, mas era preciso continuar o discurso, e isso lhe cairia melhor se feito de pé, e com uma boa visão de Duran e do Lyseno.

    Isso aconteceu após ele ter se afastado de mim, enquanto ainda dormia, para perseguir um coelho. Não sei ao certo o que o atacou. Ele mesmo não sabe. Diz apenas que possui olhos azuis, e parece ser uma criatura feita de gelo, como se nem humano aquilo fosse.
    Uma inquietação crescia em Delfir à medida que falava; A julgar pelo modo como arrancou a orelha de Kiran, humano aquilo de fato pode nem ser.

    E confirmo o que Kiran disse, porque eu também a vi logo após encontrá-lo. Ela o perseguia, e nos encaramos durante o que pareceu ser um segundo, antes de ela misteriosamente sumir quando pisquei os olhos... Houve também um barulho de rocha se partindo, mas... Qhorim deve saber o que aquilo é...
    A voz de Delfir começa a mostrar sinais de tremulosidade; aquilo definitivamente não era bom, precisava mostrar firmeza, como forma de sustentar uma imagem respeitosa e não assustar demais os novatos. Ele torna a suspirar e, após um silêncio incômodo, vê-se emocionalmente estabilizado para prosseguir... Prosseguir para a pior parte:

    Além disso...Esqueça os mortos-vivos. Kiran nunca lhe disse isso; isso nunca aconteceu.Essa criatura parece exercer alguma influência sobre os selvagens; alguns deles, pelo menos. Isso porque dois a acompanhavam enquanto perseguia Kiran, mas eles eu não cheguei a ver... E Kiran também achou outros dois perto do local onde foi atacado por ela, só que, segundo ele, esses pareciam estar mortos... Pode ter havido um conflito entre alguns deles e a criatura... Podem ter sido os mesmos, se fingindo de mortos às suas ordens... Seja o que for, é com ela que devemos nos preocupar.
    Agora que pensava melhor sobre isso, parecia que a criatura de fato estava antecipando a chegada de Kiran àquele local em que os selvagens foram encontrados; pode até tê-lo atraído, embora parecesse improvável que o patrulheiro confundisse aquilo com um coelho...

    Delfir lentamente dirigi-se até a fogueira. Estava mortalmente cansado; mesmo continuar ereto e falando lhe custava um incômodo esforço. Senta-se recostando-se à parede mais próxima da fogueira e encerra seu relato com uma observação.
    Suspeito que se descobrirmos o que aquela criatura é, descobriremos porque não temos visto nenhum selvagem por aqui ultimamente.

    O Lyseno o olhava confuso, mas sabia bem que não era por causa da criatura de olhos azuis, ou dos selvagens que a seguiam; se o maldito tivesse entendido uma maldita frase do que dissera aquilo já seria muito. Já foi um milagre Qhorim ter conseguido fazê-lo entender o motivo desse patrulhamento, afinal. Pelo menos dele não devia esperar tanta inquietação... Provavelmente imaginaria que foi apenas um ataque de selvagens, e fim da história... Já de Gunder... Delfir esperava estoicidade, mas seria isso demais para um ladrão como ele? Não que saber disso o interessasse muito; acima de tudo, esperava por Qhorim. Ele deve saber o que aquela criatura é. E deve saber se ela está afugentando os selvagens, e se os que permanecem por aqui a seguem por temor. Restava esperá-lo, então; e que ele chegasse antes de aquela ainda a, aparentemente, ser duradoura nevasca acabar...

    Gunder, faz muito tempo desde que Qhorim saiu a nossa procura?
    Havia inquietações demais abespinhando Delfir. Esperava que com a resposta de Gunder pudesse ao menos abrandar uma delas.
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    Mensagem por Vinah Sáb Ago 15, 2015 4:05 am

    Gunder Duas Damas precisou de um tempo para digerir aquela informação. Quando ele fora trazido para a muralha, havia ouvido várias histórias sobre os grandes patrulheiros que vestiam o negro; se lembrava de como Qhorin Meia-Mão havia supostamente matado quatro selvagens que o atacara; ouvira histórias de como Delfir Hornwood se portava como um pequeno lorde, trazendo um pouco de sua honra a cada companheiro de patrulha. Ali, Gunder encarava o homem que estava recostado em uma das paredes perto da fogueira. " Criatura feita de gelo? De que diabos ele está falando" Ele pensou. Ele ficou em um longo silêncio enquanto refletia sobre o assunto. Por fim, acabou decidindo que todas as histórias eram falsas, o intuito seria apenas despertar um sentimento mais nobre nos novos patrulheiros. Na visão de Gunder, aquilo nunca daria certo. Ele poderia ter pensado mais sobre o assunto, mas fitou Kiran Tavyne. " Kirav Tavyne é a prova do discurso de Delfir... ou talvez eles tenham sido surpreendidos por selvagens e estejam receosos de contar a verdade."

    Lyseno ajudou Kiran a se posicionar perto do fogo. O homem apesar de não falar o idioma comum, começou a reforçar os primeiros tratamentos que Delfir havia feito. Não que a qualidade do serviço fora ruim, mas sim porque as condições de trabalho eram bem melhores dentro do abrigo. Havia luz, calor e um local para recostar o pobre homem que fora ferido. Ainda sim, seria necessário um tratamento em Torre Sombria em pouco tempo para que o grande patrulheiro permanecesse vivo.

    — Não sei do que se trata essa tal criatura de gelo, mas é bom ver vocês por aqui. Qhoria saiu essa manhã, assim que a nevasca tomou conta do céu. Imploramos para ele não ir, mas ele demonstrou uma coragem muito grande e disse que não abandonaria um homem como você. Essa história toda é muita estranha, mas talvez Qhorin volte com respostas sobre essa tal criatura. — Ele fez uma pausa e se certificou que a porta estava fechada. O fogo estalava entre as madeiras da pequena fogueira. — Espero que ele esteja bem.

    Gunder queria rebater cada argumento de Delfir com um grande grito. Ele não acreditava em fantasias, mas o que adiantaria discutir com alguém tão renomado como Delfir? Gunder duas damas prezava por seu bem estar, de modo que se mostrou condescendente com a situação.

    — Certamente se trata de alguns selvagens, mas acho que não devemos pensar nisso agora. Vejo que vocês estão cansados, deve ter sido um dia duro lá fora. Logo Qhorin voltará e tudo voltara ao normal.

    Delfir Hornwood podia ouvir o vento soprando do lado de fora da casa. o fogo remexia inquieto e saboreava a madeira molhada com dificuldade. O sono o atingiu em ondas, drenando seus sentidos a cada novo contato. O represeiro branco parecia encarar o velho patrulheiro mesmo dentro do abrigo. Nada fugiria de seu olhar, Delfir então adormeceu, o esforço do dia havia cobrado seu preço.

    " Uma pequena linha brilhante atravessava a terra, movendo-se em direção ao sul com uma velocidade constante. Delfir sentia-se como se não possuísse nenhum corpo, sua visão englobava todo cenário e a cada segundo ele parecia mais consciente do que o cercava. Havia alguns pinheiros esparsos e algumas elevações a medida que avançava para o norte. A linha brilhante se tornou mais forte, revelando-se como um rio de águas leitosas como a neve.  A imagem de Delfir projetou-se aonde o rio desaguava - uma pequena poça do tamanho de um homem - , a grande quantidade de água do rio parecia não fazer efeito nenhum naquela poça. A imagem de Delfir tremeluziu e então começou a subir rio a cima, não se importando com a correnteza feroz que o rio exibia. Uma mão forte e já calejada tentava retirar a imagem do patrulheiro da água, mas a mão pouco conseguia segurar. A imagem então ganhava um tom sombrio enquanto percorria o rio, as águas que antes eram claras se tornavam vermelhas. No fim, Delfir havia encontrado a nascente do rio, a qual era uma criatura de gelo. Delfir então foi engolido, logo se viu dentro da boca de um grande dragão congelado. O frio parecia feroz, mas delfir não sentia frio algum dentro da grande besta."

    Delfir Hornwood voltou a si. O corpo do patrulheiro estava ligeiramente suado e seu braço esquerdo ficara dormente. O cansaço ao menos parecia ter abrandado, dando-lhe um toque de energia que não sentia desde cedo quando começara a nevasca. Na sua frente, Qhorin Meia-Mão olhava-o com um grande sorriso no rosto.

    — Parece que você andou passeando por ai sem mim, da próxima vez trate de me incluir. Você sabe como eu gosto de um bom patrulhamento em meio a uma nevasca como essa. — Ele sorriu, exibindo uma expressão amigável que Delfir Hornwood tanto conhecia. Os dois patrulheiros eram parceiros de longa data e suas famas haviam sido nutridas pela companhia que o outro proporcionava. — Achei seu rastro no começo da noite, mas temi te acordar de imediato quando voltei. — Delfir percebeu que a fogueira havia sido apagada e o luz do dia já preenchia todo o abrigo. — Agora já é de manhã, devemos partir em breve. Você encontrou alguma coisa? Eu acho que tenho boas notícias para você.
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    Personagens Desistentes Empty Adam Lancelot - Halt

    Mensagem por Vinah Ter Set 15, 2015 3:29 pm

    O céu começava a escurecer, trazendo consigo uma noite que desencadearia uma série de eventos. Tais eventos, moldariam significativamente o destino de todos os homens que ali se encontravam na margem da Estrada do Rei. O Tridente havia sido cruzado por toda a tropa, tendo como líder Roose Bolton. Um homem em especial encontrava-se com uma tarefa difícil de ser realizada, Adam Lancelot estava entre aqueles homens que seriam tragados pelo destino naquela fatídica noite.

    Uma brisa suave deslizava por todo o ambiente, tocando gentilmente a face do Lanceiro da Neve. Em Winterfell, o vento representava uma força avassaladora, capaz de dobrar um homem com o toque gélido e insensato. Ali, no acampamento que fora montado as margens da estrada do rei, o vento era uma presença reconfortante para todos os homens. Adam Lancelot se encontrava caminhando para uma tenda que estava localizada no meio do acampamento, seu destino era o aposento improvisado do líder Roose Bolton. Alguns homens saudaram o Lanceiro da Neve e outros lhe dirigiram sorrisos amistosos, a fama do nortenho havia se espalhado depois que Robb Stark o colocara em uma posição privilegiada dentro do exército do Jovem Lobo.

    Adam Lancelot ainda podia se lembrar das palavras que o Jovem Lobo havia pronunciado no último encontro entre os dois. A voz de Robb estava semi rouca na ocasião e o cenário que os cercava era os aposentos particulares de Robb.

    " Temo que em breve terei que tomar uma atitude em relação a algo que me incomoda. Não, não estou falando da morte de meu pai, apesar que isso ainda represente uma ferida colossal em meu peito. Tampouco falo dos meus irmãos, mas sim algo que corrói meu exército por dentro. Em breve terei que dividir meu exército, um seguirá a oeste do Tridente com a infantaria e a cavalaria seguirá até Correrio. Pretendo que Tywin Lannister acredite que nós iremos cair sobre Porto Real, mas ainda não é a hora. "

    Robb Stark havia ficado alguns segundos analisando o Lanceiro da Neve, como quem se preparasse para dizer um segredo importante.

    " Você seguirá com a infantaria a oeste, com o intuito de fazer um pequeno ataque a Porto Real. Colocarei Roose Bolton como líder, pois minha mãe insiste que é sensato dar a liderança para tal homem. No entanto, tenho minhas dúvidas quanto a fidelidade de Bolton, de modo que aqui estou eu, pedindo que você fique de olho nele por mim. Se achar que ele está para me trair, não deve revelar a ninguém, se não a mim ou aos meus familiares."

    A tenda de Roose Bolton já estava a poucos metros de distância, dois guardas estavam em frente a porta. Eles vestiam armadura de batalha completa, podia-se ver que eles estavam cansados, tentando suportar o calor que fazia dentro das placas de metais. O acampamento ao redor da tenda do comandante era repleta de homens, muitos haviam montado suas fogueiras e assavam grandes quantidades de carne, se preparando para a batalha que logo se desenrolaria. Alguns homens preferiam encher a barriga com o líquido escuro de uma cerveja ou do vinho amargo produzido no norte.

    Um dos guardas percebeu a aproximação de Adam Lancelot e disse com uma voz de escárnio. O outro guardou deu uma risada de zombaria alguns segundos depois de lhe dirigir o olhar.

    - O Lorde Roose Bolton o espera.
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    Mensagem por Halt Qua Set 16, 2015 9:29 pm

    - Boa noite, meu senhor... - Dizia Adam entrando na tenda, apesar Roose ter sido escolhido á dedo por Robb, lembrava-se de suas recomendações, algo não cheirava bem naquele homem ao olfato do rei do norte, lembrara-se que ele estava ali apenas por recomendação e implicância de Catelyn Stark, a mãe do rei.
     
     De forma curiosa, entrava prestando atenção em cada detalhe ao redor, procurava algo suspeito, mesmo que até agora não houvesse nenhum vestígio de que Bolton era traidor, mesmo que não quisesse aceitar essa possibilidade de traição dentro do comando dos Starks, Lancelot era um homem realista que sabia muito bem como um homem passa por cima de tudo para conseguir oque quer, inclusive a própria honra. Olhava para o líder que na tenda estava e continuava : - O deixei esperando por muito tempo?... - Dizia preocupado esperando a resposta e possivelmente uma instrução. Nada deixava o lanceiro mais determinado do que servir sua nação, ainda mais causando um ataque a Oeste, Lancelot amaldiçoava cada alma que considerava impura na terra, e não gostava do comportamento dos Lannisters, seu jeito arrogante e superior de quem sempre tinha dinheiro na mão, não sentia-se inferiorizado na presença de um dos leões, mas odiava o fato de ver um se sentindo superior.
     
      " Robb deve ter algum motivo para desconfiar desse homem, mas acho que agora é hora de se preocupar com o nosso ataque, vou me concentrar nisso, e deixar Bolton em segundo plano " - Pensava

     Observava com olhos atentos a cabana, meio paranóico mas necessário, com medo de algum imprevisto olhava as vezes para a entrada da cabana, mas se sentia confiante, finalmente sentia que estava sendo útil desde a vez em que confrontou os malditos salteadores da vila, nada foi mais prestigioso do que perfura-los com sua arma e ouvir o grito de comemoração dos corações furiosos dos aldeões. Buscava algum lugar para se sentar, caso fosse convidado a faze-lo, e aguardava suas ordens com os olhos furiosos e negros fixos e o coração pronto.
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    Mensagem por Vinah Qui Set 17, 2015 6:12 am

    Lorde Roose Bolton estava sentando em uma cadeira que mais se assemelhava a um trono, havia até mesmo algumas jóias encravadas no material firme que a cadeira fora forjada. Ele acompanhou os movimentos de Adam, sem se importar em responder o lanceiro recém adentrado na tenda. Os olhos do nortenho poderiam ser considerados a única coisa bela do homem, os olhos eram claros e se destacavam diante da pele pálida e pastosa que o lorde possuía. Ele era conhecido por fazer sangrias regularmente, a qual acredita que melhorava sua saúde, levando alguns a chamá-lo de Lorde Sanguessuga.

    Quando o Bolton falou, sua voz saiu tímida, forçando que Adam Lancelot se esforçasse para ouvi-lo.

    - Chegou em um momento oportuno. – O lorde sussurrou. – Gostaria de tratar com você alguns assuntos que antecedem a guerra. – Roose lhe indicou uma cadeira, esperando que você se sentasse. Assim que o fez, o lorde voltou a sussurrar. - Robb Stark me diz que você é dono de um coração intrépido e de uma habilidade digna de um grande cavaleiro. Isso sem dúvida será útil na batalha que acontecerá, mas eu acredito que essas qualidades possam ser aproveitadas de outra maneira. – Ele fez uma pausa. - Gostaria que você liderasse alguns homens em um ataque secreto. A tropa principal seguirá para os portões principais de Porto real, mas você deverá achar um jeito de sabotar um dos portões, facilitando a nossa entrada ou causando alguma distração na cidade.

    Os olhos claros de Roose Bolton fitavam Adam Lancelot, um sorriso fino brotou dos lábios mórbidos do lorde do Forte Pavor.
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    Mensagem por Halt Qui Set 17, 2015 6:27 pm

    Adam sentara-se e agora estava a ouvir as palavras do homem de olhos claros, distraia-se por meros segundos com as jóias, adorava jóias, não era ganancioso nem buscava obte-las, mas gostava de admira-las. Centrava-se na proposta de Bolton. Obviamente sentia-se lisonjeado após ouvir as palavras de admiração ditas pelo rei do Norte, cada palavra fazia-o se sentir mais confiante e feliz por estar na missão.

    Quando termina de ouvir a proposta, imediatamente começa a raciocinar. Primeiro aprova a idéia pois acha um ataque surpresa divido uma bela forma de atingir inimigo. Depois teme pelas palavras de Robb sobre confiar em Roose. Parecia algo bem arriscado a se fazer. Não tinha medo de morrer mas prezava sua vida e tudo que conquistara até aqui. Apesar disso, decide confiar no poder do Norte e na liderança do homem recomendado pela própria Catelyn Stark.

    - Senhor, fico lisonjeado com as palavras... - Diz curvando um pouco a cabeça e olhando fixamente nos olhos de seu líder - - Assim como me pediu, vou liderar a tropa até os portões e realizar esse ataque, infligir o espaço do inimigo e achar uma forma de entrada para o resto do nosso exército. - Esperava a ordem do homem, caso fosse dada. Levantava-se e iria se reunir á sua tropa.
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    Mensagem por Vinah Qui Set 17, 2015 8:25 pm

    Lorde Roose Bolton fazia um semblante de aprovação, desejando-lhe sorte na epopeia que estava por vir. A tenda era grande, mas mesmo assim era apertada, pois se tratava de um acampamento improvisado, o qual gerava uma sensação de calor na tenda do líder da tropa. Ao sair para o ar livre novamente, a brisa roça o rosto de Adam de uma maneira suave, os guardas então abriam caminho e o lanceiro finalmente se via em direção ao seu destino.

    Sua tropa era composta por cerca de duzentos homens, uma quantia insignificativa se comparado aos milhares de homens da tropa principal. Nas horas que antecederam as ações, cada homem estava em um lugar diferente, mas a medida que o tempo se aproximava os homens tendiam a se reunir. Foi assim que Adam se encontrou em uma clareira com os homens que empenhariam aquela tarefa ardilosa e ousada, alguns exibiam semblantes de medo e outros afogavam seus sentimentos em vinhos amargos do norte.

    Seja como for, o momento estava chegando. A noite já estava no auge e o momento do ataque começaria, tendo como resultado uma invasão no primeiro sinal da aurora. Um dos homens aproximou-se e desejou sorte ao lanceiro, falando que os deuses antigos velariam por eles.

    Esmond era o nome do homem, o qual também trouxera um cavalo e ofercera para que lanceiro pudesse cavalgar. Os homens ao redor da clareira olhavam para Adam Lancelot, esperando a confirmação para partirem.

    - Estamos prontos senhor.
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    Mensagem por Halt Qui Set 17, 2015 8:56 pm

    Ja era hora.

    Com a brisa e o numero elevado de homens armados prontos para o combate, Adam sentia-se animado. Cada vez que um soldado desejava-lhe sorte no campo sentia seu sangue ferver de determinação. Dava uma pequena batida no ombro de alguns dos guerreiros e começava seu discurso. - Cavalheiros! Todos que estão aqui nesse pequeno grupo são homens que honram cada fio de cabelo de suas bolas! - - soltava uma leve risada tentando anima-los. - Portanto sintam-se honrados por terem sido escolhidos para tal tarefa!

    Fazia uma pequena pausa, pegava seu escudo e sua lança e subia em seu cavalo. Ao subir olhava para sua tropa e dava meia volta para virar-se para eles. Com a mão esquerda segurava o cavalo, e o escudo em suas costas. Com a direita levantava sua lança para o horizonte no qual todos seguiriam, e berrava.

    - Quero que se lembrem de suas esposas, irmãs, prostitutas, de todos seus ancestrais, quero que honrem eles e façam-nos gritar de orgulhos em seus túmulos. Marchem! - Começava a comandar seu cavalo para que seguisse em frente, seguia com a lança na mão. A lança que provaria sangue inimigo esta noite.
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    Mensagem por Vinah Sáb Set 19, 2015 3:46 am

    A tropa deslizava pelo ambiente escuro que cercava Porto Real, usando apenas a iluminação parca da lua para se orientarem. O silêncio dos homens era profundo, a tensão crescia a cada segundo que se passava. Apenas os sons dos cascos dos cavalos podiam ser ouvidos, mas muito homens ainda se encontravam pedindo aos deuses nortenhos que os protegesse do que viria a seguir.

    O discurso que Adam Lancelot fizera antes de sair havia inflamado os homens para o combate, mas agora que se encontravam em terreno hostil poucos ainda demonstravam a mesma confiança. O Lanceiro da Neve sabia que em algum lugar ali, possivelmente na outra lateral da cidade, Roose Bolton estava marchando com cerca de dezesseis mil homens em direção a Porto Real, enquanto o próprio Adam contava com apenas duas centenas de homem. Era certo que Porto Real possuía um vasto contingente de defesa, mas que não seria suficiente para defender a cidade, pois o ataque seria rápido, devastador e inesperado. Era isso que impelia a maioria dos homens, forçando-os a continuar a medida que se agarravam a essa esperança.

    Finalmente, após longos minutos Adam avistava o Portão de Ferro, o qual era um dos sete grandes portões das muralhas que cercam Porto Real. Fica localizado na muralha norte, e liga a cidade à estrada que leva ao norte até Rosby, ao longo da Baía do Água Negra. Olhando de perto, o portão parecia velho e decrépito, suas grades eram tortas e possuíam algumas aberturas na altura de três metros, onde um homem poderia entrar espremendo-se com muito dificuldade. Não havia nenhuma grande patrulha em frente ao portão, ele parecia quase abandonado. Havia alguns archotes iluminando a lateral do portão e também alguns posicionados dentro da cidade. Em meio a grama, Adam ainda estava em uma posição de vantagem, mas assim que qualquer homem entrasse na cidade seria iluminado pelos archotes, isso se de fato conseguissem passar pelo grande portão de Ferro.

    Sons de batalhas foram ouvidos bem ao longe, onde quer que Roose Bolton estava, a guerra havia iniciado. Os homens olharam para Adam Lancelot, esperando que o favorito de Robb Stark os liderasse.
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    Mensagem por Halt Sáb Set 19, 2015 6:55 pm

    A noite caída e o silêncio dela fazia com que Adam pudesse ouvir até mesmo o som de seu coração batendo de tremor, apesar da confiança sabia que ali podia ser sua ruína. Tentava se acalmar sentindo a brisa e observando a lua no céu negro que cobria toda sua tropa. Andava e aguardava, até que começou a ouvir os sons de guerra. As espadas batendo e os gritos de pavor. Já era hora de começar.

    Analisava bem o local pois queria fazer uma entrada bruta, rápida e silenciosa. Visualizava os archotes e a pouca patrulha que guardava o velho portão de ferro, virava-se para seus homens e dizia em tom baixo. - " Enviarei uma quantidade de cinquenta homens para combater a pequena patrulha que se encontra frente ao portão, vão. Matem-nos, e entrem. Enviaremos a camada mais fina e depois atacaremos com força total. " . Olhava bem e escolhia o menor de seus homens. - "Você, irá logo atrás da linha de frente, esperará que eles derrotem os inimigos, e entrará pelo buraco no portão e apagará os archotes principais de lá de dentro, para que possamos ser mais furtivos, já la dentro, tentará sabotar o portão e achar uma maneira de abri-lo, deve haver uma alavanca ou algo do tipo. " - Sinalizava com a cabeça enviando alguns homens.

    Olhava para o resto. - " Quando os archotes forem apagados, nós seguiremos! " - Virava-se para o horizonte do portão para observar sua tropa. Torcia e rezava para todos os deuses conhecidos para que tudo desse certo. Esperava que os inimigos fossem mortos sem imprevistos e os archotes apagados. Sentia o frio na barriga pois nunca participara de uma batalha tão decisiva e relevante como essa. Segurava com firmeza sua lança e estufava o peito para o perigo. Caso os archotes fossem apagados, seguia com o resto do grupo até na frente do portão esperando que o mesmo fosse aberto para que começasse a baderna la dentro.

    - " Homens, nada de estupros, saqueamentos, ou matar crianças! Isso é uma guerra e não um saque, foquem seus inimigos e causem baderna! Vamos distrai-los, mata-los, ataquem os pontos principais : comércios, casas de prazeres. Mas não firam gente inocente a menos que esses reajam. Se eu ver um homem fazendo-o, esse será considerado traidor e pagará com a vida " - Gritava em tom alto e claro para que todos ouvissem. Queria ressaltar seu comando. Apontava com a lança em direção ao horizonte para indicar o alvo e se mantinha firme em seu cavalo pronto para qualquer ataque.
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    Mensagem por Vinah Ter Set 22, 2015 7:45 pm

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