Dali de fora, o estranho soldado podia ouvir o rosnar do lobo gigante de Bran. Grey ainda conseguia se lembrar quando encontrara o lobo gigante, o qual possuía o nome de Verão, deitado em cima de Bran logo após a tentativa de assassinato de seu dono. Verão tinha uma cor prateada com alguns pontos repletos de um cinza escuro, seus olhos brilhavam com uma intensidade luminosa assustadora, fazendo com que o amarelo ganhasse tons terríveis. Verão havia estraçalhado o homem que tentara assassinar Bran, arrancando-lhe a garganta com uma mordida furiosa. Fora assim que Grey encontrara Bran, Verão e Catelyn Stark no quarto, Bran estava acariciando o animal como se nada houvesse acontecido, seu lobo estava deitado em seu colo e de sua mandíbula pingava um sangue quente e fresco, a senhora Catelyn por sua vez apenas observava a cena em silêncio profundo. O olhar que Verão havia lançado para o guerreiro quando este adentrara a cena foi repleto de raiva, mas Bran acalmou a terrível fera com apenas um passar de mão em seu lobo. Era claro que os Stark tinham uma ligação estranha com o passado.
A maioria das noites eram dominadas por uivos e ganidos por parte dos lobos gigantes do Stark. Verão tinha um irmão, Felpudo era seu nome. Esse, exalava uma ferocidade incrível, sendo temido por qualquer homem de Winterfell. Os dois lobos eram responsáveis por uma cadência única, algo que Grey nunca havia sentido durante sua vida com os Kastark. Ali em Winterfell, era fácil perceber o poderio daquela casa. Quando um corvo fora recebido de Porto real, informando que Eddard Stark havia sido preso por trair o rei e tramar para planejar sua morte, os meninos Starks ficaram abalados. Um clima pesou sobre a casa, o lema de seu brasão nunca parecera tão real. " O Inverno está chegando."
A guarda de Grey havia durado toda a noite e só terminara quando o dia clareou. Osha, uma selvagem estranha e magricela que tentara matar Bran durante uma caçada, havia se tornado a visita mais frequente do menino. A mulher tinha uma aparência de "quase mulher", pois sua beleza era facilmente questionável para os padrões de Westeros, tendo inúmeras cicatrizes que ela dizia ter conquistado arduamente. Isso era um coisa que tinham em comum, pois Grey também tinha uma enorme marca que cobria seu olho. Naturalmente, Grey e Osha também haviam desenvolvido uma certa "amizade". Era comum que Osha o saudasse toda manhã, sempre destinando alguns minutos com o guarda. Certa vez, Osha havia contado que possuía um irmão que havia matado um gigante Para-lá-da-Muralha, um feito que havia sido alcançado após dois longos dias de um combate intenso. A mulher sempre possuía algum argumento quando o assunto eram os velhos deuses, preenchendo Bran com lendas antigas do povo livre. Até mesmo Verão parecia gostar da mulher, permitindo frequentemente ser acariciado pela selvagem.
Naquela manhã Osha usava os cabelos soltos e havia terra em seu couro cabeludo, mas seu olhar era calmo e satisfeito. Ela acenou para Grey, mas antes de adentrar ao quarto de Bran lhe dirigiu um olhar e um momento a mais.
— Bran e eu iremos ao bosque sagrado em pouco tempo. Talvez isso lhe faça bem, um homem não pode ser tão preso a sua tarefa como você é. Um dia você acordará e se verá como um lorde ridículo e impotente. — Ela deu um sorriso, revelando dentes amarelados, mas o aspecto do sorriso era de uma genuína alegria. Lá dentro, Grey ouviu o lobo se levantar. O rosnado e o modo como Verão raspava as garras na porta de madeira era inconfundível, ele estava quase abrindo um buraco na porta de madeira de pinheiro do quarto do menino. — O que me diz? — Muitas vezes Osha olhava-o sempre do lado da cicatriz, como se aquela visão lhe desse algum prazer.