Daemon Lannister - Thitanios

O local estava repleto de morte, sangue e dor. Um rei falecido, um homem praticamente cortado ao meio e uma mulher com cota de malha chorando. O Estranho deveria se divertir com aquilo tudo, talvez fosse o início de uma piada em algum lugar.

A morte do guarda não conseguiu aplacar o Leão da Campina, sua fúria ainda o queimava e aquilo era apenas o aperitivo, ele só se acalmaria quando o sangue de Stannis estivesse na ponta da sua espada. Isso não resolveria nada, mas a vingança ou a justiça não funcionam por meio de lógica pragmática. Era um papel moral de Daemon garantir que o Fratricida fosse castigado.

Foi então que Brienne quebrou o silêncio, falando exatamente o que se passava em sua cabeça. A situação era desesperadora, mas ele não podia perder o controle, sua postura era confiante e inabalável.  

- Amanhã enterramos o rei e viveremos o luto como deve ser vivido. A Campina ficará bem, decidiremos o que vamos fazer, se Margaery Tyrell estiver grávida ainda teremos um rei. - Não acreditava nisso, mas resolveria grande parte dos problemas de todos. - Hoje, entretanto, nos vingaremos o rei. Enquanto Stannis estiver vivo nos ainda lutaremos por Renly.  

Ele então chamou os batedores e ordenou que dois deles levassem o corpo do rei ao acampamento, explicando o acontecido. O outro batedor iria com ele, tentariam rastrear Stannis, ele não poderia ter ido muito longe e talvez conseguissem alcança-lo. Ele então se virou para Brienne.

- Você pode ir comigo e tentar se vingar de Stannis ou proteger o corpo de Renly como membro de sua guarda pessoal, é uma escolha sua, faça o que achar que seria da vontade dele.

Brienne de Tarth ficou em silêncio, fitando por longos segundos o corpo do falecido rei. Ela ainda tentava afastar a realidade, mas a fala do Leão da Campina a trouxe de volta para o passado. Ela então olhou para o comandante das tropas de Renly Baratheon e disse com a voz firme.

- Renly acreditava que você poderia realizar grandes feitos. E agora, eu também acredito nisso. - Ela se levantou, mantendo o olhar em Daemon Lannister. - Vingarei a morte do rei e trarei justiça sobre Stannis! Que ele pague com o sangue por ter feito isso. - Ela então parou de chorar, sua mão tocou o cabo da espada. - Juro por Renly que o seguirei você, Daemon Lannister, durante todo o caminho para trazer a justiça sobre o traidor Stannis Baratheon.

O batedor que Daemon havia ordenado já tinha preparado os cavalos, de modo que o trio poderia percorrer uma boa distância em pouco tempo, facilitando a busca por Stannis.

Um sorriso triste surgiu no rosto de Daemon quando Brienne deu sua reposta, seria uma sorriso comum se não fosse aquela situação dramática.

- Ótimo. - Brienne era forte, isso era incontestável, havia acabado de perder seu rei e o homem que amava, mesmo assim conseguia se erguer e enfrentar a situação. Stannis sofreria se caísse nas mãos do homem, mas provavelmente sofreria ainda se caísse nas mãos vingativas de Brienne. Seu pai dizia que preferia a ira de todos os deuses à ira de uma mulher.

Ele então deu as ordens finais para que todos pudessem partir rumo as suas jornadas. Daemon agradeceu aos deuses por não ter que levar o corpo do rei ao acampamento, seria algo extremamente desagradável dar a notícia do ocorrido. Ele então subiu no cavalo, segurou sua lâmina e pôde sentir a cede de sangue da mesma, cede de sangue de reis, falsos ou verdadeiros, ele podia reconhecer pois era algo que tinham em comum. Naquele dia a pacificadora mataria seu primeiro rei e Daemon mataria o seu segundo.

Daemon cavalgava ao lado de Brienne de Tarth e o batedor. O traje colorido que Brienne vestia agora estava manchado de sangue e seus olhos estavam injetados de fúria. O batedor seguia na frente, descendo do cavalo de tempos em tempos para verificar alguma coisa no chão, mas era claramente Daemon Lannister quem liderava aquela comitiva que tinha o dever de matar o rei. " O pacificador", essa era a alcunha que Daemon portava e também esse era o nome de sua espada de aço valiriano que havia conquistado no torneio do falecido rei Renly Baratheon. Seu braço forte, sua constituição de gigante e sua coragem intrépida era tudo que restava para Campina após aquela noite. Se a vingança não fosse realizada, o exército de Renly Baratheon se quebraria como uma lâmina mal feita.

A chuva caía lentamente, fazendo com que as pedras da região ficassem escorregadias. O trio já estava bem perto da costa, podendo ver toda a fortaleza a sua frente. Havia inúmeras tochas, indicando que soldados patrulhavam o castelo em alerta. No mar, Daemon Lannister pôde ver que alguns navios começavam a chegar perto da cidade, indicando que Stannis estava se preparando para a batalha, isso é, se houvesse alguma. Enquanto Daemon observava tal coisa, o batedor percebeu algo importante e apontou para um trilha que levava a uma caverna em meios as pedras na costa.

- Alguém acabou de passar por aquela trilha, e ao que parece, estava com muita pressa. Talvez tenha a ver com o homem que estamos procurando.

A caverna era toda cercada de pedras pontiagudas, de modo que a entrada ficava quase totalmente escondida, ainda mais sob a chuva que caía naquela noite. Foi de fato, algo impressionante o que o batedor havia avistado. A caverna estava toda escura, mas o batedor retirou do alforje duas tochas e entregou a Daemon Lannister. O gigante podia ver que realmente alguém havia passado ali, os poucos matos que tinham estavam amassados e o barro que se aglomerava nas bordas estavam com marcas de pé.

Ao ver todos os preparativos para a batalha o homem pensou no que aconteceria se não encontrassem Stannis. Não tinha medo da guerra, a Campina dificilmente perderia um combate contra o irmão do falecido rei. De todo modo, toda batalha demanda um gasto de recursos, cada batalha desgastava o vigor do exercito e pode significar um problema futuro. Ainda tinham os Lannisters para vencer, os nortenhos também seriam possíveis inimigos num futuro a médio prazo.

Ele pensou se aquilo ainda fazia sentido, se ainda existia um exercito sem Renly ou se lutariam por vingança e depois se dividiriam. Quando falou com Brienne ele demonstrou segurança, mas a verdade é que não tinha poder de decisão algum. Foi então que o batedor falou e ele prestou atenção. Uma esperança se acendeu e eles ainda podiam encontrar Stannis e acabar com aquilo da formais rápida.

Entrou naquele local escuro e úmido, consideravelmente apertado para alguém do seu tamanho. Usava a tocha para iluminar da melhor forma que conseguia, seguindo as evidência junto ao batedor. Sua espada estava pronta para o combate e ele seguia o mais rápido possível naquelas condições, quase podia sentir a presença do maldito, isso ajudou a restaurar a sua fúria.

O interior da caverna era mesmo surpreendente. Como aquela pequena entrada dava acesso a uma escavação de tamanha magnitude? As tochas acesas permitiram que todo o interior do local fosse iluminado, ao menos parcialmente. Sombras dançavam nas paredes, emulando inimigos fantasmagóricos. A caverna era úmida e do seu teto escorria água, não muito, mas provavelmente algumas brechas no topo da montanha rochosa permitiam que as gotas da chuva escorrem para dentro do local. A tocha que Daemon carregava possibilitava a visão de um caminho ao lado de um lago formado pelas estalactites que estavam em constante derretimento e suas gotas de água que caiam a todo tempo no lago, tornando-o inquieto com a formação de algumas pequenas ondas. Não fosse por isto, o silêncio seria ensurdecedor, pois este gotejamento era o único som audível no ambiente.

Ao longo do caminho que lateralizava o lago, este se estreitava progressivamente, tornando a caminhada mais complicada. Durante esse percurso, algumas rochas tinham riscos sugestivos de que algo ou alguém passara por ali anteriormente. Mais um pouco de caminhada levou Daemon e seus companheiros até o ponto em que havia uma bifurcação. Do lado esquerdo havia algumas inscrições rúnicas fixadas na pedra. Um fato intrigante é que os contornos das runas eram feitos perfeitamente, diferentemente dos símbolos que costumavam ser feitos por qualquer um naquele continente. O caminho das runas era escuro e sem iluminação, até mesmo as tochas pareciam não conseguiam penetrar tão a fundo naquela escuridão. O outro caminho da bifurcação, por outro lado, permitia a visão de um buraco iluminado, o que parecia ser a saída do local, talvez cerca de 500m de caminhada, um caminho que era estreito, rochoso e que formavam algumas espículas que tornariam difícil a saída, mas lá no fundo, ainda dava para ver que aquele caminho levaria a um local mais iluminado.

Spoiler:

Stannis podia ter ido por qualquer um dos dois caminhos, o que parecia transformar tudo em uma questão de sorte. Foi então que Daemon teve uma ideia. Primeiro ele entrou no caminho da esquerda, com sua escuridão e suas runas. Julgando pelas características do local, seria impossível alguém passar sem iluminação por aquela entrada. Eles começaram a procurar, ainda nos primeiros metros do caminho, indícios da passagem de alguém com uma tocha por ali, cinzas no chão ou o odor de fumaça. Continuariam seguindo por aquele lugar se encontrassem qualquer evidência, do contrário restaria o caminho da direita.

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Daemon Lannister não conseguiu ver muita coisa naquela iluminação precária e nem mesmo sentir nada. Era um gigante, cheio de força e coragem, mas que não conseguiu perceber nada de útil naquele caminho. Quando estava prestes a se entregar e partir para o outro caminho, seus companheiros chamaram seu nome.

- Daemon, olhe isso aqui. - Brienne falou em um tom elevado, animada pela descoberta. Ela mostrou uma tocha apagada, recém usada e ainda quente que estava escondida atrás de uma rocha.

Já o batedor foi mais discreto, apenas sussurrou o seu achado. Ele apontou para uma parte em que o caminho seguia e sussurrou a palavra "sangue". Era verdade, o caminho continha um rastro de sangue que seguia rumo a escuridão. O sangue era fresco.

Daemon falhou em rastrear as pistas, mas ficou feliz em ter levado consigo a mulher e o batedor. Pelas evidências, a presa havia seguido por ali, aquele sangue podia ser de Renly ou do próprio Stannis, de qualquer modo agora tinham uma pistas fresca e poderiam seguir caminho de forma muito mais segura. O homem gesticulou para que pudessem seguir a trilha do sangue, deviam ser rápidos, pois Stannis não podia chegar ao Castelo. Se a visibilidade permitisse ele caminharia com a espada em uma das mãos e o escudo na outra, enquanto Brienne e o Batedor levavam o fogo, se não levaria a espada em uma das mão e a tocha na outra. De qualquer modo, estava preparado para o possível combate que poderia ocorrer naquele local apetado.

Como planejado, Daemon Lannister entregou a tocha para a Brienne, de modo que estava pronto para qualquer batalha. Apesar de bem trajado para a guerra e o combate que poderia acontecer a qualquer momento, o gigante andava sem fazer barulho.

O caminho seguiu-se da mesma maneira. O trio caminhava com dificuldade, devido à falta de luz. Apesar das tochas estarem acesas, elas iluminavam muito pouco do local. Era como se algo invisível estivesse lutando contra as chamas, ou até mesmo controlando-as. Independentemente da dificuldade que o grupo tinha, eles conseguiram cruzar um bom caminho. As paredes rochosas perderam a sensação de natural, uma vez que as rochas pontiagudas foram substituídas por pedras lisas, as quais continham as mesmas inscrições rúnicas do início do caminho, a única diferença é que essas runas eram feitas de sangue fresco, o mesmo do qual era composto o rastro do caminho.

O batedor parecia com medo, rezando aos setes para que nada acontecesse. Durante o caminho, ele havia balbuciado algo como “O estranho planeja esse caminho para nós, nada de bom virá daqui.“

Brinne de Tarth se mantinha com mais coragem, ainda impulsionada pelo ódio e pelo desejo de vingança. Chegou uma hora em que o trio andava nessa composição: Daemon Lannister seguia na frente e Brinne andava ao seu lado, o batedor por sua vez permanecia um pouco atrás, cobrindo a retaguarda.

Foi então que uma hora o corredor abriu-se abruptamente, dando lugar a uma sala oval e mais clara, era como se o local tivesse um sistema natural de luminosidade. As tochas, como num passe de mágica, irromperam com tal ferocidade que Brienne de Tarth tivera que jogá-la no chão para não queimar suas mãos. Isso podia ser estranho, mas havia algo ainda mais estranho em meio ao salão oval.

Uma figura estava no meio da salão, agachada e de costas para o trio. Era definitivamente um humano, vestido com uma capa vermelha. O calor irradiava de onde ele estava, Daemon pôde sentir seu corpo e até mesmo sua espada esquentar um pouco. O que quer que fosse a figura, irradiava calor.

O gigante conseguiu manter o foco, mesmo diante daquele caminho sinistro e daquela cena estranha. Não costumava a acreditar em nada sobrenatural, acreditar no deuses e recitar algumas orações de combate ou nos momentos especiais era o máximo que se permitia, o divino sempre lhe foi algo mais cultural do que uma questão de fé em si. De todo modo, parecia que algo de estranho e fantástico acontecia ali. Sabia que não temia qualquer homem, porém nunca havia lidado com nada fora do normal, não sabia como reagiria numa situação dessas. Ele decidiu, portanto, ignorar tudo aquilo e seguir de forma corajoso ou imprudente. Entrou na sala aonde a criatura estava e disse em voz alta.

- Onde se encontra o maldito Stannis ? - Pelo que sabia aquele ser de capaz vermelho podia ser o próprio, mas algo lhe dizia o contrário. De todo modo, não havia baixado a guarda, bastava que o ser avançasse para que ele lhe cortasse em dois.

- Stannis? Ele se encontra aonde deve estar, dentro do castelo em Pedra do Dragão. - Era uma mulher, o cabelo eram vermelhos e toda sua roupa era da mesma cor. Em sua garganta se encontrava um grande rubi vermelho, o qual brilhava de tempos em tempos. A moção não parecia perigosa, ao menos para um homem desatento. Havia algo estranho no jeito como ela se portava, algo que lembrava o continente de Essos. - O que está fazendo aqui nessa hora, Daemon? Não sabe que a noite é escura e cheia de terrores?

A moça ficou parada, sem se mover, olhando diratamente para Daemon Lannister, ignorando completamente os outros dois companheiros do gigante. Uma coisa estranha era que a mulher tinha um copo de madeira em mãos, o qual estava preenchido com sangue. Assim como o copo, suas mãos estavam sujas com aquele liquido vital.

Spoiler:

Como ela sabia seu nome ? Foi o primeiro pensamento que passou pela cabeça do gigante. Com tudo aquilo que havia visto o homem parecia inclinado a acreditar em algo sobre humano, mesmo que a sua razão e sua força de vontade resistissem. Foi então que ele se lembrou que Stannis tinha ao seu lado uma sacerdotisa vermelha. Os homens diziam que Stannis havia largado os verdadeiros deuses e agora adorava demônios do outro lado do mar, mas Daemon conhecia aquela religião, R'hollor era um deus popular em vários locais do continente e o rapaz até conhecia alguns de seus adoradores e sacerdotes. Aquela devia ser Mi ou talvez Me ... alguma coisa, não se lembrava ao certo, sabia que seu nome começava com M, mas não se recordava do resto, os homens haviam comentado enquanto ele estava bêbado e mesmo se interessando pela informação pouco conseguiu absorver. De todo modo, se ela era Essos podia conhecê-lo por nome, ao vê-lo agora não seria muito difícil adivinhar sua identidade. Quantos gigantes loiros com espadas de aço valiriano estavam atrás de Stannis Baratheon ?

Todo esse raciocínio demorou poucos segundos, depois disso o homem deu alguns passos, seu olhar era fixo na mulher. Ele guardou seu escudo nas costas e se aproximou de Melisandre, foi então que deu um tapa com força no copo com sangue que a mulher segurava, de maneira que o mesmo voasse longe e sujasse o cômodo com o líquido vermelho. Logo depois ele segurou o pescoço da mulher, forte o bastante para que ela sentisse que ele poderia quebrá-lo no momento que quisesse, mas fraco o suficiente para possibilitá-la de falar.

- Eu não me importo se você é uma sacerdotisa vermelha, um demônio, uma maluca ou se é simplesmente a puta de Stannis. Você vai me levar até o seu rei em Pedra Dragão ou nos Sete infernos se for preciso, caso contrário eu vou torcer o seu pescocinho bonito da mesma forma que um camponês torce o pescoço de uma galinha. - Suas palavras eram cheias de ódio. Não costumava a tratar mulheres daquela maneira, mas não estava no seu dia mais educado ou misericordioso.

Tocar na mulher de vermelho, era como colocar as mãos perto de uma fogueira. A pele da mulher era lisa e bela, mas era quente. Daemon pôde sentir as mãos esquentarem enquanto segurava a mulher pelo pescoço. A sacerdotisa parecia calma, apesar de sua posição ser delicada. Tudo que ela fazia era olhar para Daemon, os olhos cada vez mais intensos. Após Daemon alardear que poderia matá-la, ela deu um leve sorriso e seus olhos brilharam com uma intensidade sinistra. Outro fato estranho era o rubi que a mulher usava no pescoço, quando o gigante tocou aquele amuleto escarlate, foi como tocar a mais pura brasa de uma fogueira. O calor foi tanto que Daemon se viu pegando em outra parte do pescoço da mulher, retirando a mão do rubi vermelho inconscientemente.

A mulher falou com a voz rouca, mas suas palavras eram facilmente entendidas pelo trio que pretendia invadir a fortaleza.

- Farei como você pediu, o levarei até Stannis, mas somente você. Os outros dois devem ficar aqui, pois R'hllor deseja apenas que você vivencie esta noite.

A mulher ficou parada, imóvel, esperando a resposta de Daemon. Brienne de Tarth estava claramente desconfortável com o que a mulher havia dito. Quando Daemon viu a reação de Brienne, ele viu que a Pacificadora havia sujado quando ele derrubara o pote de sangue das mãos da mulher de vermelho. Apenas um filete de sangue escorria pela espada, o sangue de Renly Baratheon.

Já ouvira falar sobre sacerdotes de R'hollor e seus poderes e rituais que envolviam chamas, as sombras e a luz. Todavia, nunca pôde presenciar algo como aquilo. Normalmente essas pessoas não passavam de trapaceiros, seus truques podiam ser facilmente explicados por um observador competente e pouco impressionável. Mas aquilo era diferente, existia algo de verdadeiro e poderoso naquela mulher, algo que nem mesmo Daemon podia explicar.

Ele segurou sua mão ardente, era como se existisse uma chama a protegendo, mas Daemon sabia que poderia avançar contra ela se fosse necessário, era resistente o bastante para aguentar a dor e só precisava de um golpe. De todo modo, preferiu seguir a mulher, afinal ela lhe levaria a Stannis. Provavelmente ela mantinha algum plano em segredo, mas era a melhor chance de acabar com o rei agora que o mesmo se encontrava em sua fortaleza.

- Vocês escutaram. Sei que é desagradável para você, Brienne, mas é nossa melhor oportunidade e a justiça deve prevalecer acima de vingança pessoais. Preciso que voltem e falem com Loras sobre o que aconteceu aqui, eu vou me encontrar com Stannis e resolver isso de uma vez por todas. - Tentou limpar o sangue de Renly da sua espada, como ele sabia de quem era ? Não fazia o menor sentido ser o sangue do rei, mas ele sabia daquilo. Sua espada agora estava suja com o líquido vermelho e isso lhe deu uma sensação de que o sinistro se aproximava. Enquanto saia ele conversou com a mulher. - Foi você que matou Renly - Era uma afirmação, ele só precisava que ela confirmasse.

Brienne de Tarth pareceu confusa, mas por fim acatou a decisão de Daemon Lannister. Era prudente que ela voltasse para avisar Loras, assim poderiam pensar em alguma coisa, com o intuito de manter o ataque a Pedra do Dragão.Dessa forma, se Stannis não fosse morte pelo gigante loiro, ele morreria durante a guerra. Era uma estratégia de ritmo lento, mas garantiria a eficácia do plano. No entanto, Brienne sentia-se tentada a ficar, pois já considerava o gigante como um bom amigo e guerreiro, até mesmo se tornando um líder para ela. Não tinha como negar que Daemon daria um bom líder, era forte, corajoso e astuto, um combinação feroz.

Por fim, ela decidiu abandonar Daemon, confiando que o gigante poderia se virar sozinho. Já o batedor, foi o primeiro a se virar e voltar pelo caminho, mostrando claramente que já tinha feito sua parte naquela noite.

A sacerdotisa apenas encarou Daemon Lannister quando estra acusou-a de assassinato. Ela não respondeu até que Brienne e o batedor se afastassem, de modo que só Daemon e a sacerdotisa permanecia naquela sala. O silêncio se tornou total, com os dois se olhando naquela pequena sala. Daemon se lembrou do nome dela, Melisandre de Asshai, uma mulher que diziam as más línguas, praticara atos terríveis do outro lado do continente. Assim como Daemon Lannister, a mulher havia chegado ao continente fazia pouco tempo.

Ela então quebrou o silêncio.

- Matar Renly? Eu não o matei, apenas foi o desejo de R'hllor o que aconteceu essa noite. - Ela mostrou um sorriso enigmático e voltou a falar com um tom divertido. - Você me acusa de ter matado Renly, no entanto, a sua espada que provou o sangue do rei. Diga-me Daemon, como se sente como um Matador de Reis?

Melisandre fez o gesto para que Daemon permitisse que ela se movesse, de modo que os dois andariam e conversariam ao mesmo tempo. Melisandre indicou que queria ir na frente, querendo que Daemon a seguisse.

A última coisa que queria era uma longa conversa com Melisandre. Havia feito uma pergunta simplesmente porque precisava decidir se mataria ou não a feiticeira, além disso todo aquele ritual parecia ter como objetivo a morte do rei. Normalmente ele não acreditaria naquilo, mas o dia lhe havia dado pequenas evidências capazes de abalar sua razão. Ele ainda não sabia no que acreditar. De todo modo, estava cansado e impaciente, precisava terminar seu serviço antes da batalha se iniciar, sua ira ainda não estava adormecida, apenas contida, mas poderia estourar a qualquer momento. Poderia ter ficado calado e deixado a mulher falar sozinha, mas a mesma emanava um fascínio indescritível e suas palavras lhe tocaram de maneira que não pôde resistir.

- Não se faça de tola. A Lâmina se sujou quando derramei o copo com o sangue do rei, sangue esse que mancha suas mãos. A ferida no corpo do rei não é compatível com a minha arma e ele morreu horas atrás, quando eu nem me encontrava em sua presença. Se seu plano é inventar essa história é melhor criar uma melhor, eu não tinha nenhum motivo para matar Renly, sua morte me custou Rochedo Casterly e uma série de outras coisas. - Sua voz era de profunda inimizade, poderia cortar a cabeça daquele ser a qualquer momento, foi necessário se conter para não matá-la ali mesmo depois de suas palavras e de seu tom. Para a sorte de Melisandre, ele ainda precisava de sua ajuda, mas sua sorte não duraria muito tempo. Ele seguia com ela ao encontro de Stannis.

A mulher continuou andando, alheia às ameças de Daemon Lannister. Como ela fora mandada, caminhou em silêncio, mas o modo que ela se portava era de alguém confiante. Os dois não levaram tocha, mas estranhamente, o escuro das galerias ao lado da mulher de vermelho não era tão escuro assim. Era como se a mulher emanasse um brilho, o qual fazia com que toda a escuridão recuasse. Seja como for, o caminho se apresentou bem longo, passando por galerias de rocha polida e outros lugares que a parede era molhada e mal cheirosa. Por fim, eles chegaram em uma parte que realmente parecia um castelo.

Melisandre estava na frente, até que ela parou subitamente, fazendo com que o corpo do gigante e da mulher se tocassem. A mulher apontou para uma porta, dizendo que ali estava o futuro de Daemon Lannister. A porta era de madeira grossa e com alguns detalhes de ouro. O local não parecia ser o centro do castelo, mas de fato, assemelhava-se a um local nobre de Pedra do Dragão.

A Melisandre ficou parada, murmurando preces estranhas e perigosas. Ela não mais olhava para Daemon ou mesmo para qualquer lugar, os olhos delas estavam fechadas e tudo que se mexia na mulher eram os lábios.

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