Grey "O Rubro" - Pallando

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Roose Bolton tentou rir, mas seus lábios congelaram diante das declarações de Grey Blacktower. O modo como o Príncipe de Gelo se portou, como sua voz ressoou no ar, todo o gesto havia exalado uma confiança que somente aqueles com sangue nobre podiam possuir. Roose Bolton então se lembrou de uma época onde ele estava tramando contra os Karstarks em segredo, a fim de desestabilizar a casa de Rickard Karstark. Roose havia mandando um grupo de mercenários atacar a comitiva de Lorde Karstark, mas o grupo fora impedido por um homem que havia lutado mesmo com o olho ferido. Naqueles dias, Roose Bolton havia achado graça da situação, mas agora, vendo aquele homem a sua frente portando-se como o Príncipe de Gelo, Roose sentiu algo amargo em sua garganta. " Devia ter ordenado que meus homens maltassem esse maldito rubro, assim como eu fiz com que matassem Hans e sua família. Porém, como eu saberia que Grey seria um Príncipe? Os deus agem de forma estranha."

O gesto de Grey não só havia despertado um incômodo em Bolton, mas também fora capaz de inspirar e dar coragem aos dois homens que eram seus aliados ali dentro do salão. Robb Stark pareceu mais confiante, sua mão tocou o cabo da escada e seu porte ficou mais real. Já o Adam Lancelot perdeu o medo, seus braços ficaram tensos e ele se preparou para jogar sua lança com um movimento rápido. Grey conhecia a fama do guerreiro nortenho, era dito que Adam conseguia acertar um pássaro em uma árvore utilizando sua lança de ferro.

Roose Bolton então começou a rosnar ferozmente.

- Eu não posso tolerar isso tudo! Fui informado que o "nosso" Rei do Norte havia dobrado o joelho para um lorde do sul. Nós resgatamos uma posição privilegiada do Norte, onde nós forjaríamos nossas próprias leis, teríamos nosso próprio rei e governaríamos nós mesmos. - Ele fez uma pausa, os olhos eram frios e intensos. - E o que nos aconteceu? Antes de minhas tropas realizarem o ataque falso, fui informado que Robb havia feito uma aliança com Renly Baratheon da Campina. Isso sem ter consultado os seus aliados! Eu não preciso responder nada, é Robb quem me deve respostas e deve ser acusado de trair o norte.

Roose então fez um gesto, e no mesmo momento, todos os dez guardas que cercavam o salão colocam as mãos na espadas.

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Como previsto, Bolton se enfureceu. Grey não tinha sombra de dúvidas de que aquele homem não era de confiança, e a cada segundo que passava observando sua reação lhe dava mais certeza. Robb e Adam pareciam mais confiantes e ambos eram bons guerreiros, mas talvez não fosse o suficiente. Se um confronto se iniciasse naquele momento, seriam três contra onze.

Roose Bolton lançou acusações em tom feroz, aparentemente indignado com a aliança feita com Renly Baratheon. O Rubro tinha suas dúvidas quanto à aliança também, mas não pôde deixar de notar a esperteza do Loder de pavor, esquivando-se mais uma vez das perguntas e revertendo o jogo.

A ira no olho rubro de Grey era totalmente direcionada ao Bolton, não tinha paciência para lidar com rodeios. Assim que observou o gesto para que os dez guardas se preparassem, colocando as mãos nas espadas, Grey empunhou pela primeira vez a Guardiã.

- A lealdade de vocês é para com o Norte e seu povo ou para com um homem?- Grey berrou apontando para os guardas.- Saquem essas espadas e trairão todos os seus juramentos e a terra de seus antepassados. Lembrem-se de que estão perante o Rei do Norte.

Grey baixou a espada e voltou seu olhar para Robb, que de fato devia alguma explicação para Roose Bolton antes que prosseguissem com o "interrogatório" e a possível punição de Bolton. Esperava que o jovem Stark dissesse algo sobre a aliança.

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Status de Robb Stark

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Vários segundos se passaram em silêncio, segundos esse que Robb Stark utilizou para se colocar em porte real e começar a fazer um discurso que inflamasse os homens.  Antes que a voz de Robb fosse ouvida, Grey pôde perceber que seu própio discurso havia dado frutos. Um guarda havia mudado para seu lado, era possível perceber no olhar do guarda que ele havia escolhido o norte, de modo que agora restavam apenas nove guardas indecisos e Roose Bolton como inimigos.

O Rei do Norte então começou a discursar.

- Eu não traí o norte! É uma lástima que Roose Bolton tente disfarçar suas verdadeiras intenções acusando os outros. É verdade sim que um pacto foi selado com Renly Baratheon. - Robb fez uma pausa dramática, retornando com um tom de voz cada vez mais comum a ele; o tom real. - No entanto, nunca entreguei o norte nas mãos dele. O pacto que foi feito foi apenas um termo de paz, de modo que nossas tropas não enfrentarão Renly Baratheon no momento, pois estamos lutando contra o mesmo inimigo; os Lannister. Nós então permaneceremos como um reino independente, onde viveremos sob nosso próprio costume, mas no campo de batalha, nos aliaremos para derrotar os Lannister. - Outra pausa. - Foi Renly quem nos procurou, isso demonstra a nossa força. Se ele nos procurou, ele mesmo reconheceu que o Norte agora é uma força independente e feroz. Por que ter Renly Baratheon como adversário, se nossa guerra é contra os leões?

Robb olhava para cada homem, mostrando que tudo que Roose Bolton havia falado se tratava de uma grande distorção do acontecido.

- Permaneçam leal ao Norte! Vocês juraram proteger o meu pai uma vez, agora devem jurar a espada não a mim, mas a todos os homens do Norte. O que acontecerá aqui essa noite é a justiça nortenha. Eu declaro Roose Bolton culpado de traição contra o Norte e formação de aliança contra nosso principal inimigo, os Lannister. Eu o sentencio a uma morte honrada ou o exílio para a Patrulha da Noite durante toda a sua vida. - Robb Stark estava de pé, com a espada nas mãos apontando diretamente para Roose Bolton. Após encarar o traidor, Robb se virou para o lado e olhou os guardas. - Prendam Roose Bolton para que eu possa aplicar a justiça do norte.

Os guardas se olharam, e por fim, três novos guardas se juntaram a causa nortenha. Os guardas imediatamente sacaram as espadas, mas se viraram e se juntaram aonde o trio estava, formando um novo grupo. Agora Grey estava ao lado de Robb, Adam Lancelot e quatro guardas fiéis ao norte. Os inimigos que restavam eram seis guardas e o próprio Roose Bolton, formando uma frente com sete homens. A luta que havia começado desbalanceada, agora se encontrava com número iguais para os dois lados.

Roose Bolton começou a falar.

- Robb apenas diz essas mentiras para distrair vocês, ele é o verdadeiro traidor. Tragam-me a cabeça dele para que eu possa pendurar em...

Silêncio. Foi tudo o que se passou durante três segundos. Grey foi o primeiro a perceber o que havia calado Roose Bolton. Não fora vergonha, não fora medo, não fora nada parecido. Era uma sombra cinzenta que havia deslizado por todo salão com grande velocidade e de um modo tão furtívo que alguns guardas só perceberam o que aconteceu após o ocorrido. Vento cinzento, o lobo gigante de Robb Stark, havia cruzado todo o salão e agora estava indo em direção a Roose Bolton.

Uma explosão de sangue aconteceu quando Vento Cinzento cravou seus dentes pontiagudos na garganta de Roose Bolton, arrancando metade do pescoço do homem com apenas uma mordida. O sangue jorrou rubro pelo salão, pintalgando todo o focinho do lobo gigante e também fazendo com que uma poça de sangue se formasse ao redor do corpo já sem vida do traidor.

Spoiler:

Robb Stark discursou como o verdadeiro Rei do Norte deveria, não deixando sombra de dúvidas de que Bolton estava a dizer asneiras para livrar-se e, ao contrário do que Grey esperava, teve coragem para declarar Roose Bolton um traidor sem ao menos hesitar. O Rubro preparou-se para a batalha assim que ouviu a declaração.

Havia honra em outros quatro soldados que não demoraram a voltar-se para o lado de Robb, eram sete contra sete e Grey já tinha certeza de sua vitória. Adam era um temido guerreiro e Robb recebera treinamento de alto nível desde muito jovem, enquanto do outro lado somente Bolton representava uma ameaça real.

- Devia ter aproveitado para se render antes Bolton.

Grey preparava-se para avançar a passos largos até Roose Bolton e eliminar o maldito traidor, mas outro chegou em seu alvo antes. O lobo surgiu como um raio e alguns instantes depois veio uma explosão de sangue, sem dar qualquer chance de reação aos inimigos. Naquele momento lembrou-se do quanto detestava aqueles lobos e do quanto eles o detestavam, vendo-se no lugar de Bolton por alguns momentos. Aquelas feras deviam ser temidas.

O Rubro apontou a espada para os seis.

- Larguem as espadas se quiserem ter alguma chance de sobreviver.- Berrou com intenção de amedronta-los e evitar o combate. Em seguida olhou para os lados observando Robb e Adam, esperando alguma reação dos dois.

Caso os guardas não se rendessem, Grey gritaria em sinal de ataque e partiria para cima deles com intenção de matar o primeiro rapidamente.

Dos homens que restaram, apenas três tiveram a coragem de seguir as ordens do falecido Roose Bolton. Os outros ficaram parados, claramente arrependidos do que haviam feito. Não foi muito difícil lidar com eles, de modo que os três rebeldes foram desarmados e presos. Robb marcou uma reunião para discutir o que seria feito dos prisioneiros e também sobre o castelo de Harrenhal, além dos planos futuros para o norte.

Spoiler:

O vento era quente e desagradável, fazendo com que os homens que estavam ali reunidos se sentissem incomodados e sujos.Todos estavam quietos, mantendo um olhar resignado e esperando o grande acontecimento que viria a seguir. O local não podia ser outro, o grupo estava no bosque sagrado do castelo. Harrenhal era um local assombrado, digno de eternas tragédias. Não tivera uma só pessoa que tomasse posse daquele castelo que havia se dado bem no futuro. Quem quer que ousasse tocá-lo e tê-lo para si, estaria fadado ao fracasso. Ao menos era no que todos acreditavam, e assim poucos eram aqueles que teria coragem de tornar-se senhor de Harrenhal.

Grey Blacktower estava ao lado de Robb Stark, assim como Adam Lancelot. O rubro podia ver que todos os vinte homens que estavam no bosque naquela hora, olhavam incansavelmente para o trio. Todos esperavam o que viria a seguir. Uma gota de suor provocada pelo calor pestilento de Harrenhal percorreu toda a face de Grey. A espada de aço valiriano chamada de Guardiã estava em suas mãos, já anunciando o que estaria para acontecer. Se Grey provara ser digno de confiança de Robb ao ir em Harrenhal atrás de um traidor, agora chegou a hora dele provar que merecia o título de Príncipe de Gelo.

Enquanto o trio era observado pelos homens, outras três figuras também recebiam atenção. Os três rebeldes que foram capturados estavam jogados no chão, os braços estavam amarrados, de modo que eles se encontravam com o pescoço sobre uma grande pedra lisa. Eles tinham os olhos desesperados, olhos de quem já sabe que o Estranho estava pronto para lhes tocar.

E em frente a tudo isso, dominando todo o cenário, uma medonha árvore-coração espalhava-se pelo local. Se a árvore-coração de Winterfell possuía olhos tristes, a árvore de Harrenhal era tão assustadora quanto a própria história do castelo. O rosto da árvore era retorcido, os olhos injetados de um vermelho pútrido, como de uma grande ferida que esta prestes a se infectar. Era uma face coberta de ódio, um face que encarava Grey com intensidade. Todos observavam Grey naquele momento.

Robb caminhou para bem perto de Grey, indicando que havia chegado a hora.

- É como meu pai disse uma vez para meu irmão Bran, um homem que decide sentenciar outro homem a pena de morte, ele mesmo deve fazê-lo. É questão de honra, justiça e também serve para que os homens não se sintam mal. Como líderes do norte, nós devemos carregar esse fardo.

E Robb então caminhou para o lado de um dos homens, indicando que Grey deveria fazer o mesmo. A hora da execução havia chegado. O homem mais próximo de Grey era jovem, quase um menino. Ele chorava e quando viu que seu algoz seria o rubro, ele começou a dizer em voz desesperada.

- Não me mate, por favor. Eu juro pelos deuses antigos que me arrependi. Não me mate!

Todos, inclusive a horrível árvore-coração, olhava para Grey Blacktower.

Spoiler:

Depois do acontecimento no grande salão, não demorou muito para que Grey se encontrasse em outra situação que não o deixava muito confortável. Estava ao lado de Robb e Adam mais uma vez, cercados de vários soldados aguardando para assistir o que viria a seguir, todos no bosque sagrado da maldita Harrenhal.

Tinha a espada na mão e suor descendo-lhe a face, com os três traidores restantes ajoelhados a sua frente. O desespero já havia lhes tomado a alma, os três agora aguardavam o fim com os pescoços em pedra lisa.

Mas a razão do desconforto de Grey encontrava-se na árvore-coração daquele lugar, fazendo-o até sentir falta daquela que vira em Winterfell. O Rubro não conseguia tirar os olhos daquele rosto retorcido que quase com certeza o estava encarando, assim como todos ali.

Robb aproximou-se e disse algumas palavras, Grey assentiu com a cabeça e posicionou-se ao lado daquele que executaria. Um garoto que sequer deveria estar ali, uma criança que chorava por começar a entender o que havia feito, mas era tarde.

Grey encarou o rapaz com pena.

- Sinto muito rapaz. Aceite isso como uma morte minimamente honrada e descanse em paz.

A espada de aço valiriano desceu, ceifando a vida do rapaz.

Spoiler:

Um golpe frio, rápido e bem executado. A Guardiã sentiu o sabor do sangue quente pela primeira vez durante um longo tempo de repouso, e ao contrário do que se podia esperar, sua primeira vítima fora feita durante um julgamento. O peso de ser um líder, o destino muitas vezes podia ser cruel e agora Grey "O Rubro" estava dando seus primeiros passos em direção ao seu futuro. Enquanto a cabeça do jovem rapaz rolava no chão e o sangue rubro fluía em grande quantidade do pescoço que fora cortado, Grey viu a imagem de outro menino, o menino Branch que ele matara acidentalmente em sua missão passada.

O julgamento havia sido finalizado, Robb havia executado os outros dois homens, fazendo com que todos ali vissem como a justiça era feita. Após as mortes dos traidores, os homens em geral pareciam mais tranquilos, mostrando que haviam apreciado o modo como tudo havia sido levado.

Agora Grey Blacktower estava em um quarto privado com Robb Stark e Adam Lancelot. A conversa havia sido em grande parte sobre os traidores e sobre as últimas notícias da guerra, mas certa hora Robb dirigiu a Grey um olhar de confiança e começou a dizer.

- Hoje recebi a notícia de que os homens das Ilhas de Ferro atacaram Winterfell. Eu preciso voltar para lá urgente, saber o que aconteceu com minha família. No entanto, o norte não pode se mover totalmente daqui do sul. - Robb fez uma pausa, respirando devagar. - Nós não podemos atacar os Lannister no momento, devemos esperar que a guerra entre Renly e Stannis termine. Além do mais, os homens precisam semear suas terras e alimentar seus animais. Devemos dar um tempo a eles, e só então estaremos prontos para a guerra. - Ele caminhou até onde Grey estava. - Quero que você fique aqui no sul, assim como metade do meu exército. Você será o responsável pelas decisões que devemos tomar, o norte estará em suas mãos. E como prova disso, lhe concedo o castelo de Harrenhal. Pode não ser o norte e não ser um grande castelo, mas Harrenhal é um castelo que possuí uma posição privilegiada. Grey Blacktower, O Príncipe de Gelo, Portador da Guardiã, O Rubro, nomeio você como Senhor de Harrenhal. Este lugar agora lhe pertence.

O longo dia chegara ao fim, foi o que pensou Grey assim que a cabeça do jovem rolou no chão. Com certeza um dia do qual se lembraria pelo resto de sua vida, mas que, diferente do que havia pensado, não terminou ali.

Sentiu o frio mais gélido percorrer-lhe a espinha assim que viu a imagem do menino Branch. Grey fechou os olhos de imediato, tentando não lembrar-se mais do acidente que havia tirado a vida da criança. O pequeno garoto havia morrido protegendo o pai, algo que não poderia ter sido previsto, mas ainda assim incomodava o Rubro.

Robb havia executado os outros dois e encerrado o julgamente, deixando todos ali tranquilos a respeito de como tudo aconteceu. Todos voltaram aos seus lugares e Grey seguiu com Robb e Adam, onde conversaram sobre os traidores e os últimos ocorridos da guerra, até o momento em que Robb dirigiu-lhe um olhar de confiança e mudou o assunto.

Mais uma vez naquele dia, Grey sentiu um frio interior quando ouviu sobre o ataque a Winterfell. Perdeu-se em uma tormenta de desespero e culpa por alguns momentos, mas precisou manter-se focado no que ouvia. Robb partiria para o norte e queria que Grey permanecesse no sul, dando-lhe uma honra que o Rubro jamais sonhou que teria algum dia. Grey Blacktower agora era o Senhor de Harrenhal.

Seu olhar surpreso encarava Robb sem piscar, ainda digerindo tudo aquilo que ouvira. Quem no passado imaginaria que o garoto "Vareta" um dia seria Senhor de Harrenhal? Era algo que Grey gargalharia se ouvisse alguns meses atrás, ou até algumas horas atrás. Porém o importante não era o título, mas a confiança que tinha e o novo dever para com seu lado na guerra. Esse mesmo dever também lhe era um peso agora, pois sua vontade era rumar ao norte novamente.

A lembrança de Eddard Stark dando-lhe a tarefa de proteger Bran e Rickon lhe atingiu como um raio, afastando de sua mente qualquer pensamento sobre Harrenhal. Havia deixado Winterfell movido pelo desejo de buscar a verdade sobre si, mas fracassara em defender o norte. Foi tomado por um forte impulso que dizia-lhe "vá para Winterfell", queria aparecer lá naquele exato instante e descobrir como estavam todos, mas não podia.

Grey respirou tentando acalmar-se, olhou de relance para a Guardiã e não sabia se tal espada merecia aquele nome. A Guardiã do norte que não estava no norte quando Winterfell e os garotos Stark sofreram o ataque, pensar nisso lhe sufocava.

- Não sei como agradece-lo senhor. Juro-lhe que Harrenhal permanecerá firme em favor do norte, mas...- Grey hesitou por alguns instantes, mas logo voltou a falar com a autoridade de sempre.- A guerra está em andamento aqui no sul. É onde o Rei precisa estar, com seus soldados no centro da guerra. Sei que sua vontade de ir em busca de seus irmãos é grande, mas talvez deva reconsiderar.

Grey baixou a cabeça em reverencia, aguardando a resposta de Robb. Sabia que tinha razão em parte sobre a necessidade de o Rei permanecer onde estava, mas por trás disso escondia-se o motivo pelo qual queria voltar a Winterfell. Robb não era uma criança mimada, o rapaz seria um bom Rei sem dúvidas, mas Grey considerava-se mais apto para recuperar Winterfell, tanto pela experiência quanto pelo fator emocional, pois enquanto Robb poderia perder-se nas decisões por seus irmãos correrem risco, Grey manteria a calma necessária.

- Acatarei suas ordens e peço-lhe que me perdoe se foi um conselho imprestável. Desejo somente o melhor para o norte, pois jurei protege-lo.

Faria o que Robb decidisse. Permaneceria em Harrenhal torcendo por um bom resultado em Winterfell ou partiria no dia seguinte para o norte.

Robb Stark ficou parado alguns segundos, refletindo sobre as palavras de seu aliado.

- Sim, você está certo sobre isso. Um rei deveria ficar no centro da guerra, mas eu não posso fazer isso. Ninguém respeitaria um rei que deixa seu próprio castelo ser massacrado. Você seguiria um rei, mesmo sabendo que ele houvesse abandonado toda a sua família em troca do poder? Tem coisas que não podemos ignorar Grey. Ir para Winterfell será bom para os homens também, o inverno está chegando e muitos desejam ver sua família antes de guerrear outra vez. - Ele ficou estático, e sua face agora se assemelhava a de um menino. - Irei para Winterfell e você ficará aqui. Torne Harrenhal segura, faça diplomacia em nome do Norte e alianças, você terá total poder como o segundo em liderança. O Norte precisa de um Príncipe de Gelo agora... e eu também preciso que você faça isso por mim. Eu não suportaria ficar aqui enquanto minha família é destroçada.

- Tem minha palavra.- Grey concordou com a sombra de um sorriso no rosto.

Permaneceria em Harrenhal cumprindo seu dever na guerra e confiaria que Robb conseguiria recuperar Winterfell e salvar seus irmãos. Era algo que o jovem rei precisava fazer, Grey entendia a posição do rapaz e o apoiaria dando-lhe a segurança de que a guerra não seria perdida enquanto estivesse ausente.

Um homem caminhava em frente a uma grande construção datada de muitos anos. As pedras que formavam todo o muro que cercavam a fortaleza já estavam gastas, todas haviam sofrido incontáveis pressões do vento, chuva e principalmente, da guerra. O local já registrara inúmeras guerras e mesmo assim ainda se mantinha em pé. Ao menos sua fundação, pois todos os homens que comandaram aquela fortaleza haviam sofrido de uma maldição. A tragédia sempre recaía sobre quem portasse o título de senhor daquele lugar.

Grey Blacktower, também conhecido como "O Rubro", havia se transformado oficialmente no Senhor de Harrenhal naquele dia. Robb Stark já não podia mais ajudar o Príncipe de Gelo, já que já se encaminhava para o norte. Portanto, Grey agora teria todo o peso em suas costas. Seja a maldição verdadeira ou não, os desafios do continente certamente representariam um perigo. A guerra estava momentaneamente pausada, uma vez que era época de colheita e os homens haviam acabado de lutar, o que significava uma pausa, apenas para que os homens olhassem pela última vez os seus filhos e beijassem suas esposas, para então, só depois, lutar a guerra novamente.

O sol era forte, trazendo a tona todas os locais que cercavam Harrenhal. Havia um grande pântano ao norte da região, o único lugar que parecia escondido da fortaleza. Todo o resto, era facilmente observado pelos sentinelas de Harrenhal. Enquanto fazia essa espécie de ronda para verificar as defesas do castelo, um homem se aproximou. Era Tom Caolho, um homem cuja idade era mais avançada que a do próprio Grey, mas era sábio reconhecer que o conhecimento do homem era enorme. Não era atoa que ele mantinha seu posto como comandante mesmo durante todas as trocas de senhores da região. A sua história não era conhecida, mas sua força e sua habilidade não podiam ser contestadas. Tom Caolho tinha um porte estranho, sua aparência era degradante, algumas pessoas diziam que ele avia sido amaldiçoado junto com aquela terra.

O velho chegou a frente a Grey, seu rosto era sério. Tom era sempre sério, alguns diziam que depois de ter perdido seu olho esquerdo ele havia perdido o senso de humor, besteira, Tom nunca havia tido humor algum e a idade não o havia dado motivos para cria-lo. Se não sorria nem quem podia foder, imagine agora. - -- Senhor, homens foram avistados vindos do pântano. - Outra característica de Tom, ele falava pouco, na infância achavam que ele era mudo, mas ele simplesmente não tinha muito carinho pelas conversas. - Alguns homens me dizem que podem ser rebeldes a favor da causa de Bolton.

Essa fora a primeira vez que Grey havia sido chamado de senhor, ao menos oficialmente. Por ironia, o homem que o chamara de senhor também tinha um defeito ou marca parecida com a de Grey.

O Rubro vagava por Harrenhal observando cuidadosamente o castelo e suas defesas, queria conhecer aquele lugar, sob sol forte podia ver também os locais que cercavam sua fortaleza. Um pântano ao norte chamou-lhe a atenção, pois era o único lugar fora da visão de Harrenhal. Pensou em enviar alguém ao lugar ou ir pessoalmente, não gostava de deixar brechas.

Enquanto pensava, um homem aproximou-se. Grey o reconheceu de imediato, era Tom Caolho, homem com certa fama e cujas habilidades eram incontestáveis, seria um ótimo aliado. Ele chegou a frente de Grey com seriedade, sem dúvidas tinha características marcantes, e sem foi direto ao ponto.

Como havia pensado, o maldito pântano seria um problema. Grey ouviu tom com estranheza, mas ainda assim atento. Era a primeira vez que fora chamado de Senhor e não se imaginava acostumando-se com isso, mas apreciou a forma direta e de poucas palavras de Tom, eis um homem que não perdia tempo com palavras desnecessárias, um soldado.

- Muito bem.- disse por fim, um pouco pensativo sobre como prosseguir.- Diga aos homens no castelo para ficarem alertas e que Adam Lancelot está no comando durante minha ausência. Vou ao pântano acompanhado de alguns soldados para resolver isso pessoalmente. Escolha a dedo os soldados, quero um número próximo ao dos inimigos em batalha.

Seguiu rumo a seus aposentos para preparar-se, precisava ir juntamente aos soldados para ter alguma garantia e para observar o pântano. Qualquer ameaça deveria ser exterminada imediatamente e sem ser subestimada, antes que tenha chance de se tornar algo problemático. Partiria assim que os soldados estivessem prontos, a menos que uma nova informação lhe fosse apresentada.

- Como desejar, senhor. - Tom então se dirigiu a procura de três batedores, os quais também possuíam habilidades de combate, caso houvesse necessidade,  e mandava preparar os cavalos e avisava a todos os outros para manter guarda e prestar atenção no castelo.E claro, Adam Lancelot fora informado que seria o guardião até que Grey voltasse.

Alguns minutos se passaram e Tom já tinha arrumado tudo o que lhe foi ordenado. Os cavalos apresentados eram fracos e magricelos, porém era os melhores daquele castelo. Aqueles cavalos apenas comprovavam o que todos já sabiam. Grey fora chamado de sua sala.

O sol ainda batia forte contra os homens no pátio. Grey podia ver Tom Caolho ao lado de um cavalo, enquanto três homens seguravam arcos, eram os arqueiros que havim sido chamados para acompanhar a dupla, eram mais camponeses que soldados, braços curtos e fracos demais para manejar um arco com perfeição, porém essa era a tropa de Grey, algo tão decadente quanto o lugar em que estavam. Os homens olhavam o comandante chegando no pátio. Tom Caolho era apenas um soldado, porém era um soldado habilidoso e experiente, logo sendo um dos mais respeitados do local, seu porte, apesar de ser considerado asqueroso por muitos, era de um soldado.

Os homens, os quais ainda se acostumavam com a ascençãp de Grey, ficaram olhando o novo senhor de Harrenhal. Esta seria a primeira chance de Grey Blacktower mostrar como governaria Harrenhal. Tornaria-se um senhor justo e de paz ou comandaria Harrenhal com aço? Os homens estavam prontos para patrulha e muitos tentavam adivinhar como Grey se portaria.

Assim que avisado de que tudo estava pronto, Grey deixou sua sala e foi ao encontro dos soldados. Viu os soldados próximos aos cavalos magricelas e três homens com arcos, todos sob o sol forte daquele dia. Notou que estava sendo alvo de olhares curiosos, todos ainda sem saber o que esperar do novo Senhor de Harrenhal, assim como o próprio Rubro.

Grey montou em seu cavalo e aguardou até que os que o acompanhariam estivessem prontos. Estava confiante, parte disso graças a Tom Caolho, tinha quase certeza de que aquele homem estava condenado a não morrer antes da idade avançada.

Pôs seu olhar frio sobre os soldados enquanto aguardava, observando cada um dos homens que eram seus aliados na proteção daquele lugar e do norte. Cada um longe de sua casa e família, com o único proposito de lutar pelo Rei em quem confiaram.

- Homens foram avistados no pântano ao norte.- Grey anunciou em tom forte, para que todos pudessem ouvir e prestar atenção no que diria a seguir.- Robb Stark deixou-nos a tarefa de proteger Harrenhal, um ponto de extrema importância nessa guerra, enquanto ele mesmo busca salvar Winterfell dos traidores. Esqueçam quaisquer dúvidas e superstições idiotas, somos a muralha que separa nossa terra dos Lannisters e a única maldição existente nesse castelo somos nós, uma terrível maldição sobre os inimigos que ameaçam nosso lar e antes que isso termine nos tornaremos o pior pesadelo deles.

Passou o olhar vasculhando os soldados em busca de algum sinal de medo ou hesitação, queria inspira-los e deixa-los despreocupados quanto a coisas internas. Se Harrenhal é amaldiçoada e decadente não interessa, o único e absoluto problema em que todos devem concentrar-se são os que estão fora do castelo, os inimigos armados.

- Partirei imediatamente para limpar a escória que vive no pântano. Adam Lancelot está no comando até meu retorno, mas conto com cada um de vocês para honrarem essas espadas. Fiquem atentos a qualquer sinal de ameaça e não hesitem em reportar algo à Sir Lancelot.- Seu semblante ficou mais sério. Inspiração não era o suficiente, medo do fracasso era essencial e Grey sabia intimidar.- Estejam cientes de que castigarei pessoalmente qualquer um que fizer menos do que o seu dever. Não me desapontem.

Grey deixou o castelo juntamento aos soldados que o acompanhavam, rumo ao pântano onde pretendia eliminar os traidores.

Todos que observavam Grey naquele momento puderam ver o primeiro discurso do Rubro como o novo senhor de Harrenhal. Muitos poderiam esperar que um homem que conhece o poder e o ouro enfraqueça, mas há homens que continuam inquebráveis, assim como no passado. Ao ouvir o discurso do Príncipe de Gelo, alguns homens claramente manifestaram apoio levantando as espadas e urrando em concordância com o que fora falado. O termo "somos a muralha que separa nossa terra dos Lannister" teve um efeito muito positivo nos homens, pois evocou uma imagem familiar com os nortenhos. Era dado que a muralha era mística e amaldiçoada, mas que também servia para proteger o Norte das criaturas e dos povos livres que viviam para-la-da-muralha. Por isso, Grey pôde sentir que os homens não cometeriam nenhum ato bobo. Na verdade, qualquer inimigo que houvesse ali teria desistido de cometer um ato desses, pois Grey havia começado a inspirar os homens.

A outra parte do discurso foi igualmente bem recebida, mas esse acabou atingindo os homens que ainda duvidavam. O tom de voz intimidador era tudo que se esperava de um bom senhor, e os homens também aprovaram aquilo. Dessa forma, em meio a olhares de satisfação e confiança, O Rubro pariu com sua pequena comitiva para o pântano.

Durante o caminho, Tom Caolho fora o guia, pois estava acostumado com aquele local, era um homem experiente, apesar de seu olho cansado pela idade, o caminho não foi tão dificil de se achar. Logo se embrenharam num local de dificil acesso, os cavalos relutavam em dar mais algumas trotadas naquele ambiente úmido. Era o começo do pântano. Arvores caídas e podres enfeitavam o chão, uma água lamacenta cobria tudo, e mais  a frente o pântano se embrenhava mais, se fechava. Tom pode ver o local onde tinha visto os homens anteriormente. Havia uma grande deformidade no padrão natural daquele ambiente, como se homens tivessem pisoteado recentemente. O sol ainda batia forte nos homens, um arqueiro passou a mão na testa limpando o suor.

 Tom Caolho fez o sinal para que parassem antes de chegar as pegadas e as provas, fazendo um sinal para que um dos batedores, investigasse as evidências, não queria que o grupo os cavalos atrapalhassem a investigação.

Um dos homens olhou para Grey, assentindo com a ordem. Tom não era o comandante, porém todos os homens o respeitavam e sabiam de sua habilidade de rastreamento. O batedor seguiu em frente com um trote suave, observando a região. Logo ele se virou, o rosto não tinha qualquer emoção, era apenas um dia quente.

- Senhor. - Se virou para Grey. - Parece que há uma trilha que segue para dentro do pântano. Não consigo ver depois, o pântano se fecha mais adiante.

O Pântano a frente se fechava, era impossível andar com cavalos ali, o chão era traiçoeiro , a lama escondia buracos, algo arriscado para um cavaleiro se embrenhar naquele lugar.

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