Acognir - O Salão dos Escravos
Ainda era meio dia, mas dentro do salão parecia anoitecer.
Essa foi a primeira coisa que o palhaço descobriu ao entrar no lugar. A estrutura por fora era tão bela quanto o resto da cidade, mas por dentro parecia ter sido abandonada. Os castiçais estavam quebrados, havia pouco mais que as próprias pilastras que sustentavam o lugar, o armazém parecia um grande salão em desuso e talvez alí realmente já tivesse sido um grande salão, no entanto quem poderia afirmar isso não poderia ser um dos escravos que estavam ali, aguardando o ''grande momento''.
Haviam poucas janelas alí, em formatos que lembravam pequenas capelas. Elas não tinham grades e poderiam ser alcançadas se subissem no andar de cima. Havia um corredor por toda a lateral do salão na parte de cima que facilmente caberiam 5 homens adultos e fortes lado a lado. Observando isso, o palhaço teve uma visão mais realista do verdadeiro tamanho do espaço alí dentro: estava abarrotado de escravos pelo chão, mas certamente era um lugar imenso.
Haviam duas portas visíveis alí: a que eles tinham atravessado para entrarem uma outra no final do salão, provavelmente que levaria para outro cômodo. As duas eram feitas de madeira aparentemente muito pesada, com detalhes entalhados nelas, como desenhos contando uma história... mas Acognir não conseguia observar pela baixa luz que adentrava as janelas. Pensou por um vago momento que deveriam ter velas, mas descartou o pensamento... Era um escravo, por que pensaria em velas?
Também pôde observar que no centro do lugar havia uma espécie de tablado, que fazia barulho quando alguém andava por cima dele (percebeu quando duas crianças escravas decidiram passar correndo por ali, ignorando as correntes que as prendiam. Tropeçaram quando o espaço das correntes acabou e caíram fazendo um ''baque'' alto e despertando a maioria que haviam adormecido. Alguns ousaram sorrir...). O mão-de-osso esticou um pouco o pescoço, tentando olhar por cima dos outros escravos que estavam ali, não querendo levantar-se ainda, e com dificuldade conseguiu observar que no final do salão havia uma escadaria, provavelmente que levaria para o piso superior. Estava escuro demais e ele ainda muito longe para ter certeza, mas era a resposta mais lógica para as escadas ali.
Por todo o lugar haviam amontoados de caixotes cobertos por velhos panos brancos, pesados como chumbo. O que havia dentro delas ninguém ali poderia responder.
Na porta por onde entraram, era possível ver um amontoado de guardas. Esses eram diferentes dos outros que acompanharam os escravos, provavelmente os guardas da cidade. Usavam capas vermelhas, com bordas douradas, armaduras recém polidas e, embora tivessem espadas presas nas bainhas na cintura, eles estavam empunhando grandes lanças, com fitas brancas amarradas às suas pontas, mostrando que estavam em paz, embora estivessem em serviço.
Após observado o ambiente escuro a sua volta, a jovem havia chegado próximo a ele pedindo para cuidar de suas feridas.
Obviamente o palhaço não conseguia parar de falar, especialmente ao lado de uma criança tão jovem e bela. ela deveria ter cerca de 12 anos, mas já mostrava pequenos contornos da mulher que seria. Talvez ela parecesse bela entre os escravos ali, porém a verdade é que estava imunda, vestindo trapos e estava com o rosto inchado e coberto por hematomas causados por espancamento.
Quando falou que lhe entregaria seu coração, a menina ruborizou instantaneamente, mas antes que ela pudesse lhe dizer algo ele já estava fazendo outra pergunta, e outra e outra... A jovem já estava atônita quando ele parou com um último pedido e a encarava com seu maior sorriso.
A jovem ponderava as perguntas enquanto pegava, com cuidado e delicadeza, a roupa do homem e se remexia inquieta e com a testa franzida, procurando uma forma de começar a responder.
Se ajoelhou nas costas dele e começou a passar um pano úmido que trouxera com ela em suas costas, tirando o excesso de sangue. Acognir pode sentir com ardor o toque suave da menina limpando sua pele quando ouviu ela responder por detrás dele:
- Senhor, agradeço imensamente seus elogios, mas sou tão livre quanto as algemas me permitem ser. - e tilintou os elos de sua corrente, intensificando o que dizia. Sua voz era suave e macia, mas carregada com tamanha tristeza e amargura que, se o palhaço não a tivesse visto antes, acharia que era um sussurro da própria morte.
- Se for caridade cuidar de suas feridas, senhor, então sim...estou aqui por caridade.Ele sentiu um sopro dela em uma de suas feridas, e depois voltou a passar o pano mais suavemente agora, com receio que doesse.
- Soube que nos comprarão após a terceira badalada da catedral atrás de nós. Sabia que estamos em uma igreja? Esta parte os santos não usam e a igreja a usa para abrigar os pobres da cidade. Hoje está abrigando nossas almas.Dito isso, ela começou a sussurrar uma canção muito baixo, onde Acognir não conseguiu compreender a letra por se prender demais na melodia de sua doce voz. Ela cantava tão bem que, por um segundo de tempo que durou a canção, pareceu realmente ter sua alma abrigada.
Ao terminar ela passou novamente o pano úmido em suas costas, agora com mais força que antes. Porém o palhaço não sentia mais dor ou ardência com a esfregada... Na verdade não sentia nada. Suas feridas haviam sido curadas.
Ouviu o tilintar das correntes da menina quando ela se levantou e lhe deu um sorriso:
- Majstra é uma boa mãe, senhor. Perdoa nossos pecados e cura nossas dores físicas. Me chamo Daphnne, senhor.~*~
Briftiz - A Loja da Velha Senhora.
A ave deu mais uma grasnada.
A ave parecia idiota, e medonhamente caolha, mas a velha parecia não se interessar em despistar a ave dalí de sua loja e fitou BigodeLongo enquanto ele tentava ser cortês.
Após ele perguntar quais os itens que ela vendia ela o encarou cutucando uma verruga em seu queijo de uma forma que fez o gnomo ter um pouco de nojo. Após algum tempo em silêncio constrangedor, ela praticamente grita:
- Se tenho o que você procura? Ora homenzinho, como diabos vou saber!? Entre logo e veja o que quer!Dizendo isso ela puxou o gnomo pelo braço para que ficasse na frente da porta, com ela à suas costas. Feito isso ele pode olhar melhor a loja...se é que podia chamar aquilo de loja. Sem ter o que fazer decidiu por entrar no lugar e descobrir quais itens a mulher teria para oferecer.
A loja estava em uma desordem completa. A vela no lustre negro acima de suas cabeças estava quase acabando e o lugar parecia muito escuro, apesar das grandes janelas de vidro que eram a vitrine da loja e da chama daquela única vela. A velha se debruçou em algumas caixas empilhadas e empoeiradas e descobriu outros dois tocos de vela, que colocou e outros dois castiçais negros: um que estava na parede e outro sobre a mesa.
O corvo negro e caolho entrou na loja e pousou no amontoado de caixas, mas como estavam em desordem e meio roídas, despencaram quebrando vários frascos que tinham dentro e fazendo a ave gritar sem parar. O líquido que escorria pelo chão era uma mistura de várias cores.
Apesar de tudo isso, a velha pareceu não se importar e olhava com os olhos saltados para o gnomo, de forma sinistra... Da mesma forma que um faminto olha um prato de comida.
O gnomo decidiu se distrair no lugar e percebeu que não autorizou a entrada daqueles itens recentemente. Deveriam ser artesanais, suspeitou. Sua mente não parava de pensar enquanto olhava para todos os produtos.
Haviam frascos com várias coisas em conservas, muitas que o gnomo suspeitou estarem ainda vivas. Havia um jarro lacrado com vários insetos dentro com um bilhete informando ser uma mercadoria em promoção. Se atentou para observar melhor os produtos num armário com porta de vidro que pareciam muito elegantes, embora grandes mais para ele. Era uma capa de frio muito bonita, com pequenas jóias presas ao longo do tecido grosso.
Do outro lado havia uma mochila que lhe chamou a atenção, mas ainda não fez perguntas, apenas a observava. Abaixo de onde a mochila estava pendurada tinha encostado na parede alguns bordões e cajados com formados e insígnias desenhadas em um tom azulado. Outras tinham pedras cristalinas, como as que ele via os fornecedores deixarem dizendo que eram de cavernas de toda a sorte de lugares.
Atrás do balcão havia uma coisa curiosa que prendeu a atenção do gnomo por um tempo: crânios de vários tamanhos e de várias espécies estavam sendo iluminados pela luz de de uma chama arrozeada de uma cera de vela negra. Curioso ele continuou olhando, vidrado, aqueles ossos...haviam o que pareciam ser ossos dos braços e das pernas, alguns animais empalhados também, um vidro com uma aranha do tamanho da mão de BidogeLongo, ainda viva e se alimentando de larvas que a velha havia lhe dado.
O lugar tinha toda a sorte de sortilégios, e um amontoado de potes e vidros em um armário com porta de vidro.
O gnomo poderia pagar por quase tudo o que vira ali, mas o que lhe interessava mais? O que ele procurava?
Ficou ali andando e pensando por vários momentos enquanto a velha alimentava uma criação de gafanhotos, misteriosamente calada enquanto pegava os insetos nas mãos. Apesar do seu silêncio, ela não tirava os olhos do gnomo de forma intensa e maliciosa.
~*~
Radin - A Praça da cidade.
A praça estava movimentada naquele dia ensolarado.
Radin podia observar todas as diferentes raças e criaturas que vinham desfrutar daquele dia ali no que era o festival do comercio mais conhecido naquela parte do mundo.
Todos lhe pareceram barulhentos demais e ele decidiu que apenas leria próximo da fonte no centro da praça.
O seu pergaminho escondia toda a sorte de informações, aparentemente, mas não conseguiria ler tudo naquele tempo. Tinha apenas algumas poucas horas para o comércio começar próximo da Catedral de Majstra na cidade, fora o que ouvira os vários homens que passavam fomentar em suas conversas desinteressantes.
Decidiu que leria um pouco sobre a regiao em si, embora houvessem textos sobre lendas, aventuras, guerras e lugares aparentemente importantes que a região guardava.
- Spoiler:
Pallando, vou postar no tópico do Cenário o que descobriu da região.
Me diga se quer passar as três horas lendo ou se fará alguma outra coisa, interação, lojas, conversar com alguém, qualquer coisa, ok? Senão vou adiantando o lado do pessoal e depois que o Leilão dos Escravos começar você volta, certo? Sinta-se a vontade pra fazer o que quiser na cidade...
~*~
Agnis – A Catedral de Majstra.
A cadetral estava tão agitada quanto o resto da cidade.
Agnis já estava na cidade a dois meses e descobrira que realmente todas as partes da cidade funcionavam junto, especialmente quando se tratava de algum evento de comércio, afinal, era isso o que movia toda a cidade.
Ela havia passado muitos meses na estrada passando fome, frio, sede...sem contar os dias que os pés não agüentavam andar. Descobriu que qualquer raça nesse planeta olha os pobres e andarilhos da mesma forma desprezível que qualquer outro, e nunca ajudavam alguém faminto. Certamente, não morreu de fome por conseguir encontrar poucas pessoas que aceitavam seus serviços em troca de um banho e um prato de sopa, um templo – normalmente de Majstra – que abrigavam os necessitados por uma noite e compartilhavam o pão sovado e duro que conseguiam.
Ninguém nunca a molestara, afinal ela aprendera a se defender muito com o uso de sua magia, mesmo assim precisou brigar algumas vezes para se preservar quando não conseguia simplesmente fugir de uma situação perigosa.
Foi doente e faminta que chegou à cidade do comércio meses atrás. Procurou toda a sorte de ajuda, mas ninguém estava disposto a auxiliar a jovem menina que ninguém conhecia. Foi quando encontrou o clérigo na catedral de Majstra no centro da cidade e lhe pediu algo para comer e lhe esquentar.
Foi então que o templo a acolheu. Cuidaram de sua doença nos pulmões, causada por tanta chuva e mudanças climáticas, a alimentaram e lhe banharam. No dia em que estava se sentindo melhor, decidiu que não incomodaria mais os clérigos e partiria. No entanto, para sua surpresa, não deixaram que partisse e lhe ofereceram um trabalho no Templo.
Não era remunerado, mas não passaria fome, nem sede, nem frio novamente. E, em gratidão, aceitou o trabalho contente em poder ajudar quem tanto lhe ajudou durante a enfermidade e trabalhou muito para que tudo ficasse agradável.
A igreja também tinha um papel importante no festival de comercio na cidade que aconteceria junto com o leilão de escravos. O templo deveria apresentar alguns aspectos da deusa, outros clérigos que viajavam para visitá-la. E a verdade era que a catedral não estava pronta para que isso acontecesse... Estava imunda, com poucas pessoas ajudando e trabalhando, sem nenhuma administração. Foi exatamente nisso que Agnis se propôs em ajudar, e não tardou muito estava ensinando coisas novas às cozinheiras, trabalhando na limpeza e colhendo flores diárias para enfeitar todo o lugar. Não demorou muito para que ela descobrisse quais eram os jardins com as flores mais belas e sempre voltava lá no dia seguinte.
A catedral era enorme, tomando mais de um quarteirão com vários cômodos, cada um destinado a uma coisa. Existia uma escola para as crianças, uma biblioteca com vários pergaminhos, um depósito imenso que antes era usado para festas que fora doado para o templo e que, hoje, usavam para abrigar quem precisava. Ela possuía toda a sorte de enfeites e um design totalmente diferenciado da cidade, com grandes janelas para entrar mais luz, um altar lindo na frente, após um ilustre corredor com chão de mármore. Nas pilastras haviam desenhados vários emblemas ligados à deusa e por toda a parte haviam flores enfeitando o lugar.
Finalmente chegara o dia do grande comércio de escravos e Agnis estava ocupada como sempre, verificando a cozinha, e colhendo flores pela cidade para receber os visitantes enquanto os clérigos recitavam falando os bons feitos e histórias da deusa para todos. Foi quando a jovem descobriu que o armazém estava sendo usado para abrigarem os escravos antes do leilão começar.
Já se passara a hora do almoço e ela tinha a tarde livre para fazer o que quisesse. Normalmente ela passava horas na enfermaria, aprendendo como curar feridas e tratar doenças, porém aquele era um dia especial, e Agnis podia fazer o que quisesse até o começo da noite.