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    A Loucura da Imortalidade - Prólogo Ginoma

    Aythusa
    Antediluviano
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    A Loucura da Imortalidade - Prólogo Ginoma Empty A Loucura da Imortalidade - Prólogo Ginoma

    Mensagem por Aythusa Sáb Jun 11, 2016 3:18 pm

    A casa em que se isolava estava tão escura quanto as próprias trevas que o corroíam por dentro. Houve um black-out na rua havia uma hora e a companhia elétrica disse que poderia durar o resto daquela noite. Para o diácono isso era quase como dormir novamente, o sossego da escuridão era gratificante, pois ainda não havia se acostumado com a amplitude de seus novos sentidos.
    Em sua casa, optara por usar velas nas poucas vezes que procurou alguma iluminação por um hábito humano que ainda tinha, na verdade ele não precisava mais de luz alguma. Até o brilho frágil das lâmpadas da rua que adentrava nas frestas de portas e janelas o incomodava devida a nova e aguçada visão que adquirira depois daquela noite...
     
    Seus ouvidos também ficaram mais sensíveis e os sons eram quase ensurdecedores no início, apesar de agora ter aprendido a quase ignorá-los, apesar de ainda ouvi-los. Conseguia ouvir um carro chegando, o passo das pessoas ao caminharem na rua e suas conversas embriagadas, ouvia os hinos da igreja que se formou diácono, mesmo estando do outro lado do quarteirão. O pior era ouvir o sangue sendo bombeado dentro dos corpos de seus vizinhos, convidativos.
     
    De todos os sentidos, o mais perturbador e que tinha menos controle era o olfato. Sentia o odor da morte impregnado em sua pele, sentia o cheiro do perfume de sua vizinha e o da comida sendo assada. Sabia até mesmo quando as crianças não estavam bem, pois seus intestinos a delatavam.
    Não mantinha contato com mais ninguém, porém devido aos seus “novos” sentidos, conhecia mais que nunca a rotina e as peculiaridades dos moradores de seu bairro.
     
    Curiosamente, o único sentido que não lhe supria mais era o paladar. Ele tentara, desesperadamente, alimentar-se como antes. Comera as mais diversas delícias da culinária, de diversos países, mas nenhuma delas supria-lhe a fome que sentia constantemente. E todas as suas comidas preferidas pareciam areia em sua boca e várias vezes vomitava o que comia porque seu novo corpo as rejeitava.
     
    Padre Amorth lhe havia explicado tudo antes de sumir, mas tudo aquilo ainda era intenso demais para ele e, apesar das inúmeras explicações e orientações cautelosas do Padre, ele não lhe explicara sobre os pesadelos... ou era assim que eles pareciam.
     
    Willem não dormia, sequer sentia sono, mas os pesadelos que tinha o assombrava mesmo acordado. Delírios, alucinações, desesperos e medos o consumiam de tal forma que muitas vezes não distinguia mais o que era fruto de sua mente monstruosa ou realmente demônios da noite que o perseguiam.
     
    E, naquela noite de trevas, o teólogo teve mais uma sessão de horrores.
    Ele estava encolhido no canto da sala escura, quando começou a ouvir vozes acompanhadas de passos no andar de cima da casa:
     
    - Ele vai morrer esta noite........ – Era a voz de um homem, arrastada e com um leve sotaque britânico.
     
    - Ele está morto... HAHAHAHAHA – A gargalhada era intensa e parecia vibrar dentro do corpo de Willem. Era de uma mulher, esganiçada e aguda demais parecendo ter sido saída do próprio inferno.
     
    O contorno de duas formas horrendas pararam no topo da escada e encarava a nova Criança da Noite, Willem, encurralado no chão da sala tampando os ouvidos para não mais ouvir o que diziam, porém esse esforço era em vão. E pôde acompanhar os dois descendo em sua direção, falando horrores:
     
    - Vamos devorá-lo?
     
    - Podemos queimar as partes menos deliciosas e ouvi-lo gritar...
     
    - HAHAHAHA....
     
    E se aproximavam cada vez mais na escuridão da casa. Willem tentou correr para longe deles e caiu tropeçando em um criado mudo que ele tinha ao lado do sofá. Em seu pavor, pegou-o e jogou onde achou que as duas criaturas estavam. O pequeno móvel bateu contra a parede e quebrou.
    Mas as duas criaturas estavam cada vez mais perto dele, mostrando-lhe os dentes afiados, os olhos negros, uma imagem totalmente monstruosa, demoníaca e sem nenhum sinal de humanidade.
     
    O telefone da casa tocou no mesmo instante que a luz da cozinha acendeu repentinamente, livrando-o da paranóia da não-vida.
    Ele suava, um sinal ainda de sua precoce imortalidade e de sua humanidade. Porém não sentia o coração bater acelerado e nem sabia se respirava apressadamente ou não, como deveria.
     

    O telefone estava tocando insistente no corredor recém iluminado pela luz provinda da cozinha.

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