Capitulo Um - Intrusos.

Lilya sorriu e tampou a boca com a mão esquerda e tanto Brenna quanto Shelby sentiram outra onda. Essa foi mais próxima - Shelby sabia vir de Lilya e reconhecia como magia - porém era mais suave e menos agressiva que a outra. A aura lembrava o toque carinhoso de uma mãe, o passar da seda na pele e a sensação que eles talvez imaginassem existir em uma nuvem.

Quando Lya tirou a mão da boca, não parecia estar exatamente bem. Fora uma mudança sutil na verdade, mas antes que alguém além deles notasse, a dama se ergueu e correu até a lixeira, ajoelhando e vomitando. Parecia um pouco fraca e pálida e, quando levantou, se apoiou na carteira mais próxima e olhou para o professor, que havia parado a resposta a Shelby na metade para olhar a ela.

-- Professor, posso ir com Shelby a enfermaria? Não me sinto bem...

-- Claro... Podem ir. Melhoras, senhorita Dragunova.

Parecia ser algo confuso não só para Brenna quanto para outros alunos. As duas eram inseparáveis pelo que parecia e ambas precisando ir juntas a enfermaria, algo suspeito. Anna segurou a mão de dela de volta e retribuiu ao aperto, sorrindo para ela.

-- Demais... Será que é assim sempre?


Lilya aceitou a ajuda da amiga para sair da sala, mas pareceu melhorar um pouco lá fora. A garota olhou ao redor e um sorriso surgiu em seus lábios, malicioso. Havia planejado aquilo para saírem juntas da sala e investigar o que estava acontecendo.

--Estou bem... E garanto que todos na sala também. Não consegui definir bem a direção, mas não parece ter vindo daqui de dentro do prédio principal ou dos dormitórios. Parecia uma rebarba de uma onda mais forte.

-- Se chegarmos em algum lugar que não sejamos vistas, posso usar minha magia para achar.

Lya parecia confiante quanto aquilo e aos poucos pareceu se recuperar da magia que havia usado. Não parecia ter sido algo tão poderoso, apenas uma forma de sair logo daquele ambiente sem erguer suspeitas.


-- Senti como se passassem seda em mim... E o sol da manhã me tocasse. Estranho, não é? E depois a garota passou mal.

A garota não parecia achar que a namorada era louca, talvez porque ela mesma tivesse sentido. Aos poucos, os alunos voltaram a fazer a lição e outros conversavam. Aquela aula já deveria estar quase no final.

-- Podemos pegar a sala do Jace. Ele não está usando mesmo.

A garota sorriu maliciosa. Quando se afastaram o suficiente da sala delas, Lilya começou a praticamente correr. Enquanto corria, ela procurava nas roupas alguma coisa e tirou do casaco uma chave. Ao chegarem na sala de Jace, no andar superior, a morena enfiou a chave na porta e destrancou-a. A porta foi aberta e as garotas puderam entrar, pouco antes de um miado longo ser ouvido, com passos logo em seguida. Quase haviam sido pegas por Argos.


-- Lya deve ter comido algo no café que não lhe fez mal, provavelmente. E quanto ao garoto... ele não parece ser realmente alguém com quem eu gostaria de fazer amizade.

A jovem falou baixo, coçando o queixo e olhando ao redor.


Dis estava bem próximo de terminar o quadro, com os detalhes voltando aos poucos para sua mente. Mais um pouco e o quadro estaria completo.

Mais alguns minutos e o quadro ficou pronto. Durante o tempo que passou pintando, mais uma onda de energia atravessou o quarto, menos ofensiva que a outra, mas de natureza incerta. Não era o tipo de encanto que o jovem conhecia ou mesmo identificava como algum caminho específico. Mas pouco após sumiu, retraindo-se.


Lilya procurou papel e caneta nas coisas de Jonathan e, ao terminar, se sentou na cadeira dele e começou a entoar um encanto. Parecia uma música suave, de ninar, em latim. Mesmo se Lilya não tivesse dito que podia rastrear a magia, a maga teria pego essa essência das palavras dela. Demorou até a magia ser evocada realmente e uma onda se espalhou pela sala e prosseguiu.

A princípio nada aconteceu, mas depois a mão de Lilya começou a se mover sozinho, traçando no papel o lugar que a magia havia sido lançada e anotando em baixo alguma coisa. Após terminar, Lilya se encostou na cadeira e olhou o trabalho.

- Achei o lugar.

O que vocês duas estão fazendo?!

Tentando dominar mundo?



A namorada pensou um pouco a cerca do que vinha depois e concordou com a cabeça. Era matemática, pelo que ela podia se recordar.

- Sim, é matemática. Depois intervalo para o almoço, parece.

Duas aulas pela manhã não era muito difícil de aquentar, pelo menos. Pelo menos não até aquele momento.

- Espero que o professor seja legal.



A noite havia sido calmas, sem muitas preocupações. Ao despertar e ir ao café da manhã, seus amigos lhe questionavam o que ocorreu e se estava bem, então depois foram para aula de literatura. Em dado momento, Dis saiu da sala após uma breve discussão. Apesar disso, a aula seguiu normal até uma onda de magia agressiva passar ali, mas sem realmente causar mal a ninguém.
Shelby havia solicitado ir a enfermaria quando uma onda em seguida, mais amável e suave, correu o ambiente e, se Oliver não estivesse bem, agora estava. Lilya correra a lixeira vomitando e ambas se retiraram.
Então, minutos após, veio a terceira. Não era ofensiva mas também não tão amigável quanto a segunda. Entretanto sumiu tão rápido quanto apareceu.

Oliver acordou se sentindo maravilhosamente bem naquela manhã, ao contrário da sensação estranha que percorrera o seu corpo durante a noite. Ao ser questionado por seus amigos, Oliver tentou despistá-los, dizendo simplesmente que havia tido um mal estar e que o liberaram para que se ausentasse do resto do jantar. Durante a primeira aula do dia, o garoto escocês já estava agindo naturalmente e viu sua mente livre de quaisquer preocupações... até a primeira onda de energia ser sentida.

O garoto deu uma olhada envolta, prestando atenção em quem mais pudesse ter sentido alguma coisa. Ele não percebeu nada de anormal com os outros alunos, mas quando uma segunda onda atingiu a sala, ele viu a garota Shelby imediatamente se levantar e pedir pra ir a enfermaria. A amiga de Shelby vomitara numa lixeira e saiu junto com ela. Aquilo chamou muita a atenção de Oliver.

Não pode ser uma mera coincidência.

Calmamente, Oliver MacGregor se concentrou para terminar a tarefa pedida pelo professor. Até então, o garoto havia enrolado na aula, perdendo tempo entre conversas e piadas com os seus amigos, mas agora que ele precisava sair daquela sala, ele tratou de terminar a tarefa, e inteligente como era, o fez sem muita demora. Oliver percebeu uma terceira onda de magia e aquilo estava ficando cada vez mais estranho.

- TERMINEI! - Grita Oliver ao mesmo tempo em que fechava o seu caderno. Em seguida ele guarda as coisas em seu estojo e se levanta da cadeira para entregar o trabalho pro professor com um sorriso no rosto. - Aqui está, professor. Eu... er... - Oliver baixa o tom de sua voz, dando gravidade as suas palavras. - Ontem o senhor deve ter sabido que eu passei mal, e, bem... acontece que eu acabei esquecendo de pegar um remédio com a enfermeira. O senhor me dá licença para que eu saia de sua aula? É um pouco urgente...

Oliver colocou a mão em sua barriga, como se tivesse sentindo alguma dor. Ele queria, na verdade, correr atrás de Shelby e de sua amiga para descobrir se elas também eram portadoras de magia. Ao que tudo indicava parecia que sim e talvez as duas pudessem ter alguma explicações para as coisas estranhas que estavam acontecendo.