{Prologo - iNets} Águas sagradas.

Depois das palavras da moça, Ulrika começou a olhar Lya com outros olhos, talvez com um pouco mais de ternura. Misha era muito modesta com suas palavras, parecia querer defender e proteger.
Normalmente Ulrika estaria envergonhada em estar em uma escola nova cheia de pessoas desconhecidas, mas Misha lhe dava segurança. Ela estava mesmo disposta a fazer amizades por ali.
O celular da Ulrika vibrou, a menina não se conteve e pegou para ver o que era, não sabia se era permitido usar o celular ali, mas era tempo livre, então não hesitou em desbloquear e usar. No mesmo instante, o aparelho caiu de sua mão e sua respiração ficou ofegante.
-M-Mikhaela... Eu.. Eu não me sinto bem. Me ajuda, tem alguma enfermaria por aqui? Eu... Eu...
Ela estava aparentemente se sentindo mal, aquilo ardia dentro dela.

Ulrika chegou ainda muito tonta na enfermaria, o rosto de Mikhaela estava embaçado e ela não conseguia o ver direito, mas não demorou muito para que pudesse voltar ao normal.
A garota estava assustada, era o dia do aniversário de seu pai, porém ela havia esquecido e lembrou somente ao ter visto a data na tela de seu smartphone.
Um turbilhão de sentimentos veio à tona, deixando a moça confusa, desorientada e com uma certa nostalgia. O que estava sentindo antes era exatamente a mesma coisa que sentira quando entrou pela primeira vez no escritório de seu pai: um desconforto um tanto impetuoso. Como se houvessem borboletas voando dentro seu estômago, surgia uma sensação que se confundia com a euforia e com a ansiedade de estar em uma nova realidade de vida e ter que se adaptar às tantas novidades.
Nessas alturas, sem ter as mínimas notícias de seu pai, sem saber se ele estava vivo, sem poder abraçar e contar tudo para Enzo, ela se via sem chão, todas as suas outras alegrias pareciam tão triviais e só agora se dava conta da dimensão daquele momento.

Ulrika ficou abatida por refrescar tais lembranças, uma espécie de arrependimento perfurava seu coração, suplicando, bem no fundo, que pudesse voltar atrás para fazer tudo de novo.
Os olhos de Mikhaela demonstravam estar apreensivos. Ulrika ficou com medo de tê-la deixado preocupada, então sem dizer sequer uma palavra abraçou a amiga. Um abraço macio, confortável e sincero que representava sua gratidão por tê-la encontrado. Passou lentamente suas mãos nos cabelos da ruiva mas proximidades da nuca tentando acariciá-la e mostrar a importância que já havia ganhado no coração de Ulrika. O perfume dos cabelos e da roupa de Mikhaela pareciam mesmo serem os melhores cheiros que já havia sentido, este foi capaz de reconstituí-la por inteiro e devolver-lhe a bravura. Soltando o abraço, tomou as duas mãos de Misha enquanto olhava fixamente nos olhos da menina e enamorada ficava por ver, que a garota de pele macia era o lapso que lhe permitiria fugir da escuridão de seus traumas.