Alex Kormac - Moretti

Alex caminhava silencioso pela trilha solitária, que seguia pelas margens de um riacho. O dia estava bonito, o ceu claro, a vegetação verde e exuberante; tudo conspirava para que ele se sentisse em paz de espirito, compartilhando um momento de tranquilidade com a natureza.



Porém o que ele menos tinha era paz e tranquilidade de espirito. Todos os acontecimentos que resultaram na morte de seu pai e o ataque a sua vila por parte dos demônios deixaram cicatrizes, externas e internas. Em momentos de silencio como este que ele podia ouvir os sussurros, que não podia entender, mas cujas palavras incitavam ao mal, palavras demoníacas brutais e impiedosas.

Em um certo momento Alex avista uma casa pequena de alvenaria. Ele para e observa, mas não havia sinais de moradores. Antes que possa tomar alguma decisão, o ladino percebe um som se aproximando de longe, que ao se aproximar identifica como o som de um galopar!

Imediatamente ele se esconde nos arbustos, não sabia ao certo o que o aguardava fora da vila.
Um sentimento perturbador o incomodava. "- Corra!" ouviu. "Corra criança estúpida!" Ouviu Alex novamente, mas o som não vinha de lugar algum.
As vozes gritavam em estivessem sua cabeça como se estivessem presas.

O som de galopar apertava e seu medo aumentava a cada grito demoníaco em sua cabeça.
"- Calem-se vermes, não irei fugir!" gritou Alex enquanto retirava sua adaga das costas. Estava decidido a enfrentar seu inimigo que vinha com passadas cada vez mais apertadas e rápidas. Se era amigo ou inimigo não sabia. Já não havia mais tempo de se esconder quando dentre as arvores aparece um cavalo negro, apenas com a cela, correndo como se fugisse da morte.



"-Que merda!" gritou Alex enquanto se jogava para o lado da estrada de terra.
O cavalo passara tão rápido que quase o pisoteia.
"- Se pelo menos eu o tivesse pego, iria me ajudar muito...mas" Uma coisa o intrigava.
"-Aquela cela, aqueles ornamentos... Não me são estranhos. Hammerheim só pode ser!" Alex lembrou de sua visita a cidade dos anões em uma das viagens de seu pai para comprar suprimentos.
"-Quem mais trabalha o aço daquele jeito?" indagou Alex.
"-E o que ele fazia aqui, do que estava fugindo?" Eram muitas perguntas e para um só dia.
A noite chegou mais rápido do que pensou e não havia outra escolha a não ser tentar a casa abandonada. Dormir ao relento seria muito arriscado, afinal não sabia de quem ou o que o cavalo fugia.

Tão repentinamente quanto seu aparecimento, o cavalo negro se vai em disparada pela estradinha de terra. Batendo a terra úmida de sua roupa, Alex fica perdido em seus pensamentos, imaginando qual o significado de um cavalo vindo de Hammerheim sem cavaleiro, passando por ali. Depois de aguardar um tempo observando os arredores, teve a certeza de que não vinha mais ninguém pela trilha.

Sentindo o aproximar da noite, o ladino decide que já era hora de procurar abrigo, e nada melhor que uma casa abandonada para o seu pernoite. Ele bebe um pouco da agua do pequeno riacho, uma agua fria e deliciosa, e o atravessa, subindo pelo morrinho.

off:

Ao se aproximar da casa abandonada, Alex percebe um som vindo de dentro da casa, um arrastar de pés ligeiro.

Ainda confuso com o que acontecera, Alex se espanta por haver alguém na pequena casa.

"-Mais essa.." disse irritado.

Alex começou a rodear a casa para ver se enxergava quem vivia ali. Mas os vitrais estavam muito empoeirados e mal conseguia olhar através do vidro. Ao chegar na parte de trás da casa Alex encontra uma janela maior, ele tenta olhar para ver se descobre alguma coisa.


Ao se aproximar avistou um vulto, mas não conseguiu distinguir do que ou de quem era.
"Mate!!" ouviu Alex.
"Mate eles, você precisa da casa!" diziam as vozes em sua cabeça.
"Não preciso de nada" sussurrou Alex como se estivesse frente a um amigo.

Enquanto Alex tentava identificar quem estava na casa ouviu novamente.
" Mate ou eles te matam"- "Se ficar aqui fora você vai morrer" repetiam incessantemente.
Eram raros os momentos em que sua cabeça ficava em paz.

"NÃO O FAREI! CALE-SE DEMÔNIO!!" disse Alex aumentando a voz.
Com o descuido Alex não houve mais os passos dentro da casa. O vulto agora estava parado.
Alex segue mais a frente e se esconde nos arbustos, esperando alguma movimentação na casa.

Após uma procura preliminar, Alex percebe a presença de alguém dentro da casa. Porém as vozes em sua cabeça o incomodam, e acabam por alertar sua posição. Em seu esconderijo em meio aos arbustos, o ladino observa.
Uma garota ruiva de cabelos curtos, portando meia-armadura, uma espada e um escudo, sai pela porta e permanece em posição de combate, procurando com os olhos o inimigo.



Enquanto observa, ela diz, em tom ameaçador:
- Estas são as terras dos Morgenthau, donos desta fazenda há mais de 50 anos! Invasor, revele-se, e diga seu proposito!

Surpreendido com a garota e principalmente com sua coragem Alex sai cuidadosamente dentre os arbustos como se saísse das sombras.

"- Kormac" disse Alex enquanto segurava sua adaga escondida nas costas.

"- Estou apenas de passagem, e como esta anoitecendo pensei em pedir abrigo." dando passos em direção a garota.
"- Baixe sua arma, não quero lhe fazer mal" disse com a voz calma.

Assim que Alex sai cuidadosamente pelos arbustos, a garota fixa o ladino com os olhos, observando qualquer movimento seu, flexionando o joelho para preparar-se de um eventual ataque.
- Pode parar ai mesmo, não de nem mais um passo – diz com a voz dura, mas seu semblante mostra que esta confusa – Espera ai, voce disse Kormac? Da vila de Mistdale, próximo de Nova Karzek?

Ela sai de sua posição defensiva, ficando a espada em posição de descanso. Ela aparenta incredulidade, enquanto observa melhor o herói.
- É você, Alex?

Alex guarda sua adaga sem chamar atenção.

"- Quem é você?" disse espantado.
"- Desculpe ser direto, seu rosto me é familiar, mas não consigo me recordar!" desconfiado da garota, Alex continua imóvel.

Observava cada traço da garota tentando descobrir de onde era, e como ela o conhecia.

Alex encontrava-se desnorteado com aq uela situação, como seria possível aquela garota reconhece-lo? Ela embainha a espada e caminha em direção do ladino, parando a sua frente. De fato, aquele rosto não lhe era estranho, mas parecia vir de uma memoria muito distante.

A garota disse então que seu nome era Luna Morgenthau, e que quando menor ia estudar na vila de Kormac, Mistdale. Eram da mesma classe.
- Eu não era de muita conversa, não tinha muitos amigos. Observava de longe você, tinha ate inveja, por voce ser tão popular. Estudamos juntos durante 3 anos, Alex, ate que um amigo do meu pai ofereceu uma oportunidade de fazer uma academia marcial, em outra cidade – disse, animada. Ela observa o rosto do outro com expressão de surpresa – Você não mudou nada... Você tinha um irmão não tinha? Como ele está?

" - Luna?...Luna..Ah sim, eu me lembro de você." Surpreso.
" - A garota tímida. Creio que nunca tivemos uma conversa de fato. Você era tão diferente" disse enquanto a analisava.
Ao lembrar de seu irmão sua expressão facial muda completamente.



" - Meu irmão..." sussurrou.
" - Acredito que você tenha vivido a melhor época de Mistdale, muita coisa aconteceu nesses anos..." disse com o olhar perdido.
" - Mas como você esta? Vejo que mudou muito desde a escola" fugindo do assunto.

Alex percebe em Luna que a mesma fica um tanto quanto desconcertada com sua reação, dando um sorriso sem graça, como aqueles que as pessoas dão quando cometem algum tipo de gafe. Ela passa a mão pelos cabelos ruivos curtos, puxando uma mecha para o lado.
- Sim, não sou a mesma menina de antes. Na academia aprendemos a ser fortes, ou então não conseguimos avançar. Fiquei por la bastante tempo, ate recentemente, quando terminei meu treinamento. Me aventurei um pouco pelo mundo, ate que com saudades resolvi visitar minha família... – diz Luna, e mostra a residência – encontrei a casa deserta. Sem sinal de ninguém... De que adiantou todo meu treinamento... Se no momento em que as pessoas mais precisam de mim, eu não estava aqui, para ajudar?

A guerreira então se vira, afastando de Alex. O ladino podia facilmente perceber que ela estava em um choro silencioso.

" - Não se culpe. Aprendi em pouco tempo que certas coisas não se pode evitar."

Alex segue Luna com cautela pois não tinha muita intimidade.

" - Eu mesmo por perto, não consegui salvar meu pai. Você ainda pode ter esperança de encontra-los... Se a casa estava vazia eles poderiam ter fugido para algum lugar seguro." Tentando uma aproximação.

" - Creio que esse deveria ser seu próximo passo a partir de agora?"

Alex Kormac aproxima-se de Luna, tentando conforta-la com palavras de animo. Estando a um passo dela, o ladino surpreende-se quando a guerreira se vira e o abraça, mantendo o rosto colado em seu peito. Alex sente a umidade advinda das lagrimas tocar sua camisa, assim como o calor emanado pelo seu corpo.
“Sim, tem razão, não posso perder as esperanças agora... Ainda mais tendo um amigo por perto...”, diz Luna, ainda encostada a Alex. Isto dura mais alguns momentos, até que ela se afasta, limpa as lagrimas do rosto e ensaia um sorriso tímido. “Desculpe, acabei me descontrolando... Vamos entrar? Estava preparando um cozido na panela quando voce chegou...”