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Sabe qual a força mais destrutiva do universo? O arrependimento.
Vendo a irritação dele, dei um sorriso até um pouco cruel e balancei com a cabeça quando ouvi ele falando, antes de falar para ele com uma nova calma. Percebi que agir com calma e trata-lo como uma criança desesperada seria muito mais efetivos do que gritar ou agir com indignação. Tentei me recordar da calma e tranquilidade usual dos elfos, aquela que usavam para tratar as crianças tolas que achavam que sabiam de tudo. O sorriso cruel tornou-se o sorriso de um adulto falando com uma criança, quando sentia pena da mesma por sua tolice.
— Não seremos iscas para você, Slade, e não precisamos da sua benevolência. Podemos passar no teste sem sua ajuda e preferimos assim, pois, se estamos numa Academia para estudar, precisamos aprender o que ela tem a oferecer, ao invés de pegar atalhos ou nos comportarmos como os donos do conhecimento e da razão, o que apenas mostraria o quão tolos somos. Você pode ter o sangue nobre, mas termina ai sua nobre, afinal comporta-se de modo que apenas informa que é uma criança imatura e egocêntrica, achando que é alguém para o mundo. Sua família talvez sinta sua falta quando morrer, Slade, mas as outras pessoas logo lhe esqueceram. Ninguém irá sofrer por muito tempo por sua causa e, comportando-se assim, o mais provável é que façam festas para comemorar sua morte. Sua arrogância em achar que precisamos de você apenas mostra o quão infantil é. Diz que é benevolente e iria nos deixar passar com você, mas a verdade é que você está desesperado e com medo, Slade. Finge que é corajoso e muito habilidoso, entretanto o labirinto está lhe fazendo questionar se isso é verdade. Você não é digno nem ao menos da nossa piedade, criança. Lembre-se que quando você morrer, eu ainda terei muitos anos para aprender coisas e me aprimorar. Não preciso ter pressa para aprender nada, pois haverá tempo para fazer adequadamente no futuro.
Eu estava farta daquele labirinto filho da puta, farta desses nobres mal educados e irritada com a forma que ele falava com a gente. Todos estávamos irritados com aquilo, mas quem aquele garoto achava que era para agir assim? Se ele não consegue controlar as próprias emoções, não deveria estar ali. Se ele se achava tão bom, deveria saber que as emoções eram inimigas da razão e do que ele deveria se ater. Quando normalmente meus olhos expressavam apenas calma e gentileza, agora demonstravam raiva e impaciência para com ele. Eu normalmente era contra a violência, mas se um monstro aparecesse ali pra bater nele, provavelmente eu iria ajudar... O monstro.
Essa última parte, fiz questão de enfatizar. Eu poderia não ter mais a eternidade, mas eu ainda vivia mais que um humano. Não havia nenhuma indicação que eu sentia ódio ou raiva em momento algum, mas eu estava realmente irritada com ele. Eu queria muito sair dali e logo, pois estava cansada daquele lugar e preocupada com Jimmy. Também queria conversar com alguém sobre a estranheza do que acontecera na noite anterior e sobre o livro esquisito que chegara até mim. Tudo aquilo, porém, seria atrasado pela existência daquele lugar, mas talvez um tempo de maior normalidade pudesse ser bom para mim.
Esperava não ofender Lindsay com aquilo, mas iria me explicar com ela assim que nos afastássemos dele. Alguém precisava falar a verdade para Slade, mesmo que ele reagisse mal ou se doesse com aquilo. Quase a escola inteira já me odiava só por eu existir e ter ido parar ali por indicação do Merlim, então no fim das contas já estava acostumada a me olharem torto e me odiarem. Agora, pelo menos, eles o fariam com algum motivo, não é?
— Espero que o tempo lhe permita amadurecer, Slade. Porque você precisa desesperadamente disso. — Após pronunciar essas palavras, virei-me e parti, mas sempre mantendo parte da atenção no rapaz para não ser pega de surpresa pelo rapaz. Eu não o odiava e não havia dito nada daquilo por maldade, apenas sabia que alguém precisava dizer aquilo a ele, precisava despertar ele para a realidade e fazer com que ele pudesse crescer. Mesmo que ele fosse tão bom quanto dizia, isso não lhe dava o direito de tratar as pessoas mal ou julga-las como inferior a ele. E o sangue nobre dele realmente não tornava ele melhor ou pior para ninguém, pois existem pessoas ótimas e extremamente talentosas que não possuíam sangue nobre. Eu esperava que, um dia, chegasse ao menos próxima do talento dessas pessoas.
É o seu grau de comprometimento que determina o seu sucesso, não seu número de seguidores.
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