Tom - Introdução

5 de Eleint de 1372 CV

Uma fumaça ao longe despontava no céu noturno. Aproximando-se da pequena vila aos sopés da cadeia de montanhas, ouvia-se gritos de fúria e temor. Uma casa pegava fogo, pessoas corriam de um lado a outro e o caos estava estabelecido. Orcs. Orcs eram o motivo de tudo aquilo. As criaturas bestiais corriam com seus machados sedentos por sangue, pessoas morriam em suas lâminas, outras casas eram colocada em chamas e a vila Girtmunsk estava condenada. Um homem tentava fugir de toda aquela chacina, Taumardok era o nome dele, um homem desesperado tentando evitar o pior. Mas algo o perseguia. Uma fera de quatro patas, com dentes afiados e a boca salivando. O homem tropeçou num corpo caído, e se virou para fera apenas por tempo suficiente de ver seus olhos assassinos e de ecoar um grito através da noite sanguinolenta:

- NNNNNNÃÃÃããããããoooooooo...





Tondrill Flanae acorda em seu quarto, no Colégio da Senhora em Lua Argêntea, suando frio e com o coração acelerado.

Tomdrill acorda abruptamente. Suado e com calafrios que lhe percorriam a espinha ele recorda as cenas que lhe assombravam. Sua vila Natal está sendo atacada por Orcs, seu pai sendo atacado por uma criatura. Respirou e virou para o outro lado. Sua cama estava empapada de suor. Ele fechava os olhos com força tentando dormir, mas nada surte efeito. Olha pela abertura que há no quarto e ainda é noite lá fora. O sol nem apontava ainda. Decidiu sair.
Vestiu-se e seguiu os corredores do Colégio até encontrar-se no lugar mais alto a que tinha acesso. Lá ele olha a Oeste de Lua Argêntea, onde ficava sua cidade. Será que foi apenas um pesadelo?

Tomdrill passa pelos corredores desérticos do colégio, até chegar no terraço aberto do último andar. Lá, ele olha para o negrume do horizonte, mas obviamente não vê nada. Sua vila se encontra há muitos quilômetros de Lua Argêntea.

Não passa muitos minutos e uma pessoa chega até o terraço.

- Pensei ter ouvido passos apressados no corredor - Tom se vira e reconhece Gaunt, um dos magos professores do colégio. Um sujeito de meia-idade e muito respeitável na instituição - De fato uma das minhas magias de proteção me avisou de sua passagem. Algum problema meu filho?

Tomdrill respira aliviado olha para o professor e diz:
- Não, senhor. Apenas um pesadelo.- Depois de um breve silêncio. - Desculpe se acordei o senhor. Foi um sonho em que minha vila queimava sob um ataque Orc. Não deveria eu acreditar nisso, mas foi mais forte que eu. Acho que vou voltar ao quarto e estudar as apostilas e meu grimório.

- Bom filho, espero que tenha sido só um pesadelo mesmo. Mas se o sonho foi tão real a ponto de fazê-lo pular da cama, pode querer significar algo. Deixarei você com os seus próprios pensamentos. Boa noite.

Ele se vira para voltar aos seus aposentos.

Aquelas palavras semearam a dúvida na cabeça de Tomdrill. Será que era possível que aquilo fosse uma premonição? E se fosse, o que poderia ele fazer para ajudar? Tomdrill resolveu que ia aguardar o dia nascer e falar com seus amigos sobre isso e ver o que eles diziam.

Tomdrill acorda no dia seguinte, um pouco mais tranquilo em relação ao sonho que teve, mas ainda assim com dúvidas.

Tom está matriculado no Colégio da Senhora há algum tempo, como é chamado a ordem arcana do local, e já conhece bem as suas instalações. Alias, o colégio é o coração do conclave de Lua Argêntea que a Senhora Alustriel criou um pouco antes de abdicar do posto de Alta Maga da cidade. No conclave há também um colégio bárdico, uma das raras escolas de feitiçaria em toda Faêrun, uma grande biblioteca chamada de Reduto dos Sábios, entre outras instituições. É um excelente lugar para quem busca por conhecimento. E a vida de Tom no colégio se resume à estudos, não só sobre magias, mas o estudo da história em geral.

Ele então se dirige ao refeitório, onde se encontra os outros alunos.

Tom pega sua refeição e observa o salão, até encontrar a mesa que procura. Ele caminha até a mesa e com um simples: "- Bom dia!"- Ele se senta e sorri para seus amigos. Wilem e Simons entraram no Colégio junto com ele e logo fizeram amizade. Wilem era um rapaz louro, de olhos verdes que se gabava por ser o mais bonito e conquistar várias donzelas dentro e fora do colégio, mas isso ninguém jamais presenciou. Simons, um rapaz musculoso de pele escura e careca. Era muito reservado e pouco falava. Também porque tinha dificuldades com o idioma e por vezes os dois tinham que traduzir algo que ele falava para alguém ou desenhar um objeto para que ele entenda do que eles falavam. Na mesa vizinha estava Artémis, a moça com a qual Tomdrill havia feito uma pequena amizade e que, para todos os efeitos, era sua namorada. Na verdade os dois não passavam de uma amizade colorida e o namoro dos dois se deu mais para que a moça fosse liberta dos galanteios de Ambrose, um filho da Nobreza de Águas Profundas que, por não ter mais o que fazer com seu dinheiro, enviou o filho mais odiado para virar mago. Tomdrill por vezes havia acusado de que nem sua família o suportava e o enviara para lá pra não ter que lidar com ele...

- Então? Estão prontos para o teste de pergaminhos hoje? Estudaram? Depois daquele sonho eu não consegui me concentrar direito. Então fui até a biblioteca e fiquei lendo o dia todo.

O rapaz Willem comenta:
- Um mago precisa estar sempre pronto, Tom, você sabe disso. Nós não somos mais iniciantes. Você não concorda Simons?

- Eh - responde simplesmente o rapaz negro.

- Bem, agora vou indo - diz Willien após avistar uma garota a qual ele estava de olho se levantar e sair do aposento. - Vejo vocês no teste.

Logo após chega um garoto iniciante até a mesa e diz:
- Você é o Tomdrill Flanae? - pergunta ele lendo um pedaço de pergaminho. - O Mestre Gaunt disse que quer conversar com você em sua sala, no 3º andar. Ele falou para você ir o quanto antes.

Tomdrill agradece ao rapaz e engole o desjejum tão depressa que até Sim fica espantado. Ele se levanta, despede-se de Sim, dá uma piscadela para Arthémis e segue até a sala de mestre Gaunt apressado.

Tom chega a sala de Gaunt, e quando ele bate na porta ouve a voz do mestre:
- Entre.

A sala é apertada com estantes e mesas forradas de pergaminhos e livros.
- Sente-se - diz Gaunt apontando para a cadeira defronte à mesa a qual ele está sentado. - Tom, o seu sonho me despertou uma certa curiosidade, e hoje de manhã estive entrando em contato com algumas pessoas no Alto Palácio. Conversei com o próprio Alto Mago Taern, e ele me confirma que tem havido ataques de orcs em vilas próximas às Montanhas Inferiores e que o conselho planeja enviar uma equipe de expedição até as montanhas. Você gostaria de ir? Você teria a chance de voltar à sua aldeia e descobrir o que aconteceu de fato, e ainda seria uma boa experiência aos seus estudos.

Tomdrill entra na sala de mestre Gaern e senta quando ele pede, já imaginando que haveria feito algo errado e isto era uma conversa para definir sua punição. Não era isso. Mestre Gaern estava lhe dando uma chance de ir numa expedição à sua vila. Seria bom ver seu pai novamente, seus amigos da escola itinerante e Dwehion. Tinha perguntas a fazer e ainda afastaria de sua mente o sonho que tivera.
- Sim, senhor. Se o senhor acredita ser uma boa experiência aos meus estudos, eu aceitarei de bom grado. Devo me preparar para quando?

Ele se levanta e fazendo uma reverência diz:
- Sim, Senhor. Se o senhor deposita tamanha confiança em mim não lhe decepcionarei. Obrigado.
Quando ele lhe despede Tomdrill sai e vai ao seu quarto fazer os preparativos...