Por um breve momento, o silêncio se tornou tão aconchegante naquela sala dos computadores que pensei mais de duas vezes em fechar a porta e me trancar naquele lugar. Fazia alguns dias em que a rotina havia crescido e se tornado uma gigantesca bola de neve. Os pacientes estavam ficando piores, alguns melhores e estes, muitas vezes quando recebiam alta, davam lugar para um clinicamente instável. Após fazer a prescrição dos medicamentos que a Enfermagem deveria administrar no paciente Noah, a pedidos do próprio Dr. Webber, peguei uma pequena planilha que costumava carregar e caminhei correr a dentro. A princípio o destino era a Cardiologia onde iria apresentar um caso novo para os estudantes e, por quê não apresentar uma cirurgia de troca de válvula para um dos residentes? Essas ideias ficavam latejando à minha cabeça, talvez eu realmente estava afim de observar o que os estudantes de Medicina estavam tendo nas aulas e se estavam preparados para a rotina pesada. Mas ninguém é de ferro. Olhei o relógio por um breve momento e já estava beirando as três horas da tarde. Horário este que havia pedido para um colega fazer um exame eletrocardiográfico em outro paciente. Não havia almoçado devido a cirurgia e também o último chamado do Dr. Webber. "Realmente quem tem amigos tem tudo... Sorte deste rapaz, Noah..." Pensei. Enquanto caminhava pelos corredores, ia pensando em outras maneiras de abordar o tratamento. Eu trabalhava com inúmeras possibilidades; "E se" fazia parte do meu vocabulário. "E se fosse transplantado? E se possuísse alguma Cardiopatia, e se... E se..." A barriga deu uma leve tremida, não era para menos, estava com fome fazia um tempo e somente agora obtive tempo. Geralmente os hospitais possuíam diversas cafeterias, bares e etc, eu gostava de frequentar o menos populoso. Filas, tumulto, conversas paralelas me deixavam atordoado, irritado e nervoso. Aquela estranha sensação de ser observado o tempo inteiro também me deixava inquieto. Quando estava passando pelo corredor, mais precisamente a frente de uma porta de entrada, escutei uma voz melodiosa e feminina chamando pelo meu nome. Olhei para os lados mas não vi ninguém, porém, parei e por algum motivo, olhei para dentro daquela sala, de certa forma eu conhecia aquela voz, mas não lembrava de quem pertencia. Quando fiz uma breve vistoria, a mulher de cabelos dourados e charmosa foi a primeira pessoa no qual meus olhos pairaram e obviamente arqueei as sobrancelhas. — Não precisa me chamar de Dr, só Reed está bom. — Proferi, ajeitando brevemente a vestimenta. — Um coração novo? — Indaguei, arqueando as sobrancelhas mais uma vez, contudo, desta vez eu estava pensativo e o meu cérebro estava pensando em mil coisas ao mesmo tempo, parecia que a qualquer momento iria dar um curto circuíto. — Você sabe como é essas coisas em relação aos órgãos, Liz. Não é simplesmente dar, há uma fila de pessoas que estão esperando... — Proferi, e estava argumentando ao ponto de não ser interrompido, todavia, o brilho no olhar da mulher e o desespero em seu tom me fez ficar um minuto calado. — Bom... Eu precisaria vê-la, primeiro, tenho que fazer uma série de anotações, estudos. E também precisaríamos de um doador e nós não temos por agora. — Talvez este momento fosse o pior da Medicina, em você querer e não poder, mesmo que houvesse mil recursos disponíveis. A vida inocente de uma criança me atingia de uma maneira brutal, e esta razão foi a principal em nunca ter gostado de ser residente na pediatria, quando estudava para se formar na época acadêmica. Liz, diferente de mim em muitos aspectos ainda possuía um lado amoroso e zeloso com seus pacientes, eu, diferentemente, havia deixado o lado robótico dominar e a empatia enrijecer como um tijolo no cimento. Sentei no banco ao lado, e fiz um sinal para que a atendente viesse. — Dois cafés. — Pedi, educadamente. E em seguida abaixei a cabeça. — Olha, vamos trabalhar juntos nisso. Eu não posso te prometer um milagre, mas, posso prometer que vou tentar. Se... Se um coração estiver em bom estado, nós podemos fazer. — Alterquei, olhando para ela. Eu queria fazer aquilo, dar uma nova chance, uma nova oportunidade de vida para uma criança, mas não dependeria apenas de mim, no fundo do âmago, esperava que Lizzie entendesse e torcesse para que surgisse um doador.
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