[Quest - Inglaterra] Skye in Wonderland - Skye & Faith Wright

Cansaço. A palavra consumia lentamente o corpo da garota conforme o tempo passava. Estava trancada em seu quarto fazia horas. Fazendo contas e mais contas, analisando estatísticas, saldos e dívidas empresariais das mais variadas, ao mesmo tempo em que relia seu discurso motivacionalista para a volta ás aulas e assinava documentos do colégio. Ela já não ouvia mais a música mas sabia que ainda deveria estar tocando, seu cérebro apenas não conseguia processar tanta coisa ao mesmo tempo... Estava morrendo de dor de cabeça! A jovem loira por um minuto notou algo estranho no computador. A tela se apagou e ficou preta. Uma barra de digitação branca piscava no canto superior esquerdo. Lunamon, que dormia ao lado de sua cadeira, acordou de repente sobressaltada e pulou no colo de Skye. Na tela três letras foram digitadas, movendo a barra piscante para frente: "Olá!" A mensagem se prolongou... "Eu sou o H4TT3R. Prazer em conhecê-la. Senhorita Wright. Ou devo chamá-la de N3MO? Ou quem sabe de ninguém?" Uma voz masculina adolescente acompanhava a leitura da garota. A tela ficou branca e se iluminou. "Bem-vinda ao meu mundoooooo!" Ela ouviu a voz dizer enquanto desmaiava. Ao abrir os olhos novamente, ela se deparou com um rapaz com olhos heterocrômicos, um vermelho e outro verde, e cabelos brancos bagunçados. Ele tinha um sorriso estranho e completamente insano em seu rosto. Ofereceu-lhe a mão. Ela olhou ao redor e notou algo importante: Não estavam na Rede.

Enquanto isso, em seu quarto, sua irmãzinha, Faith, entra com uma bandeja com biscoitos nas mãos. Derrubando-a com um estrondo ao notar que sua irmã não está ali. Labramon correu fielmente até sua protegida ao ouvir o som da bandeja. A tela do computador estava escura com a barra branca de digitação ainda piscando. Uma frase foi digitada e a voz de H4TT3R soou: "Isso vai ser... Interessante..." A tela se iluminou novamente e Faith teve de cobrir seus olhos para não ser cegada pelo clarão enquanto uma criatura negra, pequena e maligna surgia do portal.

- Oi crianças! - se apresentou o pequeno vampiro, sua voz era como um chiado televisivo e ele tinha um olho em cada mão, um verde e outro vermelho. - Dracmon... Veio brincar...

Informações:

Aquele era o típico dia onde nada dava certo, por maior que fosse seu esforço e tempo doado. Tinha começado estranho desde a manhã, mesmo que Skye não fosse o tipo de pessoa supersticiosa, e se prolongou pelo resto do dia até aquele fatídico momento.

Seu cérebro parecia latejar, como se uma mão invisível estivesse manipulando seus neurônios entre os dedos e apertando apenas para aborrecê-la. Perdera a conta de quantas horas tinha passado diante das três telas de seu computador, fora o tablet que estava na mesinha ao lado e o smartphone que não parava de apitar. Os dados estavam oscilando e havia muito trabalho para fazer.

Felizmente, ela era uma pessoa extremamente organizada e perfeccionista, de modo que não dava para confundir – por mais caótica que fosse a situação - o que era para o colégio, o que era investigação e o quem dados de ações.  

- Acho que hoje não preciso de chá, preciso de um café...

Resmungou para ninguém em especifico antes de tombar o corpo para trás e fechar os olhos. Levou o braço até a cara, numa pose ate mesmo dramática, mas por pouco tempo. O ronquinho que vinha do puff disposto ao lado de sua cadeira, chamou sua atenção. Ao olhar para a graciosa Lunamon, não pôde conter um sorriso. Ela dormia de modo adorável e uma babinha escorria enquanto as orelhinhas dela se mexiam vez ou outra.  

De alguma forma, isso revigorou o ânimo de Skye.

- Okie, let's do it. - Estalou os dedos, mas parou quando algo estranhou começou a acontecer em seu computador. - Q..?

Lunamon prontamente acordou, piscando aquelas enormes orbes rosadas.

- Isso não é bom... - Comentou em sua vozinha infantil, meio manhosa.  

A noite/madrugada era o horário favorito de Lunamon, de modo que Skye já esperava que ela fosse acordar, só não esperava que fosse tão rápido assim. De todo modo, ela precisava se concentrar no que tinha diante de si. Tentou usar alguns códigos, bater algumas teclas, mas nada!

O computador estava sob o domínio do "outro lado".

Uma voz começou a ecoar em sua mente enquanto ela lia a saudação. Skye estava usando uma roupa mais confortável, para ficar em casa, mas tinha adquirido o hábito de sempre carregar seu digivice consigo – fizera um cordão comprido para ele. Era uma forma de manter Lunamon por perto, demonstrando seu instinto protetor tal e qual agia como sua irmãzinha.  

- Nhaaai, que voz irritante! Ele está falando! Ele está falando! - Lunamon levava as mãos até as orelhas e pulava no colo de uma Skye bastante aborrecida.

- Grrrr...Saia do meu computador, seu demente!!

Disse entre os dentes, num rosnado felino, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, um clarão iluminou o quarto e as duas sumiram dali. Lunamon deu um gritinho, mas Skye já tinha desmaiado no processo.

Não soube por quanto tempo ficou apagada, mas quando abriu os olhos, não estava...bom, não sabia onde estava. Olhou ao redor, levando a mão até o peito e tateando para o lado, procurando por Lunamon. A companheira estava caída de barriga pra cima ao lado dela.

- Lunamon!

- Nhyaan...só mais cinco minutinhos...

Coçou os olhos de modo preguiçoso.

- Não é hora pra brincad...AH! - Assustou-se quando se deparou com aquele estranho rapaz. Ele trazia um sorriso insano e insolente nos lábios, além de parecer ciente de que sua imagem causaria uma impressão impactante.

Ao oferecer a mão, Skye bateu nela, empurrando para o lado, aborrecida.

- Quem você pensa que é pra fazer isso comigo!? Atrevido!! Pra onde você me trouxe?!

H4TT3R riu de forma irônica. Ele fez uma reverência formal, uma cartola quadriculada surgiu em sua mão e ele á colocou na cabeça.
- Eu não invadi seu quarto. - ele girou cantarolando e mostrando todo o ambiente ao redor. - Apenas a convidei para o meu mundo.
Ela olhou em volta, notando o sol brilhante e sorridente, os campos floridos cheios de madressilvas, rosas, margaridas e violetas. Ele pegou uma rosa branca e colocou na boca em seguida puxou educadamente a garota para levantá-la e guiou-a á um giro rápido. Quando o giro acabou ela se viu vestindo um belo vestido azul-céu. Ele tirou o chapéu rindo e fez outra reverência.
- É minha convidada, mocinha. - ele disse. - Mas não posso deixá-la ir embora tão cedo. Afinal, você não quer não é mesmo?
A voz dele era mais doce e melodiosa sem a estranha fricção elétrica que se ouvia pelo computador. Era até acolhedora e brincalhona, como cócegas na barriga. Por algum motivo ela estava começando á pensar que estar ali não era de todo ruim, o rapaz até era simático e extremamente educado. Ela olhou para Lunamon e ele já se adiantou.
- Ah! - ele comentou. - Normalmente Digimon muito fracos que entram aqui acabam adormecendo. Acontece com a maioria!
Ela por algum motivo acreditou. Havia algo de desconcertante na forma como ela acreditava em cada palavra do garoto, como se lutasse contra isso. Ele estendeu a mão e beijou a mão dela como um cavalheiro.
- Posso acompanhá-la?
E puxou-a delicadamente pelas campinas ainda rindo de forma simpática.
- Temos assuntos á tratar, senhorita Wright... - disse ele. - Entre uma Hacker e, bem, alguém que não é bem um Hacker.
Um Digimon coala passou a acompanhá-los voando. Ele era pequeno, cinzento e tinha pequenas asinhas de morcego nas costas que batiam para mantê-lo preguiçosamente no ar. Diferente de H4TT3R o Digimon tinha um olhar triste.

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Labramon rosnou. Dracmon ainda sorrindo riu suavemente, com sua voz de chiado tecnológico.
- Não se preocupem - ele abriu bem as mãos erguendo-as para cima como se rendê-se. - Eu não vou tentar absolutamente nada!
Os olhos dele brilharam levemente e por algum motivo tanto a garota quanto o Digimon que o olhavam se sentiram mais calmos.
- Vou da uma dica de como derrotar pra que acreditem em mim. - ele disse. - Eu adoro usar espelhos contra meus oponentes, então me mantenham longe deles!
Faith ainda chorava, Labramon parecia mais calmo mas ainda olhava desconfiado para o Digimon morto-vivo.
- Eu vim conversar com você garotinha, vamos pare de chorar... - ele murmurou. - O que você acha de me ajudar? Eu preciso evoluir. Você tem um Digivice certo?
Ela parou de chorar, se acalmando magicamente, sem entender. Os olhos de Dracmon brilhavam, um e cada mão. Ele deu uma risadinha.
- Se você se tornar minha parceira, eu irei fazer você nunca mais precisar se esconder atrás da sua irmã!

Dessa vez leiam o Spoiler :v:

Labramon estava nervoso e desconfiado, sua vontade de defender Faith era tão grande quanto inocente, já que, sem querer, estava naquela posição tão vulnerável ao digimon. O tom de voz dele o irritava completamente, pois era falso e superficial, como aqueles monstros de Vírus costumavam ser. Caóticos. Ele espiou a dona, pois continuava em silêncio, embasbacada olhando para frente, com as lágrimas embaçando sua visão. Tinha medo daquela coisa feiosa e mais ainda agora que estava sem a irmã. Teria que ela mesma fazer isso. Piscou, curiosa com sua pergunta e forma de falar. Inclinou a cabeça para o lado.

- Não acredite nele! - o digimon a alertou e voltou a ficar em guarda, mas ao fazer isso, a raiva que sentia pareceu desaparecer, relaxando as patas traseiras. Ainda desconfiava dele, mas por que parecia começar a cair em sua fantasia? Franziu as sobrancelhas e tentou analisá-lo melhor. Tinha algo que estava escapando de sua percepção instintiva. Algo bem óbvio... Por que ele estava dando dicas sobre como derrotá-lo? Espelhos....  usava espelhos...

Enquanto isso, sem que Labramon percebesse, sua parceira entreabriu os lábios, ouvindo com atenção às palavras metálicas, porém convidativas do Digimon. As lágrimas corriam involuntárias em seu rosto, mas ela as limpou com as costas das mãos conforme ele murmurou. Foi nesse momento que Labramon deu-se conta do que estava acontecendo e ele se assuntou com a expressão vazia da menina que parecia ter ficado sem tristeza nenhuma. Ele própria parecia um cãozinho domesticado.

- Faith, não olhe .....   falou, mas soou mais como um pedido triste do que uma ordem. Sentiu que  que era um pouco tarde,  pois a menina olhava confusa e colocou a mão no digivice no bolso do short

Queria uma troca para ajudar sua irmã? Por um momento, a garota sentiu pena.  - Tadinho... Ele só quer digievoluir... - falou com dó sincera, agora que não o via com tanto medo assim. Labramon então se deu conta que ela estava realmente se deixando levar pela situação. De repente, a menina deu um passo para frente, deixando o digimon para trás dela, como se ele não estivesse ali, em uma conversa íntima.

- Não...- pediu novamente seu parceiro, mas ela parecia intrigada com a criatura.

- Labramon e a maninha disseram que eu não podia entregar pra ninguém porque era importante... - fez beicinho, mas estava hesitante, considerando a proposta. Sentia-se tão calma que mal se reconhecia, sendo geralmente tão alegre. Ponderava as coisas de uma forma que seu cérebro não estava acostumado e até sua fala era mais lenta. -  Você quer ser meu amigo? Mas eu já tenho um parceiro... é o Labramon. Eu não quero abandoná-lo... E se eu fizer isso, o Labramon vai ficar triste. Você não quer que eu abandone ele, quer? - arregalou os olhos. A princípio ser forte era muito tentador. Queria muito ser crescida e independente, porém,  ineditamente imaginou-se saindo de trás das costas da irmã e indo embora. Se fosse muito forte, isso também poderia significar ter que ir embora. A ideia de ficar sozinha de novo, mesmo que forte, era bem ruim.  - Como assim?? Você quer que eu abandone a minha irmã? Eu não me escondo atrás dela, eu gosto muito dela. Ela cuida de mim, não é esconder! - abaixou o rosto, com o olhar meio perdido, pensando nas coisas que a irmã já tinha feito para ela. Skye não estava infeliz cuidando dela, era o que gostava de pensar. Ouvir aquelas palavras bobinhas deixavam Labramon até um pouco emocionado, dado seu estado espiritual vulnerável. Ele encostou a cabeça atrás dos joelhos dela, tentando acalmá-la de alguma forma, ou talvez agradecê-la. Ela era muito fofa e era triste que fosse enganada. Não merecia isso.

 -  Família não é esconder - ela repetiu, tentando se convencer completamente.  Tinha vergonha de ser tão dependente, mas era verdade que amava a irmã e agradecia por tudo o que fazia. Não se via ficando longe dela, e independência poderia significar isso. - Não é legal quando as pessoas são abandonadas! - balançou a cabeça várias vezes - Você quer mesmo ser meu amigo? Se você quer ser parceiro de alguém, tem que ser legal com a pessoa. Eu deixo você ser amigo meu, mas eu gosto do Labramon também. E da Skye. E você levou ela embora. Você tem que ser amigos dos dois! Traga a Skye de volta!

[color=#ff33cc]- Seu...mundo?![color]

Skye repetiu de modo lento e duvidoso, como se estivesse tentando absorver aquela colocação e, quem sabe, encontrar outros sentidos para ela. Mudou o foco de sua atenção, olhando ao redor e deparando-se com um mundo que beirava um paraíso particular.

Londres não costumava ser assim, mesmo que tivesse sua própria beleza. Ali era um lugar onde o sol aquecia sem machucar e iluminava. As flores eram dos mais variados tipos e cores, além de ter aquele cheiro gostoso do campo, com ar puro e...vida. Mesmo que...bom, ela não tinha certeza do que era aquele lugar.

H4TT3R ofereceu a mão de novo e, sem que ela percebesse, aceitou dessa vez. Ergueu-se e foi girada, chegando a soltar um "oh!" de exclamação enquanto seus trajes mudavam para um belo vestido azul como aquele céu. O digivice estava por dentro do decote do vestido, não ficando à vista do rapaz.

Ouvia que era convidada dele e ele falava de um jeito que perguntava e já se respondia. Ela não queria ir embora? Ela queria ir embora! Ela tinha que voltar para casa, para sua irmã, para onde Lunamon se sentia mais confortável e...

Arregalou os olhos e procurou por ela.

Lunamon estava deitada ainda, no mesmo lugar. Contudo, havia algo de diferente. Minutos atrás, a digimon estava deitada no puff em seu quarto e dormia o sono dos justos, talvez até sonhasse com um lugar como aquele. Agora, por outro lado, ela parecia mais encolhida e tremia um pouco. Não parecia confortável nem feliz, como se estivesse presa num sonho ruim.

- Hmmm...n.... - Murmurava.

Não gostou quando ouviu aquele comentário dele e, sem encará-lo, disse.

- Ela não é fraca. - Soltou-se da mão dele depois de receber o beijo e seguiu até a digimon.

Ajoelhou-se diante dela, arrumando a saia do vestido e a pegou no colo. A ninou como se se fosse um bebê, fazendo um carinho em suas orelhas de coelho. Lunamon mexeu mais o nariz e buscou acolhimento, se aconchegando mais nela.

- Skye... - Murmurou, mas não conseguia completar o raciocínio ainda.

Talvez porque a própria Skye, no fundo, estivesse interessada em saber o que aquele estranho tinha para dizer. De modo silencioso, ela aceitou acompanhá-lo por aquele caminho. Aquele que não se dizia um hacker tinha um modo todo persuasivo de ser e parecia difícil ouvir um não. Skye ainda estava lutando para manter a própria opinião e postura e não se render a ele.

- E o que alguém, como você poderia querer de alguém como eu, uma humilde hacker?

Perguntou andando um passo atrás dele e vendo o digimon. Ele parecia tão triste que aquilo chegou a partir seu coração. Lunamon ainda parecia lutar, de alguma forma, mas enquanto estivesse com Skye, as chances eram maiores.