Kings’ College of London

A vida estava prestes a tomar um novo rumo. Ser aceita em King's College como estudante de Psicologia tinha sido a melhor coisa que poderia ter acontecido, ou assim ela pensava. Só o fato de sair de Nova Iorque já era algo a ser celebrado. Ela iria finalmente ter seu próprio canto, sair da barra da saia de seus pais, poder ir e vir quando quisesse. Lisa encaixotou tudo o que queria levar com ela e observou a equipe de mudança vir pegar tudo. Pelo o que sua mãe falou, levaria 2 semanas para chegar em Londres, mas isso não importava, contanto que tudo chegasse intacto. Ela arrumou suas malas e se despediu de sua familia. Amigos? Poucos, eram bem poucos. Morar em Nova Iorque era um privilégio e um martírio ao mesmo tempo; as pessoas só se agrupavam por interesse, e isso gerava uma sociedade de mentiras e falsidade. Sabe aqueles filmes de garotas ricas, malvadas, que só pensam em se dar bem? Era exatamente assim, e ela estava cansada dessa vida.

Mas Lisa não era a única que tinha escolhido sair dali. Seu irmão Dylan já tinha dito que iria visitá-la em Londres assim que ela se estabelecesse na universidade. Dylan era 2 anos mais novo do que ela, mas se comportava como se fosse mais velho. Talvez por ser homem, seus pais sempre abriram mais a guarda com ele, o deixando sair até tarde, as vezes nem voltava para casa, dormindo sabe-se lá aonde. Com ela as coisas eram diferentes, tinha que dizer onde ia, com quem, que horas voltaria. Tá, ela não era nenhuma santa, muitas vezes dizia que estava estudando na casa de uma amiga e… sejamos francos, não era bem lá que ela se encontrava. Mas isso não era nada de anormal na sociedade em que ela pertencia.

Depois de uma longa noite dentro da primeira classe de um avião, ela finalmente colocou os pés em solo Britânico. Lisa carregava uma mochila nas costas e puxava uma mala não muito brande de rodinhas. Assim que saiu de dentro do aeroporto, respirou fundo, fechando os olhos por alguns segundos, celebrando internamente essa nova vida que estava prestes a começar. Ela foi tirada de seus pensamentos por um taxista que parou ali perto, perguntando se ela precisava de um carro. Lisa sorriu ouvindo aquele sotaque britânico.

Lisa - Sim, por favor. *o taxista saiu do carro e veio ajudá-la com sua mala, abrindo o porta-malas enquanto ela entrava no carro*

Taxista - *entrando no carro* Qual o destino, senhorita?

Lisa - King’s College, por favor. *colocando o cinto* Quanto tempo demora até lá?

Taxista - Se nao tiver engarrafamento, por volta de uns 20 minutos. A senhorita tem pressa? Posso tentar pegar as ruas de baixo, evitando a via expressa…

Lisa - Nao tenho pressa alguma. *sorriu* Pode pegar o caminho mais longo, adoraria ver um pouco da cidade.

Taxista - Perfeitamente. *sorriu de volta para a menina e ligou o carro, dando a partida*

As férias escolares haviam acabado e o campus da King’s estava a cada dia mais cheio. Era aquela temporada terrível, na qual os calouros, os pais e, muitas vezes, as famílias deles, apareciam no campus para conhecer, tirar fotos,  preencher os formulários, levar móveis etc. Era também a época em que todos pareciam muito animados, arrumados e dispostos a ter relações interpessoais cheias de malícia.  

Ariel odiava essa época. Principalmente por ter de recepcionar calouros do seu curso, como pré-requisito da bolsa de pesquisa que ganhava. Ela havia levado suas coisas para o dormitório no dia anterior, para evitar a confusão do primeiro dia de aulas... E havia reparado que mais uma colega de quarto havia se mudado dali. “Provavelmente pelo último experimento” pensou na hora e acabou rindo.

[...]

Os novatos seriam encaminhados para as salas de seus devidos cursos, assim que chegassem na faculdade, e divididos em ordem alfabética. Ariel havia ficado com os alunos de K-N e aguardava na sala, sentada sobre a mesa e lendo algum livro que precisaria naquele semestre.  Quando os alunos chegaram, ela ergueu o olhar, observando como se comportavam. Deu um pequeno sorriso para si mesma e se levantou, quando todos haviam se sentado. Tinha por volta de 5 alunos naquele grupo.

- Olá. Me chamo Ariel Dunphy, aluna do quinto ano de Psicologia, e serei a mentora de vocês nesse primeiro semestre – Ficou calada um instante, observando. Era visível a mudança de comportamento quando os alunos souberam que ela não era uma professora... Além disso, ela parecia muito nova para uma aluna de quinto ano, mas isso se devia ao fato de ela ter feito praticamente dois semestres em um, pegando várias matérias no primeiro ano de faculdade. – Na mesa, vocês encontrarão um panfleto com todas as informações que vão precisar, inclusive meu email. Qualquer coisa que precisarem, e não tiver nesse folheto, podem me procurar. Provavelmente vocês tem amigos que querem encontrar, então não vou me estender muito. Quem quiser conhecer os dormitórios, pode vir comigo, quem não quiser, que a força esteja com vocês – disse e esperou, vendo quem ficaria e quem iria.

Ariel pensou que teria menos trabalho, mas acabou que vários alunos decidiram ir ao “Tour” até os dormitórios. Eram todos barulhentos demais e empolgados demais... Irritantes. “ O comportamento dos calouros merecia um estudo”, pensou, enquanto andava com eles pelo Campus, em direção à área dos dormitórios. Anotou isso no bloco de notas do celular, pensando ser uma boa área de pesquisa. Tinha a intuição que o orientador dela, Dr. O’Brien, iria gostar.

Os dormitórios não eram divididos por curso, mas sim por intervalo de letras. Eram vários prédios com arquitetura antiga, sendo os dormitórios femininos e masculinos separados.  Ela levou primeiro as meninas até os seus respectivos dormitórios, mostrando o caminho no mapa e como funcionava os banheiros: era um por andar de cada prédio, com várias cabines com sanitários e chuveiros, tendo de ser dividido pelos alunos. Fez o mesmo com os meninos após isso, ficando finalmente livre.

Estava saindo do prédio quando ouviu alguém chamar seu nome, se virando levemente rubra. Detestava que chamassem ela alto... Isso chamava atenção... Mas desfez a carranca quando viu que era Lisa. Deu um pequeno sorriso e abraçou a menina de volta, assentindo – Eu que devia perguntar – riu – Resolveu conhecer um pouquinho da minha terra? Ou está aqui para estudar?

As duas haviam se conhecido no colegial, quando Ariel fizera um intercâmbio para os EUA e acabou na mesma escola de Lisa. Apesar da morena ser quase dois anos mais velha, as duas haviam feito matérias de psicologia juntas, pois eram oferecidas para todas as turmas.

As duas se abraçaram e Ariel perguntou se Lisa estava ali estudando ou só a passeio.

Lisa - Estou a estudo mesmo. Primeiro ano de psicologia. *sorriu de leve* Acho que as aulas de introdução a psicologia que tivemos há anos atrás me serviram... *riu*

As duas ficaram um tempo conversando sobre a universidade. Lisa disse que tinha perdido a primeira orientação dos calouros, mas a amiga contou que nada de muito importante tinha sido dito. Era bom ter alguém conhecido naquele lugar, pelo menos ela saberia aonde ir caso precisasse de algo. As duas estudaram juntas por 6 meses quando Ariel estava em NY a intercâmbio, tinha sido um tempo bom.

Lisa - Eu estava pensando em ir à Londres hoje a noite, vi uns PUBs legais no guia que me deram no aeroporto. Tem algum que voce recomenda? *tirou do bolso um guia turístico que tinha pego no aeroporto e abriu na pagina de entretenimento*

Ariel se surpreendeu quando, após se abraçarem, Lisa revelou que estava ali para estudar Psicologia. Deu uma risadinha – Parece que serei a sua orientadora, então. Aqui – deu para ela o panfleto que distribuíra na orientação, visto não tê-la visto lá – Não se esqueça de levar seus documentos e os formulários. Mas você tem meu número, pode chamar se precisar – orientou, não querendo que a amiga perdesse o semestre por bobeirinhas como aquela.

Quando a outra perguntou sobre bares, a jovem coçou a cabeça – Ahm, não costumo ir muito neles. Mas dizem muito sobre o "The Crown", que fica aqui, ó – indicou no mapa que ela havia estendido. Logo olhou o horário no celular – Preciso ir, meu orientador deve tá se enrolando com o sistema, ele não é muito bom com tecnologias – riu – Vamos tomar um café qualquer dia. Me manda uma mensagem – sorriu e se despediu da amiga e foi ter com Theo, pra ajudar ele. Como supôs, o professor estava realmente enrolado com o sistema.

[...]

Após terminar a orientação, já estava bem tarde. Foi até o refeitório da faculdade, aproveitar que estavam servindo o jantar de graça, devido a ser o primeiro dia de aula. Tinha várias coisas, comidas, bebidas e doces. Ela pegou um chá gelado e um pouco de batata frita e foi se sentar em uma mesa vazia.

Logo viu um grupo de atletas entrando, fazendo maior zueira. Odiava aqueles caras... Não entendia o que as meninas viam neles. Continuou comendo, colocando os fones de ouvido e abrindo as redes sociais no celular.

O novo ano letivo tinha começado ha algumas semanas. Os calouros eram tao gracinha, sempre tao animados e cheios de perguntas. Ela adorava ficar vendo as meninas nas arquibancadas nos jogos de rugby, eram tao eufóricas que chegava a ser engraçado. O time da faculdade era composto de modelos, um mais lindo que o outro, principalmente o quarterback, Henry. Ele era o garoto popular da escola, andava sempre rodeado de 2 ou 3 amigos que o seguiam para todos os lugares. Bom, isso quando ele não estava com ela. Alison e Henry namoravam ha uns 2 anos já, ela era bem popular na faculdade também, então ambos formavam o casalzinho 20 dali.

O namoro dois dois ja andava meio morno ha algum tempo, mas ambos pareciam querer deixar as coisas como estavam para não abalar a “fama”. Henry tinha que conseguir patrocínio para o time, o que ocupava boa parte do tempo dele, e Alison usava seu tempo livre cuidando das coisas da sorority que pertencia, organizando festas da faculdade e formando comitês sociais para eventos.

Hoje era um dia comum, ela e Henry entraram no refeitório a noite para pegar a janta dos calouros. Ele tinha o braço sobre os ombros dela, bem machão mesmo. Os dois tinham discutido hoje mais cedo e Ali não estava nem um pouco afim de estar ali com ele, mas acabou sendo convencida pela labia dele, dizendo que ia mudar, que ia deixar de ser otario, que iria passar mais tempo com ela…. essa baboseira que ela ja estava cansada de ouvir. Mas enfim. Os dois entraram no refeitório e os amigos dele que os seguiam foram logo indo pegar as bandejas. A mesa dos calouros estava repleta de olhares curiosos, principalmente das meninas, que com certeza queriam um pedacinho daquele time da escola. Alison revirou os olhos e saiu do abraço dele, indo pegar uma bandeja para comer.

[…]

Ela deve ter demorado uns 15 minutos pegando a comida, tinha parado para conversar com uma colega de aula. A menina voltou para a sua mesa e Alison se virou, indo em direção a mesa dela, que era a mesma mesa que sentava todo o time da escola e suas respectivas namoradas.

Henry - Aí, vou te falar que aquela ali tem cara de quem é machona. *riu, fazendo todos rirem também.*
Matthew - Ahhh se eu pegasse essa nerdzinha no corredor a noite sozinha… *riu mais*

E por aí foi a conversa. Eles falavam, apontavam, riam da cara da garota. Ali respirava fundo quando ouvia esse tipo de comentário, era um mais imbecil que o outro. E o pior era que ela conhecia Ariel. As duas sempre se cruzavam pelo corredor do dormitório, ja tinham trocado algumas conversas. A menina era legal, nerdzinha, mas legal.

Ariel pensou que teria uma noite tranquila, até que viu o time ir se sentar na mesa que estava. Tinha mais mesas com lugares vagos, por que tinham escolhido logo a dela? Suspirou, afundando um pouco mais na cadeira, comendo sua batata frita tranquilamente. Apesar de estar com a música bem alta, a faladeira ofensiva daqueles ogros era mais alta. Eles queriam mesmo chamar atenção de qualquer jeito.

A princípio, a menina decidiu ignorar. Já haviam feito aquilo algumas vezes... Mas quando as meninas voltaram com a comida, as coisas pioraram. Primeiro: haviam voltado aos anos 20? Onde as mulheres eram obrigadas a pegar até mesmo a comida dos “maridos”?; Segundo: qual era o problema daquelas cabeça pouco evoluídas? Será que era só ignorância mesmo ou  também maldade?

A jovem achava que ambos, principalmente maldade.

[...]

Já estava começando a arrumar as coisas para sair, em paz... Quando ouviu as últimas frases de dois jogadores. “Aí, vou te falar que aquela ali tem cara de quem é machona.” “Ahhh se eu pegasse essa nerdzinha no corredor a noite sozinha…”... Ariel se levantou, tirando os fones de ouvido. – Sou tão macho que você quer se encontrar comigo nos corredores? Sempre desconfiei que gostasse de homens. Nada contra, mas tá na hora de sair do armário, idiota... – disse, começando a sair dali, torcendo pra não ter falado demais... E pra não apanhar. Mas tava mesmo puta com aqueles dois... E segurando o choro.

Até quando teria de aguentar preconceito em um ambiente universitário, que devia ser um local evoluído?

– Sou tão macho que você quer se encontrar comigo nos corredores? Sempre desconfiei que gostasse de homens. Nada contra, mas tá na hora de sair do armário, idiota...

Os comentarios dos meninos eram os piores possíveis, será que eles não podiam calar a boca? A menina não estava incomodando ninguém. Mas não, a grosseria continuou de uma forma que fez Ariel se levantar e retrucar, tentando dar uma resposta a altura. O problema da atitude dela era que ela tinha acabado de dar à eles o que eles queriam. Queriam ve-la retrucar, sair do sério, ser incomodada. Alison respirou fundo vendo a menina sair pela porta do refeitório deixando sua bandeja praticamente intacta.

Alison - Voce é um idiota. *falando com o namorado*
Henry - Que isso, Ali. Foi só uma brincadeirinha... daqui a pouco todo mundo esquece.
Alison - Cala a boca, Henry. Já te ouvi demais hoje. *se levantando*

Ela saiu dali deixando o resto do time em algazarra, chamando Henry de pau mandado, assobiando. O time todo praticamente tirando sarro dele, mas isso agora não importava, ela ja estava ficando farta dele. Alison largou a bandeira sobre a lixeira e foi saindo dali, não estava com fome mesmo.

Chegou no dormitorio e subiu até o terceiro andar, onde ficava seu quarto. Ela não via a hora de dormir e esquecer toda a babaquice que tinha aguentado hoje. Alison colocou as chaves na porta do seu quarto quando viu Ariel no final do corredor entrando no quarto dela. Não deu para ignorar o rosto vermelho da menina, provavelmente devido a muito choro. Alison a viu entrar no quarto e fechar a porta. Ela respirou fundo, trancando seu quarto novamente e indo em direção a porta de Ariel. Bateu duas vezes na porta e esperou.

As duas nunca tinham trocado mais do que meia dúzia de palavras, mas Alison nao podia deixar de se desculpar pela babaquice de Henry e seus seguidores.

Ariel saiu rápido do refeitório, tentando ignorar os comentários e zoadas que decorreram após sua resposta. Estava se sentindo idiota por ter caído na pilha deles e muito chateada com aquele tipo de atitude. Não era a primeira vez que aquilo acontecia, mas as coisas estavam piorando. Os atletas estavam cada vez mais idiotas e as meninas cada vez mais desligadas, ignorando esse comportamento.

Esse movimento de “emburrecimento” dos estudantes era algo curioso. A cada dia, mais movimentos contra o preconceito aumentavam nos campi e em todo o mundo, mas, junto com eles, os “conservadores” pareciam endurecer e piorar suas atitudes.

A jovem foi correndo para o seu prédio, em direção ao banheiro, sentindo a comida se revirar no estômago. Mal chegou lá, enfiou o dedo na garganta, para evitar aquele mal estar, colocando o pouco que havia comido para fora. Deu descarga, sentando no vaso sanitário e chorando por um tempinho. Somente após lavar o rosto Ariel conseguiu se recompor e ir para o quarto.

[...]

Assim que a menina ligou a luz, ouviu alguém bater na porta. Ela suspirou, pensando em ignorar, mas, na segunda vez, acabou andando até lá e abrindo... Vendo a namorada do idiota que fizera a graça no refeitório. Sem dizer nada, começou a fechar a porta.

Alison bateu na porta e esperou. Ela viu a maçaneta sendo girada por dentro e logo a porta se abriu, revelando o rosto vermelho e inchado de Ariel. Tadinha, ninguém merece ser zuada assim, ainda mais com aqueles comentários grotescos que os meninos fizeram. E olha que não foram nem tao ruins assim heim? Alison já tinha ouvido muito pior da boca daqueles lá.

Alison - Eu vim p- *parou de falar quando viu a porta ir se fechando na sua cara. Alison colocou a mao na madeira da porta, nao deixando que ela fechasse completamente* Espera. Ariel. *chamou a menina e foi abrindo mais a porta, meio que forçando um pouco, mas nada extremo* Eles são... um bando de idiotas. Um pior que o outro. *olhando a menina, que parecia estar com lagrimas nos olhos novamente* Pára, vai. Eles nao valem as suas lagrimas. *ainda a olhando* Fuma um comigo? *colocou a mao no bolso da calça jeans, tirando um saquinho bem pequeno. Era um cigarro de maconha, todo mundo ali fumava isso pra relaxar*

Ariel não forçou a porta, quando Alison colocou a mão nela. Não queria machucar a menina... Se fosse um dos rapazes, certamente tinha fechado com toda força, contra os dedos deles. [...] A menina ouviu o que a outra tinha a dizer, observando ela. Não parecia estar mentindo ou zoando... Mas era bem estranho ela estar ali.  Abriu a porta, fungando baixo. Não iria chorar na frente daquela menina... Apesar de estar com bastante vontade.

- Entra – disse, após ela fazer aquela oferta. Bem, se ela quisesse algo pra zoar Ariel, não encontraria ali... O quarto era bem comum e, do lado da menina, havia poucas coisas pessoais... E muitos livros.

- Você sabe que isso é ilegal aqui, certo? – perguntou, não ligando muito. Abriu uma gavetinha, tirando um incenso para mascarar o cheiro do cigarro e indicou para ela se sentar na cama.

- Por que você anda com aquele tipo de gente? – perguntou de forma direta, mas sem olhar para Ali, acendendo o incenso e colocando perto da janela.  Passou o isqueiro para a menina acender e voltou a se sentar, limpando os olhos.  

A menina fez um comentário sobre aquilo ser ilegal, mas Alison ignorou. Lógico que era ilegal, mas quem ligava? Nao tinha nenhuma policia ali por perto, e maconha nem era droga pesada, era só para dar uma relaxada. Ela entrou e viu Ariel ir logo pegando um incenso para mascarar o que estavam prestes a fazer. Alison fechou a porta do quarto atras de si e foi olhando o quarto, reparando no quão "normal" era. Ela foi para o lado da cama de Ariel e sentou ali, cruzando as pernas sobre o colcao e tirando o cigarro de dentro do saquinho. Recebeu o isqueiro e acendeu, dando o primeiro trago e jogando a fumaça para cima.

- Por que você anda com aquele tipo de gente?

Alison - Eles nao sao assim o tempo todo. *estendeu o cigarro para ela* Mas confesso que ultimamente tenho ficado de saco cheio da maioria... *viu um livro de psicologia sobre a mesinha de cabeceira e o pegou* Voce que estuda psicologia... me diz, eles tem cura? *riu*

Ariel aceitou o cigarro, ouvindo a outra menina. Deu de ombros, imaginando que aquela seria a resposta. Deu uma tragada e passou novamente o cigarro para Alison.

- Acredito que só nascendo novamente – riu, respondendo a pergunta dela – Mas... Estou mais curiosa sobre você. Se está de saco cheio, não devia aturar esse tipo de gente – comentou – Desculpa... Mas nenhum relacionamento vale à pena quando é tóxico do jeito que seu namorado e os amigos parecem ser – disse e suspirou – sem ofensas. É só o que eu percebo...

Era mesmo curioso o fato de uma menina tão bonita quanto Alison estar presa a um menino tão idiota. Ela podia ter qualquer curi daquela faculdade e, apesar da maioria ser idiota, tinha alguns que valiam a pena.
 

Ariel devolveu o cigarro e Alison deu outra tragada, dessa vez mais devagar, sentindo o corpo ficando mais leve. Ela ouviu o que a menina falou, mas nem tudo era preto e branco como ela pensava. É verdade que Alison nao estava com o namorada pela inteligência dele, nem pela boa conversa. Que ele era um idiota de marca maior todos já sabiam, mas o garoto tinha outras qualidades, uma delas era na cama. Alison respirou fundo e deitou na cama, dando outra tragada e devolvendo o cigarro a Ariel.

Alison - Vamos dizer que... as qualidades dele só aparecem entre quatro paredes. *mexendo no livro de psicologia da menina* Até então isso bastava, mas de um tempo pra cá venho querendo algo com mais conteúdo. *virando a pagina* Mas chega de falar de mim. Eu não sei nada sobre voce ainda. *fechou o livro e olhou para e menina, sentando na cama* Não me lembro de ter te visto saindo com ninguém.. *a olhando nos olhos, até desviar para o cabelo dela* Voce tem o cabelo bonito. *pegando uma mechinha* Por que não tenta fazer umas ondas? Ia ficar bem no seu rosto. *a analisando* Um delineador preto nos olhos, blush, um gloss.... *sorriu* Se quiser posso te ajudar.

A menina deu mais uma tragada, jogando a fumaça na direção da janela, observando os movimentos de Alison. Ela era notavelmente uma garota muito bonita, mas, assim de perto, parecia, além de bonita, muito graciosa em seus movimentos. Observava os movimentos delicados de suas mãos, o contorno delineado dos lábios, o cabelo roçando nos ombros... Era... linda

Ariel balançou a cabeça, afastando esses pensamentos quando a outra menina voltou a falar. Ouvia, assentindo. Não gostava de julgar tendo uma opinião tão superficial sobre o assunto, mas, naquele caso, era realmente difícil entender... Deu uma risada, com a primeira afirmação – Não existe só ele bom de cama no Campus, Alison. O que mais tem são homens por aí – deu de ombros e não gostou do assunto mudando para ela.

-Ahm, eu não tenho muito o que contar. Sou praticamente um panda nerd, estudo, durmo e como – riu, apesar de a parte de comer ser muito relativa.  Fez uma careta, ignorando o assunto sobre os relacionamentos “sem querer” e ficando vermelha quando Alison a tocara no cabelo e falara daquela forma, olhando ela nos olhos.

-Eu... hm, eu não gosto muito dessas coisas – baixou o olhar. Não estava acostumada com isso de maquiagem, arrumar cabelo etc., achando que aquilo só fazia perder tempo de estudo ou sono. – Mas...Mas se você quiser, podemos tentar...

Alison sentiu-se mal pela menina, como assim ela nao tinha nenhuma atividade social? Nao saia com os amigos, nao praticava esportes, ir a academia..? Ariel parecia ser bem isolada do mundo, mas por qual motivo? Alison a analisava com os olhos, percebendo a menina ficar meio sem graça quando ela mencionou maquiagem e mudar o cabelo. Ela deu outra tragada no cigarro e passou para Ariel, soprando a fumaça para o alto. As duas ficaram em silencio por um tempo, aproveitando a sensação que o cigarro proporcionava, até Alison ouvir o beep-beep de seu celular, que estava no bolso de trás da calça jeans. Ela se mexeu na cama e o tirou do bolso, abrindo a mensagem. Era de uma das meninas que andava com ela, namorada de um outro garoto que jogava no time. Alison leu a mensagem umas duas vezes e respirou fundo, nao estava afim de ir a festa alguma hoje. Estava cansada e queria dormir, só isso.

Alison - Eu acho que já vou indo.. *se levantando da cama e colocando o celular no bolso* Passa no meu quarto amanha que eu te ajudo com a maquiagem e o cabelo. Depois a gente pode sair pra beber qualquer coisa. *sorriu de leve e andou até a mesa da menina, pegando uma caneta e anotando qualquer coisa na capa de dentro de um livro dela. Era o numero do seu celular* Te vejo amanha? *sorriu e saiu do quarto, fechando a porta*