[Prólogo] - Le Petit

Desde que conheceu Mama, Alana não desgrudava da boneca, enquanto tava na casa dos seus tios ela a carregava para todo canto, logo aquela menina sorridente e gentil, foi se tornando apática e tímida. Seu mundo girava ao redor da boneca de pano e de suas vontades. Quando um dia Mama lhe disse que precisavam ir embora, a menina não entendeu direito o que isso significava, mas confiava nas palavras da boneca que martelavam em sua cabeça.

É hora de partir....

Numa noite depois que todos tinham ido dormir, a pequena saiu de sua cama e caminhou em direção a entrada da casa, estava vestindo apenas uma blusinha branca, um vestido vermelho e um casado. A boneca estava bem alinhada dentro de seu casaco, estava com medo e não sabia para onde ir, então os pequenos bracinhos de pano indicaram uma direção. Esse foi o momento que Alana abandonou sua família e seu conforto. Enquanto caminhava para o desconhecido, a casa de seus tios foi sumindo pelas sombras das ruas.

Não sabia a quanto tempo estava dentro daquela caixa, havia chegado até ali através das orientações da boneca, fome não sentia pois conseguia comer cenouras ou os rabanetes que estavam juntos com ela na caixa. Mas sentia o corpo dolorido por ficar tanto tempo na mesma posição. Sempre que sentia medo e queria chorar, voltar para sua casa, Mama a consolava e cantava uma antiga canção de ninar que ajudava a garotinha a adormecer na viagem.

Estava algum tempo acordada, sentia a caixa chacoalhar conforme a estrada ficava mais irregular, ela abraçava a boneca contra o peito, quando enfim o solavanco acabou. Ela ouviu vozes de homens e sentiu a caixa ser erguida, levou um susto quando a tampa foi arrancada e seus olhos arderam diante a claridade.

Ela se assustou um pouco com a coisa na sua frente, era verde e tinha dentes pontudos, a menina se encolheu um pouco mais entre as cenouras e rabanetes. Então ele perguntou sobre o que ela fazia ali.

"Mama me trouxe até aqui..."

Alana estende a boneca a frente do seu corpo para a coisa vê-la melhor, não parecia ser nada além do que uma boneca de pano, até que Mama piscou um dos olhos de botões e deu um sorrisinho diabólico.

OFF: O nome artistico é La Poupée, a boneca em francês ^^

Hamu ficou ali, parado, meio bobo com a situação enquanto a jovem lhe estendia a boneca. A boneca em si nem lhe espantava muito, vivia tempo suficiente naquele lugar para se acostumar a coisas esquisitas acontecendo o tempo todo... O que lhe preocupava era a criança. Madame Ane não ia gostar disso, ah pelos céus, não ia gostar mesmo.

Ele suspirou e pegou Alana por baixo dos braços, erguendo a menina com facilidade e tirando-a da caixa, a pôs de pé no chão e ela pode ver que estavam numa espécie de cozinha. Não era uma cozinha chique ou grande como a da casa de seus tios e sua própria, mas era bem arrumada e limpinha e bastante organizada. Hamu pegou um banco e colocou próximo a um balcão para Alana sentar logo após, se afastou.

Com alguns pães, queijos e umas frutas, Hamu serviu um simples café da manhã para a jovem Alana enquanto pensava no que fazer.

- A boneca, é? - Falou finalmente, após servir a garota. - E o que sua boneca quer aqui, menininha?

A garota o olhava confusa enquanto piscava os olhos, num minuto estava dentro da caixa em outro estava sendo erguida aos céus, para depois pousar no chão de uma cozinha. A menina abraça a boneca de encontro ao corpo enquanto o grandalhão se movia pela cozinha.  Aquele lugar era estranho, mas um tanto acolhedor, ela caminha em direção ao banco e se senta.

Ela balançava suas perninhas enquanto via ele mexendo em algumas coisas e logo depois trazia algo para ela comer. Nesse momento sentiu suas estranhas remexerem de fome e rapidamente ela avança sobre o pão. Enquanto mastigava ouviu a pergunta do homem verde e ela abaixa a cabeça, olhando para a boneca em seu colo.

O brinquedo estava imóvel em seu colo, então a menina o encara com seus grandes olhos castanhos.

"Mama disse que era hora de partir, disse que aqui estarei em casa..."

Com essa resposta simplória e ingenua a menina continua comendo o desjejum, agora comia pedaços de queijo com a fatia de pão. Quando se deu por satisfeita e feliz com a refeição ela afasta o prato vazio e olha para o homem.

"Obrigada pela refeição. É aqui que vou ficar?"

Para a garota qualquer lugar seria melhor do que aquela caixa, mas iria preferir ter uma cama para dormir, assim como tinha na sua casa.

Apesar do tamanho e da aparência, Hamu parecia um sujeito bastante calmo e delicado. Quando Alana terminou de comer, ele recolheu a louça e a lavou na pia, colocando cada coisa em seu devido lugar. Não era de se estranhar que aquela cozinha fosse tão limpa e organizada, considerando as coisas que o ogro fazia. Ele estava mais pensativo que o normal, já que precisava pensar num jeito de lidar com Alana e falar com madame Aneliese a respeito da jovem.

Parte de si queria muito proteger Alana - não sabia exatamente a história da menina - porém sabia que muitas das histórias que chegavam ali não eram felizes e bonitas e uma criança dentro de uma caixa de legumes lhe dizia que a história não era diferente, mas será que Miss Aneliese iria aceitar a jovem Alana? Apesar dos trigêmeos duendes fazerem parte do lugar, sabia que eles não eram mais crianças e não tinha visto ninguém realmente com a idade de Alana por ali, o que o fazia acreditar que talvez as crianças pudessem não ser tão bem vindas ao lugar.

Suspirou e se deu conta que a jovem garota estava falando com ele, piscou, meio desorientado. - Não se preocupe, sempre que precisar comer, Hamu terá comida. - E tentou sorrir, mas bom, não era o cara mais carismático fazendo isso. Ele voltou a suspirar e coçou a cabeça careca.

- Hmmm... Não acho que aqui seja um bom lugar para uma garotinha, mas conheço uma moça que tem um lugar legal para você. Por que não vamos lá para ver? O nome dela é Carola. - Era uma boa jogada, ele achava. Carola talvez pudesse ajudar a resolver aquela questão de maneira mais ampla, ela pensava bem, tinha boas ideias, muito melhores do que as dele.

Alana observava o homem ajeitando a cozinha enquanto ela alisava o cabelo da boneca, o olhando mais atentamente a menina não o achava monstruoso, apenas meio estranho e desengonçado. Quando ele responde que não era ali que ela ficaria e propõem de irem ver outra pessoa, a menina fica um tanto quanto receosa e olha para a boneca que assente com a cabeça.

"Tudo bem então..."

Então ela o segue em silêncio, Mama decide caminhar por si só. Quando chegam no tal lugar a garotinha se esconde atrás das pernas do Hamu enquanto com a outra mão segurava o braço da boneca, que estava com a cabeça pendendo para o lado.

OFF.: Desculpa a demora, estou com alguns problemas familiares.


Alana percebeu que estavam num campo aberto, parecia ser no interior da França. Havia tendas grandes que deixou a menina admirada. A atmosfera do lugar era tranquila. A menina seguia Hamu, mas estava curiosa com as coisas ao seu redor, tudo era tão diferente da capital. O que a deixou mais encantada era o bosque.


Mas quando chegou próximo aos trailer coloridos, a menina até parou de andar para olhar melhor ao redor. Ela conversava com a boneca animada.


- Olha Mama, são casinhas coloridas.


Eles caminharam em direção ao trailer mais colorido e enfeitado com Cataventos. Ela aguardou atrás de Hamus, mas não estava receosa, pois quem tinha uma casa assim, não poderia ser má pessoa. E quando uma jovem muito bonita abriu a porta, Alana sorriu timidamente.

- Me chamo Alana e está é a Mama - Indicando a boneca que estava abraçada.

A menina entra no trailer e observa tudo em silêncio, tinha gostado daquele lugar. Então a jovem sugere dela tomar um banho. Mas a garotinha não tinha se programado para isso, ela olha para baixo, suas roupas estavam sujas mas em bom estado. Ela diz num tom de tristeza.

- Mama não me disse nada sobre roupas.

Nesse momento Carola pode perceber que a boneca estava na janela, sem influencia nenhuma da garotinha.

Carola observou a jovem Alana com alguma curiosidade, tinha uma das sobrancelhas finas arqueadas levemente e pareceu compreender o desapontamento da criança quando referiu-se as roupas. Carola mesma também lembrava-se de um dia ter sentido-se assim, quando vivia muito longe dali de maneira mais simplicistas. Tivera apenas dois vestidos e precisava ficar intercalando entre eles.

Ela olhou em volta por um instante, pensativa sobre o que fazer a respeito e caminhou pelo trailer, em direção ao seu armário. O abriu, observando suas roupas simples e as suas 'fantasias' para os shows. Talvez, achava ela, tivesse algo que ao menos a menina pudesse usar enquanto pensava em algo melhor. Ela tirou uma velha camisola sua, de mangas e cumprida e entregou para Alana, provavelmente ia ficar bastante grande, mas era algo.

- Eu vou por água para esquentar, assim você pode tomar um banho e vestir isso e aí eu lavo suas roupas. E amanhã cedo falaremos com Lady Aneliese sobre você, deve está cansada, não? - Comentou Carola, enquanto abria o trailer de novo e descia pelas escadas, onde começou a preparar uma pequena fogueira e por água para esquentar.

Ela tinha visto a boneca, claro, mas até o momento não tinha dito nada. Carola preparou o banho para Alana e ajudou a tomá-lo e depois a secar-se e vestir-se. De volta ao trailer, limpa, vestida e alimentada, Alana sentia-se melhor, provavelmente.

Carola sentou-se frente a menina, numas almofadas.

- Então... Gostaria de falar sobre sua boneca? Vocês são amigas, é?

A menina ficou observando a moça andar pelo trailer a procura de alguma roupa, ao trazer a camisola a menina sorriu em agradecimento.

-Estou bem, muito obrigada senhorita

Enquanto ela aguardava a água esquentar, ela acariciava os cabelos da boneca, os olhos de botão pareciam brilhar mais do que o normal. Quando o banho ficou pronto a menina, retirou suas roupas e tomou o banho e ria conforme a moça ajudava a lhe esfregar e isso lhe dava cocegas. Depois que estava vestida e penteada a garotinha se sentou num canto de almofadas.

-Ela não é minha amiga. É minha mama...mama e papa sofreram um acidente e ficaram um tempo longe. Depois vi num livro como trazer a mama de volta. Então a mama voltou para mim.

A garota boceja e esfrega os olhos um pouco sonolenta.

- Mama disse para vir aqui, disse que ficariamos bem. Senhorita Carola, posso ficar aqui mais um pouquinho? Gostei muito do seu trailer.