[Prólogo] - Se Tornando Um Artista

Quando resolveu sair de casa naquela manhã cinzenta, Louis tinha um único e curioso propósito: o tal espetáculo que agora era falado e anunciado nas ruas de Londres, sabia que a coisa era nova, talvez menos de dois ou três meses, mas também sabia que já era um sucesso tremendo. Não compreendia muito bem sobre o que se tratava o lugar, mas ouvia as pessoas falarem sobre suas atrações um pouco peculiares.

Elas elogiavam as fantasias, as maquiagens e as diferentes e excitantes atrações do lugar. Comentários que despertaram cada vez mais a curiosidade do jovem. Exaltavam o "realismo" das fantasias e como se sentiam cercadas por monstros e criaturas, enquanto nas dependências do lugar.

Quando ele chegou naquele lugar, fechado e apagado, se surpreendeu por não presenciar o tal glamour que tinha ouvido falar a respeito. Ele foi atendido por uma moça de cabelos longos e loiros, chamada Carola, que o conduziu para uma tenda onde deveria esperar pela entrevistadora. A tenda era uma comum de apresentações, sem muitos luxos ou detalhes, lá sentando numa cadeira, via mais pessoas chegaram para entrevistas ou para o trabalho diário.

Foi quando um jovem - ele não deveria ter mais do que 14 anos - adentrou a tenda, carregava uma prancheta e uma caneta e observou Louis por um instante.

Em qualquer outro local, Louis provavelmente não teria achado estranho um jovem daquela idade trabalhar... Ainda mais num local como aquele... Mas tinham coisas a respeito do jovem que eram... Diferentes. Ele tinha orelhas pontudas e uma estranha e cativante beleza - além dos traços andróginos - e uma maquiagem estranha no rosto, que parecia fazer parte da pele.

Ele se aproximou de Louis.

- Bom dia, senhor. - E se sentou na cadeira frente ao homem, enquanto olhava para a prancheta. - Só preciso preencher alguns itens antes de encaminhá-lo a Madame Anneliese... Tudo bem para o senhor?

O garoto apenas ergueu levemente uma das sobrancelhas, ao ser chamado de "elfo", mas não disse nada a respeito disso, voltando sua atenção apenas para a planilha. Não gostava muito daquele tipo de 'trabalho', mas compreendia que Aneliese estava bastante ocupada naquele dia.

- Pois bem. O sen... Você pode me ressaltar quais são seus... Talentos? Quero dizer, o que pretende apresentar caso seja aceito?

A criatura ficou ali a observar, enquanto esperava que o homem exibisse o que pretendia. Chegou a arquear as longas sobrancelhas algumas vezes, observando o "truque" ou o que quer que fosse que o sujeito fazia, mas depois simplesmente voltou seu olhar para a prancheta que segurava e começou a fazer anotações leves. Aneliese era uma pessoa cautelosa, e sabia que curiosos e desgostosos - até mesmo críticos - tentavam se infiltrar na trupe, portanto ela era bem mais criteriosa com pessoas (ou criaturas) que não exibiam nada muito anormal visualmente.

Uma das estratégias era exatamente aquela: colocar algo muito anormal visualmente frente ao candidato e aguardar uma reação. Freneticamente o "elfo" anotou coisas e mais coisas ali, enquanto deixava o silêncio permanecer entre eles. Não mostrou grandes reações frente ao que Louis fazia ou talvez apenas não quisesse dar o braço a torcer.

- Pois bem, famílias, afiliações? - Questionou, e após a resposta continuaria. - Acho que isso é tudo, se você desejar, podemos dar uma volta pelo lugar para que possa conhecer as instalações e logo providenciaremos um alojamento para você e assim que possível, anunciaremos seu show. Alguma coisa a acrescentar?