Pãããão!! Pãããão!! Pãããão!! PÃO E QUEIJO, SEM PAU NO QUEIXO!!! Assim é que fica bom!!! Huhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhu!! Nenhum homem grande chegou para bater em Murilo, e aquilo significava que ele teria um café da manhã que não se mexia em sua língua. Com os pães e o queijo em mão, voltaria correndo para o bosque onde vivia, queria mostrar seu desjejum para sua queridíssima espada Wilson. Será que ela quereria um pedaço? Ah, é claro que não, Wilson não tinha boca para comer. Mesmo assim, era provável que gostasse de ver Murilo deliciar-se, afinal eram amigos e amigos gostam quando o outro se delicia. Ah, deliciar-se... sim, deliciar-se-ia Murilo com o manjar que agora carregava nas mãos. Seria aquele alimento um presente dos deuses? Um sinal de que as coisas melhorariam em sua vida, e ninguém mais o olharia feio? Talvez tomasse até um banho mais tarde para comemorar; não que isso fosse adiantar muita coisa, já que sempre que entrava no mar o seu corpo acabava ainda mais sujo de areia.
Mamãe sempre o ensinara a esperar por um mundo melhor, ou ao menos fora o que seu pai dissera: se Murilo não acreditava, por exemplo, que teriam o que jantar naquela noite, o homem vinha para lhe dar uma lição. “Esqueceu o que mamãe ensinou? Agora vai ter de virar mamãe!” Murilo bem queria que sua mãe fosse uma mãe igual à daqueles meninos que tinham uma mulher cuidado deles, mas sua mãe era uma mãe diferente. Às vezes a mesma palavra significa coisas diferentes dependendo da ocasião, sabia? “Mamãe” havia de ser uma delas, pois a de Murilo sem sombra de dúvidas não tinha nada a ver com a mãe dos meninos. O que será que era a mamãe dele? Uma coisa? Alguém? Tinha de pensar: se seu pai sempre dizia que ele tinha de virar mamãe, então... espera! Murilo é mamãe?! Murilo é mamãe! Murilo é mamãe! Murilo é mamãe! Era isso!! MURILO ERA MAMÃE!!! Mamãe! Mamãe! Mamãe! Murilo, mamãe; Murilo, mamãe; Murilo, mamãe; Murilo, mamãe!! Huhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhuhu!!
Murilo, mam!... “Au! Au!” Ahn?
Quem latiu? Os cães da lata de lixo? Não, era um latido menor, um latido de... Pelas barcas de Orin, um cãozinho fofo de morrer!!! Tome aqui, cãozinho, tome aqui, cãozinho, eu sou mamãe Murilo, e você, quem é? Não se preocupe, as coisas vão melhorar; sabia que minha mamãe ensinou que as coisas vão melhorar? Foi papai quem disse, eu ensinei que as coisas vão melhorar. Sou mamãe, e você, quem é você? Ah, não se preocupe, eu sei que cãozinhos não falam, vocês estão sempre ocupados demais brincando de cachorrinho. Eu às vezes brinco de cachorrinho, sabia? Aí faço xixi na árvore, e... Ah! Claro, claro, aqui está o seu pãozinho. Pode ficar com um, eu tenho dois; é uma delícia. Ei, cãozinho, você está precisando de uma mamãe? Eu sou mamãe, posso ser sua mãe. Você quer que eu seja sua mamãe, cãozinho? Seu nome vai ser filhinho, e eu vou apresentá-lo a minha espada Wilson. Ah, não, não se preocupe, não é a espada de papai, a espada de papai é ruim, nem corta; além do mais, eu sou mamãe, e vou ensinar as coisas de um jeito diferente; o jeito de papai era ruim. Como você ia ser mamãe se eu já sou mamãe, né?! Oh, cãozinho, está se deliciando com o pãozinho? Vou pegá-lo no colinho, vem, quero mostrar a você a espada Wilson, vai ser legal, vamos comer com a espada Wilson. Você precisa de um nome, não precisa? Vai ser Papai, então, em homenagem ao meu papai que me ensinou tantas coisas valiosas. Não que eu goste muito dele, sabe? Mas é que quando ele vier me buscar quero que pense que eu goste, senão vou ter de ser mamãe, e... ah, eu sei, eu já sou mamãe, mas ser mamãe perto dele é diferente. Ei, Papai, você quer ser meu papai enquanto o meu papai humano não chega? Muito bem! Você vai ser meu papai, eu vou ser sua mamãe, juntos seremos uma família. O que vai ser Wilson? Ah, espera! Se você vai ser papai, quem vai ser o cachorrinho? É isso o que Wilson pode ser, o nosso cãozinho!! Você vai gostar dele, não teremos de alimentá-lo nem nada, é uma espada autossuficiente. Só não encoste nele, tudo bem? Pois é perigoso se cortar, só pode encostar se for na parte que não corta; na parte que não corta está tudo bem relar.
E é isso o que faria Murilo. Pegaria o animalzinho muito fofo no colo, seu papai, e o levaria para conhecerem seu cãozinho Wilson, a espada. Wilson, o cão que é uma espada bonita! Ou será uma espada bonita que é um cão? Bem, não importa. O que importa é que agora Murilo era mamãe de seu papai. Papai, mamãe, e filhinho... Ah! Toda família tem um sobrenome, não tem? Então Murilo emprestaria seu sobrenome para todo o mundo:
Murilo Murilo, a mamãe filha do papai e dona do cãozinho Wilson;
Papai Murilo, o papai filho da mamãe e dono do cãozinho Wilson;
Wilson Murilo, o cãozinho de mamãe e de papai. Mas às vezes Wilson Murilo gostava de ser chamado pelo seu antigo nome: Wilson, a espada bonita. Quem conversasse com ele teria de variar na maneira como o chama; não que isso fosse ser um problema, já que cãezinhos não falam para conversar. Wilson agora estaria sempre ocupado brincando de cãozinho.
Família Murilo, yeeees!!!