Good Girl

Aquelas férias estavam sendo um inferno para Michelle. Primeiro, pelo fato de a mãe não ter podido recebê-la: recentemente, a mãe havia sido promovida no novo emprego, tendo de viajar para diversos lugares, por isso, no dia que a menina ligou perguntando quando poderia ir para lá, recebeu uma resposta tristonha da mãe, que esta estava em Tokyo à trabalho e não voltaria antes do fim das férias de Michelle; segundo, pelo fato de ter tido de viajar com Melissa e seus amigos, pois o pai também havia feito planos com a madrasta e não tinha mais reservas para o cruzeiro que fariam... Ou seja, a jovem acabou sendo enfiada em um avião, para encontrar a “irmã”, que estava com os amigos na casa de praia da família, na Califórnia.

Chegando lá, acabou virando, como sempre a “empregada” deles. O grupinho de amigos de Melissa era de cinco pessoas, incluindo Maddox Harthausen  , estudante do segundo ano pelo qual a menina era apaixonada desde que se lembrava por gente. Algumas líderes de torcida também chegaram no terceiro dia, tornando o trabalho da menina ainda mais exaustivo.

[...]

Faltando dois dias para as aulas começarem, Melissa cismou que queria fazer um luau. Com isso, a irmã acordou ela cedo, dando o cartão que o pai havia deixado com ela e mandando a menina se virar para comprar enfeites, bebida, arrumar um DJ e fogos de artifício. Michelle sabia que o pai, apesar de ter uma boa condição de vida, não podia ficar esbanjando tanto mas, como sempre, não falou nada. Fez tudo, se sentindo morta, pois havia dado um trabalhão.

[...]

A menina estava na cozinha da casa, quando um casal de adolescentes entrou, se jogando no sofá logo a frente dela e começando a se pegar de forma que fez ela desviar o olhar e voltar a guardar as bebidas, que havia conseguido comprar, na geladeira. A música estava alta na praia e todos pareciam estar se divertindo, mas Michelle só conseguia pensar em quando conseguiria dormir.

Distraída, não viu Maddox se aproximar. Provavelmente ele já havia bebido um tanto e tinha um copo na mão, mas estava falando até que normal. Ele sorriu, pegando o ultimo fardo para ela e tirando a menina de frente da geladeira, para guardar. Fechou em seguida, a olhando.

-Festa maneira – disse, a olhando de forma indiscreta. Talvez fosse a primeira vez que o menino falava diretamente com ela? – Não quer ir aproveitar um pouco? – e deu um passo na direção da menina. Ele cheirava exatamente como ela lembrava, de uma vez que lavou uma das blusas dele, mas, agora, com um pouco de cheiro de bebida. Isso importava? Maddox estendeu a mão, aguardando a resposta.

As férias com a mãe eram sempre algo que ela esperava bastante. O que fazia valer quase o ano todo. Não daquela vez. Seu humor não estava bom naquela viagem, mas não era como se tivesse muita escolha, por isso mesmo seguiu como uma serva de um lado para o outro, obedecendo as vontades de sua meio-irmã. Seu maior companheiro era seu fone de ouvido, que tornava a tarefa de voltar para a casa com quatro sacolas cheias de preparativos para a festa menos irritante.

Pelo menos poderia ver Maddox, era o que pensava. Um colírio vivo que não diria mais do que um "olá" educado antes de se jogar com o grupo de amigos, mas que era o suficiente para um ser invisível como ela.

Sonhava com aquele "oi" enquanto tirava latinhas da sacola, quando o casal chegou e se jogou no sofá. A menina arregalou os olhos e sentiu o rosto pegar fogo. A mão paralisada no ar segurava uma latinha e foi só quando a derrubou no balcão que balançou a cabeça e se escondeu atrás do mesmo, para arrumar a bagunça e se esconder dos olhares do casal. Definitivamente não deveria estar ali.

Será que se conseguiria dormir com aquela música? Ou melhor: será que estava atrapalhando o casalzinho? Passava um pano no chão quando de repente Maddox apareceu, tão maravilhoso em seu humor alterado.

Abriu a boca, levantando-se em um pulo e escondendo o pano sujo atrás das costas.

- M-a-addox. Oi. É. Maneira. Bastante. Legal né? - tentou colocar uma mecha para trás do cabelo, mas lembrou que a mão tinha bebida, então desistiu, jogou o pano no balcão e preferiu ajeitar a camisa xadrez simples, limpando a mão antes. O que devia fazer com aquela mão estendida para ela? - A-ah... eu tô... arrumando as coisas, m-mas...  -  falou com o que conseguiu de resto de ar do pulmão, muito envergonhada e agora arrependida. Para não deixá-lo no vácuo, ela tentou apertar sua mão de forma desajeitada, como se fosse um cumprimento, e deu um sorrisinho sem graça, mas ele agindo daquela maneira tão alterada a deixava extremamente nervosa sobre o que fazer. Parecia tão... errado. Sabia que ele se arrependeria depois de ter sugerido isso, mas era tão difícil falar não. Nem sabia se queria dizer "não"! Era horrível com isso.

Enquanto eles conversavam na cozinha, a atividade do casal na sala ficava ainda mais “animada”. Era possível ouvir algumas risadas, gemidos e barulhos dos lábios se entrelaçando veementemente. Se a jovem desviasse o olhar para ali, era até capaz de ver uma peça ou outra de roupa voando. Era um sutiã ali, no abajour perto do sofá?

[...]

Maddox achava graça da menina estar tão sem jeito, mas não zoava ela. Ele não era tão babaca quanto os outros amigos de Melissa, mas era um pouco estranho estar por tanto tempo ali, falando com ela, visto que nunca tinha lhe dirigido mais de meias palavras. Mais estranho ainda era ele tê-la ajudado com as bebidas, sendo que ninguém nunca havia ajudado nem mesmo levando a louça para a pia.

-É, maneira – concordou, dando uma pequena risada. Ele a viu jogando o pano no balcão e imaginou de onde aquilo havia surgido, mas logo seus pensamentos foram interrompidos com o “cumprimento” dela. Ficou um pouco desnorteado, em que mundo alguém fazia um convite e recebia um cumprimento? Balançou a cabeça “esquisita” pensou, e envolveu a mão dela na dele, a puxando mais pra perto. Ela estava quase colada nele, podendo ver a pele do seu tronco, pela camisa aberta, bem de pertinho, e aquela tatuagem no peito que tanto mexia com sua cabeça.

O segundanista ia dizer algo, mas logo um gemido alto o interrompeu. – Vamos para um lugar mais calmo – sorriu e a puxou pela mão. Pensou por alguns instantes, logo rumando à escada.

Michelle sentia as bochechas queimando e aquele misto de frio e calor dentro do peito, envergonhada pelos barulhos que os coleguinhas faziam no sofá. Seus olhos curiosos tentaram dar uma espiada, mas aquilo era um sutiã? Virou o rosto bruscamente, dando de cara com o loiro escultural Maddox. Quis morrer de vergonha mais uma vez, pois estava agindo feito uma idiota. Por que não tinha nascido mais normal? Às vezes sentia que não era daquele planeta. Como se não bastasse a pura e simples presença dele tentando conversar com ela, aqueles sons de fundo tornavam tudo ainda mais complicado. Será que o casal sabia que estava sendo observado? Talvez não tivessem reparado que ela estava ali. Podiam se sentir constrangidos. Bem, pelo menos não estavam testemunhando o mar de vergonha que passava na frente do amigo de Melissa e o quanto ele parecia achar aquilo engraçado.

Sua boca já estava seca de nervosismo e de repente ele a puxou para perto. Michelle soltou um pequeno som como um bichinho de apertar, em um misto de surpresa e ar que ela puxou para sobreviver ao coração acelerando em níveis máximos.  Naquele instante, esqueceu até como fazia para existir. Seus braços ficaram parados no ar feito um manequim. A tatuagem... A tatuagem. Não fazia a menor ideia do que fazer, mas não estava achando nada ruim. Era como um sonho sendo realizado, como aquelas histórias escritas na internet que juntavam os pares dos seriados dela. Desde o primeiro momento inacreditável de sua chegada já poderia ser escrito em um lugar assim - e ela já tinha imaginado aquela cena milhares de vezes, só nunca acreditou que aconteceria. Estava acontecendo.

O gemido cortou o silêncio constrangedor e, embora, fosse ainda mais embaraçoso, ela até suspirou aliviada, ignorando completamente o "lugar mais calmo", a princípio.

- Ã...aham - balançou a cabeça lentamente, em concordância.

Quando chegaram ao pé da escada. O cérebro da menina juntou A e B, fazendo com que seu corpo se endurecesse, travando no primeiro degrau. Tinha alguma coisa muito errada, óbvio. Porque não era um sonho e ele nunca tinha falado com ela. Uma onda de baixa autoestima a fez questionar se não estaria sendo vítima de uma pegadinha de sua irmã, mas a maior parte dela ainda acreditava que Maddox era diferente dos outros.

- O-onde você vai?

Maddox parecia muito tranquilo, levando a menina pela sala. O local era grande, com móveis bem bonitos. Michelle podia se lembrar que ali era mais aconchegante quando ela era mais nova, com uma decoração mais simples e clean, mas, agora, com Melissa  e a Madrasta cuidando do local, a casa parecia mais luxuosa e superficial. Quando a menina parou daquela forma, em frente a escada, o loiro parou também,descendo os degraus que já havia subido e se aproximando dela, fazendo a menina se encostar no corrimão da escada, caso tentasse se afastar um pouquinho.

- Pra um lugar mais tranquilo, oras – ele disse, baixo, olhando para ela de cima e pegando em seu queixo, fazendo ela olhar para ele e usando o dedão para fazer um carinho leve na bochecha dela – Você não quer? – perguntou e acabou recebendo uma resposta positiva da menina, que estava super envergonhada e assentiu, voltando a subir com ela.

[...]

Logo, ele a levaria, ironicamente, até o quarto dela e indicaria para Michelle entrar, deixando a porta entreaberta. Talvez pra deixá-la a vontade ou só por descuido.  Ali, a música estava realmente mais baixa e o ventinho que vinha da janela estava um tanto gelado. Ele se sentou na cama, puxando a menina, que era bem menor e mais leve que ele, para se sentar no seu colo, em uma das coxas.  Tirou o óculos dela, os pousando na cama.

- Fica melhor sem eles – estava perto, perigosamente perto. Uma das mãos dele a mantinha em um abraço firme, a outra passeava pelo seu pescoço. Ele não havia dado indícios de estar sacaneando ela, apesar de estar visivelmente tonto.

Na primeira festa que Melissa inventou naquela casa, a garota ficou bem chateada. Isso porque tinha lembranças boas e bobas, como quando colou figurinha do One Direction na parede e levou a maior bronca do século, ou quando usava o espaço para esconde-esconde. Os pais ainda se davam bem e ela gostava do cheiro de biscoitos e como todos saíam para buscar sorvete.
Agora, era praticamente uma boate, com cheiro de álcool e às vezes podia jurar que tinha vômito e urina em algum lugar ali. Talvez tivesse sido essa a sensação que a trouxe por segundos de volta a si, mas o novo ambiente não era convidativo dessa forma. Era o covil de Melissa.  E aquele loiro maravilhoso a sua frente tocando sua bochecha como nenhuma criatura do sexo masculino, que não fosse um parente seu, jamais tinha feito isso. Não era coisa de amigo. Porque Radd nunca se atreveria. Ela ficou olhando através dos óculos, segurada pelo queixo como se aquela fosse a espinha dorsal de seu corpo, já que todo o resto estava mole. Viu-se concordar de leve com a cabeça.

E se de repente a madrasta não estava mentindo quando dizia para o pai dela que ela era "jeitosinha"? Às vezes, ele tinha visto sua beleza interior, como um personagem de Jane Austen e agora, bêbado, poderia secretamente revelar sua paixão de anos por ela. Afinal, por que ele nunca tinha sido grosseiro com ela? Às vezes, era timidez...

A menina deu uma última olhada para trás, mas só viu o casalzinho em alguma posição bem esquisita, concluindo que eles não estavam prestando atenção nela.

Bem, podia ser um pouco travessa, às vezes.
O que poderia dar errado? Seria mentira se dissesse que não queria experimentar um beijo, um carinho...

O coração quase pulava do peito e ela não sabia como, mas de repente estava no quarto dela. Olhou para trás. A porta entreaberta... Bem, era seguro assim. Era assim que sua mãe a obrigava a ficar em casa mesmo quando era só Radd que estava lá. Significava que nada de mais entre um garoto e uma garota aconteceria, contanto que aquela porta estivesse aberta.

Sentou-se bem na beirada da cama, com as pernas protegendo as mãos juntas entre elas, mas de repente suas pernas estavam sobre o colo dele. Como tudo isso estava acontecendo tão rapidamente mesmo? Ela realmente tentou sair do colo, ainda que mantivesse a proximidade e não conseguisse dizer "não" a um mínimo de esforço dele de mantê-la ali, mesmo que estivesse desconfortável por dentro.

Não era como se não gostasse dele, pelo contrário. Mas... não devia ser algo mais romântico? Quando ele ameaçou tirar seus óculos, ela até afastou o rosto, mas nada podia pará-lo. Sentiu o rosto tão quente, que era como se ele tivesse tirado uma peça de roupa. Piscou algumas vezes, para checar se ainda o enxergava direitinho, mas sabia que só teria problemas com o contorno das letras.  
- É..? vo-você acha mesmo?-  deu até um pequeno sorriso esperançoso, mas até isso parecia um pouco estranho, porque estava muito nervosa e ela quase não conseguia se mexer. - Eu nem imaginava...sabe.. que você... já tinha olhado pra mim antes...   - olhou para baixo e achou melhor admitir que talvez ele não estivesse agindo da forma mais habitual possível. - Você tá legal?

Maddox parecia até legal, embora muito incisivo. Apesar de mantê-la onde ele queria, não fazia nada demais sem a permissão dela, mas, a cada tentativa de fuga, o seu toque ficava mais firme e menos gentil. Por fim, podia sentir a pressão dos dedos dele em sua cintura, mantendo ela próxima e em seu colo. O jovem não entendia essas atitudes em negativa dela: era um cara bonito, tinha dinheiro, era super charmoso... Nenhuma menina havia dito não. E não seria essa magrelinha que o faria, certo?

Após o término dele com April, alguns boatos haviam se espalhado, assim como uma foto no Gossip Girl meio suspeita... A foto mostrava ele abraçado com um menino desconhecido, apesar de estar escura e não dar pra distinguir exatamente se era ele ou não. Por isso, desde então, vinha aumentando sua fama de “pegador”.

Daquela festa, ele apenas não havia “pegado” Michelle, por isso, após algumas bebidas, se sentia pronto pra isso, ocultando o desejo por certOs convidados. No quarto, enquanto ela parecia mais perdida que cego em tiroteio, ele continuava os carinhos no braço, no pescoço e no rosto dela, sem deixar ela fugir.

- Claro que tô legal, tô contigo – murmurou, ignorando a tagarelice dela, pousando um dedo em seus lábios – Shhh – disse, estalando os lábios. Logo, os tirou dali, beijando a menina sem aviso, ainda com o abraço apertado, o beijo até que gentil. Sabia que, possivelmente, aquele era o primeiro beijo dela, por isso, não fez muita graça. Assim que afastou os lábios dos dela, os dois veriam o quarto clarear, com um flash de celular, além disso, uma risadinha poderia ser ouvida. Na porta, uma das amigas de Melissa tirou uma foto dos dois e saiu correndo.

- Ah, merda – ele disse, praticamente jogando Michelle na cama e se levantando para ir atrás da menina. Não dava para saber exatamente o motivo, mas a menina podia imaginar dois: um, ele havia combinado aquilo e, dois, ele estava envergonhado de ter uma foto beijando uma menina como ela. Como o menino não havia dado satisfações ao sair, Michelle ficou sentada ali, sem saber o que fazer... Na verdade, sem saber exatamente o que havia acontecido.

Michelle já estava começando a sentir uma pressão no peito, incomodada que não conseguia fazer nada para escapar. Ele já estava sendo incisivo demais e a imagem perfeita que tinha dos dos juntos começava a desmoronar. Era engraçado como ela queria isso por muito tempo, mas agora parecia tão esquisito e errado que a fazia se sentir mal, além de estar muito nervosa. Então era assim que as pessoas normais se relacionavam? Devia estar gostando disso tudo, mas só queria sair de lá. Era esquisitona mesmo. Nem para conseguir  apreciar quando um rapaz se interessava por ela...

Ela mexia o pescoço meio desconfortável, pensando que gostaria de ter a força de vontade de dizer "não", mas até essa ideia a deixava triste. Tinha que ser normal. Então tinha que deixar, não era? Foi involuntariamente se encolhendo mais, enebriada pela sensação de ter um homem tão bonito perto dela. Os boatos não lhe importavam. Já que sabia o quanto a própria irmã inventava histórias sem cabimento sobre os outros, então nem sempre era verdade... Defenderia a "honra" de Maddox até o fim.

Arregalou os olhos vendo aquele dedo encostar no seu lábio e ficou um pouco mais "calma". Ele tinha um incrível poder de envolvê-lla com aquela voz sedutora. Foi beijada assim. De repente. Não sabia direito o que fazer. Achava que teria um tempo considerável para treinar em casa antes e se preparar em um encontro romântico, mas isso era bem diferente do que estava esperando. Achava que nao beijaria bem. Não era para menos, já que estava em choque com a atitude, mas apesar de seu coração bater bem forte, ela sentia um misto de sensações loucas no corpo e não podia dizer que não tinha gostado. Estremeceu toda e percebeu que um dos braços estava duro e imóvel, onde ela aplicou toda a tensão.

Então viu o flash e sentiu uma vergonha imensa. Deixou que o rapaz saísse correndo no quarto, deixando-se cair na cama de qualquer jeito, tateando os óculos para não deitar em cima deles e escondendo o rosto debaixo do travesseiro.

Agora definitivamente queria desaparecer ali debaixo. Espancou o travesseiro  acima da cabeça.

- Burra, burra, burra! - virou de um lado para o outro e deu gritinhos dentro do travesseiro. Sentiu lágrimas abafadas pelo tecido e sentou com os cabelos desarrumados, batendo na testa.
- Sua idiota...

Era lógico que ele estava esquisito. Quem se interessaria por ela? E ela ainda tinha sido bem "safada" deixando que ele a encostasse nela. Estava gostando sim!!! Foi culpa dela tê-lo seguido até o quarto. Não podia fazer mais nada. A não ser... correr atrás da menina. Ela saiu do quarto correndo até a escada, só para tentar verificar se já era tarde demais. Não queria ser vista por ninguém.