Após os choques que o bb1 e o bb2 conduziram diretamente no músculo cardíaco, o mesmo não tardou para iniciar os batimentos em perfeita sintonia, estava sinusal. Graças ao Santo Deus havia dado, caso contrário, teria que estimular o coração por mais um tempo com as mãos em virtude que os choques já não seriam tão bem-vindos por tantas descargas. O coração estava tecnicamente exposto, e se alguém perguntasse o que eu mais gostava diria facilmente que ver aquilo era magnífico e lindo. O ritmo que o coração possuía era majestoso, sublime. — Escolhi ser Cardiologista por causa disso.. Não tem nada no mundo que me deixa mais hipnotizado do que... — Não terminei a frase, ela por si só já poderia ser interpretada pelas ações. A todo o momento meus olhos ficavam fixados, sempre acompanhando as batidas como se eu pudesse ver com tamanha nitidez o sangue preenchendo as câmaras e sendo distribuídos. Olhei para o monitor e observei que desta vez, tudo estava em ordem, aparentemente. Não tardei para dar uma olhada para o amigo ao lado, Dr. Webber, com as sobrancelhas levemente erguidas, eu mantinha um ar duvidoso e até curioso. — Ele tem sorte de ter bons amigos aqui. Agora me diz o que Noah tem, você mais do que ninguém sabe que a vida dele está em jogo. — Argumentei, e já fui separando imediatamente os fios que posteriormente seriam usados para a sutura do osso esterno, ou melhor dizendo, iria fazer o possível para manter o osso unido mais uma vez em meio aos fios de aço. Notei que as minhas luvas estavam sujas com o sangue do paciente, não era para menos, havíamos montado uma sala de cirurgia improvisada no leito de internação, às pressas. Eu bufei, sempre controlando as mãos. — Pericardite? Isso explicaria o motivo da falta de ar, da fraqueza e indisposição. — Interpelei, reavendo os conceitos mais uma vez. Como a cavidade torácica estava aberta, iria perder mais alguns segundos em observar o coração trabalhando na condução. — Está vendo aqui? É o pericárdio. É como um "saco" que reveste o coração. Quando há líquido presente, o coração não consegue bater de maneira precisa. O que resulta também com maior ocupação da cavidade, pois não é anatômico que o saco que reveste seja preenchido com líquidos. —Expliquei ao Professor, sempre mantendo os olhos bem fixos no coração. Eu respirei fundo, recordando algumas informações anteriores vistas no exame ecocardiográfico. — Quando um paciente faz acompanhamento na Cardiologia, é bem comum que os exames de eletro e eco sejam quase que juntos, na maioria, feitos no mesmo dia. É bem fácil de perceber pelo exame quando há pericardite. Mas por algum motivo... Espere... — Interpelei, dessa vez, eu parecia ter achado algo ou pelo menos visto alguma coisa que não havia observado anteriormente. — Aqui... Você está vendo? —Interpelei, mostrando para ele. — O senhor tem razão. Aqui... O líquido está ocupando a camada de uma maneira que a frontal não fica visível com nitidez. Como o ecocardiografista não achou isso no exame? — Indaguei em um tom alto, talvez mais para mim mesmo do que para o Dr Webber. — Não tem problema com isso. A punção é bem rápida e podemos tirar uma boa quantidade de sangue. É bom pegarmos alguns potes de coleta para levarmos a equipe do laboratório para pesquisa também. Se for esse o caso, ele em breve ficará melhor, até mesmo para respirar. — Proferi, iríamos dar, em seguida, inicio a punção.
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