[!ON!] JOE'S BAR

O Bar do Joe fica a uma quadra de distância do hospital,
então é bem conhecido e frequentado pelos médicos enfermeiros.
É um local para descontrair e relaxar. Ajuda a esquecer
um pouco a rotina hospitalar e o stress da vida.

Eu dirigia à 150 km/h naquela noite. A rodovia estava livre e eu tinha acabado de voltar de uma defesa complicadíssima, depois de viajar por mais de 500km. Seattle não nunca foi uma grande cidade pra mim, mas a sensação de voltar pra casa é inigualável. O cheiro de lavanda, o tapete de veludo, o vinho chardonnay na estante, eram sensações que eu não via a hora de sentir novamente, principalmente tendo estado quase uma semana longe de casa. O caso que fui defender tinha sido, para variar, de um serial killer que antes de matar suas vítimas, as abusava sexualmente, obrigando-as ainda a assistir as gravações, matando-as em seguida lentamente penduradas como espantalhos em plantações localizadas nos grandes campos das zonas rurais interioranas, com feridas expostas sendo comidas vivas por urubus e animais do tipo.

Não, não é fácil ser advogada criminal, principalmente em momentos como este, ainda mais quando se está defendendo um verdadeiro monstro como esse. Até mesmo eu, consigo reconhecer e repugnar tamanho animalismo. Porém, preciso honrar a profissão e trabalhar sempre da melhor forma, mesmo que sua defesa consiga diminuir apenas 1/5 da pena do seu cliente, mas já é alguma coisa e pra um homem que estava prestes à sofrer pena de morte, deixar de morrer já era alguma coisa. De qualquer forma, esses desafios me fazem sentir viva com a adrenalina pulsando em minhas veias.

Antes de ir pra casa, resolvi parar no bar do Joe e dar um alô. Nunca mais tinha passado por ali e Joe era um bom amigo, além de ter sido um bom cliente no passado que lhe rendera uma pequena fortuna ao defendê-lo como consumidor contra uma grande fornecedora de bebidas. Clientes assim são impossíveis de esquecer, né? Estacionei em um estacionamento localizado ao lado do bar e entrei no estabelecimento.

- Pronto, senhor, aqui está o seu Whisky com bastante gel... Drª Paddington! Quanto tempo não lhe vejo, sente, deixe que eu lhe sirva uma bebida! - Joe sendo Joe, como sempre atencioso, mal terminou de atender o outro cliente e já queria deixa-lo para me servir.

- Não, apressado! Termine de atender seu cliente, rapaz, eu espero! - falei em tom risonho enquanto me acomodava na bancada em frente às bebidas.

Ele terminou de atender o homem que havia pedido um Whisky e em seguida veio até mim, pegando uma de minhas mãos para cumprimentar-me. - O de sempre? - perguntou Joe.

- Sim, o de sempre! - respondi esboçando um sorriso - Capricha nesse Martine aí, hein, Joe? Quero duas azeitonas hoje, estou super cansada, precisando relaxar, então quero tudo que tenho direito! - expliquei meu pedido e dei uma olhada em volta. Em uma das mesas no fundo do bar estava um homem solitário. Uma espécime bastante atraente para ativar o meu instinto de caçadora. Joguei meus cabelos para o outro lado e encarei até que o rapaz me olhasse enquanto tomava lentamente minha bebida. Voltar pra casa e levar um brinquedinho seria uma ótima opção para relaxar completamente...  

Era o meu primeiro dia efetivamente em Seattle, estava cheio de expectativas para iniciar na gerência de TI do hospital, como cheguei na cidade no fim de semana resolvi conhecer a cidade. Fiquei fascinado como era bonito aquele aspecto de Metrópole, o desejo de viver estava correndo em minhas veias. Um amigo que estudou comigo no Canadá me recomendou lugares para visitar e também disse para no fim do dia eu visitar o bar do Joe, que era um grande amigo seu, pois segundo ele lá tinha excelentes bebidas. Por volta das 20:00h resolvi a ir ao bar para conhecer novas pessoas e relaxar. Chegando no local, observei que era um lugar bastante convidativo e agradável que possuía muitos frequentadores. Além disso, havia bebidas à perder de vista, muitas até que jamais tinha visto.

- Boa noite, aqui é o bar do Joe? - questionei o homem que estava do outro lado da bancada.

- Olá meu jovem, eu sou o Joe, em que posso ajudar? - ele era o Joe e se dirigiu a mim de forma bastante educada e prestativa.

- Me chamo Alfie, sou novo em Seattle, vim do Canadá, meu amigo Richard Fox recomendou que viesse aqui para conhecer o seu bar, pois segundo ele era um dos melhores da cidade. - Joe imediatamente sorriu e demonstrou estar alegre em ter notícias de Richard que era seu cliente antigo.

 - Nossa! Quanto tempo que não tenho notícias do Richard! Fique a vontade, hoje a bebida é por conta da casa, pode se sentar!

Então fui até uma mesa mais no fundo, onde eu pudesse ter uma visão mais ampla do lugar e das pessoas, degustando a bebida trazida por Joe. Enquanto bebia, eu observava o local. Logo após a primeira dose do meu Whisky entrou uma mulher fantástica, era magra tinha um sorriso incrível e pela postura imponente, julguei ser determinada e poderosa.  Ela teve uma breve conversa com o Joe, olhou em volta até que me viu e fixou os olhos dela nos meus. Continuei a troca de olhares e dei um sorriso de canto de boca. Logo pensei: por que não começar bem na cidade? Após fita-la por mais alguns instantes, me levantei e fui falar com ela. - Boa noite, eu achei seu sorriso incrível e não me perdoaria se não viesse aqui falar com você, já que não sei se lhe verei novamente. - falei para a mulher que parecia me consumir com os olhos.

Em contradita ao que prefere a maioria das mulheres, eu não gosto muito de homens que tenham atitude, porque eu gosto de estar no comando da situação. Sempre. Isso é facilmente perceptível em mim a partir dos pequenos gestos e atos cotidianos. O homem que eu encarava levantou-se e caminhou em minha direção, me abordando falando algo sobre não se perdoar caso não viesse falar comigo naquele momento. Gente, que clichê. Tanto clichê... Se não fosse o fato de me sentir desafiada a passar para o comando da situação, eu já desistiria dele ali mesmo, mas gosto de situações que me desafiam. Aquela era uma dessas.

- E o que te faz pensar que sou o tipo de mulher que gosta desse tipo de conversinhaa fiada? Eu estava olhando pra você, não mandei você vir até aqui, sabia? - continuei encarando o rapaz, com olhar incitante. Me virei completamente pra ele, permanecendo sentada na banqueta em que eu estava, então cruzei as pernas, deixando a coxa que estava por cima da outra completamente à mostra através da fenda do meu vestido preto.

Percebi que ele logo se animou ao ver minhas pernas à vista. Esse cara não consegue parar de ser clichê nem por um segundo? Com o dedo indicador subi seu queixo quando este ameaçou descer pelas minhas curvas, forçando-o a me olhar novamente nos olhos. - Para onde pensa que está olhando? Eu gosto de conversas olhos nos olhos. Não sou o seu jantar desta noite. - meu tom era rígido, mas ao mesmo tempo sexy, do modo que homens de verdade se sentiriam atraídos, ao contrário de moleques que ficariam logo nervosos e sairiam correndo, por não saberem o que fazer.

Coitado, eu poderia não ser o jantar dele esta noite, mas com certeza ele seria o meu. - Me encontre daqui a 7 minutos na saída do bar. - Sem apresentações, sem maiores vínculos. Não me interessava saber quem ele era, o que fazia, de onde vinha: um caçador jamais procura informações íntimas sobre suas presas.

Levantei e fui ao toilet para retocar o batom vermelho rubro que já havia sido desbotado com bebida. Passei pelo Joe, acenei agradecendo pelo drink, em seguida me dirigi ao estacionamento para pegar meu carro. Olhei no relógio e era o instante exato que eu havia marcado. Dirigi até a entrada do bar, abri o vidro do carona e observei para ver se conseguia ver o cara que havia acabado de conhecer. Será que seria corajoso o bastante?

Sinceramente após conhecer diversas pessoas na minha vida entre homens e principalmente mulheres aprendi a ler e analisar a personalidade, o objetivo ou até mesmo cada detalhe dos gestos desde uma palavra a o ato de cruzar as pernas, naquela situação percebi o potencial desta mulher. No instante em que falava comigo até a sua chamada para sair do bar e encontra-la percebi sua personalidade extremamente mandona, certamente muitos homens tentam conquista-la mas falham, pois ela escolhe com quem quer sair notei isso devido a frieza nas suas palavras e a forma fácil como me dominou.

Após a saída da mulher me senti paralisado fisicamente e psicologicamente por alguns segundos. Uma pergunta "Quem é essa mulher?", ecoou na mente varias vezes enquanto passava a mão na barba. Desde criança tudo que parecesse me provocar era encarado por mim como um problema, mas todo problema tem uma solução, certo? Então decidi naquele instante que estava disposto a pagar pra ver e que iria desvendar aquela mulher, embarcando nessa aventura.

- Grande Joe me ver a bebida mais forte que tiver disponível! - pedi, dessa vez sentado na cadeira que dá apoio à bancada do bar, exatamente aquela em que a mulher misteriosa sentara minutos antes.

- Certo Alfie, irei caprichar na dose. - disse o Joe.

Olhei concentrado para aquela bebida, era uma Balkan (vodka) que é extremamente forte, botei o copo na boca e bebi de vez, agradeci a bebida e me levantei determinado para a saída do bar, sabia que não tinha volta e tudo poderia acontecer naquela noite. Ao pisar na porta vi um carro preto muito bonito, fixando o olhar para dentro identifiquei a "fera", senti que ali eu era uma presa e não pude deixar de notar um sorriso sarcástico, não exitei e fui a caminho do porsche sorrindo aparentando não teme-la apesar de estar nervoso por nunca ter sido abordado daquela maneira tão excêntrica por alguém antes.

- Parece que a noite vai ser longa! - digo ao entrar no carro com um tom de voz que denotava um certo humor. Não se pode negar que para entrar no carro de uma estranha desse jeito, ainda mais da forma que ela se dirigiu à mim, é preciso ter muita coragem. Meu coração ainda assim batia descompassado e inseguro por não fazer ideia do que estava por vir.