Seus luxuosos e modernos becos ainda gritam como matadouros e, em suas consciências pesadas, todos sabem que o tempo de heróis e lendas chegou ao fim. Exceto por Convidado.
Crueldade é um dos prazeres mais antigos da humanidade. Dedicam-se a construir um paraíso enquanto o povoam de horrores. Impérios construídos sobre as cinzas da honra e da virtude, transbordando ódio pela vida através de suas cruzadas. Atrocidades que costumam fazer com que clamem aos céus para que aliviem seu fardo, mas, desta vez, fui eu que os atendeu.
A natureza humana é selvagem, não importa o quanto se tente encobrir ou disfarçar. Eu vi a verdadeira face da sociedade... e escolhi ser uma paródia, uma piada. Ninguém mais viu a piada, por isso preciso encontrar Convidado. Não imagino oponente mais perigoso.
Será que todos enlouqueceram menos eu?
Gritos metálicos ecoam pelo corredor enquanto a estrutura do prédio começa a ruir. Posso ouvir as primeiras explosões embalarem minha jornada rumo ao esquecimento. Mundo implacável.
Afinal, quem é Convidado?
Quanto a mim, de nada me arrependo. Vivi sem concessões... e agora avanço rumo às trevas sem me queixar. O fim vem a galope, favorecendo a espora, poupando as rédeas. As chamas flertam com meu rosto e eu sinto medo... pela última vez. Em minutos, minhas cinzas desfalecerão nas profundezas do concreto.
Vidas violentas terminando violentamente. E, entre todos os conflitos, não há tempo para amigos. No fim, apenas nossos inimigos nos deixam rosas.
Esse sussurro clama para que eu me lance nas trevas do desconhecido... e só há um nome em minha mente. Convidado... Convidado?! Convidado???! Afinal, quem é Convidado e o que está fazendo na minha cabeça?
Curvo-me perante o horror da minha impotência. SAI DA MINHA CABEÇA!
...
Por que?
Por que, Convidado?
Se não vai me dizer quem você é, ao menos me diga o que eu sou para você!
...
É inútil...
Todos os dias eu contemplo a eternidade, congelado em minha compreensão limitada de mim mesmo. Esforcei-me para ser compreensível, mas há alguém na minha cabeça... vigiando meus passos, guiando meus atos. Convidado...
O QUE QUER DE MIM???
...
Eu deveria repousar para sempre, sem jamais sonhar com algo tão maravilhoso que preenchesse minha existência vazia com sentimentos tão bonitos. Mas agora não tenho escolha...
Diga-me o que fazer, Convidado... seja você quem for! Eu imploro!
Cruzo, sem medo, o precipício da eternidade e uma silhueta se ergue em meio à tempestade. Em resposta ao meu pedido de socorro, do outro lado do frágil véu que me exilou da vida terrena, eu posso sentir sua presença.
Todos os aspectos do meu ser deixaram de pertencem a mim no instante em que eu notei.
Sou eu quem está pensando nisso ou é só mais uma forma de Convidado me controlar?
Estou com frio. E só percebo agora. Não notei porque Convidado não notou?
O que mais eu não vi?
Esta janela sempre esteve aqui?
Você não vai me responder, Convidado?
Tudo bem... eu estou pronto.
Sei que foi você que guiou meus passos... do início ao fim... para contar suas histórias. Por algum motivo você acreditou que tirar tudo de mim me faria um protagonista melhor.
Agora eu sei que você estava lá... em minhas maiores derrotas... me dando motivos para seguir em frente... guiando minha mão contra cada inimigo.
...
O silêncio me incomoda... mas eu fui longe demais... por sua causa, Convidado.
Chegou a hora de retribuir e estar em sua mente. Como uma memória, não há lugar mais confortável do que seu coração. E se ele fosse partido, eu ficaria preso no vazio tenebroso de minha incondicional incapacidade de te amparar.
Adeus, Convidado, e obrigado pelo XP... o que quer que isso ignifique...