MiSoo só precisava de uma noite tranquila depois do dia complicado e da conversa com a mãe. Tudo o que precisava era passar um tempinho fora de casa. Só precisava sair pela porta e ir até a casa de alguém. Só um pouquinho de ar fresco para aliviar toda a pressão que sentia dentro daquela casa…
Não conseguia suportar a visão da mãe sobre amizades. Como as pessoas eram descartáveis para ela. Mas MiSoo era completamente diferente. E suas amigas também! As meninas sempre foram suas amigas mesmo quando MiSoo era menosprezada por muitos outros por causa de sua aparência - até mesmo pela própria irmã mais velha!!
EunBi, BoMi, Mia… Essas eram as garotas que ela considerava como suas verdadeiras irmãs, pois foram elas que estiveram do seu lado de verdade.
MiSoo não acreditava que, mesmo com a dieta, um dia seria tão bonita quanto a irmã de sangue, mas a verdade é que não queria se parecer com MinJi em nenhum aspecto! E ultimamente a mãe andava lhe causando a mesma sensação que a irmã lhe causava…
Ela não era tão sufocante assim até MinJi ir embora, porém, após perder sua filha favorita, tinha se tornado insuportável. MiSoo tinha convicção de que a mãe queria lhe transformar na MinJi, mas também estava convicta de que não seria como a irmã, não importasse o quanto a mãe insistisse.
Tinha aceitado fazer a dieta porque realmente estava insatisfeita com seu físico. Se sentia péssima com ele. Queria, uma vez na vida, não sentir os olhares de julgamento sobre seu corpo, seu peso... Mas isso não queria dizer que desejava se tornar outra pessoa!
Enquanto passava pelo corredor, com a bolsa cheia de roupas e outros objetos e a mochila da escola, MiSoo ouvia a mãe gritando seu nome, mas ignorava, estava farta daquela voz e com certeza sem vontade de ouvir o escândalo que ela logo viria a fazer.
Iria deixar a mãe falando sozinha e iria embora. Simples. Ela já tinha escolhido as roupas que a mãe queria, podia muito bem ir fazer o que quisesse.
Estava se aproximando da porta quando a viu abrir e a visão de quem surgia atrás dela deixou MiSoo paralisada onde estava.
O Aboji tinha retornado do trabalho. A presença do pai diante de si era o suficiente para deixar a jovem ainda mais nervosa, ainda mais depois de ouvir a mãe berrar do topo da escada a impedindo de sair. Sabia que o pai não gostava das discussões entre as duas. Se berrassem então…
MiSoo já percebera a irritação do pai no tom de voz com que perguntou o que acontecia. A tenista fez uma careta com um bico, como se estivesse sendo acusada de algum crime e baixou o olhar em direção aos pés, deixando que a mãe respondesse a pergunta.
- Eu- Eu não estou “fugindo de casa”. - sua voz agora era tão frágil quanto sua postura
- Eu só… Ia passar a noite na casa da EunBi… Ela machucou o pé… -mordeu os lábios de leve e voltou o olhar derrotado para o chão, já sabendo que àquela altura, com o pai já sem paciência, não faria muita diferença se explicar.
Não tentou desobedecer o pai. Sabia que seria um esforço inútil e só deixaria ele ainda mais irritado. Já estava cansada demais para mais uma discussão. Tudo o que não precisava era mais algum castigo idiota que o pai pudesse imaginar para lhe punir injustamente. Mesmo assim não pretendia obedecer completamente. Não iria para o quarto.
Ouviu seu Aboji mandar a Ommoni parar de gritar e sentiu um pouquinho de satisfação por não ser a única vítima da irritação do pai, mas a sensação logo desapareceu quando o aboji voltou a falar com MiSoo.
- Eu ia fazer o dever depois do banho, mas Ommoni queria que eu escolhesse roupas… - respondeu ainda no tom baixo
- Eu vou fazer agora, mas vou fazer no jardim, Aboji. Espero que não tenha problema ir para o jardim. - o cansaço que sentia à tarde tinha voltado e MiSoo já não tinha forças para aguentar nem mesmo a rigidez do pai.
Já que não poderia sair, só queria poder ficar sozinha o mais breve possível. Não tinha vontade de conversar, argumentar ou reclamar.
Só queria o silêncio.
Não apreciava a solidão, mas era melhor do que os gritos da mãe e as ordens do pai.
Voltou-se à sua bolsa no sofá, ao lado do pai, e de lá só tirou o celular e o diário. Ainda estava com a mochila e o material para fazer as tarefas de casa já estavam ali dentro.
Com tudo em mãos, MiSoo fez uma rápida reverência ao pai e se apressou para a porta dos fundos, que dava direto para o jardim, passando ao lado da mãe, mas sem olhar em sua direção. Ainda estava muito incomodada com as palavras dela.
MiSoo parou na parte coberta do jardim, onde tinha uma mesa redonda de madeira com cadeiras, tudo combinando. Sentou ali envolta por vários vasos de plantas e espalhou seu material. Quando terminou de por os objetos sobre a mesa, sua visão estava embaçada pelas lágrimas que antes tinha se esforçado para conter, quando ouvia as coisas horríveis que saíam da boca de sua mãe.
Não bastavam os problemas que MiSoo tinha enfrentado na escola hoje? Tinha mesmo que ouvir sua mãe tentar destruir sua amizade com a melhor amiga porque achava que EunBi já não tinha mais nada a lhe oferecer? Mas é claro que ela tinha algo a oferecer!!
Companhia, compreensão, apreço… Coisas que a mãe provavelmente era incapaz de oferecer aos amigos. Pelo menos não sem receber algo vantajoso em troca.
A tenista limpou as lágrimas com as costas das mãos e tentou afastar o assunto da mente, respirando fundo. Não queria mais pensar sobre o que a mãe disse, era torturante, embora aquelas perguntas de matemáticas não fossem muito melhores, mas era no que realmente precisava se focar. Se não passasse com boas notas esse ano o pai provavelmente inventaria um castigo bem pior… MiSoo nem queria imaginar o que o Aboji faria se ela não passasse.
Depois de fechar os punhos e ergue-los na direção do vaso de petúnias rosas, suas favoritas, e exclamar um ”FIGHTING!”, MiSoo pegou a lapiseira de ursinho com chaveirinho de macaron e começou o dever, tentando responder da melhor maneira que conseguia, com o pouco que tinha entendido da aula.
Depois de cansar de fazer tentar fazer os exercícios, mas tendo conseguido responder boa parte, a garota aproveitou que estava ali, envolta pelas plantas e sentindo-se um pouco melhor, apesar de mentalmente cansada, para escrever um pouco no diário sobre o que deveria fazer na aula do dia seguinte.
Só depois das tarefas de casa e do diário, que MiSoo lembrou-se de olhar o celular, já achando que teria milhares de mensagens para ler, mas surpreendentemente estava bem quieto ali e tudo o que tinha recebido era a mensagem de EunBi.
A mensagem tinha lhe deixado um pouco angustiada. Também queria ter falado com EunBi pessoalmente, mas tinha sido impedida. Saber que BoMi não tinha a respondido também deixava MiSoo triste. Era um sinal de que realmente precisava fazer algo ali para resolver aquela situação horrível.
Queria muito ouvir o lado de EunBi e acabar com toda a angústia, sofrimento e o afastamento que a mentira estava criando entre suas duas amigas, mas também estava meio triste por ter de ir sozinha para a aula do dia seguinte. Sempre iam juntas, conversavam e brincavam. Era sempre bem animado e divertido o passeio, uma das melhores partes de se ir para a escola.
A possibilidade de ter que ir no silêncio em um carro vazio e solitário, fazia com que MiSoo voltasse a se sentir desanimada. Era quase como reafirmar que algo estava errado entre elas. Que algo tinha se quebrado e precisava urgentemente ser consertado. Essa era a tarefa mais importante de MiSoo para o dia seguinte. Consertar o que tinha sido danificado.
A garota respondeu à amiga tentando lhe animar e dizendo que tudo iria ficar bem amanhã e que não precisava se preocupar. Sabia que EunBi deveria estar bem preocupada com o pé que tinha machucado. Conhecia ela e sabia o quão ficava apavorada em ferí-lo.
Depois mandou uma mensagem para BoMi dizendo que poderiam se encontrar na entrada da escola e também afirmou que o dia seria melhor e que tudo ficaria bem.
Já era bem tarde quando MiSoo foi comer algo. Estava com o estômago meio embrulhado por culpa das discussões e complicações do dia, que agora voltavam a passar por sua mente, por isso acabou comendo pouco, já que não sentia muita fome. Pelo menos tinha algo saudável para ingerir ali, embora sua mente estivesse já pensando em como queria muito poder apreciar algo doce.
Enfim poderia dormir depois de um dia tão estressante e cansativo.
(...)
Não acordou tão cedo quanto os outros dias, mas estava um pouco mais animada e determinada em suas tarefas para essa quarta-feira. Dessa vez comeu cereal com leite e suco de maçã. Não gostava muito de comer coisas salgadas pela manhã.
Colocou o uniforme, a maquiagem e dessa vez optou por usar um penteado com dois coques laterais, pois gostava de brincar com o cabelo e ir cada dia com um penteado diferente, também ajudava a melhorar seu humor, o que estava precisando já que também queria alegrar suas amigas. Calçou tênis menta desta vez e meias de rendinha.
Referência.
A parte de ir sozinha, apenas com o motorista, foi tão ruim quanto imaginava. Tentou se alegrar colocando os fones de ouvido e tocando músicas bem alegres, mas ainda sentia a falta da bagunça que era ir acompanhada de todo mundo para a escola e das conversas que se desenrolavam naquele ambiente. Pelo menos tinha certeza que a solidão para ir à escola seria só por um dia, logo voltariam à programação padrão.
Depois do trajeto desanimado, MiSoo finalmente chegou à escola, se despediu do motorista e logo que pôs os pés para fora do carro pegou o celular e mandou uma mensagem para o grupo para saber se já tinham chegado. Pretendia se encontrar com as garotas antes de ir para a sala de aula.