Tentava imaginar como seria uma vida nesses moldes... Uma vida que não te permite ser quem realmente deseja. Que simplesmente te limita numa jaula.
E ela sequer conhecia a carga que havia no sobrenome Park...
Apesar disso, em certos pontos, continuava a discordar de Jung, e provável que só estivesse sendo teimosa. Por mais que ele diga que não tem como ser Young, ou que agora que Sun-Hee descobriu a verdadeira identidade dele não o veria mais como antes... Sunny não acreditava nisso. Sim, era pouquíssimo tempo para se ter certezas sobre as qualidades e defeitos de alguém, mas não é que confiasse na existência de uma pessoa perfeita. Não era exatamente a questão que estava em sua mente.
Entendia o que Jung-Mi falava, mas não concordava 100% com ele.
Sunny balançou a cabeça.
- Acho que sim...
Limitou-se a dizer, de início, porém o rostinho contraído em conjunto com o bico que retornou aos lábios mostraria a Jung-Mi que algo ainda não se encaixava na concepção da bolsista. Entretanto, logo ela sorria de novo ao fitá-lo – Eu insisto para que volte... Talvez, seja como conhecer o mesmo lugar pela segunda vez... Uma nova experiência... – ponderou – E, quem sabe, até descubra que nada mudou – ela soltou o último comentário com certa inocência.
Por ora, era melhor não se aprofundar num aspecto tão íntimo da vida de Jung-Mi... Afinal, não calculava até que ponto isso o incomodava ou não. Além do mais, precisava absorver o que ele revelou. Tinha vontade de acrescentar que... não o via mais como duas criaturas diferentes. Jung-Mi ou Young... Para Sunny, eles eram os mesmos. Mas Jung-Mi acabou de afirmar que, na verdade, não. Não eram.
E... agora?
Estava diante de quem, então?
Enquanto refletia, ele citava outro aspecto mencionado pela própria Sunny. Kim. Ela arregalou os olhos assim que ouviu o termo “namorado” e precisou pressionar as pontas dos dedos sobre a boca para conter o riso. Porque ao mesmo tempo em que queria apertar a garganta do amigo, também sentia uma imensa vontade de rir ao ver que ele estava parcialmente correto. Jung-Mi, de fato, concluiu que ela e Kim namoravam... Nossa. Devido ao seu relacionamento fraternal com Joo-Hyuk, lhe soava um absurdo que terceiros pensassem que ambos tinham algo a mais do que apenas amizade. Suspirou antes de desfazer o equívoco, todavia... Jung acabava de admitir que ela... era... especial? Ok, sem exageros, Sunny! Mas... Corando, a menina abaixou a cabeça para esconder o rosto e o sorriso que a frase provocou. A garçonete escolheu esse momento para trazer os pedidos. Agradeceu gentilmente e após a saída da moça, Jung-Mi prosseguiu com as explicações e quando terminou, Sunny não falou nada de imediato.
...
- Eu e o Kim não somos... namorados.
Ela o fitou de modo sereno.
- Nós nos conhecemos há anos, e desde então, ele se tornou alguém muito especial para mim. É o meu melhor amigo e o mesmo sobrenome foi motivo para várias brincadeiras... Dizíamos às pessoas que éramos parentes, e é assim que o vejo... – sorriu – Como se ele fosse meu irmão. E... Bem... De vez em quando – sempre... – é extremamente protetor. Sinto muito pelos olhares atravessados. Não o leve a mal... O Kim não é um garoto ruim. Só não quer me ver triste ou ferida...
Não citou o detalhe de que Kim o viu conversando de uma forma “curiosa” com a tal Hyemin, a Nojentinha mimimi. Não precisava entrar em maiores detalhes, né? E começava a imaginar que... nesse caso... Kim sentiu ciúmes do antigo conflito ao invés de irritação com a possível chance de Jung-Mi estar brincando com seus sentimentos.
Aquele orelhudo... Mais escorregadio do que manteiga!!!
- Estamos enfrentando uma situação complicada e que gera muita desconfiança. Acho que isso o deixou mais... arisco. Mas, tudo vai se resolver – falou de maneira positiva - E sobre aquele episódio horrível... – Sunny mordeu o interior das bochechas – Obrigada... de novo. Você não tem ideia do quanto foi... importante o que fez pela gente.
Sunny abriu a latinha de refrigerante e despejou o conteúdo no copo até enchê-lo na metade.
- Não se desculpe mais, Jung-Mi. Não passou de uma série de desentendimentos. Porém... Caso queira mesmo reparar tamanha descortesia... – por um instante, ele poderia pensar que Sunny falava sério, mesmo depois de tudo que ouviu – Existe um jeitinho.
Secou as mãos no short e pegou a câmera, apertando o botão algumas vezes antes de entregá-la a ele. Quando segurasse o objeto, Jung-Mi veria a foto em que captou as flores de cerejeira no ângulo digno de um quadro - Se não for pedir demais ou algo muito pessoal... Poderia, por favor, revelar essa foto e me dá-la? Er... Desculpe se estou sendo inconveniente... – pegou o copo e começou a bebericar a bebida, aproveitando para molhar a garganta também – Parece que as pétalas estão se mexendo... É uma das minhas favoritas.
Mas não forçaria a barra. Caso ele não estivesse confortável, Sunny iria entender.
Então... Ela viu a necessidade de uma pergunta em especial e, dessa vez, olhava para os lados, meio alheia, porém inteiramente consciente.
- Na escada... Uma garota o convidou para conversar. MiSoo... – recordava-se vagamente do nome, mas a animação dela era bastante contagiante – E percebi que... Ahn... havia certa intimidade... entre vocês...
Tossiu de leve.
- Ela é muito bonita...
Sun-Hee comentou com um beicinho, ainda evitando encará-lo.
Estava fazendo algo que não gostava.
Rodeio.
Aqui, ali, cá e lá...