Lisbeth Tozier

Ao longo de várias gerações, a família de Lisbeth Tozier sempre foi aliada aos altos círculos do poder. Corria em suas veias o dever de manter a ordem social a qualquer custo. Do contrário, as pessoas caminhariam à destruição, como constatado nas guerras que as levaram ao completo isolamento. Desde que seu avô, um membro do Conselho de Defesa do Vault 265 fora assassinado por um rebelde, ela descobriu, ainda criança, que a falta de orientação - ou melhor, doutrinação - levaria a novas ondas de violência.

- Todo ser humano é uma ameaça em potencial - repetia seu pai - e nós, que tanto nos dedicamos à manutenção da paz, somos os primeiros alvos.

Ninguém, absolutamente ninguém, iria ameaçar sua família! Sua preservação dependia de duas capacidades: a de controlar este bando de degenerados e a de se defender, caso a primeira etapa falhasse. Por isso, Lisbeth se aprofundou no campo da psicologia e ainda obteve um rígido treinamento militar.

A confiança nestes ideais levou o governo a determinar que Lisbeth trabalhasse pastoreando as ovelhas negras que insistiam em tentar se desgarrar do rebanho. Uma vez identificadas, elas eram encaminhadas ao seu consultório, onde a jovem traçava um perfil detalhado de cada uma. Quais eram seus principais medos e inseguranças? De que forma poderia convencê-las de que estavam caminhando para esse trágico destino? Se não funcionasse, como o governo poderia usar essas informações para reprimi-las? Fazia parte do protocolo entregar a ficha dos pacientes com poucas chances de recuperação às autoridades de defesa. Poucos dias depois, todos eram presos.

Ella Mae Kaspbrak era sua paciente mais antiga. Uma mulher com uma capacidade intelectual tão notável que nem em um milhão de sessões, Lisbeth conseguiria fazê-la mudar de ideia.

Classificação de periculosidade: crítica.

Mas mentes brilhantes despertam fascínio nas pessoas, mesmo em seus adversários. A psicóloga não tinha coragem de entregá-la, porque durante as sessões ela vislumbrava uma fresta na cortina de ferro que era o Vault. Até que o perigo se tornou iminente demais para se manter obscurecido pela mera vaidade intelectual de Lisbeth. Ela sabia a atitude correta que deveria tomar.

Sabia mesmo?

A principal fraqueza de Ella Mae era seu único filho adolescente. Lisbeth decidiu que iria se encontrar com ele dias depois de mandar prender sua mãe. Foi nesse encontro que descobriu que Ella Mae fora executada assim que chegou à prisão.

O que antes era uma fresta nas paredes do Vault, agora mais parecia uma janela. Estava evidente o papel questionável que ela desempenhava para manter as pessoas enterradas, sem nunca poderem ver o horizonte. Uma paisagem com a qual ela mesma nunca pôde nem sequer sonhar; até conhecer Ella Mae.

Como controlar o desespero para tratar de pessoas que não eram doentes? Como encarar as sessões com outros psicólogos do Overseer para atestar que ela estava apta a continuar na profissão?

A resposta era uma droga, inicialmente desenvolvida para o tratamento de distúrbios psicossociais, conhecida como Fadeaway. Ela gerava relaxamento, confiança e autocontrole, mas fora proibida porque em altas concentrações era capaz de fazer o usuário acreditar em qualquer coisa.

Na primeira semana de uso intensivo, a droga ajudou Lisbeth a aceitar sua atividade profissional. Com o tempo, percebeu que só precisava defender o seu trabalho quando estava sob avaliação psicológica. O sucesso foi inquestionável, por isso ela começou a prescrever a mesma droga para alguns pacientes. Enquanto estavam sob o efeito da substância, ela os convencia de que era importante acreditar na manutenção do status quo. Quando ela os levava ao consultório, onde as sessões eram gravados, eles só precisavam repetir o que aprenderam minutos antes.  

Sentia agora que seu dever era selecionar quais pacientes seriam acobertados para, quem sabe, dar início a uma rebelião. Só não esperava que, ao longo desse processo, faria uma descoberta extraordinária.  

À medida que estudava o efeito da droga em diversos perfis de pacientes, notou que alguns alcançavam um estado de completa submissão ao que ela dizia. A partir de então, passou conduzir experimentos para entender como a substância agia no organismo e, aos poucos, foi alterando sua composição até sintetizar uma droga capaz de controlar a mente dos usuários.