Sala de Sllaker

Era bom saber que as suas memórias aos poucos iam retornando, mas ele possuía uma sensação estranha em relação a esse sonho. — Senhor... — Ele chama, antes que o Sr. Arthur pudesse deixar o cômodo. — Eu acho que o meu irmão está em perigo. Você sabe onde ele está? — Perguntou, considerando que talvez o sonho pudesse ser um presságio. Ou talvez só estivesse muito cansado e imaginando coisas. No fundo, estava feliz por saber da existência do irmão. Era um estímulo necessário para não desistir e continuar vivendo.

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Tyler se deita. O quarto está totalmente escuro. Não havia muito o que fazer. Ele não sabia quase nada sobre seu passado, onde morava ou quem eram seus amigos. Não havia um jeito fácil de encontrar o seu irmão. Aquilo o atormentou. Ele esperava poder dormir um pouco e descansar, amanhã provavelmente seria mais um dia de exercícios e treinos. Mas não conseguiu. Toda vez que fechava os olhos, a imagem de Nick vinha em sua mente. — "Eu te amo." — Uma lágrima escorreu dos seus olhos. Ele precisava ser forte, se não por amor próprio, por amor ao irmão. Ele olha em volta, procurando conforto na escuridão. Era preciso confiar nas palavras do Sr. Arthur. — "A maioria das pessoas pensa que na escuridão não se vê nada, mas naquele momento a escuridão é tudo que você tem." — Ele, então, adormece.

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Tyler se levanta, com a luz da manhã batendo em seu rosto. Ele fica curioso em saber que notícia o Sr. Arthur tem para lhe dar. — Será algo sobre meu irmão? — Ele se apronta rapidamente e logo se encaminha para tomar o desjejum, se juntando ao Daniel e ao Sr. Arthur. Desejou-lhes bom dia e foi direto ao assunto. — Quais são as notícias senhor?

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Feliz com as notícias, ele dá um sorriso largo. — Obrigado Sr. Arthur, por tudo o que o senhor fez por mim. — Ele agradece, se perguntando o que seria dele se não tivesse encontrado o xamã. Era ótimo saber que o seu irmão estava seguro, aquilo tirava um grande peso das suas costas. Ficou surpreso em saber que o Nick também possuía poderes. Esperava que seu irmão não tivesse passado por tudo que ele passou. Agora, mais do que nunca, ele desejava ir para o Refúgio, encontrar o seu irmão e se manter em segurança. Para isso, era necessário treinar arduamente e atingir um controle mínimo dos poderes. A jornada até lá vai ser perigosa e Tyler precisa estar pronto para os desafios que encontrará.

Após terminar o café da manhã, ele se prepara e toma um banho. Alimentado e limpo, ele encontra o Sr. Arthur lá fora, sentado próximo a uma árvore. — Vamos começar? — Pergunta, pronto para iniciar os treinamentos diários.

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Tyler e Daniel se posicionaram para dar início ao treinamento. Ainda era manhã e o dia estava ensolarado, com poucas nuvens no céu. A alguns metros dali, sentado debaixo de uma árvore, o Sr. Arthur observa com a atenção de uma coruja cada movimento feito. Enquanto isso, seu filho Daniel aguarda o momento propício para entrar em ação e arremessar alguns dos objetos dispostos aos seus pés. Ele sempre parece meio embaraçado com essa situação, mas não há nada que o seu pai possa pedir que ele não possa fazer de bom grado.

Ao lado de Tyler, bem escura e em destaque na relva, estava a sua sombra. Por algum motivo, ela parecia melhor e mais forte do que na tarde anterior. Talvez fosse o sol, fazendo-a parecer com mais vigor e vida do que realmente tinha. Ou talvez fosse a melhora no estado físico e mental de Tyler, que depois de desmaiar de exaustão no dia anterior, havia recuperado suas forças e o entusiasmo novamente.

Por tudo isso, ele sentia-se bem para progredir no treinamento. No dia de ontem, ele havia tido algumas tentativas de sucesso, por isso estava confiante de que conseguiria com facilidade desta vez. Ele concentrou-se na própria sombra, fazendo-a sair do chão e tentando molda-la numa forma que logo se revelou um escudo. — Agora Daniel! — Ele avisa o rapaz, esperando que os objetos jogados sejam detidos pelo escudo.

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Tyler nem percebeu o tempo passar. Ele havia treinado durante toda a manhã e já estava exausto depois de tantas tentativas e repetições. Mas estava feliz pelo progresso feito nos treinamentos. Havia dominado a técnica do escudo e sua esquiva, ainda irregular, só precisava de um esmero maior. Daniel era um rapaz silencioso e tímido, mas, assim como o Sr. Arthur, era também bondoso e de bom coração. Sem a ajuda deles, com certeza Tyler não teria tido toda essa evolução. Por isso, era grato por essa segunda família que havia encontrado.

Eles entram, e logo são mandados ao chuveiro pelo senhor Arthur, que havia preparado um almoço caprichado. Ele toma o seu banho, limpando completamente o seu corpo, que ainda possuía algumas feridas em fase de cicatrização. Ele pôde reparar que estava melhor fisicamente, talvez até tivesse ganho algum peso, apesar do corpo ainda mirrado. Na mesa, Tyler ia se apressando para pegar alguma comida quando o senhor Arthur faz um sinal com a mão e, descontraidamente, eles dão início a uma oração. Todos agradecem pelo almoço e pelas bênçãos dessa manhã. Ao fim da oração, eles dão início a refeição, que é farta e suficiente para todos.

Após a sobremesa, que Tyler chegou a repetir algumas vezes, o senhor Arthur começa a dar as instruções do treinamento da tarde. Ele faz uma brincadeira e informa que, dessa vez, o Daniel será o rato e Tyler o gato. Enquanto o rapaz tenta fugir, Tyler deverá prende-lo pela sombra, congelando seu corpo e impedindo que ele se mova. — Eu tenho essa capacidade? — Ele indaga, surpreso, percebendo que o seu poder possui muito mais capacidades e possibilidades do que ele havia pensando previamente. — Ok, senhor. — Ele diz. — Vamos lá Daniel. — Ele chama o rapaz, que estava um pouco inquieto depois de ouvir as instruções do pai.

Do lado de fora, o Sol continuava radiante e brilhante num céu sem muitas nuvens. Daniel e Tyler se posicionam, um pouco distantes um do outro. Ele se concentra, tentando manter o foco em sua sombra, enquanto nota ela fazer alguns movimentos abaixo dos seus pés. Ele se esforça, e faz um movimento pondo sua sombra negra em perseguição ao Daniel, que corre tentando escapar.

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— Que droga! — Tyler resmunga, lamentando a falha. — Foi por pouco. — Ele diz, sorrindo para o Sr. Arthur, que lhe passa algumas instruções de posicionamento e postura. — Está pronto para outra tentativa? — O ancião pergunta. — Sim. — Tyler assente com a cabeça. — Sinto que agora eu vou conseguir. — Completa, mantendo o pensamento positivo.

Ele observou o Daniel tomar o seu posicionamento anterior novamente, enquanto aguardava pelas suas instruções. Através da visão periférica, Tyler conseguia enxergar o Sr. Arthur com os braços para trás, examinando-o com aquele olhar ocasional de coruja. Ele respirou fundo, enchendo seus pulmões de ar, e fez um sinal de cabeça para o Daniel, que pareceu despertar-se de algum devaneio, à medida que começava a correr, ziguezagueando em direções aleatórias.

Tyler fechou os olhos por alguns segundos, fazendo-se ficar em completa escuridão. Por um curto momento, tudo ficou em total silêncio. Não havia vento ou canto de pássaros, nem mesmo o farfalhar das folhas das árvores. Apenas a sua respiração e os leves batimentos do seu coração eram audíveis. Ele aproveitou o momento, focando sua atenção total em sua sombra e na sua postura corporal, agora corrigida pelo Sr. Arthur. Ao abri-los novamente, observou a posição do Daniel, enquanto uma mancha de aspecto negro movia-se pela grama verdosa, pondo-se em perseguição ao jovem, que arregalou os olhos, aflito. Ela movia-se com agilidade e parecia não se enganar com as tentativas do Daniel de desviar-se.

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Tyler exibiu um semblante de contentamento ao perceber que havia, com sucesso, conseguido executar a tarefa instituída pelo Sr. Arthur, que logo se aproximou para parabeniza-lo. Logo depois, o ancião preocupou-se também em verificar se o filho, Daniel, estava ferido. Após a negação do rapaz, que declarou estar tudo bem, o Sr. Arthur estipulou que Tyler continuasse o treinamento e estipulou que o jovem obtivesse, pelo menos, oito sucessos em dez tentativas.

— Ok senhor, farei o meu melhor. — Tyler respondeu, gesticulando positivamente com a mão. Ele dirigiu sua atenção ao Daniel, que mantinha o seu típico olhar solícito. — Vamos continuar? — Tyler perguntou. — Sim, vamos. Mas não vou facilitar agora, hein. — Daniel respondeu, sorrindo. Tyler reagiu com outro sorriso e um olhar desafiante.

Após um certo tempo e algumas tentativas, Tyler sentiu-se confiante para tentar aumentar a dificuldade do treinamento. Ele estava progredindo rápido e um pouco de complexidade era necessária para um melhor desenvolvimento e aptidão dos poderes. — Ei, Daniel, tente se afastar um pouco mais. — Ele apontou para um canto, onde havia algumas árvores. — Tente escapar pelas árvores, será mais difícil para mim assim. — O rapaz acatou e, afastando-se, aproximou-se da localidade sugerida. Tyler olhou para o Sr. Arthur, temendo uma possível desaprovação. Mas, para sua felicidade, o ancião apenas balançou positivamente a cabeça, apoiando a ação.

— Certo... agora preciso me concentrar mais. Estou mais distante e as árvores vão tirar um pouco da minha visão, além de dificultar o apanhamento do Daniel. — Ele respirou fundo, enquanto retirava o acúmulo de suor da testa. — Vou conseguir, vou conseguir... — Repetia para si mesmo, enquanto corrigia sua postura e seu posicionamento. Fechou os olhos por alguns segundos, concentrando-se. Ao abri-los, notou o Daniel movimentando-se sinuosamente através das árvores. Quase que como um reflexo involuntário e parte integrante do seu corpo, a sombra negra que, antes repousava abaixo dos seus pés, arrancou velozmente e prosseguiu na direção do jovem Daniel.

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