ORDENS SATÂNICAS
Os anjos que tomaram o partido de Lúcifer não só decaíram ao Sheol como foram permanentemente afastados da graça. Suas funções originais não eram mais requeridas, então eles se adaptaram à natureza do inferno. As ordens satânicas se formaram, portanto, a partir da corrupção das sete castas celestes.
O Sheol é um ambiente muito mais competitivo que o paraíso. Para os celestiais, o respeito à hierarquia é algo sagrado: arcontes, príncipes e arautos detêm posições inabaláveis. Já para os sheonitas, o avanço de ciclo é uma questão de sobrevivência: quem não consegue galgar postos de comando acaba eliminado por um oponente mais forte.
Larvas, escravos e raptores: Quando um ser humano morre, três coisas podem acontecer. Se ele tiver espírito benevolente, sua alma sobe ao Terceiro Céu, sem escalas. Caso tenha cometido atos duvidosos, é julgado na Gehenna, podendo ou não se redimir. Os que não conseguem se libertar de seus pecados e os perversos, que não carregam nenhum peso na consciência, são atirados ao inferno. Condenados a passar a eternidade no Sheol, chegam lá sem forma definida: lembram minhocas gorduchas, chamados por isso de larvas. As larvas que - por pura sorte - escapam dos predadores crescem e se tornam espíritos-escravos, podendo oferecer seus serviços a um demônio mais velho. Outra possibilidade é o novato se alistar entre os raptores, diabretes oportunistas cuja função é denunciar e capturar anjos perdidos - na Haled e fora dela.
Um raptor que tenha conseguido capturar um celeste, ou um espírito-escravo que tenha servido bem a seu amo, pode - ou não - ser aceito em uma das ordens satânicas.
Malikis: De todas as ordens satânicas, nenhuma representa tão bem quanto os malikis a distorção dos valores celestes. Muitos deles foram querubins, que de leais passaram a caóticos, de civilizados se tornaram bárbaros. Talvez a única semelhança entre querubins e malikis seja o amor pela batalha. São lutadores sanguinários, desprovidos de qualquer senso de justiça. Atuam como as máquinas de guerra de Lúcifer; são os temíveis guardiões do inferno.
Os azus são guerreiros insanos, sempre agitando porretes e clavas, ávidos por esmagar e matar. Lutadores indisciplinados, possuem resistência sobre-humana e força física invejável.
As eríneas são arqueiras talentosas, que sobrevoam o campo de batalha disparando flechas e exterminando suas presas. Estão organizadas em hostes e regimentos, o que não indica polidez: as eríneas têm fama de cruéis e até sádicas.
Alguns malikis se tornaram tão ferozes tão ferozes que assumiram corpos animalescos. Os shaitans são devoradores de almas, que vasculham as trincheiras mastgando e engolindo oponentes feridos.
:: Natureza: os malikis não dispensam uma boa luta - na verdade, não dispensam nenhuma luta - e costumam ser os primeiros a entrar em combate. Não gostam de acatar ordens e é certo que apenas o fazem por medo da punição, Os malikis tentam, na medida do possível, instaurar o caos sobre todas as coisas, o que é ao mesmo tempo uma vantagem e uma fraqueza. Frequentemente, o ódio e a raiva afetam suas decisões e os colocam em posições delicadas.
:: Apelido: monstros.
:: Base de operações: os malikis estão espalhados desordenadamente pelo inferno, porém as hostes mais copiosas estão estacionadas no nono círculo, Zaqqum.
:: Organização: Apollyon, o Exterminador, duque do nono círculo, é provavelmente o malikis mais famoso. Contudo, os membros da Tetrarquia (grupo de quatro malikis que governa Zaqqum, composto por Nergal, de Mãos Negras; Ammon, o Lobo Sangrento; Flauro, o Inimigo; e Halfas, o Destruidor de Cidades) são os únicos que conseguem se impor e comandar essas feras.
Satanis: Antes da guerra no céu, a maioria dos satanis eram serafins - e uns poucos, elohins. Quando Lúcifer chegou ao infernom precisou de indivíduos perspicazes, que o ajudassem a organizar as funções burocráticas, a controlar ideologicamente as outras castas, e assim nasceram os satanis. Hoje, eles se consideram os mais "civilizados" dos sheonitas, chegando a tecer um código de honra. Muitos satanis ainda se apresentam como serafins, alegando que foram afastados da graça simplesmente por "pensar diferente".
Os copistas são - literalmente - os burocratas do inferno. Organizam papéis, escrevem autos e ajudam seus senhores como secretários e escrivães. Podem ser encontrados não só nos tribunais sheonitas como nas grandes bibliotecas infernais.
Os séraphs são aqueles que conservaram, mais que todos, a natureza aristocrática dos serafins. Ocupam posições de liderança política, detestam sujar as mãos, adoram governar, amam a intriga, a retórica e a diplomacia.
Os cavalarianos são os satanis belicistas, alguns descendentes dos comodoros. Agem como cavaleiros feudais, participam de justas e entram montados em batalha. Seguem rígidos códigos de conduta.
:: Natureza: os satanis gostam de dar ordens e sempre tentarão assumir o controle. São autoconfiantes ao extremo, embora nem todos sejam arrogantes. Nutrem opiniões inabaláveis acerca dos próprios valores e não hesitam em confiar (demasiadamente) em suas habilidades. Essa determinação exagerada já levou mais de um satanis à ruina.
:: Apelido: fidalgos.
:: Base de operações: os satanis se concentram no primeiro círculo, Jahannam. Ocupam-se da política e da burocracia infernais e quase nunca se manifestam na terra.
:: Organização: os satanis têm seus próprios domínios e feudos. Quando lhes é ordenada uma missão, a maioria responde a Asmodeus, o duque do primeiro círculo.
Belials: Com uma ou outra exceção, os poucos elohins que caíram se reorganizaram no inferno sob a casta dos belials. Inteligentes, astutos e carismáticos, são os demônios que, ao lado dos daimoniuns e das succubus, mais se relacionam com o mundo físico e a humanidade. São negociadores hábeis e com frequência viajam ao plano material no intuito de firmar acordos com homens e mulheres gananciosos, oferecendo dinheiro, fama e prestígio em troca de um pagamento - que geralmente é a própria alma do contratante.
Os gallus vigiam os cofres do inferno e a residência dos magnatas satânicos. Guardam as entradas e bloqueiam as saídas, impedindo que bens sejam roubados ou que determinado território seja invadido.
Os negociantes têm como função vir à terra e abordar seres humanos, oferecendo-lhes vantagens - de todos os tipos - em troca de pagamento. Possuem a habilidade de "oficializar" um contrato. Uma vez assinado com sangue, os termos devem ser cumpridos por ambas as partes.
Os sicários são os incansáveis capangas dos negociantes. Esses demônios horrendos são enviados para recolher o pagamento, conforme os termos estabelecidos no pacto.
:: Natureza: apesar de sua natureza maléfica, os belials têm um excepcional senso de justiça. Podem manipular uma pessoa e contar mentiras, mas jamais quebrarão um pacto estabelecido ou mesmo uma promessa verbal. Essa é, ao mesmo tempo, sua grande força e sua maior fraqueza. Muitos belials novatos já foram enganados por seres humanos, sendo obrigados a servir-lhes por décadas.
:: Apelido: comerciantes.
:: Base de operações: os membros dessa casta são apegados aos bens materiais e gostam de viver na Haled. Alguns chegam a trabalhar como profissionais liberais em firmas de advocacia, assumem cargos políticos ou se destacam como empresários. Quando estão no inferno, preferem habitar os centros urbanos, como a Cidade de Dis, no quarto círculo. Lá, gerenciam a Casa das Almas, ums instituição destinada a transformar energia vital em espécie, o chamado côndice, moeda usada no Sheol e fora dele.
:: Organização: Belial, o Príncipe da Mentira, é tido como o patriarca da ordem. Esse famoso diabo, apesar de ostentar o título de príncipe, é oficialmente um dos barões do inferno, uma figura quase tão poderosa quanto os duques. Ele governa seu domínio como quem comanda uma grande empresa, oferecendo cargos de direção e chefia aos funcionários mais esforçados. Kobal, Sorriso de Ferro, é outro importante membro da casta, padroeiro dos advogados.
Daimoniuns: É difícil imaginar que um ofanim se juntaria a Lúcifer em sua rebelião, mas a verdade é que alguns o fizeram, não por ódio ou raiva, mas por achar - genuinamente - que estariam ajudando a acabar com a tirania do arcanjo Miguel, que já vitimara milhões de seres humanos. Esses ofanins tiveram de se adaptar ao Sheol, e o único jeito de fazer isso foi retorcer por completo sua natureza celeste. Enquanto os ofanins lutam pela salvação da alma humana, os daimoniuns têm por objetivo corromper os mortais. São os únicos diabos que não têm a capacidade de se materializar, atuando no plano físico através da possessão.
Os nikibis vagam pelo plano astral sussurrando aos humanos conselhos ruins e tentações irresistíveis, semeando a discórdia, a intriga e todo tipo de sentimentos nefastos.
Os degenerados estudam a pessoa até encontrar um tipo de vício (latente ou adormecido), acentuando a dependência e tornando a vítima submissa ao narcótico - e ao demônio, por consequência.
Os montadores desenvolveram o talento de quebra a força de vontade dos seres humanos e tomar-lhes o corpo. Sem a ação de um exorcista, podem habitar a carcaça por anos.
:: Natureza: os daimoniuns são corruptores terríveis, que se apoiam em uma ou outra fraqueza da vítima para levá-la à loucura. Sentem o impulso irresistível de atiçar todos à sua volta (não só os seres humanos) e praticar ações perigosas e até suicidas.
:: Apelido: encostos.
:: Base de operações: o plano astral. Quando estão no inferno, costumam se reunir no quinto círculo, Duzakh.
:: Organização: Bael, o Infeliz, senhor do quinto círculo, é uma figura de respeito. Abissus, o Desesperado, trabalha como porta-voz da ordem entre os comissários de Lúcifer. Baals:Os hashmalins que acompanharam Lúcifer em sua revolta - e foram muitos - se restabeleceram no inferno sob a liderança de Baal, o Senhor das Masmorras. Os hashmalins têm, até hoje, a função de torturar almas humanas na esperança de torná-las mais dóceis, fazendo-as enxergar seus pecados. Os baals, por outro lado, flagelam os prisioneiros com o objetivo de destruir-lhes a humanidade, despedaçar-lhes a alma, quebrar o último vínculo que eles têm com a terra, transformando-os assim em demônios.
O grosso dos baals são verdugos. Sua demanda é infligir o máximo de dor, sofrimento e angústia aos prisioneiros que caem em suas mãos, sejam espíritos recém-chegados ao inferno, sejam outras entidades aprisionadas.
Os inquisidores têm uma função muito peculiar. Sua tarefa é fiscalizar os outros demônios, para saber se estão agindo segundo os princípios da casta. Os contraventores são denunciados e levados ao Tribunal das Correntes, no quarto círculo infernal.
Os carcereiros são encarregados de fazer a segurança das câmaras de tortura, guardar os corredores e os portões das cadeias.
:: Natureza: como a maioria dos demônios, os baals lutam pela corrupção dos terrenos, infligindo a eles todo tipo de dor - física, mental e espiritual. São de personalidade sádica e às vezes até masoquista, sentindo verdadeiro prazer em causar dano a terceiros. Em certos momentos, isso chega a ser uma fraqueza: um baal não se satisfaz em matar um inimigo; precisa capturá-lo e aplicar-lhe um castigo à altura.
:: Apelido: carrascos.
:: Base de operações: os baals estão em praticamente todas as masmorras do inferno, mas seu ponto de encontro são os calabouços de Zandrak, no terceiro círculo. Quem governava esses túneis era o demônio Balor, executado por trair a confiança de Lúcifer. Hoje, a regente da prisão é Anazareth, a Condessa dos Vermes.
:: Organização: Baal, o Senhor das Masmorras, é o líder suoremo dos baals. Anazareth gerencia os calabouços de Zandrak sob suas ordens. Zanathus: Na maior parte oriundos dos ishins, os zanathus são os demônios que governam as forças elementais. Não só ajudaram Lúcifera acender as fornalhas do inferno como também o auxiliaram a estabelecer os limites físicos dos territórios satânicos, considerando que os zanathus (assim como os ishins) são construtores, aptos a erguer fortalezas, projetar muralhas e mover montanhas inteiras. Estão divididos em quatro províncias: fogo, terra, água e ar. Os zanathus mais novos, porém, tendem a se especializar nas substâncias paraelementais (gelo, fumaça, magma, plasma, vapor, lama, poeira, rocha e eletricidade) e nas semielementais (vácuo, petróleo, carvão, fuligem e borracha, entre outras).
Os reguladores controlam o clima dos nove círculos, esquentando vulcões, criando tempestades, cavando rios e congelando lagos. São os responsáveis por tornar o inferno habitável, por isso se consideram superiores.
Os khurãgas são figuras atrozes que incorporaram apenas o lado macabro de determinadas forças animais. Surgem na forma de aranhas, lobos, panteras e outras bestas de igual selvageria.
Os efreets são os demônios artesãos, que constroem os castelos e as fortalezas satânicas, bem como os objetos místicos usados pelos duques, barões e outros diabos de hierarquia elevada.
:: Natureza: os ishins trabalham para preservar a natureza, e os zanathus de tudo fazem para deteriorá-la. Para eles, nada se perde, tudo se transforma. Os quatro elementos vão continuar existindo, independentemente dos seres humanos. Assim, a poluição das cidades, no fim das contas, é benéfica aos demônios, pois, segundo eles, acelera o processo de degradação social. Os zanathus, portanto, estão sempre inclinados a estragar tudo o que existe, maculando um belo canteiro de flores ou enegrecendo os corações mais sensíveis.
:: Apelido: imundos.
:: Base de operações: os zanathus estão espalhados por todo o Sheol, mas muitos fixaram seus castelos no sétimo círculo infernal.
:: Organização: cada província tem um comandante, chamado pela casta de príncipe ou princesa. Bel, o Senhor do Fogo, é o píncipe do fogo; Glasya, Coração de Cristal, é a princesa da água; Zagan, o Mestre das Trnasmutações, é o príncipe da terra; e Hékate, a Mãe Primordial, é a princesa do ar. Succubus e Incubus: As succubus (fêmeas) e os incubus (machos) podem traçar sua ascendência até Lilith, a primeira mulher de Adão, que foi expulsa do Jardim do Éden. Em troca de informações privilegiadas sobre Metraton, Lúcifer prometeu a ela um reino no inferno; não cumpriu a promessa, mas a tornou líder da casta. Sob a tutela de Lilith, reúnem-se os demônios que se especializaram em tentar homens e mulheres por meio da sedução - não necessariamente sexual. Trata-se de uma casta nova, composta quase inteiramente por antigos seres humanos que decaíram ao Sheol. A fim de provar seu valor, muitos succubus e incubus se destacaram durante a Idade Média e ainda se destacam, seduzindo e corrompendo os mortais de princípios fortes. Para esses pervertidos, quanto mais complexo o desafio, melhor.
Os rabashas são sedutores que se materializam na terra sob a forma de mulheres e homens belíssimos, copulando com os mortais e sugando sua energia.
Os yakshas são também sedutores, mas não necessariamente sexuais: incitam as pessoas ao delírio, desregulando as emoções, aumentando a libido e a euforia criativa.
As lâmias são demônios que vagam pelo primeiro círculo do inferno. Seu apetite é tão grande que o sexo já não as satisfaz: em vez disso, preferem devorar - literalmente - os órgãos sexuais masculinos.
:: Natureza: as succubus e os incubus são, a exemplo dos daimoniuns, demônios ligados à terra e aos seres humanos. Procuram corromper a alma dos entes terrenos seduzindo-os. São galantes e charmosos, mas sempre escondem intenções perversas. Os membros dessa casta são de personalidade anarquista: recusam-se a obedecer a ordens e amam a liberdade acima de tudo.
:: Apelido: libertinos.
:: Base de operações: as succubus e os incubus residem no primeiro círculo infernal, mas com frequência visitam a Cidade de Dis, no quarto círculo. Lúcifer e os duques, bem como barões e baronesas, mantêm haréns de succubus e incubus.
:: Organização: Lilith era a rainha das succubus e dos incubus, até ser morta por Apollyon, acusada de traição contra Lúcifer. Nahama, sua principal cortesã, é agora quem inspira e organiza a casta.
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(Filhos do Éden: Universo Expandido - Eduardo Spohr e Andrés Ramos) |