20 de nightal de 1367 – Colégio da Senhora, Lua Argêntea O silêncio súbito fez o grito de Taeghen ecoar mais uma vez. Falear estava sentado em uma cadeira simples de madeira de frente para uma bancada. Mais alta, as quatro mesas eram grandes e macidas, feitas de carvalho e ricamente entalhadas. Atrás de cada uma delas existiam quatro cadeiras, uma para cada um dos dezesseis professores das quatro turmas do colégio. E, ainda mais acima, havia o púlpito, reservado para o diretor. Havia, no resto do salão, dezenas de cadeiras de madeira no chão e em balcões que se erguiam até muitos metros do chão. Do teto pendiam candelabros de ferro e deles escorria cera branca que hoje se pareciam muito com lágrimas. O grande salão de debates do Colégio da Senhora estava cheio. Raras são os dias em que ele fica sem assentos vazios; diversos alunos preferem estudar à perder seu tempo ouvindo uma série de discursos e avisos que serão reproduzidos depois. Mas hoje era um dia atípico, pois um aluno, um semelhante, havia matado outro coléga. Uns diziam que à sangue frio, outros que fora um acidente, e havia o rumor, esse o mais exdrúxulo de todos, de que Faelar, o acusado, era na verdade um espião Zentharin e já um mago formado, estando no colégio apenas para matar possíveis ameaças à Rede Negra. Independente da história ou boato, porém, Taeghen estava morto e o elfo dourado era o culpado, isso era a única coisa que realmente importava para Faelar. Os professores do elfo já estavam na bancada, juntos dos professores das outras turmas, e eles olhavam para Faelar constantemente, preoupados com o destino do jovem aprendiz. Eles conheciam bem o elfo e sabiam que Faelar e Taeghen eram amigos, portanto não foi difícil fazer com que acreditassem na verdade. Os outros professores, no entanto, não tinham a mesma convicção de que tudo tivesse sido um acidente. Pessoas importantes de Lua Argêntea vieram assistir ao julgamento do mago, realizado no Colégio da Senhora a pedido do Diretor Vihuel. Sacerdotes dos grandes templos da cidade, professores dos outros colégios de magia e Faelar ouviu pessoas dizendo que Taern e a própria Senhora Alustriel estavam presentes, apesar do mago não ter visto nenhum dos dois. As conversas à meia voz dominavam o salão até instantes atrás, quando o Diretor Vihuel entrou no salão e todos se levantaram. Vihuel era um homem bom, mas conservador, e isso gerava contradições frequentemente, e dizem que isso piorou depois do Tempo das Perturbações, com a morte de Mystra e a ascenção de uma mortal como deusa da magia e as mudanças que vieram junto com ela. Mas a verdade é que nada disso importa mais e importará ainda menos ao final de tudo. – Sentem-se, por favor – Vihuel estava de pé atrás do púlpito. Aparentando cerca de setenta anos, o diretor tinha uma barba longa e muito bem aparada, com o final preso por um anel de prata, os cabelos brancos chegavam quase na cintura e o rosto era cortado por muitas rugas. Os olhos verdes eram pequenos e vivos, raramente deixando algo passar desapercebido. Hoje o Diretor Vihuel vestia um robe negro com a bainha das mangas e o colarinho prateados, e vários – Estamos aqui hoje por causa de um evento triste. Duas vezes triste. A morte de Teaghen Vhanglar por Faelar Elgara, ambos alunos deste colégio. Casos como esse fogem da alçada desta instituição, portanto eu agradeço ao Alto Mago Taern Chifre-Lâmina por permitir que Faelar fosse julgado aqui. Este era o último dia dos três que o processo durou. No primeiro o caso foi apresentado e Faelar apresentou o pergaminho que falava sobre o antigo templo élfico e falou em sua defesa, já que não havia testemunhas que pudessem atestar a veracidade do que o mago dizia, e o elfo foi indagado sobre o inceidente por diversos professores. No segundo houve uma longa e tediosa deliberação sobre os perigos de se sair do Colégio sem autorização ou supervisão, sobre os problemas em não saber com o que se está lidando e, principalmente, sobre os perigos ao se usar a Arte sem levar em consideração os outros dois tópicos. Hoje, todos estavam ali apenas para ouvir a sentença julgada pelo Diretor Vihuel e os professores. – Após muita discussão, acalorada em diversos momentos, os professores deste colégio e eu chegamos à um veredito e à uma sentença, que serão proferidos aos presentes aqui hoje, incluindo o acusado – O diretor olhou para o elfo – Faelar Elgara, deseja dizer algo antes de ouvir o que foi decidido? |
Amargo Egresso
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Amargo Egresso
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Re: Amargo Egresso
Faelar não acordou aquela manhã, porque não dormira aquela noite. De fato, não conseguia entrar em seu transe élfico desde o incidente naquelas ruínas. Bastava fechar os olhos para que a imagem do cadáver de Taeghen invadisse sua mente, junto com o som de seus gritos.
Aquele seria o dia de seu julgamento, o dia em que sua pena seria proferida. Estranhamente, não estava nervoso. Depois de tudo pelo que passara nos últimos dois dias, aceitava com serenidade o ultimato. Poderia, pelo menos, colocar um ponto final naquilo e deixar tudo para trás. Ou assim pensava.
Sentado no chão de seu dormitório, começou a preparar algumas magias. Era mais um rito diário que virou hábito do que algo pensado, já que provavelmente estava fazendo aquilo por nada. Poderia ser preso naquele dia, ou morto, e teria preparado seus feitiços à toa. Mas, ainda assim, seguiu com seus ritos; ao menos acalmavam-lhe a mente.
Levantou-se ao terminar, pegou seus pertences - já previamente juntados e arrumados na noite anterior - e seguiu para o salão de debates do Colégio da Senhora, onde seu destino seria decidido.
A expressão do elfo do Sol era indecifrável. Sentado no salão cheio, podia sentir todos os olhares voltados para si. Mas seu rosto estava vazio de expressão, e seu olhar vagava por memórias esquecidas.
Seu devaneio foi interrompido com a chegada do Diretor Vihuel. As conversas cessaram e todos no salão ergueram-se respeitosamente, inclusive Faelar. Até então estava tranquilo, mas com a chegada do imponente Diretor, subitamente o peso do que estava acontecendo caiu sobre seus ombros. Nervoso, sentia seu coração palpitar e suas mãos tremerem.
Vihuel ocupou seu púlpito e pediu para que os presentem voltassem a se sentar. Assim fez Faelar, olhando com expectativa para o Diretor. Sabia que sua defesa fora extremamente frágil, mas não tinha muito o que fazer. Afinal, por mais que não tivesse tido a intenção de matar Taeghen, fora ele que levou o amigo àquela ruína, fora ele que atraíra o guardião, e fora ele que conjurara o feitiço que veio a matar o outro elfo. Não sabia se algum dia se perdoaria por tudo isso.
Depois de algumas palavras solenes, o Diretor dirigiu-se a Faelar, perguntando-lhe se queria falar alguma coisa. Lentamente, o elfo dourado levantou-se, cabisbaixo.
- Reconheço meus erros, senhor - disse, em uma voz suave, de tal modo que quase não podia ser ouvido pelos presentes - E aceitarei qualquer pena que decidiram aplicar.
Com isso, volta a se sentar, sem coragem de olhar nos olhos do Diretor enquanto aguardava a pronúncia de sua sentença.
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- Mensagem nº3
Re: Amargo Egresso
– Duas dezenas atrás, Teaghen Vhanglar foi morto nas ruínas de um templo élfico ancestral na Floresta Alta. Segundo o acusado e única pessoa que estava no local na hora do incidente além da vítima, as circunstâncias da morte são atribuídas à uma área de magia selvagem, que aumentou a potência uma de suas magias antes de atingir Teaghen – O Diretor Vihuel falava gesticulando com a mão esquerda enquanto segurava a borda do púlpito com a direita. Ele olhava para todo o salão, quando se voltou para Faelar – Ao invés de fugir e negar a morte do amigo, Faelar voltou até esta instituição e confessou, contando o ocorrido para um de seus professores e para mim. É por causa somente disto que a pena do acusado não será a estipulada pelas leis de Lua Argêntea, mas uma a qual eu e os professores deste colégio chegamos.
O coração de Faelar palpitava com força e a respiração estava ofegante. Suas próprias palavras ecoavam em sua mente junto do grito de seu amigo. As mãos suadas do elfo pendiam ao lado do corpo, que parecia muito mais pesado que o normal, a boca e garganta do mago estavam secas e parecia que não existia nada ao redor de Faelar, apesar da estranha sensação de ouvir algo barulhento. O elfo sentiu o sangue subir pelas veias até o rosto quando Vihual proferiu a sentença.
– Faelar Elgara, você foi considerado culpado pela morte de Teaghen Vhanglar – Nesse instante o silêncio foi rompido por dezenas de vozes, como era de se esperar – Silêncio! Todos começaram a se calar e Vihuel esperou a última pessoa ficar em silêncio para continuar – Depois de muita discussão, nós chegamos em um consenso sobre a pena. Faelar, você está, à partir de hoje e até o fim de seus dias sobre essa terra, expulso de Lua Argêntea. Você perde todo vínculo com o Colégio da Senhora e qualquer outra instituição desta cidade, devendo partir até o final do dia de hoje. Instruções adicionais serão dadas na minha sala. Esta seção esta encerrada.
Muitos dos presentes começaram a falar ao mesmo tempo, e Faelar não conseguia entender o que falavam nem mesmo os que estavam mais próximos dele; o mago estava completamente aturdido. Condenado ao exílio. O elfo crescera em Lua Argêntea, amava a cidade, e perdera tudo por causa de sua imprudência. Faelar estava tão absorto que não viu chegar os dois magos que iriam escoltá-lo até a sala do Diretor Vihuel. Um deles tomou o elfo pelo braço e apontou uma direção enquanto o outro mago seguia na frente, abrindo caminho.
- Garahel
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- Mensagem nº4
Re: Amargo Egresso
Enquanto se sentava, Faelar aguardava seu destino ansiosamente. Mal prestava atenção no ambiente ao seu redor; sua visão estava embaçada e podia sentir o próprio sangue pulsando em seus ouvidos. Tudo que importava eram as palavras de Vihuel.
O diretor descreveu a situação, e logo em seguida afirmou que foi a atitude de Faelar de retornar à cidade e confessar o crime que levou ele e os professores a decidirem de maneira diferente das leis ordinárias. Uma pontada de esperança surgiu no coração do mago, que passou a bater ainda mais forte, se é que isso era possível. Seu estômago estava embrulhado, e precisou se concentrar para não vomitar ali mesmo. Por favor, só diz logo a decisão...
E, enfim, ela foi proferida. Culpado. As palavras atingiram Faelar como facas arremessadas, destruindo o resquício de esperança que ainda mantinha. Então veio a pena: exílio. Nunca mais pisar no Colégio da Senhora ou em qualquer lugar de Lua Argêntea. O elfo podia sentir o mundo girar ao seu redor. O burburinho da multidão perdia-se em sua mente em um misto de sua própria voz, a voz de Vihuel e gritos de Taeghen.
Dois magos surgiram para levá-lo até a sala do Diretor. Com a visão embaçada e a mente perdida, Faelar apenas foi seguindo para onde indicavam. Não prestava atenção ao que fazia, nem para onde ia, nem em nada no mundo ao seu redor. Tudo que podia ver era o cadáver corroído de Taeghen, e tudo que podia ouvir era a sentença proferida, ainda ecoando em seus tímpanos.