Surpresas

23 de nightal de 1367 – Santuário de Mystra, Vale das Sombras

Ellywick recuperava o fôlego sobre as Sete Estrelas de Mystra.

O santuário da deusa, localizado em uma colina atrás do templo de Tymora, fica à dez minutos da vila do Vale das Sombras e a caminhada até ele é sempre tranquila, mas escalar os degraus da longa escada nunca é fácil e a neve só piorava as coisas. Uma pirâmide formada por três grandes degraus de seis, quatro e três metros, da base para o topo, uma escada cruzava os três níveis do santuário e Ellywick já tinha contado os degraus: oitenta e sete, sendo que o último é um pouco menor; problemas de engenharia, algo assim. O último degrau do santuário é coberto com o símbolo de Mystra feito em prata.

Ellywick era a única emissária de Mystra na região - claro que Elminster e Storm Mão Argêntea, além da finada Syluné, não estão nesse cálculo. Apesar que, pensando estritamente na liturgia, Ellywick talvez seja, de fato, a única sacerdotisa de Mystra no Vale das Sombras - e, mesmo que ninguém tenha dado essa tarefa para Ellywick, a gnoma sentia que acabava sendo sua obrigação cuidar do santuário, auxiliada pelos magos viajantes que passavam pelo Vale e moradores que faziam homenagens e dedicavam preces à Senhora dos Mistérios.

Os primeiros raios de sol refletiam na prata do símbolo de Mystra e cobriam Ellywick com uma luz argêntea ao mesmo tempo em que a clériga era banhada pelo amarelo-pálido do sol de inverno. Haviam algumas nuvens brancas no céu, revoadas de pássaros iam de uma árvora para outra, o vento não estava tão frio e o cheiro da natureza pela manhã inundava o nariz de Ellywick. A clériga, não mais que de repente, se lembrou de Jan, seu primo de quarto grau por parte da sua mãe, e sobre como ele sempre diz que o melhor horário para se regar, adubar ou colher nabos é pela manhã. (citação do jan sobre nabos). A clériga também se lembrou de todas as centenas de histórias que Jan contava, praticamente todas mentiras ou versões muito exageradas da verdade, e de todas as quiquilharias que ele inventa e vende ilegalmente em Athkatla. Um exemplo de gnomo, sem dúvida.

Ellywick afastou Jan de seus pensamentos junto com um punhado de neve que empurrou do topo do santuário. A gnoma levou uma vassoura de palha para auxíliar em todo o processo mas, felizmente, não havia muito o que limpar, já que nevou muito pouco durante a noite. Demorou cerca de uma hora para que Ellywick retirasse toda a neve e folhas do santuário, e apenas porque a clériga não tinha pressa. Havia muitas histórias sobre o santuário; proteções mágicas e maldições que afligiriam quem tentasse molestar a construção, e as pedras que formavam os degraus era cobertas de símbolos entalhados, além de runas em espruar, o idioma dos elfos, thorass, o alfabeto da língua comum e de outros idiomas humanos, e dracônico. Podia ser um bom passatempo tentar decifrar o que todos eles significam; como seu tio Fonkin costuma dizer, "se você precisa fazer algo contra a sua vontade, enrole o máximo que conseguir e encontre com o que se distrair".

Quando se preparava para ir embora, Ellywick ouviu um grito distante. Era um grito de mulher, logo outras vozes se somaram à ela e então o alarme que indica um ataque ao Vale das Sombras tocou, ecoando da Torre de Ashaba. A clériga sobressaltou-se, imediatamente pensando em sua mãe e apertando com força o cabo da vassoura. A gnoma preciptou-se para a trilha que descia a colina até a vila, mas deu dois passos e imediatamente parou, tomada pela surpresa. Uma figura, vestida completamente de negro e com um pesado capuz sobre o rosto, vinha em sua direção. Passado o susto inicial, Ellywick sentiu o coração palpitar com força, mas conseguiu ver que era um homem quem subia a trilha, os olhos fixos no caminho e não no final dele. A clériga tinha instantes antes de ser vista por quem quer que fosse aquela pessoa, e aquele era o único caminho para ir até a vila.