Sala do Matusael

Era um pesadelo. Mas parecia tão real... Mas aquela dor... A dor...

- Meu Deus, me ajude.

Olhei em volta, analisando aquele lugar. Meu corpo doía muito, em vários pontos. A nudez era o que mais me constrangia, mesmo estando numa condição higiênica horrorosa. Mesmo assim, meu primeiro instinto foi a água. Me arrastei até o rio depois de ler a tal mensagem. Com muito cuidado e muito lentamente para evitar as dores que os movimentos bruscos com certeza fariam causar pelos ferimentos que eu tinha. Lavei meu corpo o melhor que pude, tirando a imundice que eu tinha feito em mim mesma. Mergulhei por um tempo, ficando submersa o máximo de tempo que consegui segurar a respiração. Ali era tão quieto, tão calmo, tão reconfortante. Chorei ali, em baixo da água, assustada, desamparada, faminta, com sede, com frio, cansada e ferida.

Quando voltei à superfície respirei fundo várias vezes, buscando controlar aquele pânico repentino. Eu estava sozinha e precisava colocar a cabeça no lugar para conseguir sair daquela situação.

Não poderia saber quanto tempo estive ali, mas se eu ainda estava viva, com certeza não passei tanto tempo assim, visto que dormir desprotegida do frio por tanto tempo provavelmente me mataria, ou pelo menos me deixaria gravemente doente. Olhei de volta para a margem do rio, onde a pedra e o embrulho podiam ser vistos.

"Barbara..."

Não me lembrava desse nome. Aquilo era muito estranho. Estava tudo um caos. Deveria ter sido sequestrada, abusada, violentada e largada para a morte.

"Animais imundos. Vou me vingar de quem quer que tenha feito isso. Vão pagar pelo que me fizeram."

Mas não havia ninguém ali perto, pelo menos por enquanto. Fitei as casas ao longe e depois olhei na direção do sol. Aproveitei para beber uma boa quantidade de água do rio. Era melhor sair da água para me secar enquanto ainda havia luz. A noite com certeza se provaria complicada. Tinha que encontrar abrigo, tinha que me recuperar.

"Mas em quem eu poderia confiar?"

Aquele era um lugar estranho. E a puta da Barbara com certeza não era alguém para se confiar. Se sabia quem eu era, inclusive meu nome, e sabia onde eu estava para ter deixado essa mensagem, por que simplesmente não me ajudou? Que merda de joguinho era esse, cheio de palavra enigmáticas.

Respirei fundo e saí do rio, passando a mão por meu corpo a fim de afastar a água. Fui andando bem devagar, pé-ante-pé, até a árvore onde havia os restos do embrulho, a mensagem e a pedra. Juntei os três elementos para avaliar melhor, ver se não deixei nada passar.

Depois de avaliar aqueles objetos, sequei os cabelos apertando-os com as mãos. Deixei-os divididos em duas porções, colocando-os à frente dos meus seios, de forma a escondê-los minimamente. Peguei o papel que continha a mensagem escrita e ajustei-o o melhor que pude na cintura, tentando usá-lo como tapa sexo.

"As primeiras coisas primeiro."

O que eu mais queria era sair dali, mas precisava de roupas, qualquer coisa para cobrir o corpo. Talvez fosse perigoso, mas o que havia mais perto à vista eram algumas casas a uma certa distância. E foi para lá que rumei, andando bem devagar, procurando não fazer nenhum barulho e sempre atenta observando a minha volta para não ser surpreendida com a aproximação de alguma pessoa ou algum animal. Fiz tudo o que poderia fazer para me aproximar das cadas sem ser vista, para assim poder observar o lugar, procurando, principalmente, algum varal onde houvessem roupas penduradas.

Finalmente, um lugar bom para descansar.

Aquele reduto à beira do lago era maravilhoso. Pela primeira vez desde que acordei naquela situação me senti viva realmente, a ponto de esquecer, momentaneamente, tudo o que me tinha acontecido e pegar no sono durante a noite, em meio ao aroma agradável de flores, grama e terra úmida.

O sonho que surge em minha mente é extremamente agradável. A sensação de estar junto a rostos conhecidos, o cheiro e o gosto da pizza parecem me trazer à minha antiga realidade. Fico estasiada com aquele sentimento. Tento me prender ao máximo àquela fantasia gerada por minha mente.

Mas, por fim, a escuridão surge em meio a fisgadas na lateral do meu corpo. Quando sindo o puxão no meu braço, abro os olhos com certo desespero. O que vejo é algo tão inusitado quanto o que quer que tenha acontecido comigo. Uma mulher velha empunhando um arco e flecha, com cara de poucos amigos começa a me ameaçar. Ela começa a cuspir perguntas sem muito nexo enquanto eu tento me encolher, erguendo às mãos à minha frente tentando me proteger.

- Por favor, não me machuque. Eu não aguento mais!

O choro se precipitou durante a fala e solucei alto tentando puxar o fôlego enquanto chorava. A voz veio embargada no que se seguiu.

- Eu só quero ir pra casa. Por favor, me ajude. Alguém me agrediu. Acordei assim ali no mato. Estou com medo. E assustada. E machucada. E com fome. E com frio.

O tom final foi quase em desespero, como se eu tomasse conta de que eu estava realmente numa situação extrema de perigo. Até então, apesar de tudo, a visão das casas haviam me dado um pouco de esperança, por não me achar completamente perdida no meio de uma floresta, mas se naquelas casas morassem as pessoas que me tinha feito mal, provavelmente me pegariam novamente para terminar o que começaram.

Fitei a velho com os olhos molhados e uma expressão triste, torcendo para que ela se compadecesse de mim. Se fosse uma louca, acabaria com minha vida. A única coisa que veio na mente foi "Deus".

- Deus pai no céu, criador. Me perdoe pelos meus pecados e me recebe em teus braços se essa for minha hora.

Apoiei as mãos sobre minha cabeça, me encolhendo ainda mais.

Deprimente como a vida pode acabar subitamente.

A visão de minha algoz se tornara um tormento nos meus últimos momentos de vida. Me agarro à vida tentando retomar lembranças, pensando em como seria maravilhoso voltar para o momento onde tudo isso poderia ter sido evitado. Em vão. A vida real não permite tais regalias.

E então vem o momento fatídico. A velha solta a base da flecha e o arco faz seu trabalho de assassino. Vejo a seta vindo em minha direção e fecho os olhos, esperando que não doa muito. Curiosamente a única coisa que veio em minha mente foi um conhecido ditado. "Há três coisas na vida que nunca voltam atrás: a flecha lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida." Quantas oportunidades eu perdi? Quantas palavras que proferi fizeram mal a outros? Quantas flechas foram disparadas em minha direção? Essa última eu sabia a resposta. Apenas uma.

Quando tudo parecia perdido e eu me agarrava à esperança de viver apenas invocando a Deus no meu coração, algo surpreendente aconteceu. Ao abrir os olhos um milissegundo antes de a flecha me atingir, o tempo parece parar. O que se segue é algo quase indescritível, como se as coisas tivessem andando na direção contrária, retroagindo em nossas ações. E no instante seguinte, a flecha estava de volta pronta para ser disparada do arco. Minha expressão é de completo espanto. Minha boca estava aberta, mas só um fino chiado vindo do fundo da garganta pode ser ouvido, tentando imitar um grito que nunca aconteceu.

A velha também estava confusa, mas logo começa a falar. E a mudança de atitude de alguém que acabara de tomar a decisão de tirar minha vida, me deixa perplexa. Mas há de se entender, aquilo fora um...

- MILAGRE! HAHA! Foi um milagre! Você viu? Deus me salvou! Você é testemunha!

Me ergui desconcertada, sem saber o que fazer da vida que acabara de receber novamente. Ou talvez não fosse a mesma vida. Talvez fosse uma nova vida. Uma nova "oportunidade". A velha gira sobre os calcanhares e começa a andar em direção às cabanas. Fico com um sorriso bobo no rosto, parada por um momento. Tenho vontade de gritar, mas o jeito da mulher ter falado que ali era perigoso me impede, então apenas digo em voz baixa.

- Deus misericordioso. Todo poderoso, criador dos céus e da terra. Criador do Tempo e do Espaço. Aquele que tira e devolve a vida! Obrigada, obrigada! Serei eternamente grata!

Olhei para frente, dessa vez com a cabeça erguida e uma postura muito mais honrada, mesmo estando nua. Minha atitude tinha que ser diferente a partir desse momento de minha vida. E eu teria de viver de uma forma diferente. De uma hora para outra tudo aquilo parecia fazer parte de um propósito maior. A dor se tornou um leve adereço do êxtase. Comecei minha caminhada atrás da velha, ainda andando um pouco devagar por ainda estar fraca, mas meu espírito estava forte.

Segui a velha até onde quer que ela tivesse indo. E assim que paramos, quando senti uma oportunidade favorável, comecei minhas indagações.

- Quem é você? Que lugar é esse?

Eu tinha muitas outras perguntas a fazer, mas era melhor fazê-las com moderação. E se Deus quisesse, e eu imaginava que ele queria, eu teria muito tempo para isso.

Um abrigo improvável. Essa era a cabana da velha.

A velha me coloca para dentro de sua cabana. O lugar era estranhamente aconchegante, talvez pelo fato de eu ter passado várias e várias horas ao relento. Ela não responde minhas indagações e resolvo esperar para ver o que vai acontecer.

No ambiente que se mostrava ser um quarto, ela me mostra duas opções de vestimenta. Sorrio com apreço pelo simples fato de que poderei cobrir meu corpo devidamente. Escolho a túnica azul. A velha se desculpa pela maneira como agiu enquanto retruco com o cenho franzido. Era estranho ela achar que eu poderia confiar nela depois do que acontecera. Mas é claro que eu poderia tirar proveito do que acontecera, pelo menos em relação a manter-me em segurança. E ali era um lugar seguro, pelo menos por enquanto.

Ela diz para que eu tomasse um banho utilizando uma tina que havia num outro quarto, prometendo que em seguida teríamos uma conversa mais reveladora sobre todo o ocorrido. Dei de ombros. Era um boa oportunidade para eu avaliar o lugar. Mas antes de sair do recinto parei sob o batente da porta afetadamente.

- Obrigada.

Entrei no quarto ao lado, conforme ela indicara e observei atentamente o ambiente. Procurei por alguma outra porta ou janela que pudesse me servir de escape caso algo acontecesse. Analisei todos os objetos que estavam à vista no cômodo, de forma a pensar em usos alternativos para cada um em alguma necessidade extrema. Em seguida foi até a tina para me lavar. Não estava tão suja quanto o momento em que acordei naquela floresta, pois já tinha me lavado no rio no dia anterior. Mesmo assim, se houvesse um sabonete ou sabão ali, tudo já seria muito melhor. Lavei meu corpo com esmero, demorando longamente no banho. Lavei também o cabelo, deixando-o preso num coque em seguida. Terminado o banho, me vesti, sentindo a maravilhosa sensação do pudor sobre mim. Minha dignidade começava a se reconstruir.

Saí do quarto em busca da tal cozinha. Provavelmente haveria algum cheiro de comida para me guiar... e como eu estava com fome! Assim que encontrasse a velha, procuraria um lugar para me sentar ou encostar, a fim de esperar as próximas instruções da mesma. Estava curiosa para saber o que ela podia me contar. Mas também gostaria muito de ir para casa... só não me lembrava onde era.

Primeiro o instinto, depois a razão.

Enquanto eu comia, absorta na minha necessidade física primária que representava minha sobrevivência, fiz transparecer que não estava interessada no que a velha tinha para falar. Mas na verdade eu tinha interesse. Se ela morava ali e estava arredia em relação a pessoas que queriam invadir seu espaço e, além disso, estava disposta a matar para proteger aquele lugar, ela devia saber de alguma coisa sobre o que quer que tivesse acontecido comigo. Mesmo assim não queria deixar de lado a oportunidade de me alimentar depois de tanto tempo. Eu precisava ficar forte novamente para seguir os próximos passos. Além disso, ainda não tinha certeza sobre o que pensar a cerca do milagre. Será que fora algo isolado, ou será que Deus tinha um propósito maior para mim? Talvez isso ficasse claro mais para a frente.

A velha me respondeu com um tom um pouco amargo. Me senti levemente culpada.

- Desculpe. Quero saber o que você tem pra falar, mas estou muito faminta. Será melhor eu ter todo o foco na conversa quando terminar de comer.

Finalmente terminei a sopa e o pão. Não saberia dizer se estava bem temperada ou não, só sabia que era a comida mais maravilhosa da minha vida, dada aquela situação. Quando terminei, pedi um pouco de água e tomei com moderação.

Por fim, me virei na cadeira, mudando minha postura, tentando focar a mente para então prestar atenção no que ela tinha para me falar.

- Tudo bem. Vamos à conversa. Me conte o que desejar sobre você, esse lugar e por quê minha vida pode estar em perigo. Daí eu vou fazendo outras perguntas, se você me permitir.

A expressão era de completo interesse agora. Minhas mãos estavam unidas sobre a mesa e eu tentava encarar a mulher nos olhos, a fim de tentar perceber por sua linguagem corporal e entonação se ela estava dizendo a verdade, meias verdades ou em algum momento tentava esconder alguma coisa. Era estranho por que eu fazia aquilo com certa naturalidade, talvez o reflexo de algum conhecimento prévio que eu já tinha, mas não me recordava.

Conversa maluca.

Não fosse os últimos acontecimentos, eu provavelmente estaria rindo daquela velha louca. Mas como tudo o que aconteceu comigo era extremamente estranho, fora do comum, aquela explicação, por mais louca que fosse, deveria ser a verdade. Talvez não toda a verdade, mas logo chegaríamos nisso.

- Tem razão, é muito para processar.

Meu olhar era de leve incredulidade, mas ao que parecia, a mulher acreditava no que dizia. Ou ela era louca e fantasiava tudo aquilo, ou realmente fazia parte de um grupo que ajudava pessoas em situações parecidas com a minha. Meu calcanhar direito subia e descia, num tique inquieto involuntário do meu corpo. Senti o estômago queimar, provavelmente reclamando da grande quantidade de comida ingerida de uma vez só depois de um longo jejum. Mas era melhor do que a fome.

Pensei por algum tempo, repassando mentalmente o que ela falara. Depois de um longo suspiro, retruquei à mulher.

- Sobre esse tal treinamento, espero que não seja nada referente a um culto pagão. Se for, eu não vou aceitar, e vou correr meus riscos fora daqui. Mas antes de qualquer coisa, me diga quem é você. Qual o seu nome e qual a sua história? E como você sabe sobre as pessoas que fizeram isso comigo?

Novamente minha intensão era analisar a sinceridade nas respostas da mulher, tentando identificar se ela estava mentindo em alguma delas ou se tentava esconder alguma coisa.

Poucos modos, muitas palavras.

A primeira resposta da velha vem bastante ríspida. Arqueio uma sobrancelha num misto de surpresa e incredulidade. Essa mulher não tem papas na língua, e eu deveria entender isso para conseguir manter um diálogo minimamente amigável para que não houvessem mais problemas. Ela pede desculpas ao final da frase, o que amenina meu impeto de responder de qualquer jeito. Aceno positivamente com a cabeça, como que aceitando as desculpas.

E então veio a próxima resposta, novamente fora do senso comum. Até então reparei que ela realmente parecia acreditar no que dizia. Ou era completamente louca ou era a pura verdade e eu teria que lidar com isso. As chances estavam a favor dela por conta do milagre. E se de tudo não fosse um milagre, mas uma habilidade manifestada por mim, eu ainda preferia acreditar que havia sido um dom dado por Deus. De qualquer forma, um mínimo do histórico dela foi esclarecido e me dei por satisfeita, pelo menos naquele primeiro momento.

- Hilda... - falei quase de forma inaudível, para gravar o nome da mulher.

Ela continuou, compondo a última parte da resposta depois de quase esquecer. Dessa vez a resposta me fez estremecer. Se realmente eram pessoas tão poderosas que estavam por trás do meu ocorrido, não haveriam muitos lugares seguros por aí. Fiquei estacada, com o olhar perdido por um momento depois que ela terminou de falar, pensando a respeito. Ela ainda emendou numa pergunta, mas sinceramente eu não estava afim de responder.

- Bem... Hilda. Meu nome é Scarlet, pelo que me lembro. Inclusive, quando eu acordei, achei perto de mim uma pedra embrulhada com um papel. Havia uma mensagem escrita nesse papel. Basicamente falava pra eu procurar um navio, seguir a âncora. E também pra eu tomar cuidado com os homens de preto. Bárbara, era como estava assinado. Você sabe de quem se trata?

Esperei a resposta para esse questionamento enquanto ponderava sobre o que fazer. Por fim, depois de um momento em silêncio, retruquei, olhando nos olhos de Hilda.

- Estou quase convencida. E sei que se tudo isso for verdade, realmente dependerei de você para sair da situação. Mas me desculpe se pareço tão incrédula, é tudo muito complexo e longe da realidade que eu conhecia, mesmo que não me lembre muito de quem eu era antes de acordar nessa floresta. Mas só pra acabar de vez com a dúvida, você pode me mostrar algo referente a essa arcana que você falou? Pode provar que realmente faz o que diz que faz?

Esperava que ela não ficasse muito brava com aquilo. Mas se ela decidisse mostrar, meus argumentos cairiam por terra e eu iria tratar tudo o que ela falara como verdade e passaria a viver aquela nova vida, que era, até então, tudo o que eu tinha agora.

O momento da prova se aproximava.

Observo Hilda enquanto ela volta a falar, sempre soltando as palavras como se elas sempre tivessem existido naquela conversa, com propriedade. Ao contrário do que a velha podia estar imaginando, toda aquela linha de conversa servia para que eu pudesse avaliar o perfil dela. O fato de ela não parar para pensar antes de responder denota uma naturalidade no assunto, ou seja, um conhecimento prévio. Mas o nível de absurdo ainda era muito grande em determinados pontos, e tinham de ser confrontados.

Ela explica sobre os mercenários. Tento forçar minha mente para ver se em algum lugar havia alguma imagem desses homens de preto me prendendo, torturando, entre outras ações terríveis. Ela emenda incitando que talvez uma prova venha a endurecer minha mente sobre a crença no que ela dizia, sem ter respondido sobre o nome Bárbara, claramente pulando essa parte da pergunta. Dou de ombros antes de responder.

- Não há nada que possa me deixar mais descrente, estou quase convencida, como disse. Uma prova física seria algo irrefutável, e então poderíamos seguir pelo caminho que você determinar.

Ela então concorda, mesmo contrariada. Me sinto levemente animada, achando um pouco engraçado o jeitinho nervoso que ela fala. E então começam os desafios. Ela dá três exemplos de coisas que poderia fazer, todos são muito interessantes. Mas quando ela diz pra escolher com sabedoria, sinto um certo receio, como se cada um pudesse ter uma consequência perigosa. Me lembro, subidamente, de um livro, chamado Azazel, onde um pequeno demônio, munido com o poder da tecnologia avançada, é capaz de realizar coisas fantásticas para as pessoas, mas tudo tem um preço, um revés. Me pergunto em qual momento de minha vida eu li esse livro, isso eu não conseguia me lembrar. Me voltei para ela, cruzando os braços.

- Que tal se você puder flutuar?

Fiquei olhando para ela, como se esperasse algo extraordinário acontecer, mas sem realmente achar que pudesse se tornar real. Como uma criança que espera um truque de mágica, sabendo que é apenas um truque... ou não.