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- Mensagem nº2
Re: [!ON!] Unção
"Essa imprevisibilidade do mundo é uma das coisas que mais me diverte por aqui.
Essa foi a melhor piada interna de todos os tempos.
Pelo menos eu achei engraçado.
Você não?"
Essa foi a melhor piada interna de todos os tempos.
Pelo menos eu achei engraçado.
Você não?"
A situação do lugar era lastimável. Não fazia sentido alguém querer fazer negócios ali, mesmo para os padrões do submundo. Aquilo era baixo... muito baixo. Mesmo assim, uma pista era uma pista, não devia ser ignorada. Mas sua intuição dizia que não tinha nada ali. Ou talvez fosse uma armadilha. Estava louco para que fosse uma armadilha.
Entrou sem fazer barulho, como comumente fazia ao entrar num lugar desconhecido onde poderia ter companhias pouco amistosas. Não havia iluminação, mas isso não era tanto problema com seus olhos acostumados à penumbra oferecida por um faixo de luz da lua que entrava por uma buraco aberto no telhado. Andou sorrateiramente próximo às paredes e se agachou em um dos cantos. Ficou quieto e conseguiu ouvir um ruído vindo do centro do ambiente. O eco ajudava nesse ponto. Mas era estranho. Nenhuma voz. O som mais recorrente eram os pingos de uma goteira que já havia feito uma poça em algum lugar, água caindo em água. O cheiro de mofo e poeira eram fortes, mostrando o completo abandono daquele ambiente. Mas aquele ruído... Havia algo ali.
Oito horas antes, Bob's Big Boy, Burbank – Los Angeles, CA
John Oldman enfiava um pão inteiro recheado de patê de frango na boca. Ele não queria deixar o lanche de lado enquanto escrevia apressadamente no pequeno bloco de notas as informações de Lorenzo, um pequeno marginal porto-riquenho de Alondra que vez ou outra fazia bicos para o crime organizado. John tinha chantageado o rapaz de 19 anos quando o pegou tentando furtar um carro em Del Rey. Desde então se tornara um de seus informantes na cidade. Estava agora no encalço de alguns nomes maiores do tráfico de armas e drogas na cidade. Seu papel não era pegar os pequenos e também nem sempre os grandes, mas era garantir que a justiça fosse feita para aqueles que se achavam imunes à lei. Terminou de mastigar o pão de qualquer jeito, engolindo um pedaço grande de mais e se engasgando. Lorenzo olhou para ele desconfiado, mas não disse nada. Esperou o peculiar "detetive", como se identificava, terminar suas anotações para saber se teria mais alguma pergunta.
- Casquiña, se isso for balela, sua avó vai saber dos seus podres, acredite em mim! - disse John com uma expressão pouco convincente enquanto apontava para o jovem ameaçadoramente.
- Não enche! Foi o que eu ouvi. E para de me chamar assim! Quem diabos fala desse jeito?
- Se manda!
Terminou de tomar seu 7up. Aquele restaurante de rua era o único lugar que conhecia que ainda vendia o refrigerante de limão. Uma linda moça passou por sua mesa apressadamente. Ele seguiu a mulher com os olhos, reparando nas panturrilhas arqueadas por conta do salto alto de cor azul petróleo. Antes que tivesse tempo de analisar sua roupa, ela entrou num carro esporte e saiu arrancando pela rua.
- Sempre apressadas... Não acham tempo para apreciar um broto como eu.
Uma senhora na mesa ao lado o observava com olhar de reprovação.
- Só temos uma vida, não é mesmo?
Passara o dia fazendo contatos, mas para outro caso: uma viúva que perdera o direito da pensão do marido pelas condições do testamento. Ela tinha de provar que ele tinha se suicidado, e não simplesmente caído da sacada do apartamento no décimo oitavo andar. Precisava pagar as contas.
Voltou no fim da tarde para seu apartamento alugado no centro. Um pequeno dois quartos mobiliado, próximo à uma delegacia de polícia. Tomou um banho frio para fazer o corpo acordar. Vestiu-se com um conjunto quase idêntico ao que usara durante o dia, passando um desodorante neutro para que não exalasse nenhum aroma enquanto estivesse espreitando bandidos. Preparou seus equipamentos de vigilância, tudo o que cabia nos bolsos, e tomou um taxi até as proximidades do galpão abandonado. Já era noite e buscou observar o lugar à distâncias, usando seu binóculo portátil, para ver o quão bem vigiado era. Mas a verdade é que não havia uma alma penada nas redondezas e, aparentemente, dentro do galpão. Decidiu entrar, cuidadosamente. Depois de fazer uma breve análise, acendeu sua lanterna, apontando para a única coisa relevante que havia no lugar. Uma linda mulher amarrada a uma cadeira.
"E lá estava ela, toda linda num lugar que não condizia.
Eu estava trabalhando, claro, mas não consegui evitar olhar pra ela...
daquele jeito."
Eu estava trabalhando, claro, mas não consegui evitar olhar pra ela...
daquele jeito."
- Quem será que você emputeceu pra estar num lugar desse... sozinha? - A voz era amigável.
Caminhou a passos lentos, fazendo questão de o sapato fazer barulho enquanto caminhava, dando um tom dramático à medida que o eco expandia os sons de seus passos.
- Os bons modos dizem que devo me apresentar primeiro antes de perguntar seu nome. Mas essa situação pede um pouco de cautela de minha parte. Entenda, não posso confiar em você, mas posso dizer que talvez eu venha a te ajudar. Então pode me chamar de... seu anjo. E você, como devo te chamar?
Já estava próximo, mas não ao alcance de um provável chute entre suas partes, coisa que já experimentara em mais de uma ocasião, mas agora era experiente em evitar aquele tipo poderoso de ataque feminino. A pequena lanterna de mão apontava para a barriga da mulher, a fim de não incomodar os olhos, mesmo por baixo da venda. A outra mão estava enfiada no bolso do sobretudo, onde segurava firmemente sua pistola Glock 9mm G19 Geração 5 com mira Ameriglo GLOCK Spartan Operator, própria para disparos em ambientes com baixa luminosidade. Emendou numa outra pergunta.
- E como veio parar aqui?
- lsirena
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- Mensagem nº3
Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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- Mensagem nº4
Re: [!ON!] Unção
"É disso que estou falando! Imprevisibilidade!
Agora restava saber se seria fortuna ou revés."
A resposta veio rápida, precedida por um leve sorrido. Aquela mulher não agia como se estivesse presa num lugar ermo controlado por traficantes. Nada disso. Ela estava ali por escolha própria. As sobrancelhas de Matusael se arquearam enquanto ela falava. Ela saber seu nome fez o estômago congelar. A mão enrijeceu contra o cabo da pistola dentro do bolso do sobretudo, e o dedo deslizou até o gatilho. Ela enfim se apresenta. De fato, aquilo era uma armadilha, só faltava identificar de quê tipo.
O anjo olhou em volta, apontando a lanterna para todos os lados, procurando alguém escondido. Ele tinha certeza que não havia nenhum humano ali, mas quando se trata de anjos, as coisas são um pouco mais delicadas. Não respondeu de imediato, forçando a audição. Tinha receio de ser surpreendido e não se deixaria capturar sem uma boa luta. Aquele era um momento tenso. No que tange a guerra celestial, um anjo pode ser amigo, neutro ou inimigo. Agora cabia a análise de o que essa mulher seria para ele.
Usou a base da lanterna para coçar o queixo onde a barba começava a espetar por conta do crescimento ao longo do dia. Se agachou num movimento lento, enquanto estreitava os olhos, fitando a moça a sua frente.
- Que honra! Jeito estranho de me esperar. Eu não curto esse lance de mulher amarrada. Prefiro a clássica cama quentinha. - disse casualmente, mas a voz demonstrava certa tensão agora. - Mas se você está aqui para mim nessas condições, imagino que precisou de ajuda pra se colocar aí. Resta saber quem são seus amigos. São chegados do Príncipe ou do Mensageiro? Diga-me com quem andas, e te direi quem tu és...
A pistola, oculta dentro do sobretudo, estava apontava para o joelho da celestial, pronta para se disparada a qualquer reação mais busca por parte dela. Ele a luz emitida pela lanterna se concentrava agora no rosto dela. Ela era linda de se ver, realmente. Quem quer que a tivesse enviado, sabia de suas fraquezas. Pensaria duas vezes antes de ferir uma mulher, a menos que sua vida fosse claramente ameaçada. "Elas são macias", era o que defendia. E aquela, em específico, carregava um tipo de pureza celestial; seria um pecado machucar alguém assim.
- O que quer comigo? Certo que estou solteiro, mas eu sou difícil. - as palavras formaram uma piada, mas o tom da voz não acompanhava a descontração. Saberia em breve se poderia relaxar ou sair dali o mais rápido possível.
"Li num artigo que bom humor ajuda a minimizar momentos de tensão. Não funcionou comigo dessa vez."
- lsirena
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- Mensagem nº5
Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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- Mensagem nº6
Re: [!ON!] Unção
"E ela escolheu esconder o jogo.
Qual é? Pra que todo aquele suspense?"
Qual é? Pra que todo aquele suspense?"
De maneira calma e suave, Hasdiel, vai conduzindo a conversa enquanto se solta facilmente da corda que atava seus pulsos e retira sua venda. Matusael não respondeu nada enquanto ela fazia aquilo, mas a arma continuava apontando para ela de dentro do bolso. Quando ela retira a venda, ele desvia a direção da luz da lanterna, apontando para o busto da mulher, deixando o rosto parcialmente iluminado, mas sem ofuscar os olhos dela.
Ela segue o discurso, perguntando se podiam ir para outro lugar. Claramente não confiava nela, nem sabia quem ela era e não havia respondido a pergunta mais importante que ele fizera. Tudo não passava de uma montagem ardil para que ela se encontrasse com ele. Como poderia confiar? O olhar fixo nela era cético.
"Confiar? Sério? É claro que não.
Mas confesso que a vontade era de responder:
Na minha casa, ou na sua?"
Esperou ela terminar a frase, se referindo a seu informante. Ele sabia que não adiantava ficar bravo com o garoto, era apenas uma peça a ser manipulada. Tudo bem até ali. Mas não poderia ficar por aquilo mesmo, tinha uma reputação a zelar.
- Isso é um assunto para outro momento, depois eu cuido dele.
Analisou melhor a postura e o vestido refinado da mulher agora que estava em pé. O incômodo em querer sair logo daquele lugar mostrava que era uma mulher de classe, acostumada com alguns confortos e luxos. E realmente o galpão abandonado não combinava com ela... nem com ele. O coração mole começou o convencimento do corpo. O jeito dela falar era dócil, manso, suave. De alguma forma mexeu com o renegado. Ele suspirou, pressionando levemente os lábios.
- Espero não me arrepender disso.
"Se ela fosse me atacar, já o teria feito.
E não faria sentido ficar me cozinhando para ganhar tempo.
Além disso, eu estava faminto..."
Baixou a lanterna ao mesmo tempo em que largou a arma dentro do bolso, tirando a mão para fora. Se aproximou calmamente dela, estendendo-lhe a mão. Mesmo perto, respeitou seu espaço pessoal. Beijaria a mão dela de forma cortês se ela lhe desse a mão, do contrário giraria o corpo de forma descontraída, dando o braço para ela segurar.
- Espero que seja um prazer conhecê-la... - disse um pouco incerto - Estou faminto. Se quer sair daqui, que seja para um restaurante ou um bar. Até lhe pago uma bebida. Mas tem que me dizer se está do lado de Miguel ou do lado de Gabriel, pra saber se viverei até o fim da noite ou não... e decidir o que vou comer, caso seja minha última refeição.
Conduziria ela para fora do galpão, iluminando o caminho com sua pequena lanterna. Do lado de fora procurou observar os arredores, para ter certeza de que não havia nenhuma ameaça ali. Guardou sua lanterna e sacou o smartphone, fazendo uma discagem em dois toques no display. Pediu um taxi, informando o endereço. Resolveu dar continuidade à conversa, pra que não ficasse um silêncio incômodo.
- Se está na Haled a tanto tempo quanto eu, já deve amar esse lugar mais do que amava os Céus. Estou certo?
Esperou a resposta e ficou observando ela, reparando em sua beleza. Não falaria muito mais depois disso. O que ela quisesse lhe dizer, diria a seu tempo. Afinal, fora ela quem arranjara aquele inusitado encontro. Será que era um encontro? Ele gostou da ideia.
- lsirena
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- Mensagem nº7
Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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- Mensagem nº8
Re: [!ON!] Unção
"Sinceramente? Caguei."
O jeito manso de falar, as respostas indiretas e sem jeito, a maneira distraída de usar o celular enquanto dividem o taxi... Tudo isso só podia significar uma coisa: ela não tinha a mínima vocação para sequestrar alguém. O que quer que estivesse fazendo, não seria relativamente perigoso; pelo menos ela não tinha consciência disso. Mudar de rumo depois de ter oferecido ir para onde ele quisesse era frustrante, mas ela parecia nem notar isso. Hasdiel, quem, afinal, é você?
O olhar dele era um misto de impaciência e descrença quando ela praticamente perguntou por educação se poderiam ir para seu trabalho em vez de ir ao restaurante; visto que não esperou resposta antes de anunciar ao motorista a mudança de rota.
- Não, quê isso. Por favor. Fique à vontade. - disse com um toque de sarcasmo.
Prestou atenção no local ao qual ela informara o motorista e ficou observando o caminho que faziam com atenção. Se lembraria de como chegar lá sempre que precisasse. E mais uma vez, ela pede pra confiar nela, como se repetir aquela palavra várias vezes pudesse convencê-lo. Ele sorri ao responder.
- Oh, se confio. Estou começando a desconfiar que você é uma stalker minha, e agora está me levando para um jantar romântico a sós.
A risada genuína. Não estava se insinuando, apenas tentando quebrar o gelo. Precisava disso. Deixar ela pensar que ele estava ficando à vontade poderia fazer a diferença no relacionamento que viria a se consolidar, fosse de qual cunho fosse, como amiga ou inimiga. Talvez pudesse até mudar o rumo das coisas.
"Bem, eu não gosto de fazer isso.
Tenho a impressão que estou trapaceando...
Mas ela não me deixou escolha, não é?"
Finalmente ela tomou a iniciativa do contato físico, de forma contundente, segurou a mão de Matusael. Esse retribuiu a pressão que ela fazia, de forma tenra enquanto observava os olhos dela. E então utilizou de sua divindade, buscando prever os acontecimentos que estavam por vir por parte de Hasdiel. Buscaria o máximo de lembranças possível enquanto o contato durasse. Procurou estender o aperto de mão o máximo que pôde sem parecer estranho. Buscaria informações sobre o lugar para onde estavam indo, sobre o teor da conversa que teriam, se haveria alguém no local esperando eles, ou se ficariam realmente a sós para conversar, e qual seria a comida que pediriam; esse último ponto era de extrema importância.
Matusael efetuou 1 lançamento(s) de dados (d6.) :
- 5
- Vou me lembrar dessa promessa. Espero que tenha bastante paciência. Minha mãe sempre dizia que eu nasci para fazer perguntas. - completou de forma descontraída.
Se recostou no banco do carro e continuou observando o caminho. Estava ficando ansioso além de desconfiado. Queria ver logo o desfecho de todo aquele teatro.
- Colz
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- Mensagem nº9
Re: [!ON!] Unção
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- lsirena
Forasteiro - Mensagens : 10
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- Mensagem nº10
Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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Re: [!ON!] Unção
"Hunf... mas o quê!?"
O elohin já estava acostumado a disfarçar esse tipo de modus operandi, mas a cena estava muito aquém do que ele poderia esperar. É verdade que nem sempre as visões mostravam a realidade direta, principalmente quando o futuro próximo não estava completamente definido. Mas aquilo... o que era aquilo?
Voltou a ficar tenso, ficando quieto o resto do trajeto, tentando focar a mente para interpretar quaisquer sinais que pudesse levar até aquele derradeiro momento que vira.
Assim que chegaram a seu destino, Matusael desceu do carro e ficou parado por um instante, analisando tudo ali em volta. Claro que a mente buscava, principalmente, o homem de olhos azuis que vira na visão. Não estava certo de que queria continuar participando daquilo. Mas por outro lado, tinha a ligeira impressão de que Hasdiel estava sendo usada, e pensar que a falha dela poderia causar graves consequências deixava o coração do anjo apertado.
Escutou o que ela falava e sentia que tudo aquilo era verdade. Racionalizando bem, Matusael chegou à conclusão de que Hasdiel tinha certeza de que ele se tornaria um aliado, do contrário não teria corrido o risco de trazê-lo até um lugar onde ela tinha tanto a perder. Essa demonstração de confiança quebrava um pouco de sua própria desconfiança. Mas por outro lado, poderia significar que, caso algo desse errado, não haveria a possibilidade de ele sair dali vivo, assim não havendo problemas em ele saber de tantas coisas. Paranoia? Talvez. Mas ele era um dos renegados, estava acostumado a ser perseguido, principalmente pelo secto de Miguel. E até então ainda não sabia a quem ela estava subordinada.
Tomou coragem e mudou a postura, colocando um semblante sério no rosto enquanto meneava a cabeça para Hasdiel, seguindo-a e observando tudo em volta. As mãos estavam dentro dos bolsos do sobretudo, uma delas coçava nervosamente o cabo da pistola, mas era apenas um tique que ajudava a aliviar a tensão, dando uma sensação de segurança. Quando um homem mais bem vestido parou a seu lado, olhou-o com certa atenção enquanto ele e Hasdiel trocavam algumas palavras. Não foi difícil intuir que fora ele quem preparara Hadiel para o encontro com Matusael naquele galpão. Estendeu a mão para apertar a dele, fazendo pressão suficiente para mostrar sua força, mas sem machucar o rapaz. Mas não falou nada, apenas fez um aceno simples com a cabeça.
Entrou no estabelecimento, analisando tudo o que podia, principalmente em saídas alternativas para alguma futura necessidade. Reparou que, apesar da aparência simples e antiga, o prédio era equipado com tecnologia moderna em vários aspectos. Entrou no elevador depois de oferecer a preferência para Hasdiel de forma cortês. Ficou o tempo inteiro calado, até a pergunta sobre a comida. Ele deu de ombros.
- Algo me diz que não teremos tempo para isso...
Ela continua falando sobre aquele lugar e o que era feito ali em favor das pessoas carentes. E daí uma palavra que chamou sua atenção: irmãos.
"Muito se pode conhecer sobre uma pessoa ao observar como ela trata os que estão à volta de si.
Considerar alguém como irmão, sabendo que de fato não se trata de um laço de sangue, significa que ela trata como um igual, e faz de tudo por aquelas pessoas. Experimentei isso uma vez, há muito tempo, quando lutamos em prol da continuidade da humanidade. Mas poucos de nós ainda vivem, caçados implacavelmente pelo carrasco Príncipe. Não. Eu não chamo mais ninguém de irmão. Tive esposas e filhos, mas nunca deixei os laços se estreitarem o suficiente depois de Ilah. Não estarei para sempre na mesma situação, então aprendi a não me apegar demais, viver o aqui, o agora, como os humanos costumam fazer. Mas não fomos criados para isso. Fomos criados para servir. E indiretamente, é isso que continuo fazendo... E ela também."
Entrou na sala logo depois de Hasdiel. Novamente analisou todo o lugar, principalmente por possíveis saídas. Observou a disposição da mesa presidencial. Se sentaria em frente à Hasdiel, mas não de costas para a porta. Mesmo que a disposição da mesa fizesse com que as cadeiras de frente a ela ficassem de costas para a porta, Matusael posicionaria a cadeira um pouco de lado, ficando perto da beirada da mesa. Se sentou, ajustando o sobretudo e o paletó por baixo para se sentir mais livre. As mãos ficaram desleixadamente jogadas sobre os descansos da cadeira; isso tinha um motivo. Se precisasse agir rapidamente, aquela posição permitia se levantar enquanto arremessava a cadeira rapidamente para trás, sem que o impedisse de se deslocar ao ter que se preocupar com aquele objeto.
Ela ofereceu seu telefone para que ele pudesse fazer o pedido de comida. Aceitou o celular e começou a digitar nele enquanto ela continuava falando. Claro que ele estava prestando atenção na conversa, mas ao mesmo tempo fizera uma ligação para um número de caixa postal, que deixaria registrado o momento da ligação e o número; gravou aquele mesmo número nos contatos de Hasdiel com o título "Matusael Gatinho CP"; e por fim discou para o serviço meteorológico, fingindo pedir uma pizza de pepperoni naquele endereço, com troco para $40. Por fim devolveu o celular, colocando-o sobre a mesa.
Ouviu as próximas palavras de Hasdiel com atenção. Fitando-a nos olhos. Finalmente ela abria o jogo, e o resultado era parcialmente satisfatório. Ficou aliviado por saber que na realidade ela não tinha partido nenhum, mas ao mesmo tempo, sabia que era um lado que não teria como "vencer" sem apoio de nenhum dos arcanjos. Quando ela terminou, ele olhou em direção à porta, apenas para ter certeza de que não seriam interrompidos imediatamente, depois voltou a fitar aqueles belos olhos azuis.
- Finalmente a verdade se revela. Bem, obrigado pelo convite. Mas acho que vou ter que declinar. - parou um segundo para ver a expressão no rosto dela, para então continuar. - Sabe que estou preso a esse corpo mortal, não sabe? Sabe que nada poderei fazer fora da Haled, onde a guerra realmente acontece, não sabe? E, acima de tudo, e essa aparentemente você não sabe, Rikbiel não tem poder para se opor a nenhum desses que você citou. Não me entenda mal, mas eu já tive minha cota de rebeliões fracassadas, e o preço que tive que pagar foi alto demais. Isso não significa que não possamos ser aliados, mas enquanto existirem os arcanjos, a terra nunca ficará totalmente livre. E se é discípula de Rikbiel, deve ser uma Ofanin, e pelo que você montou aqui, certamente é uma missionária. Isso faz de você, principalmente, incapaz de fazer o que é necessário para manter a Haled viva. Estou falando da única língua que os arcanjos usam para impor seu domínio: violência. Infelizmente, vivemos sob a tirania e a lei do mais forte. Enquanto houver um deles, sempre haverá um rei. Pelo menos até que Yahweh retorne de seu descanso. Mas NÓS, eu e você, sabemos que já se passou tempo demais aqui, não existe muita esperança em relação a isso. E minha casta pouco sabe sobre a política nos céus. Atuamos aqui na terra e pelo universo a fora. E até aqui conseguimos ajudar na evolução da humanidade. Desde o renascimento do mundo depois do dilúvio, até essa era moderna onde, quem diria, o homem foi capaz de se lançar ao espaço, e, quem sabe, muito mais além. Diz-se que Deus tem um plano para tudo isso. Mas tivemos sorte de conseguir manter esse plano vivo até aqui. Uma nova guerra pode ser o fim de tudo, e estamos caminhando nessa direção. Se quiserem realmente ter uma chance de salvar a humanidade, terão que escolher um estandarte. E por mais que eu despreze a existência dos arcanjos, sou realista em dizer que um deles terá que controlar os Céus, quer seja por ego, quer seja por simplesmente se odiarem. Mas dentre eles, é preciso escolher o menos pior. Mas mesmo ele, sozinho, não é capaz de superar o Príncipe. A pergunta é: vocês seriam capazes de abdicar parte de seus ideais para destronar o tirano que tem atentado contra a humanidade desde a aurora do plano terrestre?
Queria deixar muita informação para Hasdiel, pois não sabia quando teria outra oportunidade pra dizer tudo aquilo. Seria o suficiente para que ela entendesse que ele não era "apenas mais um elohin". Era um dos renegados, um dos que ainda estavam vivos, e não estava alheio a todo aquele jogo de poder, mesmo estando tão distante dos Céus. Mas claro, não falara tudo o que pensava nem tampouco sobre seus planos pessoais de como influenciar nessa contenda. Saberia se poderia confiar nela apenas com o tempo, mas de fato seria ótimo se pudesse contar com ela e também com Rikbiel. Agora restava saber se a silhueta luminosa se tratava de Rikbiel, e se a tal máscara que seria quebrada ofereceria algum risco para aquele encontro como um todo.
Esperou a resposta de Hasdiel, mas com a convicção de que logo seriam interrompidos.
- Colz
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Re: [!ON!] Unção
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- lsirena
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Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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Re: [!ON!] Unção
"As coisas estavam indo rápido demais."
Um sorriso de canto de boca surgiu quando viu a porta se abrindo. O homem entrou sem nenhum desprendimento, se dirigindo a Hasdiel com extrema naturalidade. Não demorou para que Matusael reconhecesse a figura que estivera presente em sua visão. Continuou sentado como estava enquanto o recém chegado foi abraçar Valentine, mas estava pronto para agir. Ele observa enquanto eles trocam palavras, e logo vira o alvo do jovem. Ele se levanta empurrando levemente a cadeira para trás. Reparou na mão sangrando. Ponderou por um instante. O sangue era algo precioso para quem soubesse manipulá-lo, Matusael conhecera alguns celestes e infernais que tinham muito a dizer sobre aquilo. Começou a erguer a mão para segurar a dele no instante em que Hasdiel notara o ferimento e se apressou em atendê-lo. Fora a desculpa perfeita para não apertar a mão do jovem. Mas o que ele lhe disse em seguida, junto da expressão facial, foi o que fez Matusael não gostar dele definitivamente. Abriu um sorriso mateiro, deixando que Hasdiel conduzisse a situação.
"Sua mãe não costuma reclamar disso na cama... pensei."
Deu um passo para o lado, ficando ao lado da mesa, um pouco mais distante de Jared. Observou a preocupação de Hasdiel, mas sabia que não era para tanto. Quando ela pediu para que ele ligasse para chamar Lirian, devolveu um olhar de incredulidade para a mulher. Não tivesse tão tenso, ele teria achado graça. Demorou um segundo observando a cena antes de dar de ombros e alcançar o telefone com a mão esquerda sobre mesa sem muita vontade; a mão direita descia até o bolso do sobretudo, segurando o cabo da pistola. Discou os números indicados por Hasdiel usando a mesma mão que segurava o telefone, utilizou-se de sua memória fotográfica para tatear corretamente os números, fazendo todo esse movimento sem tirar os olhos de Jared. Levou o telefone até o ouvido, esperando alguém atender.
- Lirian está sendo requisitado na sala da Valentine. Rápido.
Desligou o telefone sem esperar resposta. Se preparava agora para o que estava por vir. Não entendia exatamente o que estava para acontecer, mas se o ser de luz fosse a representação de Hasdiel e aquele tal Jared atentasse contra ela, Matusael agiria disparando com sua pistola contra ele, sem dó nem piedade.
- Colz
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Re: [!ON!] Unção
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- lsirena
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Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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Re: [!ON!] Unção
"Ladies and gentlemen, we have a show!"
Enquanto a conversa se desenrolava, Matusael continuou posicionado no mesmo lugar, ao lado da mesa, um pouco distante da cadeira onde Jared estava sentado. A arma continuava em punho, oculta dentro do bolso do sobretudo. Sua atenção era total no intrometido. E logo seu temor se torna real. Ele os chama pelos nomes celestiais. A expressão de choque no rosto de Hasdiel era completamente diferente da reação do elohin, que agora estava sério, mas não surpreso.
Matusael fitava o homem de olhos azuis quando o clarão surgiu logo acima da cabeça dele e foi o estopim para que o detetive agisse. Ele girou lateralmente enquanto Hasdiel gaguejava alguma coisa, se juntando a ela rapidamente. Durante o movimento, a arma já estava fora do bolso e em riste, apontando para o coração do homem, ao mesmo tempo em que o braço esquerdo envolveu a cintura de Hasdiel, puxando-a para trás de si. Observou o show luminoso um tanto apreensivo até verificar que se tratava de um tipo de conjuração de uma espada.
O jovem continuou falando, e agora Matusael focava sua mente nos mínimos detalhes de toda aquela cena. Talvez a chave para entender o que estava acontecendo estivesse nas palavras dele. "[...] a conversa que estamos prestes a ter."; "Temos contas a acertar."; "[...] não posso permitir que percam tempo numa reuniãozinha amigável [...]". Esse discurso não mostrava a iminência de um ataque. Mas a última frase fora uma ameaça direta.
- Esse showzinho não vai me obrigar a comprar um ingresso. Diga logo a que veio, ou você vai precisar ser muito rápido pra conseguir fazer alguma coisa com essa espadinha antes que tenha o coração perfurado.
A pistola estava firme na mão, e a mira centralizada diretamente no coração de Jared. O dedo de Matusael já fazia pressão no gatilho e qualquer movimento de Jared, além de falar, seria o suficiente para que o renegado simplesmente descarregasse a arma contra o intruso; exceto por uma bala, que deixaria para o caso de ele realmente ser suficientemente rápido para se esquivar de todos os disparos.
"Eu só queria ter jantado antes."
- Colz
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- Mensagem nº18
Re: [!ON!] Unção
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- lsirena
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- Mensagem nº19
Re: [!ON!] Unção
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- Matusael
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Re: [!ON!] Unção
"Se é que é possível, uma reviravolta da reviravolta!"
A espada parecia viva, mas estava claramente sendo comandada por uma energia, acompanhando os direcionamentos que Jared dava ao se referir a Matusael e Hasdiel, dependendo do momento do discurso. Como ele não se mexeu, o detetive conteve o dedo sobre o gatilho, mas a pistola continuava apontada direto para o coração do controlador da espada. Seu olhar continuava extremamente sério.
O desenrolar da conversa fez a respiração voltar a ser notada por Matusael, que se tocara de que a havia prendido durante aqueles segundos de tensão. O coração de seu avatar também mostrava que funcionava a todo vapor, quase podia senti-lo subindo pela garganta. Mesmo assim, ele não mudou nem um pouco sua postura, com a arma em riste e a outra mão mantendo pressão na cintura de Hasdiel, forçando-a a continuar atrás dele. Não se moveu até que a espada caiu ao chão, imóvel.
Hasdiel se desvencilhou, e ele deu um passo para o lado, deixando ela passar. A pistola ainda mirando o estranho enquanto saía. Mesmo quando Hasdiel se aproximou dele, Matusael andou para o lado, a fim de se posicionar de forma que tivesse uma linha livre de tiro, caso ele tentasse algo contra ela. Ouviu o desabafo da mulher. Ele sabia o que era aquilo: ela se sentia traída. Apesar de ter tido várias mulheres e dezenas de famílias com filhos, ele nunca foi infiel enquanto estava com eles, e também não desaparecia simplesmente, falava que precisa ir embora, que sentia muito e sempre deixava a família com recursos, educava seus filhos e os preparava para a vida. Tinha aprendido a se desapegar depois que ia embora, era preciso. Esse contraste do que Rikbiel acabara de "fazer" deixava-o decepcionado.
A dona do estabelecimento finalmente despacha o rapaz de olhos azuis, batendo a porta atrás de si. Matusael finalmente abaixa a arma, colocando-a de volta no bolso do sobretudo. Ele observa enquanto ela se encaminha até sua cadeira, esboçando um sorriso desconcertado quando seus olhares se encontraram. Seu semblante era apático, estava um pouco triste por ela. Continuou calado todo o tempo em que ela falava. Sorriu internamente notando uma característica clássica das mulheres, não todas é claro, mas a maioria delas costumava falar muito quando estavam nervosas. Ele achava aquilo bastante meigo, de certa forma. Quando ela terminou de falar, ele finalmente se mexeu, se aproximando dela pelo lado da cadeira. Sem forçar nada, pousou a mão sobre o rosto dela de forma leve e deixou o corpo ao lado, de forma que, se ela quisesse, se recostasse sobre ele.
- E quem te abraça e te conforta nos dias escuros?
Usou o polegar para enxugar as lágrimas que desciam pela bochecha. Fitava ela com um olhar tenro. Mas logo em seguida, virou a cabeça, mirando a espada ali no chão. Lembrou-se das palavras de Jared, repassando aquilo mentalmente. Apesar de tudo, de certa forma ele tinha razão, mas não estava disposto a externar aquilo agora.
- Tente não pensar assim. Rikbiel deve estar se sentindo muito perdido para ter feito isso. E ele precisa tanto de você quanto de qualquer outra pessoa que possa ajudar. É no prenúncio da guerra que o espírito se abala e o desespero floresce, isso fica mais evidente naqueles que não acham que tem capacidade de lutar. Mas cada um pode servir da maneira que melhor lhe cabe. E você tem servido muito bem aqui. Não se deixe abalar.
Se afastou um pouco dela, a fim de deixar que ela o olhasse diretamente agora.
- Não vou me aliar a Rikbiel. Vou me aliar a você. E se os objetivos de Rikbiel e os meus se encontrarem durante essa aliança, responderei a você, e apenas a você. Mas precisa saber que na guerra fazemos coisas da qual não nos orgulhamos, e eu não sou diferente. Um dia poderei te magoar, assim como Rikbiel acaba de fazer, mas uma coisa eu prometo: serei fiel até o fim.
Deu as costas, se encaminhando para a porta. Segurou na maçaneta, pronto para abri-la e sair. A menos que Hasdiel fizesse algo que o fizesse ficar, iria embora.
"Doce como o amor pode ser."