Verdade (Razhard)

Razhard deslumbrava as lindas construções do interior da cidade do culto, em sua mente um pensamento curioso dançava, recordando do seu passado, o ar cinzento e brutal da cidade dos Esquecidos, por mais desolador que fosse, era uma sensação clara. Mas aqui todos pareciam então felizes, tudo era tão perfeito. Perfeito demais, perfeito ao ponto de algo não se encaixar, mas essa sensação era muito mais sutil… E significava muito mais perigo, era o que o instinto do assassino lhe sussurrava.

Mas enfim sua corrente de pensamentos são quebrados por uma senhora que esbarra com ele na rua. Ela o saúda e se desculpa antes de partir, aparentemente aquela era uma forma comum de saudação aqui, sendo assim Razhard devolve o mesmo comprimento para a senhora que já se afastava. -Que a Rainha e o Cara-Branca também te protejam.

Em seguido Razhard voltou seus olhos ao Salão da Rainha, uma das escassas informações que ele tinha era onde poderia encontrar sua irmã. Mas seria ainda mais difícil entrar no lugar do que verdadeiramente procurar a jovem.

Um suspiro soa por baixo da máscara que o rapaz ostentava no rosto, continuaria a andar entorno do Salão da Rainha, tomando nota de todas as possíveis entradas e quantos guardas protegiam o local. Sempre cuidando para não agir de forma ociosa, como se descaradamente estudasse o lugar, ao invés, sempre fingiria estar fazendo algo, ou indo para algum lugar importante, uma encenação simples.

Após algumas voltas pelos arredores do Salão da Rainha, Razhard constata que se infiltrar seria muito mais difícil do que o que ele já tinha feito até hoje, mas ao contrário do que uma pessoa normal pensaria, por trás do apático semblante da sua máscara branca, era um sorriso desafiador que estampava seus lábios. Mas as chances do rapaz não eram nem um pouco boas, ao menos, até que uma comoção anormal se formou nos arredores do templo.

Os gritos desesperados do homem-touro não comoviam nenhum pouco o assassino, desde sua infância, fora cravado na sua alma, que apenas aquele com capacidade sobreviveriam, se o ser estava naquela situação, não era nada mais que a sua própria falta de capacidades. Por outro lado, a curiosidade e necessidade de assistir o sofrimento alheio, quase que como num espetáculo, também eram desenhados pelo Esquecido. Diante de tudo aquilo, no fim, seu olhar era apenas apático.

Logo atrás observava a outra cativa, essa parecia aceitar melhor sua situação, mas ainda parecia implorar por coisas que não chegavam aos ouvidos de Razhard, ao invés, sua atenção ia para a mulher de fora que acompanhava a comitiva, e parecia negar os ávidos pedidos da prisioneira.

Diferente de muitos ali, essa moça não usava nenhuma máscara, e na verdade isso não era completamente incomum, Razhard já tinha notado que algumas pessoas não usavam as máscaras brancas, que por padrão, representavam o Culto. Mas fora agora que o assassino dera atenção a tal fato, e pensara na possibilidade de existir uma distinção entre aqueles que ostentavam o objeto branco.

Logo um plano se formou na cabeça do rapaz. Ele corria rapidamente os seus olhos pela multidão, seu objetivo era, com as ações observadas, responder duas de suas perguntas. Primeiro, aquilo parecia ser algo comum de acontecer? Ou a comoção era tamanha o suficiente para dizer que um acontecimento como aquele era raro? E também, como era o tratamento entre aqueles que usavam as máscaras e aqueles que mostravam seus rostos, algum deles parecia ser inferior ou ignorado pelo outro lado?

Enquanto tentava formular uma resposta para suas dúvidas o assassino também não perdia tempo ao se mover entre a multidão, tomando cuidado para se manter longe de qualquer foco da atenção, se aproximaria da mulher que negava os pedidos, e tinha sido lançada ao chão, estenderia uma mão para lhe ajudar a levantar. Infelizmente a máscara não lhe permitia mostrar sua encenação de um rosto amigável, o semblante sem vida da pálida máscara teria que servir por enquanto.