Introdução - Cobiça

Era início da noite, dia seguinte à data festiva cristã conhecida como Natal. Duas pequenas comitivas estavam frente a frente. Uma certa tensão tomava conta do ambiente. Todos estavam desconfortáveis em suas roupas de couro batido, armaduras leves e mantos, tudo por conta do frio e a grande dificuldade de se transitar por aquela região nessa época do ano. Os dois representantes se colocaram frente a frente. Mãos nervosas seguravam os cabos das espadas em suas bainhas. O halito do homem mais alto, com bom porte físico, fez lançar um vapor condensado no ar.

- E então?

O outro o fitou por um momento antes de responder.

- Trybur e Carth. Um ataque simples em cada. Tente não matar crianças. Podem levar uma ou duas mulheres de cada lugar. Quando estiver feito, solto os dois e deixo o território e você poderá ocupá-lo. Orn vai encontrá-lo ao fim do inverno.

O primeiro coçava a parte de baixo da barba afetadamente. Não conseguia confiar no outro. Ele tinha capturado seu filho e seu irmão durante uma luta no vale. Mas aquele era um risco que teria que correr. Sabia que ter aquele homem como aliado seria bastante proveitoso. Mas sabia também que essa era uma aliança frágil e que provavelmente terminaria quando os interesses do lorde tivessem sido alcançados. Por hora era o que tinha.

- Saiba que uma traição virá com uma vingança tomada de ira. Meu clã pode morrer, mas eu farei de tudo para destruir sua família.

- Não seja tolo. Você não pode me tocar.

Um dos homens agitou-se sobre o cavalo e várias espadas foram sacadas. A luz da lua banhou as laminas de ambos os lados, mas o guerreiro mais alto ergueu o punho cerrado, e as armas foram baixadas.

- Não pague para ver, bretão. Os deuses não são favoráveis aos homens sem honra. E um homem que trama contra seu próprio povo não tem nenhuma. Faça o que combinamos e talvez Orn mantenha sua palavra. Sabe que posso fazer ele mudar de ideia, não sabe?

- Não. Você é apenas um cão. Outros podem ser treinados em seu lugar. Trate de se colocar no lugar do cão alfa, e viverá por mais tempo. Agora saiam daqui.

O guerreiro continuou encarando o lorde por alguns instantes. Por fim fez um sinal e todos montaram em seus cavalos, se afastando a galope.

Depois que os estrangeiros se afastaram, um dos guardas do lorde se aproximou dele.

- Não acha que ele pode avisá-los?

- Talvez o fizesse. Mas vai descobrir que agora sei onde estão os barcos dele. Não se preocupe, o plano dará certo. Vamos embora, este frio me deixa deprimido.