Lohanne Hoffman – [Mr.Frost]

O que havia feito da sua vida? Era a pergunta que martelava em sua mente, na realidade, o sono que deveria a acompanhar e trazer alento apenas se transformava em um martírio e o fato dela ser obrigada a dormir, tanto pela característica de sua raça, como da sua condição física, pioravam os seus pensamentos. A chuva fria não a ajudou em nenhum momento, o clarão da janela, combinado com as sombras do quintal, a faziam recordar a imagem de seu antigo mestre, alguém que invariavelmente temia, desta forma, a cada trovejada, a garota se encolhia no canto da cama, abraçando o travesseiro, sentindo-se completamente desprotegida. Lohanne era uma jovem forte, destemida e poderosa, contudo, ainda era uma dama frágil e extremamente emotiva, principalmente no atual estado, o fato da sua cabeça estar a prêmio, estar grávida e ainda por cima, dependendo de seus amigos para sobreviver cortavam a sua alma. Não sabia o que fazer, estava tão perdida nos próprios pensamentos que chegou a encostar o rosto no travesseiro, onde passou a derramar lágrimas em um desespero profundo, que a machucava como se o mundo estivesse contra a sua pessoa. Poderia se manter assim durante a noite toda, mas o ato de sentir, um pequeno chute na barriga, a fez se recordar do porque estava viva, a criança em seu ventre era o elo que a ligava com seu amado e no momento em que levou as mãos até a barriga, procurando sentir aquela felicidade tão repentina, suas mãos acabaram sendo envolvidas por uma sombra, um carinho, que ela reconhecia tão bem. O seu amado poderia estar morto, mas a sua essência procurava a proteger de qualquer coisa ao seu redor e aquilo a fez sorrir, como se estivesse presa em uma felicidade tão maravilhosa que não era capaz de medir com palavras, somente com sentimentos, a ponto das lágrimas desesperadas se transformarem em um choro de alegria e desta forma, feliz, a garota acordou. O rosto estava enrugado pelo travesseiro, o corpo dolorido pela posição e quando menos esperou, chegou a notar o sol batendo na sua janela, iluminando o quarto a forçando ser acordada, acabou por bocejar, levantando-se de uma só vez, aproveitando para se espreguiçar. Caminhou rumo ao banheiro, atravessando o quarto enquanto retirava a camisola, mantendo-se nua, para que pudesse tomar um delicioso banho, realizar a higiene diária e por fim, se vestir como mandava o protocolo, mas antes de fazer tudo aquilo, antes de entrar no chuveiro, simplesmente abria a porta do banheiro e gritava para a tutora, que por mais jovem que fosse, aparentava ser muito mais velha que ela.




Lohanne parecia forte, parecia intransponível e de fato era, mas com tudo acontecendo a sua volta, inclusive a segurança do casal, o que pode fazer no chuveiro foi encostar a cabeça na parede e pensar, precisava tomar uma decisão que mudaria a sua vida e dos seus amigos para sempre. Desta maneira, após um rápido banho e uma rápida arrumação, colocou uma roupa simples, caminhou em direção a cozinha e enquanto secava os longos cabelos brancos, simplesmente se sentou na cadeira do lado, deixando a toalha enrolada, enquanto pegava um dos Baozi, comendo brevemente.






Dizia feliz, olhando para a colega, em um determinado ponto a expressão amistosa mudou para algo conformado e um tanto triste, chegando a segurar a mão dela com calma, enquanto falava em um tom um pouco mais sério.


- Vocês sabem, estou realmente sendo procurada e ultimamente eles estão bem próximos, precisarei sumir por um tempo, não posso continuar presa aqui colocando vocês em risco. – Comentava, sendo atrapalhada por Leon que parecia a questionar, o senhor Chinês se preparava para ir trabalhar. - Preciso pensar na segurança de todos, se me descobrirem aqui, nada do que fizerem irá detê-los, acabarão mortos. Não vou permitir. -



Suspirou profundamente antes de se levantar e ir em direção ao quarto, passando em frente ao móvel, onde abria uma das gavetas, tirando três perucas, uma preta, uma loira e outra ruiva, cuidadosamente se aproximou do espelho e passou a se maquiar brevemente, colocando um batom róseo, enquanto aproveitava para passar delineador e lápis nos olhos, quase como uma pintura para que puxasse a cor preta nas extremidades, o objetivo era bem claro, transformá-la em uma oriental e por fim, simplesmente enrolaria o cabelo e colocaria uma peruca preta, arrumando para que nada pudesse ser visto fora dali, colocando um vestido preto. Lohanne era esperta, antes mesmo de terminar a maquiagem olhava para o calendário, a Lua Minguante ficava clara como a noite em sua vida, uma maldição terrível que a incomodava todo mês, a ponto que era forçada a desaparecer por alguns dias. Por isso o disfarce, além da tentativa de proteger o casal de Chinês, ainda tentava parecer com uma oriental, mesmo que a distância, procurando que o foco fosse completamente nela e ao término, simplesmente se olharia no espelho, suspirando pela transformação, rindo com o resultado.




Terminado o trabalho, simplesmente abriria o armário, puxaria uma bolsa, onde colocaria duas mudas de roupas e jogaria as maquiagens com as perucas dentro, não demoraria muito para levantar a perna esquerda, deixando exposto a coxa para colocar as facas de arremesso por dentro da meia calça e a tantô entre os voluptuosos seios. Estava pronta e precisava sair daquele lugar, sendo assim, apenas se aproximou da sua kodachi, pendurada na parede, realizando uma breve reverência, enquanto caminhava em direção a porta.


- Prestem atenção no que direi, se alguém me ver aqui os dois estarão mortos, não poderei protege-los por mais que queira, portanto, nunca nos conhecemos, amistosamente, se perguntarem. Vocês foram ameaçados, digam que precisei descansar por estar ferida, que os mataria se falassem para alguém, vocês nunca foram meus amigos, apenas estavam sobre o efeito de minhas ordens. – Olhou ambos de canto, enquanto se preparava para abrir a porta. – Senhor Han, se um japonês arrogante e senil entrar por essa porta, vocês estarão mortos, mas pode ser que os poupe se disser o seguinte: “A jovem que nos ameaçou pediu para entregar isso, ela disse que não precisa de nada que venha de você”, entregue a Yuki, foi um presente dado por ele e por mais que eu a ame, se tiverem alguma chance de sobrevivência será construído no ódio. Se tudo der errado usem prata, tudo o que tiverem de prata. Muito obrigada por vocês me ajudarem e lamento que tenha colocado ambos nesse inferno, espero de coração que nada do que falei precisa ser dito e se der certo, venho tirá-los daqui e levarei a Yuki comigo, da próxima vez que nos encontrarmos. -


Esperou o momento certo, não arriscaria a segurança deles naquela casa, por isso, quando saiu, fez questão primeiro de observar todos os prédios ao redor, todas as casas e a rua, tendo a plena certeza de estar completamente vazia. Se um carro passasse ou o caminhar de alguém fosse detectado antes, simplesmente retornaria, quando sentisse que nada estivesse a atrapalhando sairia, esperando que eles fechassem a porta rapidamente, para que ela pudesse continuar o seu caminho, virando a primeira rua adjacente para que pudesse ir no centro do bairro da liberdade, onde tivesse uma maior “camuflagem”, para enfim começar a caminhar em direção a um dos pontos de ônibus, onde definitivamente iria em direção ao esconderijo para aquela noite.

Fingir não existir nenhuma relação doía muito, não era do seu feitio, ainda mais por ser acolhida de forma tão carinhosa, por isso, os primeiros passos na rua foram decididos, não poderia voltar atrás. Lohanne acabou olhando uma última vez para o céu, notando o clima friozinho que começava a cair, a roupa que usava talvez não fosse a melhor das opções, entretanto, não existia mais volta, precisava seguir em frente. Seus olhos notavam o ambiente como um todo, não conseguia perceber nada mais de diferente, o Senhor Han estava indo trabalhar e o ambiente ao redor não possuíam nenhuma alteração, ou estava muito segura ou estava caindo em uma armadilha e seu instinto dizia que o segundo era bem mais provável. Assim que a jovem se pôs a descer as escadas, com calma, observou a luminosidade de algo completamente diferente que não deveria estar ali, a princípio seus pensamentos pensaram em uma moeda, contudo, ao se aproximar, acabou percebendo que aquilo era mais que uma moedinha, mas um dobrão dourado, o que a fez se abaixar cuidadosamente. Não era estúpida para pegar algo daquele tipo com as mãos nuas, por isso, retirou um pequeno lencinho de dentro da bolsa, levando as mãos, para enfim segurar, levantando acima da cabeça para olhar contra as nuvens, procurando entender o que de fato aquilo se tratava.

Rolagem de Dados (Verificação do que é a Moeda estranha)

Percepção + Presciência
Mr.Frost efetuou 5 lançamento(s) de dados (d10.) :

10 , 5 , 3 , 3 , 10

Lohanne parecia quieta, na verdade, estava um tanto nervosa com a sua situação, como faria para se alimentar corretamente? Estando em uma Cabala a resposta era bem óbvia, pediria o alimento ou até mesmo aproveitava as suas saídas para caçar, agora, se tornava um fardo. O pegar da moeda, o misto de sensações e até mesmo o nervosismo a fez imaginar o perigo que aquilo corria, estava sendo seguida, isso era uma realidade, a moeda deixada em frente a sua casa indicava claramente isso, contudo a pergunta que vinha a tona nesse momento era se isso era bom ou ruim. O dobrão com o peixe e a caveira foi enrolada no pano e posteriormente guardado dentro da bolsa, se tivesse tempo pesquisaria mais sobre ele para saber o que faria.

A mão foi em direção a barriga, a gravidez nunca é algo agradável quando se está em adrenalina, precisava se esconder o mais rápido possível antes que chegasse a Lua Minguante, um Urso Branco, no meio da cidade, atrairia atenção em excesso, não poderia permitir isso. Quando pensou em caminhar em direção oposto, seu instinto a fez se virar e observar a figura de uma pequena menina a encarando, quem era ela? E por que a olhava tanto? Perguntas que não seriam cessadas somente por ignorar, tanto que, assim que teve a certeza de que era ela que buscava, ainda a distância, comentou.

- Tudo bem? - Procurou questionar, sendo o mais gentil possível a principio, aproveitando para observar o ambiente a distância para não cair em uma armadilha barata. - Precisa de ajuda? -

Lohanne tentava ser completamente gentil, procurava transparecer sua suposta “doçura” no ambiente para que nada de diferente ocorresse ou transparecesse, mas no exato momento em que ela comenta o nome “White Death”, a expressão do rosto franziu de tal forma que fechou a cara, não estava satisfeita com nada, a garota a frente, se é que era uma garota mesmo, conhecia sua alcunha e a primeira coisa que fez foi comentar.

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Obviamente que não teve nenhuma resposta e no exato momento em que viu a garota tentar fugiu seu instinto ficou ativo, a fazendo virar o rosto a ponto de olhar de canto para a rua, onde percebeu a figura de algo que a incomodava. Lohanne tinha duas opções naquele momento, seguir a menina que estava entrando em meio aos becos ou simplesmente virar o corpo para trás, olhar para onde viria o problema e continuar, aquilo estava longe de ser o que gostaria de fazer e por isso tomou a sua própria decisão. Respirou profundamente, fechou os olhos e se pôs a caminhar em direção ao beco, abrindo os olhos, mantendo a feição série e compenetrada, correndo para acompanha-la no que fosse necessário.