- Esperem - Disse Carlos percebendo a retirada deles - Você disse Vila Leopoldina? Isso é impossível...
- Não há mais nada lá - Apontou para onde o grupo pretendia ir - Parte da cidade foi queimada, sem ninguém para controlar o fogo, um incêndio praticamente destruiu parte da cidade, Leopoldina esta nessa parte... e o que não foi destruído pelo fogo, esta dominado por uma gigantesca horda...
Assim que o militar começa falar novamente, Bola começa a latir no homem, mais alto, mais forte, mais nervoso ainda. O instinto mais primitivo havia tomado conta dele, o mesmo instinto que o fizera sobreviver até ali estava agora mais elevado e para cada meia duzia de palavras de Carlos um latido ecoava estridente pela avenida vazia.
- Leopoldina? Destruída? - O simples pensamento me dá um nó na garganta, tudo parece congelar por um instante, as falas de Carlos, os latidos de Bola, eu penso em meus pais, minha última ligação neste mundo.
- Cala boca Bola - eu falo, mas mais parece um susurro, eu mal posso ouvir, menos ainda o cachorro.
- Eu gostaria de explicar tudo a vocês, sobre o governo, sobre nós mesmo, mas não acho que esse é o lugar mais seguro, entretanto eu posso dizer uma coisa
O cachorro continua a latir, mas alto, mais forte, mais agressivo.
- Governo? Lugar seguro? Mas quem diabos vocês pensam que são? São só uns merdas que vão morrer, como meus pais, como todo mundo
- Cala a Boca Bola - eu falo mais forte, me faço ouvir, mas o cachorro me ignora e se concentra em Carlos, sem que eu me de conta minha mão está indo para a arma na parte de trás da minha calça.
Estamos tentando construir um lugar seguro, um lugar que resista ao mortos, e aos vivos - Começou a explicar, sua voz estava em um tom sério e direto - Temos uma área segura, comida, pessoas, medicamentos e armas, obviamente um lugar desse precisa de pessoas dispostas a protege-lo, vocês podem vir conosco para lá. Sei que não confiam na gente, não confiamos em vocês também por isso estamos apontando armas para vocês - Carlos fez uma pausa fazendo um movimento com a mão e os demais abaixaram suas armas - Mas eu garanto, para onde vão, não existe mais nada. Só morte e destruição.
Quando os militares baixam as armas Bola já está quase avançando em Carlos, mas o homem parece não ter medo de um simples cachorro irritado. Eu continuo pensando nos meus país, meu estômago dá voltas, acho que quero vomitar, meus músculos se contraem sozinhos, tenho micro espasmos.
- Vou procurar algo nas montanhas, ou no interior. Se eu conseguir achar sementes consigo me virar com agricultura.
- Que? - Edrik já vinha resmungando algo desde o início, agora ele fala algo diretamente para mim não estou conseguindo pensar. O cachorro não fica quieto e isso esta me irritando muito.
- Leopoldina destruída e vocês acham que tem um lugar seguro, não há lugar seguro, o que há de mais seguro, também corre perigo. - Enquanto os militares baixam as armas eu levanto a minha, todo o movimento é automático e provavelmente estúpido, mas não importa, todos vão morrer mesmo.
- CALA A BOCA PORRA - Eu grito com o cachorro ao mesmo tempo que dou um disparo com a Taurus para o alto, o barulho faz Bola recuar assustado e silenciado.
O barulho da arma em minha mão me acalma, os espasmo muscular para, a motilidade abdominal também, os pensamentos sobre os meus pais também, tudo cessa e eu volto a razão.
- Acho melhor todo mundo ir embora, todo esse barulho não é bom. Sigam seu rumo e como eu já disse não se preocupem conosco - eu sigo em direção Kombi, um assovio e Bola se junta a mim, assustado, mas comigo.