por Philip Sáb Jun 30, 2018 7:28 pm
Adaptar-se a estar sem uma das mãos seria algo complicado para Edrik, ele não sabia o quanto era importante ter duas mãos.
Arrastou com uma dificuldade espetacular o botijão pela casa e o colocou no lugar com mais dificuldade ainda. Pegou o que estava em cima da mesa. Comeu seus biscoitos e bebeu uma das cervejas durante esse tempo, precisava estar bêbado, infelizmente a cerveja não conseguiu cumprir esse propósito. Tirou a roupa, tomou um banho ainda sentindo nojo do que poderia estar na caixa d'água vivo ou morto, Não quis cozinhar, embora não fizesse ideia de quando teria outra oportunidade. Pegou as três facas e o cabo da vassoura. Olhou bem sua base, tinha uma ideia, boa.
Com um pouco de esforço, conseguiu tirar o cabo da faca grande usando a machadinha como martelo, Depois foi até a geladeira e tirou a borracha que mantem as portas vedadas. Com sorte aquela borracha derretida poderia funcionar como cola assim como o fio de cobre da tomada. Pôs a ponta do cabo da vassoura no fogo até o alumínio ficar mais maleável, seria impossível que derretesse. Usou a faca de serra pra fazer um buraco na ponta levando quase uma hora para ficar um furo onde a ponta da lâmina da faca entrasse. Enrolou tudo aquilo em todo o tipo de borracha que tinha achado, parecia uma tocha. E queimou, a borracha e o plastico derreteram, não dando muita firmeza, mas era melhor do que nada. Com a perna da calça jeans rasgada fez uma espécie de capa para sua lança improvisada e rasgou umas tiras para dar um bom nó.
Aquela lança só poderia ser usada para perfuração, a lâmina seria empurrada para dentro do cabo sempre que usada e isso impediria uma quebra, Edrik também só poderia usá-la uma vez já que precisaria tomar um pouco de cuidado para empunhá-la uma segunda vez sem derrubar a ponta. Mas, em teoria, funcionaria para matar um doente pelas costas.
Vestiu a blusa de manga comprida e a calça que tinha achado, a outra calça que agora só tinha uma das pernas, foi convertida em algumas tiras de pano, Edrik não sentia muita dor na base da mão, e conseguiu pender uma faca de serra em cada lado, apertando com o cinto e reforçando com a calça. Parecia o Wolverine com uma garra a menos e sem dedos. Olhando para um relógio que tinha achado na casa, aquilo tudo tinha levado pelo menos seis horas, mas o relógio marcava 20:00 e ainda estava claro, estava adiantado porém era capaz de se deduzir que Edrik passara o dia todo fazendo aquelas coisas. Bebeu um pouco de água e depois de deixar a água fervendo por mais de vinte minutos, fez quase dois quilos de arroz, que comeu com uma facilidade incrível devido a perda de energia dos dias anteriores, sentou no sofá de costas para a porta refletindo sobre o que fazer em seguida. Não pensou muito e acabou adormecendo, acordando com um segundo sonho conturbado.
Edrik pegou a corda e por segundos fitou a ideia do suicídio, mas desistiu quando olhou pra sua lança, precária, porém usável. A segunda calça agora era um short curto, Edrik rasgou novamente uma das pernas e tinha um protetor perfeito de pescoço, colocou ambas, de forma que a boca da calça ficasse em seus ombros. Parecer um mendigo louco não estava nos planos de Edrik, foi trabalhoso ainda por cima, encaixar todo aquele excesso de pano em volta do pescoço de forma que a touca da blusa não ficasse invalida. No fim, Edrik foi até o espelho e viu como estava ridículo, mas não se importou muito, se pudesse teria arrancado a porta da geladeira para usar como escudo.
Deitou no sofá, ainda estava entardecendo, iria descansar e no amanhecer do dia seguinte iria procurar outro lugar, decidiu não arrumar a mochila. E se incomodou com o cheiro de podre que vinha da cozinha, mas ele tinha uma noção do que poderia fazer com aquela carne estragada. Olhou para suas "garras" no braço esquerdo e para a "lança" na mão direita, e disse as únicas palavras que pôde durante todo o dia - Espero que funcione -