[Dia 0] Journey to the North: Yaga.

Lancer havia sido enviada primeiro. Aparentemente seu Mestre possuía planos, pretendia que ela assegurasse uma base para a Facção da Alvorada se prontificar. Por isso ela estava no meio do gelo, embrenhando-se na selvageria glacial do Polo Norte. O lugar estava de dia, e por ser um Espírito Heroico, ela não possuía problemas com o frio, mas ainda assim aquele inferno de gelo era bastante irritante. Ela chegou à uma fenda. A fenda era gigantesca, não era possível ver o fundo, mas era possível descer. As outras opções era construir um iglu em um descampado de neve e gelo onde um inimigo com um Fantasma Nobre Anti-Exército qualquer poderia alvejá-los facilmente enquanto comiam ou preparavam a estratégia para a batalha.

Lancer não teve grandes problemas na descida, a parede de gelo era bem mais fácil do que uma montanha ou penhasco, o que a tornava mais simples de se mover. Após alguns metros na escuridão, ela chegou ao fundo, a fenda era bem mais rasa do que aparentava e graças à Clairvoyance fornecida pela Skill Wisdom of the Haunted Grounds a lanceira podia enxergar no breu como se estivesse na luz do dia. Os olhos escarlates da mesma notaram uma série de túneis logo a frente, escavados através de magia e tecnologia, por humanos possivelmente. Uma possível base talvez? Bastava seguir em frente... Mas...

- Alto lá! - uma voz humana gritou, uma espingarda carregada nas mãos. - Quem vem!?

O estranho só era humano em voz e aparente mentalidade, pois ela discerniu no escuro a forma de um animal semelhante a um lobo bípede, vestido com casacos de pele e portando uma arma de fogo. A respiração dele estava calma, possivelmente já havia feito aquilo antes. Um porteiro? Um familiar guardião? Quem sabe.

Ayleen G escreveu:

I am the shadow on the moon at night

Filling your dreams to the brim with fright

Scátchach desceu a parede de gelo sem grandes problemas, usando a lança para se locomover mais facilmente. Em instante chegou ao fundo da fenda. A escuridão lhe era bem-vinda, causando um alívio como um copo de água gelada quando se tem sede. Não foram precisos sequer alguns segundos para que seus olhos se acostumassem com a escuridão. Os túneis que estavam à frente a deixaram um tanto intrigada. "Certamente são interligados entre si, mas será que ligam a outro lugar?"

Seus pensamentos foram interrompidos pela voz de uma pessoa, ou ao menos era o que parecia, pois na verdade sentia que estava frente a uma espécie humanóide e lupina. A lança estava sempre pronta e também o seu corpo. Ao menos sinal de hostilidade, Lancer reagiria sem piscar.

-Baixe a arma e talvez obterá sua resposta. - Ela aguardou alguns segundos mas, na verdade, não pretendia se apresentar assim, abertamente. - Venho só, em missão de reconhecimento. Se este local está habitado, seguirei minha viagem. - Era meia verdade. Pretendia antes descobrir se valia a pena matar os possíveis habitantes do lugar, ou se talvez encontrar outro local para a base fosse melhor. Bem... Não lhe agradava a ideia de voltar para aquela imensidão de gelo e neve, então era mais provável que limpasse o lugar para cumprir o objetivo de seu mestre.

thanks weird for

- Missão de reconhecimento? - a figura perguntou com calma. - No território dos Yaga? Foi enviada pela Associação dos Magos ou pelo padre? Dependendo da sua resposta, somos aliados.

O homem-lobo não abaixou a arma, ele parecia determinado a morrer se fosse necessário.

- Não me entenda mal, senhorita... - ele disse com o tom de voz que um soldado que estivera em muitas guerras usaria: sarcástico, porém cansado e honesto. - Mas meu povo já sofreu demais... Quando o pessoal da Associação enfiou aquela... Coisa... No fundo do gelo, sobrou pra gente ter que lidar com aquilo... E então veio o padreco e decidiu reativar o bagulho...

Os Yaga foram uma espécie criada pelos experimentos mágicos de Ivan Grozny, o Terrível. Metade humanos, metades Feras Mágicas, eles eram uma colonia russa no Polo Norte, documentada pela Associação como uma sociedade funcional. Cidades inteiras embaixo do gelo. Aquecimento global? Uma farsa produzida pela mídia facilmente manipulável para manter aquele povo seguro. Aquele povo sofrera demais. Nas mãos de muitos czares tiranos ao longo das eras. Usados como comida. Mandados para o abate. Criados para servirem de bonecos de teste. Os Yaga eram aliados da Associação fazia muito tempo. Mas era uma amizade delicada... Onde um tentava não pisar no calcanhar do outro.

- Tch... - ele abaixou a arma. - Certo, certo... Cessar fogo, então.

Ele se aproximou, cuspiu na própria mão peluda e ofereceu em um aperto de mão típico de soldados e guerreiros. Os olhos azuis do lupino eram como um par de safiras, refletiam até a alma de quem os encarava, mas não perdiam o próprio brilho inseguro e entristecido. O brilho de alguém que perdeu a esperança.

- Meu nome é Patsy. Ivan Joseppe Patsy. - se apresentou. - O "dispositivo" está enterrado no gelo, mas o padre e o grupo dele estão controlando os arredores daquela área. Tch... Apenas um deles foi o suficiente pra expurgar um exército de 500 Yaga...

Isto era um feito e tanto mesmo para um Espírito Heroico devido a natural resiliência das criaturas.

- Uma menina, uns dezesseis anos parece. - disse guiando-a pelo corredor escuro. - Nós só vimos ela e... Uma sombra. Uma sombra com um par de olhos brilhantes. A maioria de nós simplesmente caiu duro como pedra, alguns de ataque cardíaco, outros cobertos de gelo e neve.

Ele rosna baixinho, irritado com a fraqueza de estar lá, mas não poder fazer nada.

- Os que sobreviveram como eu fugiram pra cá, os soldados e caçadores escoltaram a população pra essa colônia reserva, mas sem poder sair pra caçar e com o comércio e turismo prejudicados nossos suprimentos fornecidos pela Associação serão rapidamente esgotados. - ele comenta. - Ainda mais com os ataques em vagões de passageiros e de carga. Nossa economia já não era tão boa, em uma semana ou duas estaremos falidos.

Ele pendura a espingarda pela cinta de couro no ombro esquerdo e puxa um isqueiro e um cigarro.

- Se importa? - disse fazendo menção a ascender o fumo, um fumante com respeito aos outros, algo raro. - Ah, e acho que são uns sete. Uma mulher asiática, uma garotinha, um cara europeu magricela com sorriso de cientista maluco, entre outros. De qualquer forma, Lancer, acho que temos alguém que você gostaria de conhecer.

Ele parou e colocou um braço na frente de Lancer. Esperou alguns segundos e assobiou. Um assobio repercutiu novamente no escuro vindo do outro lado. Luzes se ascenderam, runas eslavas cavadas nas paredes se ascenderam quando Patsy disse algo em russo. A Câmera era coberta de túneis, para todos os lados, o gelo parecia firme da mesma forma no entanto. As orelhas do Yaga tremeram.

- Certo, certo... - ele disse pra alguém guiando-a por uma escada lateral, cigarro na boca, espingarda no ombro. - Perdão, Lancer, mas parece que ela foi guardar o último trem de transporte de turistas. O grupinho do padre andou atacando os trens pra "evitar inconveniências", já que só magos vem pro Polo Norte de trem e contando o fato de o trem voar, acho que você entende que tipo de inconveniências... Bem, quer um pouco de comida? Acho que temos alguma coisa por aqui que algum humano possa digerir.

Ele disse enquanto eles passavam pelo iglus e cavernas improvisados para estocagem e moradia. Vários Yaga feridos e doentes estavam no chão. Alguns com queimaduras de frio, outros pareciam ter ossos quebrados.

- Pro "grande" Che- - um tremor abalou a colônia, neve e cristais de gelo caíram do topo do teto. - Okay... Isso... Isso foi estranho...

Ele diz, suas orelhas atentas tilintam rapidamente, o lupino olha para o alto.

- Certo. - ele diz. - Bom, o Chefe quer ter uma conversa com você, é só seguir ali e entrar naquela caverna grande. Eu tenho que ajudar com os destroços do trem de passageiros...

A caverna indicada foi emoldurada no gelo por calor e raios. Era como uma fossa natural modelada para lembrar uma sala do trono. No centro dela, uma enorme criatura se encontrava. Era um titã colossal de cor azul, longas presas de mamute nos ombros, raios e filetes de relâmapgos correndo pela sua intricada pele armorial. Um rosto não era discernível naquilo.

- Há muito eu não vejo um Espírito Heroico. - a criatura disse, um buraco relampejante em seu rosto parecia ser sua boca e seus olhos ao mesmo tempo, ele carregava um pesado cajado dourado e nas costas tinha uma capa escarlate como sua coroa. - Por favor, entre.