À meia-luz da taverna, o vestenês pediu mais uma caneca de rum. Fazia sol lá fora, mas a pocilga em que Harald se encontrava ficava nos porões de um armazém do porto de Belmont, iluminado apenas por algumas velas estrategicamente posicionadas. Três dias haviam se passado desde a sua chegada à cidade e até agora ele não teve progressos em sua caçada aos sequestradores.
- Ora, não me tome como mentiroso! - A conversa de um grupo ao lado do vestenês, próximo do balcão, atraiu a sua atenção. Um homem de bigode fino e rosto angular, e aparentemente o único sujeito bem vestido do lugar, era quem estava tomando a palavra com o seu sotaque montenho. Ele parecia ultrajado com alguma coisa. - Se eu disse que tenho um convite para adentrar os domínios reais e ver de perto o artefato que descobriram, é porque é verdade.
Uma mulher, abraçada a um homem de aparência rude típico de um marinheiro local, riu de descrença. Se o homem era seu cliente ou seu namorado, era difícil dizer, mas ambos pareciam bêbados, ao contrário do sujeito que parecia tentar negociar com o casal. O homem rude abriu a boca e disse em tom de escárnio:
- Essa história que existia uma civilização anterior aos homens é uma lorota. Esse artefato que tanto falam não deve passar de uma bugiganga qualquer. Uma vez me fizeram crer que haviam descoberto um artefato, e quando me mostraram, vi que se tratava de uma colher. Uma maldita colher! - A mulher riu novamente, mas dessa vez por genuinamente achar engraçado a situação. Ela era de estatura baixa, mas tinha boa constituição física e estava usando um vestido decotado que deixava à mostra as curvas de seus seios. Já o homem que estava ao seu lado era careca, alto e forte, com algumas tatuagens visíveis nos braços e no pescoço. Ele prosseguiu com a história, dessa vez em tom ameaçador: - Eu tive que dar uma lição no cara para não querer mais vender gato por lebre, e no fim lhe arranquei um olho com a colher que ele queria me vender. Ao menos o "artefato" teve alguma utilidade antes de eu arremessá-lo no mar, pois me fez rir muito por dias.
Harald viu a sua caneca, depois de enchida de rum, ser depositada novamente à sua frente no balcão, enquanto ele seguia ouvindo a conversa.
- Existem provas que comprovam a existência dos Syrneth - declarou o homem de bigode fino, na defensiva. O vestenês, é claro, já havia ouvido muitas histórias a respeito deles, mas nunca estivera em nenhuma cidade perdida ou objeto manuseado por esta civilização do passado. Após o marquês de Belmont anunciar a descoberta do artefato Syrneth, os cidadãos começaram a ficar curiosos e ouriçados ante a perspectiva de chegar próximo de um objeto milenar. Mas como toda regra tem a sua exceção, o careca tatuado e a mulher ao seu lado não pareciam nutrir qualquer interesse nisso. Isso fez com que o detentor do convite se voltasse para o Harald Hardrada, o único que havia sobrado próximo o suficiente para ter ouvido a conversa. - E você, meu amigo, teria interesse? Por dez guilders ele é todo seu, e você então poderá participar da festa aos arredores do palácio e ver com os próprios olhos a mais recente descoberta da humanidade.
Parecia um preço justo, pois nessa festa devia ter comida e bebida de graça. E, quem sabe, Harald poderia ter mais sorte de encontrar as pistas sobre os sequestradores lá do que vinha encontrando na região portuária.
Ao abrir a janela de seu quarto da estalagem, Valentina sentiu a brisa do mar indo de encontro ao seu rosto. A visão do mar aberto era gratificante, assim como o movimento das embarcações indo e vindo do porto. Belmont é uma cidade portuária de Montaigne, na costa norte onde fica o Estreito de Avalon. Não foi uma viagem longa para Valentina Hayes, uma nobre avaloniana. Mesmo sendo estrangeira, ela foi bem recebida por todos.
Belmont, como Valentina veio a descobrir logo nos primeiros dias, era dividida em três partes. A cidade baixa é a região do porto, e portanto fica ao nível do mar. Possui muitas tavernas barulhentas, prostíbulos e armazéns, e é, sem dúvida, a parte mais feia, suja e fedorenta da cidade. A cidade alta, por sua vez, fica em cima do monte e é lar dos mercadores, nobres de baixa estirpe e artistas. É protegida por fortificadas muralhas, e foi ali, numa estalagem da cidade alta, que Valentina optou por ser hospedar. E ainda havia os domínios reais, morada da família do marquês Pierre Corella d'Belmont, proprietário destas terras e cujo grande palácio de mármore chama a atenção de todos que olham para aquela direção por sua beleza estonteante. Além da família do marquês, nobres de nascimento mais elevado e guardas, algumas dezenas deles, tinham suas habitações instaladas ali, seja no palácio ou em suas câmaras subterrâneas.
A divisão de Belmont
O acesso aos domínios reais eram bastante restritos, mas naquele dia Valentina viria a conhecê-los. Tudo por causa de um convite que recebeu na noite anterior com o selo de Pierre Corella. Devido à descoberta de um daqueles artefatos estranhos, os portões para os domínios reais seriam abertos para a presença de algumas ilustres figuras. Haveria uma festa e uma boa oportunidade de Valentina interagir com a alta aristocracia da cidade, e, quem sabe, conseguir ter uma palavra com Hamlet, o seu contato que poderá ajudá-la a adentrar a corte da Rainha Elaine, de Avalon.
Após se arrumar com o seu melhor traje, Valentina dirigiu-se aos domínios reais. Apresentou o convite aos guardas e teve sua passagem liberada. Ela foi acompanhada até o pátio em frente ao palácio, onde havia sido montado uma grande estrutura para atender toda aquela demanda. Tendas serviam as mais variadas especiarias e bebidas que vinham de terras longínquas; artistas se apresentavam num grande palco montado em frente aos portões do palácio; e até o próprio Pierre Corella se fazia presente a seu modo. Ele estava de pé numa das sacadas do palácio, assistindo à tudo.
A festa estava apenas começando e não tinha hora para acabar, mas, até então, nada de avistar Hamlet. Ela se via obrigada a conversar com os demais convidados, pois muitos deles tinham alguma curiosidade a seu respeito, por nunca terem-na visto em Belmont. Um deles, um nobre com um traje de gala que ia até o pescoço, mesmo com o calor que fazia, perguntou ao saber que ela não era de Montaigne.
- O que faz uma dama tão longe de casa?
- Capitão? - uma voz chamou-lhe em seu sonho. - Acorde, capitão, o senhor tem um compromisso hoje, você se lembra?
Aos poucos o capitão Zabuza despertou. Ele estivera sonhando com belas garotas e foi trazido à realidade por seu imediato, um rapazote de dezoito anos com sardas no rosto. Ver aquele rosto nunca lhe deu tanto desgosto como naquele momento. O rapaz era leal e proativo, mas por que diabos tinha que acordá-lo tão cedo? Levou algum tempo para que Zabuza se recordasse do que o seu imediato estava se referindo.
Aquele era o dia da festa em frente ao palácio e toda aquela baboseira da alta nobreza. Foi com surpresa que o capitão Zabuza D'Artagnan recebeu o convite. Como capitão de um navio, foi alegado na carta que ele era merecedor dessa grande honraria. Não que Zabuza se importasse com tudo aquilo, mas era inegável os benefícios que ele poderia ter indo para lá. Era a chance de ouro para ele conseguir recrutar nomes importantes para a sua fundação, afinal nem todos que estariam presentes seriam pessoas da nobreza. E, além de tudo, talvez fosse interessante ver com os próprios olhos o artefato recém-descoberto. Ele devia valer algumas milhares de moedas.
Desse modo, o capitão espantou o resto de sono que ele ainda tinha pela noite mal-dormida e foi se vestir apropriadamente. Ele iria sozinho, pois ninguém mais da sua tripulação recebeu o convite. Bom, eles tampouco se importavam. Zabuza sabia que muitos deles estavam se divertindo nos bordéis da cidade baixa para tirar o atraso dos longos dias em alto-mar. Após uma subida penosa até os montes elevados da cidade, Zabuza alcançou os domínios reais. Apresentou seu convite e foi levado até os pátios exteriores do palácio.
- Uma bebida para começar o dia bem, senhor? - um servente lhe oferecia uma taça de alguma bebida alcoólica. Havia muitos deles oferecendo as mais diversas bebidas e pratos, tudo ao custo do marquês local. Zabuza podia ter muitos pontos desfavoráveis aos nobres, mas uma coisa ele tinha que admitir: eles sabiam fazer uma festa.
Os convidados, Zabuza reparou, consistia de ricos mercadores, artistas conceituados, pessoas do clero e figuras importantes da sociedade como um todo, além de é claro de haver muitos nobres. Não demorou muito para que ele reconhecesse uma em especial: a senhorita Valentina Hayes, a moça que ele havia transportado em seu navio para que ela viesse de Avalon para Belmont. Ela estava conversando com um homem da aristocracia, a julgar pelas suas vestimentas pomposas.
- Você está linda, não há com o que se preocupar.
Mama Odi estava com Tarja nos bastidores do palco montado para as apresentações da trupe, e estava ajudando-a a se arrumar. Havia sido um dia de muita expectativa, afinal não era todo dia que a Trupe Phantasma se apresentava para uma figura tão importante como o marquês Pierre Corella. Nem mesmo o infortúnio do tio Agan, que ficara doente às vésperas da apresentação, abalou a moral da trupe. Todos estavam se preparando para fazer o melhor show de suas vidas.
- Lazaré disse que se tudo ocorrer bem, devemos receber o convite de nos apresentarmos em Charouse - continuou mama Odi em tom empolgado enquanto penteava o cabelo de Tarja. - A capital - disse de modo sonhador.
Quando um porta-voz do lado de fora anunciou para os convidados da festa, em alto e bom tom, que a próxima atração era a Trupe Phantasma, a ansiedade tomou conta de todos. Ansiedade essa que só passaria quando cada um estivesse em cima do palco, fazendo a sua apresentação e dando o melhor de si. Para o azar de Tarja, ela seria a última a se apresentar, e pela primeira vez desde que viajava com a trupe, faria uma apresentação solo. Em meio à expectativa de chegar a sua vez, Tarja sentia falta da tia Broca. Ela sempre a animava, porém teve que ficar cuidando do tio Agan.
Aos poucos os membros da trupe foram se apresentando, alguns em duplas ou em trios. Era terrível ficar nos bastidores sem conseguir ver o show de cada um, mas a julgar pelos aplausos que se ouvia do lado de fora, todos foram muito bem. Quando, enfim, chegou a vez de Tarja se apresentar, as trigêmeas vieram lhe desejar sorte.
- Muito boa sorte, prima Tarja - disse Bettie, abraçando-a.
- Vai dar tudo certo, você vai ver - incentivou Hettie.
- É só entrar lá e fazer o que você sabe - foi a vez de Lettie transmitir o seu voto de confiança.
Apesar de todos aqueles incentivos de suas adoráveis primas, nenhum deles chegou perto do Sr. Huxley. Enquanto a jovem Tarja se dirigia até o palco, ao passar pelo Sr. Huxley, ele lhe deu uma piscadela que lhe imbuiu de toda a coragem que precisaria para encarar aquele desafio. Tarja subiu ao palco sob um dia ensolarado. Ela estava ciente que atrás dela, numa varanda do palácio, encontrava-se o marquês Pierre e sua família. E, à sua frente, estava toda aquela multidão de pessoas da alta sociedade.
Era hora de dar o seu show!
OFF-GAME (Todos):
Pessoal, Esse é um post introdutório. Aproveitem os seus próximos posts para descreverem seus personagens, fisicamente e o tipo de roupa que vestem, e deem particularidades únicas à personalidade deles conforme interagem com o cenário e com o que descrevi. Esse é o momento em que vocês começam a conhecer melhor os seus personagens, e é o momento também em que apresentam eles aos leitores, o que inclui a mim, então caprichem! Caso queiram fazer quaisquer comentários OFF, utilizem a tag de spoiler ou usem o tópico OFF-GAME.
Assim que Valentina ouviu a educada pergunta, ela deu um sorriso contido. Em um gesto bem calculado, colocou a mão na bolsa de veludo negro que carregava consigo e puxou um leque com o qual se abanou enquanto olhava o nobre a sua frente. Tentou lembrar-se do seu nome, mas não o sabia. Não estava curiosa para conhece-lo ou saber o seu nome. Nobres eram sempre tão iguais entre si, pareciam apenas mudar de lugar e costumes. Ela gostaria muito de revirar os olhos e dá as costas a ele e seu jeito arrogante. Mas ela tinha um papel a desempenhar.
Valentina deixou seu sorriso alargar e fez uma reverência elegante em direção ao nobre. Ela se ergueu o olhando diretamente nos olhos se desviar ou abaixa-los. Estava ciente do belo vestido dourado que vestia e de como ele contrastava com sua pele escura e seus longos cabelos negros que estavam trançados em um penteado que levou a metade da tarde para ser feito. Ela parecia brilhar, seus olhos brilhavam junto com seu sorriso. Ela parecia iluminada e sabia disso. A roupa, as jóias, a postura e o olhar, tudo era planejado. O fato de ser alta só a ajudava, já que podia encarar outras pessoas de igual para igual e isso só a deixava com o olhar mais arrogante.
- A dama só teve a vontade de conhecer as belas terras de Belmont que tanto ouviu falar - Falou com a voz leve e com um sorriso ainda acompanhando - Eu não aguentaria nem mais um ano de vida, se caso não pudesse ver a beleza de Belmont - Falou com um suspiro afetado. - Até a brisa de Belmont é poética - completou.
Ela olhou para os lados e voltou seu olhar para o nobre. Abaixando o leque, o guardou na bolsa e passou a mão pela lateral do vestido dourado com alguns detalhes em branco na borda dele. Um longo colar de perolas adornava seu pescoço e pulseiras de ouro reluzia no seu pulso e um par de brincos rubis se penduravam em suas orelhas.
- Oh! Minha nossa - Exclamou - Estou aqui falando e não me apresentei. Que feio da minha parte - Ela estendeu a mão esquerda - Senhorita Valentina Hayes...
Zabuza olhou de relance para Valentina e sorriu ao perceber seu tédio naquela festa. Voltou logo depois ao seu raciocínio. Enquanto pegava uma bebida percorreu o pátio procurando disfarçadamente escutar diferentes conversas.
Soube então do fato de uma apresentação artística e nesse momento procurou se apressar para achar um aliado. Ouviu uma conversa interessante, mas logo os indivíduos se dispersaram. Isso o chamou a atenção. Então voltou ao seu posto enquanto observava os indivíduos estranhos. De cabelos curtos pretos, com uma pele bronzeada, vestindo uma roupa simples, Zabuza tomava severos cuidados para não ser notado pelos dois que tanto observava na festa. Com um olhar penetrante , se posicionava em lugares estratégicos enquanto bisbilhotava.
Pediu para alguns membros da sua tripulação ficassem perto dos domínios reais. Sempre cuidadoso, esperava ansioso para descobrir o que aquele lugar reservava para ele .
Mesmo com as palavras e gesto de reafirmação, Tarja ainda estava preocupada com a situação da trupe, com a falta do tio Agan para conseguir a “renda” extra, a trupe talvez passasse por alguns apertos, e queria tentar amenizar isso com sua apresentação. Respirando fundo, ela puxou o seu lenço por cima dos cabelos louros, escondendo seu rosto do público a sua frente, permitindo que ela os visse, mas que sua identidade permanecesse como um mistério por mais um tempo para o seu público.
Era hora de dar seu show.
Assumindo a posição ao centro do palco, Tarja fechou os olhos lentamente, e deixou seu corpo e mente serem guiados pela música, apenas tendo o desejo que sua apresentação deixasse a família de nobres em uma das janelas atrás dela, curiosos o suficiente para que voltassem a contratar a trupe. O ritmo da música, mais animado do que talvez os nobres estivessem acostumados, parecia envolver a jovem de no máximo 19 anos. Com passos rápidos, o vestido de tecidos coloridos, voavam livremente ao seu redor, fazendo com o cinto de ‘moedas’ cintilarem a luz do sol. Seus pés descalços batiam no chão do palco conforme o ritmo, adicionando mais ritmo e melodia para a apresentação. Suas mãos entrelaçavam o lenço ao seu redor, escondendo e revelando o sorriso animado em sua face, e seus olhos verdes pareciam cheios de vida, convidativos para entrar no mesmo ritmo que ela estava. Nada e nem ninguém parecia importar para ela naquele momento, estava tão feliz e solta quanto aquela canção, e sua voz refletia isso, ecoando com força e alegria que tinha, até mesmo em sua última nota.
Tarja se apresentando
Parando em sua última pose, Tarja permitiu-se olhar para o público esperando a reação, sem deixar de sorrir para todos, tentando controlar sua respiração ofegante. De jovens damas sendo cortejadas, aos demais nobres cavalheiros caminhando, tudo o que esperava era por uma reação, e com sorte, uma positiva.
Harald esvazia outra caneca de Rum com facilidade, esperando que talvez o alcool clareasse suas ideias. Por três dias seguiu com afinco o rastro dos atacantes, dormindo pouco e se esforçando muito, porém, ao chegar em Belmont o rastro simplesmente sumira. Nenhuma pista, nada. Harald sentia-se como um marinheiro num nevoeiro, e repassava o que tinha feito até ali, porém não achava onde havia perdido o fio da meada. Sua atenção é atraída por uma pequena discussão que começava na taverna. Diferente das outras, em que geralmente os participantes tinham a língua pesada de Álcool, nessa o que se exaltava falava normalmente, até um pouco rápido, enquanto era escarniado pelos presente.
- E você, meu amigo, teria interesse? Por dez guilders ele é todo seu, e você então poderá participar da festa aos arredores do palácio e ver com os próprios olhos a mais recente descoberta da humanidade.
Harald alisou sua barba ruiva, pensando...era uma proposta interessante...fazia dias que não comida farta e de qualidade, fazia dias que suas refeições não passavam de o estritamente necessário e ainda poderia, quem sabe, encontrar uma pista sobre onde foram os atacantes. Enfiou a mão na sacola, sem desfocar de seu ofertante. Pega as moedas em sua bolsa, num movimento ágil, exatamente 10 guilders, e estende a mão, para o ofertante, que animosamente se dispõe a pegá-las. Assim que a ultima moeda é soltada de sua mão, num movimento ágil, Harald agarra a mão do ofertante, segurando-a e fala:
-É bom que tudo que você prometeu seja verdade, ou então você vai descobrir que ter um olho arrancado com uma colher será a menor de suas dores.
Estende a mão para receber a sua compra, enquanto pergunta:
-Diga tudo que tenho que saber sobre o local e sobre o artefato, quem mais foi convidado e como, pela paciência do Pai de Todos, você conseguiu esse?
Harald mantem-se imponente, esperando a resposta do indivíduo:
Harald Hardrada
Embora a possibilidade fosse pequena, talvez pelo sua esperança de encontrar algo relativo a sua busca, Harald sentiu acender-se dentro dele novamente a esperança de reencontrar algo que o guiasse ate os atacantes.
Harald reparou no brilho de suas moedas refletindo nos olhos de seu ofertante. O homem não havia pensado duas vezes em pegar aquele punhado de moedas para si, um erro que poderia ter-lhe custado caro. No último instante, o vestenês agarra a sua mão e o ameaça com duras palavras.
- E-eu - gaguejou o homem, intimidado - seria um tolo se tentasse enganar alguém como o senhor.
Quando Harald soltou a sua mão, o homem deu um leve suspiro, aliviado, pois estivera sentindo algum incômodo com o aperto, mesmo Harald não fazendo a menor força. Com gestos cautelosos para não incitar ainda mais agressividade em seu comprador, o homem sacou de suas vestes um documento e entregou-o ao vestenês, que abriu a carta e leu. Parecia um convite autêntico e tinha um selo vermelho e dourado que comprovava que alguma importância haveria de ter.
- Ganhei num jogo de apostas - disse o homem de modo casual -, mas percebi que não me seria útil. Para alguém simplório como eu, mais vale dez moedas no bolso que me garantem algumas refeições do que todo o luxo desse evento, não é mesmo, amigão? Por outro lado tenho certeza que você fará bom proveito dele. Eu não sei muita coisa sobre o artefato, pra falar a verdade... - disse o homem em tom de desculpa -, apenas quem possui o convite poderá vê-lo de perto. Mas eu sei que além de comida e bebida, haverão belas mulheres e alguém com o seu porte deverá e muito chamar a atenção delas. - O homem então aproximou o rosto um pouco mais e sussurrou para Harald - Dizem que as montenhas adoram gente de fora.
Àquela altura o homem já havia guardado os dez guilders e tratou de finalizar logo a conversa antes que o vestenês pudesse se arrepender de algo. Harald, então, resolveu ir até o local da festa do mesmo modo como ele chegara à Belmont: sozinho e com esperança de encontrar pistas dos atacantes de sua vila. E, quem sabe, estaria reservado a ele alguma dose de diversão.
Na festa, a nobre de Avalon se via presa à conversa com aquele aristocrata engomadinho. Valentina estava acostumada a lidar com sujeitinhos como aquele, que eram presas fáceis às suas palavras doces e gestos calculadamente sedutores. O nobre riu quando ela falou de modo tão bonito de Belmont... aquele riso de quem tenta forçar uma situação para ganhar intimidade, mas que no fundo, só fazia Valentina ficar com ainda mais tédio, embora ela fosse muito boa em não deixar transparecer isso.
- A beleza de Belmont não é nada comparada à sua, e eu, como apreciador de uma boa poesia, não saberia escrever nenhum verso mais belo do que este que está à minha frente. - A cantada. Todos os nobres pareciam ser irritantemente previsíveis, pois não podiam ver uma mulher sem acompanhante que logo tentavam se entreter. - E, ah, o erro foi em não ter me apresentado primeiro. Sou Gerárd Maximiliano - ele pegou a mão de Valentina e deu um beijo em sua face conforme a etiqueta, e depois complementou: - Eu moro num quarto no primeiro andar do palácio, sou muito amigo de Pierre Corella. Se você quiser me visitar depois desse magnífico evento, muito me honraria.
Perto dali, o capitão Zabuza havia ouvido parte da conversa e havia achado certa graça em perceber o desconforto de Valentina naquela situação. Os poucos dias de viagem no navio de Zabuza foi o suficiente para ele saber que a nobre não era o tipo de mulher frágil e indefesa, afinal, que mulher ousaria comprar passagem num navio pirata apenas para pagar um preço mais acessível? Ele bem que podia ter-lhe ajudado a sair daquela tediosa conversa com o nobre de Belmont, mas o capitão tinha outros planos e objetivos naquele lugar.
Caminhando por entre os convidados, Zabuza D'Artgnan procurava entreouvir alguma conversa que lhe ajudasse a encontrar algum aliado em sua luta contra o poder. Ele chegou a ouvir um grupo de pessoas criticando todo o ouro gasto com aquele evento, que era um desperdício de dinheiro. Talvez fossem pessoas que poderiam atuar contra o governante local, o tal de Pierre, e sendo assim seriam bons aliados. Porém o grupo logo se dispersou, e Zabuza continuou observando tudo e aprendendo sobre aquele lugar e seus costumes. A maioria das pessoas que estavam na festa eram muito diferentes com as pessoas que Zabuza estava acostumado a lidar, e por isso ele tinha certa dificuldade em se misturar. Muitos, inclusive, não disfarçavam o incômodo que sentiam com a presença de um pirata nos domínios reais.
Sua atenção, assim como a de todos os presentes, pareciam então se voltar ao palco, onde uma jovem dançarina iniciava sua apresentação. Até mesmo o vestenês Harald, que chegou a poucos instantes atrás no grande pátio externo, parou para assistir o show. Tarja, como foi anunciada, assumiu sozinha o grande palco montado e esbanjou toda a sua graça. Era uma menina jovem, com não mais do que vinte anos de idade, e a felicidade com que expressava a sua arte cativava os presentes. Até mesmo Pierre, do alto da sacada, parecia estar apreciando a dança. Em sua última pose, Tarja arrancou vários aplausos e alguns assobios.
Até Gerárd, que estava cortejando Valentina, se viu por um momento preso àquela apresentação, e foi um dos que aplaudiram. Aquele, talvez, fosse um bom momento para que a avaloniana conseguisse despistá-lo. Bastou um olhar à sua volta para reconhecer a figura do capitão Zabuza. Era engraçado como suas vestimentas se destacavam de todos os demais.
- Senhoras e senhores - anunciou o porta-voz do evento, e sua voz alcançava até o limite do outro lado do pátio - essa foi a apresentação de Tarja, da Trupe Phantasma! Agora gostaria de anunciar a todos os presentes que dentro de uma hora liberaremos a visita ao grande artefato que Belmont descobriu! O artefato está numa sala reservada dentro de nossa capela e uma fila será formada no setor leste a todos os interessados!
Terminada a sua apresentação, Tarja se sentiu mais leve enquanto retornava para os bastidores e se reencontrava com a mama Odi e todos os demais.
- Foi a melhor apresentação que vi em décadas - disse mama, orgulhosa, dando em seguida um abraço afetuoso em Tarja.
Os outros repetiram o gesto e a parabenizaram entusiasmados com a apresentação. Tia Ximena foi a última a entrar no lugar, com o sorriso de orelha a orelha.
- Eu juro que vi o Sr. Corella esboçar um sorriso. E ele não é um homem dado a sorrisos, o máximo que ele havia feito até então foi aplaudir moderadamente as outras apresentações. Ele adorou a sua dança.
- Não é da dança que ele gostou - a voz de Huxley, apoiado no fundo do camarim, foi ouvida. - É o jeito de Tarja que encantou a ele, e encanta a todos. Sem tirar o mérito de mama Odi, mas a técnica nunca vai superar o carisma, e isso Tarja tem de sobra.
- De qualquer modo, foi incrível - disse Tia Ximena, sem querer entrar em qualquer discussão.
Passada à euforia da apresentação, os integrantes da trupe começaram a arrumar suas coisas. Foi o momento que mama Odi se aproximou para falar a sós com Tarja.
- Filha, escuta... Nós adoraríamos ficar para o resto da festa, mas precisamos ver como o tio Agan está. Acreditamos que Pierre Corella possa achar uma desfeita se formos todos embora, e, como você conseguiu chamar a sua atenção, achamos que faria bem se você ficasse para curtir um pouco. Vá ver o artefato de que tanto falam e depois nos conta como ele é, tenho certeza que até o tio Agan ficará feliz com este relato. Estaremos na mesma hospedaria na cidade baixa, te esperando, tá bom?
Mama Odi esperou a anuência de Tarja para então despedir-se.
OFF-GAME (Todos):
Pessoal, Leiam o post inteiro. Por exemplo, inicio o post com o Harald e depois o cito novamente, na festa. Como tá bem no início, esse ainda é um post para vocês conhecerem melhor os seus personagens. Vocês podem aproveitar e descreverem em seus posts o que farão na próxima uma hora, quando então será liberada a visita até a sala em que contém o artefato. Esse será o momento em que pretendo reunir todos os PJs na mesma cena. Em nosso tópico OFF, irei postar algumas dicas de interpretação.
O sorriso de Tarja apenas aumentou ao escutar os aplausos e assovios. Estava realmente feliz de ver o público a sua frente feliz com sua apresentação, agora faltava apenas saber se o público na janela também estava tão feliz quanto as pessoas a sua frente. Fazendo suas reverências ao público, a menina se virou e saiu do palco em passos rápidos.
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Ao receber o abraço de Mama Odi, Tarja ri, retribuindo o abraço da sua figura materna.
- Dúvido, Mama Odi, de todas as histórias que a trupe conta, foi a apresentação da tia Ximena em Castilha que conquistou um lord, não? - A garota sorriu antes de abraçar os demais da trupe, porém, ao iniciarem a discussão sobre o nobre local, sentiu um leve rubor em seu rosto, e logo tentou acalmar os ânimos de todos.
- Independente, dança ou carisma - Tarja disse sem olhar para tia Ximena ou Senhor Huxley, dando mais atenção aos primos Odilon e Axelle - Se o nobre gostou, possivelmente nos apresentaremos de novo, e apresentação em dobro significa pagamento em dobro não? - Ela questiona com um sorriso, se virando para capitão Lazaré para confirmar, antes de se voltar para Huxley e lhe dar uma piscadela sutil.
Quando toda a euforia começou a passar, Tarja começa a se arrumar, colocando uma calça e botas por debaixo do vestido que usava, assim como uma faca que prendia dentro da bota de cano alto, quando Mama Odi voltou a falar com ela. Segurando as mãos da senhora, Tarja apenas concorda com um sorriso.
- Tudo bem Mama, cuide do tio Agan por mim, ele deve estar deixando tia Broca com os cabelos brancos do tédio que ele deve estar sofrendo. - Tarja ri levemente - Tentarei não delongar tanto, assim que conseguir alguma resposta do Marquês eu voltarei para a hospedaria. - Dando outro abraço em Mama Odi, Tarja se despede de todos, buscando verificar se tinha tudo o que precisava para ficar sozinha na festa. Talvez algumas moedas guardadas em sua cintura, tinha sua faca em sua bota, e seu lenço não deixava de cobrir seus ombros nus. Tendo a total certeza que estava pronta, logo saiu dos camarins e foi até o pátio, buscando alguma comida e bebida para saciar sua fome, e com sorte escutar algumas conversas alheias que fossem interessantes sobre o tal artefato que tanto falam. Provavelmente não iria demorar tanto para ver o artefato ou o marquês, já tinha demorado algum tempo se arrumando nos camarins.
Zabuza vestia um calça preta com uma camisa desbotada da mesma cor em gola V, coberto com um casaco preto, seguindo de botas pretas. Um vestuário um tanto comum para um navegante. Com cabelos pretos ao vento e com uma cicatriz no peito escondida, via-se esperando ao espetáculo em questão. Com uma pele bronzeada do sol que pegava todos os dias, olhou de relance para todos a sua volta preocupados com a presença de um pirata na festa ao ar livre. Mas estava sempre com um copo de rum na mão e sempre atento ao que estava por vir. Como um de seus hábitos, estava bolando variáveis em sua mente. Mesmo que de vez em quando desse uma risada da forma que Valentina se comportava perto de Gerárd. Soube logo de seu nome porque estava sempre atento a todos os passos das pessoas ao seu redor.
A apresentação começou e foi muito bonita. Mas sempre estava de olho nas pessoas ao seu redor. Sempre com uma intuição de que algum pirata estava no local. Como se isso o incomoda-se pois estava próximo de ver a relíquia e não queria ver outro por as mãos nela. Por isso pensou que com ela podia barganhar com algum rei ou nobre para conseguir dinheiro para a causa em que participava. Com esse dinheiro podia comprar navios e armas para fazer sua revolução. Por outro lado, pensava também em cooptar indivíduos naquele local para compor a causa.
- A beleza de Belmont não é nada comparada à sua, e eu, como apreciador de uma boa poesia, não saberia escrever nenhum verso mais belo do que este que está à minha frente. E, ah, o erro foi em não ter me apresentado primeiro. Sou Gerárd Maximiliano. Eu moro num quarto no primeiro andar do palácio, sou muito amigo de Pierre Corella. Se você quiser me visitar depois desse magnífico evento, muito me honraria.
Valentina manteve o sorriso enquanto o nobre a bajulava. Ela mantinha o rosto feliz por fora, mas deu uma rápida olhada no nobre dos pés a cabeça. Nobres sempre pareciam cheios de si em festas, mas ela se perguntava até onde ele manteria aquele ar superior e esnobe se a encontrasse em uma viela escura com adagas na mão. Não aguentaria muito. No momento que ela mencionou seu quarto no palácio. Seria um pequeno evento apenas para alguns convidados mais importantes ou ele a estaria convidando para um encontro romântico?
- Muito prazer em conhece-lo Gerárd Maximiliano - falou com um inclinar de cabeça.
Assim que fechou a boca uma linda dançarina subiu ao palco. O olhar de Gerárd Maximiliano instantaneamente foi para a dançarina. Ela aproveitou para observar ao redor, apenas seus olhos se moviam até onde podia, seu rosto se mantinha na direção da dançarina. Moveu seu pescoço para a direita fingindo inclinar a cabeça para ajeitar o penteado e olhou ainda mais ao redor. Por relance viu o capitão do barco que a havia trazido para Belmont. Não era impressão sua que ele estava a espreitando mais cedo. Quando pudesse iria trocar uma palavrinha com ele. Voltou a sua posição e tocou no ombro de Gerárd delicadamente.
- Acho que vi uma velha amiga que preciso cumprimentar urgentemente - falou com a voz suave.
Se afastou dele antes que ele pudesse raciocinar direito e impedi-la de se afastar. Se afastou ainda mais e caminhou na direção das pessoas que ela sabia que compunha a alta nobreza de Belmont. Seu andar era delicado e ela fingia olhar deslumbrada ao redor ao mesmo tempo que tinha no olhar um centelha de desdém por tudo aquilo. Para se acalmar respirou fundo e se lembrou da pequena adaga que tinha no corpete. Ela podia se encaixar perfeitamente naquele lugar, não era uma peça moldada, era uma peça moldável e isso a deixou mais confortável.
A intimidação deu certo, e o homem começou a tagarelar como um papagaio, foi lhe dando as informações, mais ate do que ele achava necessário receber.
- Ganhei num jogo de apostas ...mas percebi que não me seria útil. Para alguém simplório como eu, mais vale dez moedas no bolso que me garantem algumas refeições do que todo o luxo desse evento, não é mesmo, amigão? Por outro lado tenho certeza que você fará bom proveito dele. Eu não sei muita coisa sobre o artefato, pra falar a verdade...apenas quem possui o convite poderá vê-lo de perto. Mas eu sei que além de comida e bebida, haverão belas mulheres e alguém com o seu porte deverá e muito chamar a atenção delas.
Embora mantivesse o semblante sério, deu uma pequena risada interna, realmente aquele pequeno homem tentava de todo jeito faze-lo acreditar que fizera um otimo negócio, lhe mostrando todo tipo de bonus possivel.
- Dizem que as montenhas adoram gente de fora.
Esse foi o estopim para um pequeno sorriso aparecer no rosto sério de Harald, que logo sumiu. Pensou se não deveria oferecer algumas moedas para o homem, garantindo algum favor futuro, mas após analisar bem, achou que esse homem não tinha nada mais a lhe oferecer, então ele apenas se manteve quieto sobre isso.
Passou a meditar o que faria a partir dali, de maneira alguma deveria se meter em confusão, pois isso apenas alertaria aos atacantes de que eles estaria por ali e talvez assim ele nunca mais achasse o seus rastros.
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Chegou ao local da festa, e ao contrário do que achou que encontraria, não havia apenas nobres engomados no local... havia, sim muitos deles, mas também havia pessoas que como ele, destoavam dessa enjoativa visão de nobreza mesquinha.
Assim que chegou, um numero de dança se iniciou. Harald gostava das danças de sua terra, porem, aquela nova dança, apresentada por aquela mulher, trazia-lhe lembranças, lembranças do mar... seus movimentos eram envolventes e atrativos, como a espuma do mar, no vai e vem da maré.
Começou a relaxar... mas a realidade chocou-se com sua cara, e ele se lembrou do porque estava ali... haviam pessoas que precisavam dele, então ele voltou a sua investigação. Foi se aproximando da mesa de refeições, enquanto tomava cuidado para ouvir a conversa dos presentes, infelizmente, a maioria estava atraída pela dança presidida pela dançarina.
Chegando a uma das tendas, sem maiores cerimonias pega uma vistosa coxa de frango e começa a come-la, não de modo selvagem, apenas comia, enquanto olhava em volta de maneira discreta, algo que pudesse lhe dar uma luz nessa neblina que ele se encontrava. Notou um pirata, com roupas que assim como as dele, destoavam da nobreza, e sua intensa troca de olhares com uma nobre que conversava com um homem, que parecia embasbacado com a apresentação. Aquilo lhe chamou a atenção, mas ele preferiu não tomar nenhuma atitude relativo a isso... sua missão era difícil, e então quando a dança acabou e todos voltaram a falar, ele, com uma taça na mão, começou a circular pelo pátio novamente, tentando encontrar, nas conversas dispersas, algo que lhe chamasse a atenção, até que finalmente ouviu o chamado, dizendo que faltava uma hora para a exposição do artefato começar. O artefato não era sua prioridade, mas era entendível que todo o mistério colocado sobre o mesmo chamasse sua atenção... afinal, ele já estava ali, não custava dar uma olhada.
"Pai de todos", pensou ele. "Me ajude a achar uma luz nessa neblina que venda meus olhos... para qual lado devo ir?"
Ainda nos camarins da Trupe Phantasma, Tarja havia se recordado do dia em que Tia Ximena fizera um nobre se apaixonar por ela com a sua apresentação em cima de um palco. Era uma de suas histórias preferidas. Mama Odi sorriu, e sendo gentil, sussurrou para que apenas Tarja ouvisse suas palavras:
- Tia Ximena conquistou o coração de um lord, é verdade, mas você pode ter conquistado o coração de uma cidade.
Todos se despediram de Tarja em seguida, uma vez que ela seria a única que permaneceria na festa do Marquês de Belmont. Munida de uma adaga às escondidas, ela se sentia segura para caminhar sozinha pelo local. Comida e bebida não faltavam, e era tudo de graça, de modo que sua fome foi rapidamente saciada. Ela procurou escutar alguma conversa interessante sobre o tal artefato que veria em breve, mas ninguém parecia ter alguma informação relevante sobre o assunto.
Sendo assim só restava a ela esperar a hora de poder ver o artefato com os seus próprios olhos.
Uma hora mais tarde, uma fila começou a ser formada no setor leste. Valentina, que havia conseguido despistar Gerárd Maximiliano sem nenhuma dificuldade, se viu se reencontrando com o capitão Zabuza D'Artgnan a caminho da longa fila. A dupla formava um contraste bastante chamativo entre os presentes. Harald também estava por perto, e o vestenês podia ver um pouco de si em Zabuza. Os dois eram homens do mar e os dois eram mau vistos pelos nobres locais por preconceito. Tarja, a adorável garota que se apresentou no palco, também estava ali por perto aguardando o momento de ver a relíquia descoberta.
Eles foram levados para as câmaras subterrânea dos domínios reais, por onde desceram uma infinidade de degraus até alcançarem a ponte que levava em direção à capela.
A capela
A capela é uma estrutura de quatro andares, construída pela Igreja Vaticinista há mais de dois séculos atrás. Embora hoje em dia a nação de Montaigne tenha cada vez menos adoradores dessa religião, Belmont ainda é um dos centros fortes da igreja. Em grupos de quatro a cinco pessoas, os presentes eram guiados até o interior da capela, admiravam a relíquia Syrneth por alguns minutos e iam embora, dando lugar para o próximo grupo.
Não demorou muito para que o grupo composto por Valentina, Zabuza, Harald e Tarja fossem chamados. Eles foram levados até uma sala privativa no primeiro andar. No interior da pequena sala, havia um homem para recepcioná-los. A julgar pelo chapéu emplumado sobre a cabeça, o tabardo com o timbre real que vestia e a rapieira embainhada na cintura, a figura só podia ser um dos famosos mosqueteiros de l’Empereur de Montaigne. Os mosqueteiros eram a força de elite da nação e reconhecidos e respeitados tanto por sua honra quanto por sua habilidade em combate. Ele fez uma leve reverência aos presentes antes de se apresentar.
- Eu me chamo Lorenzo. Nasci em Castilha, e peço que não me julguem por isso. Há muitos anos que sirvo Montaigne, desde antes da guerra estourar. Fui chamado por Pierre Corella para ser a nova ordem de Belmont. Serei eu o responsável pelos guardas e pela segurança da cidade.
Lorenzo
Dentro da sala privativa, havia ficado apenas Lorenzo e os quatro visitantes. E, atrás do mosqueteiro, havia um pedestal. Lorenzo deu um passo para o lado, e todos então finalmente puderam observar a relíquia pela primeira vez. Em cima do pedestal, havia uma adaga, mas não era uma adaga comum. Ela era toda trabalhada num metal avermelhado que ninguém presente saberia dizer que metal era aquele. Isso por si só já era o suficiente para que os estudiosos acreditassem se tratar de uma relíquia que pertenceu aos Syrneth, o povo que habitava o mundo antes dos teanos, mas o que chamava a atenção de todos mesmo era um pequeno globo de vidro que havia entre a guarda e a empunhadura da adaga. Qualquer um que passasse mais de três segundos admirando o globo tinha a impressão de haver um céu estrelado em seu interior, ou talvez uma infinidade de mundos contidos naquela pequena bola de vidro. Quanto mais se observava o seu interior, mais variações de cores e formas ele parecia tomar.
Lorenzo ficou alguns segundos em silêncio, deixando que os visitantes pudessem admirar a descoberta de Belmont, antes que ele retomasse a fala.
- Fascinante, não? Pierre a nomeou de a Adaga Estelar. - Ele, então, olhou para cada um dos quatro presentes, e disse. - Confesso que de todos os grupos que adentraram a sala para observar este artefato, vocês formam o mais curioso grupo de pessoas que vi hoje. - Virando-se para Tarja, disse: - Você é o único rosto que reconheço, pois felizmente consegui assistir à sua apresentação antes de vir para cá. Aonde você aprendeu a dançar desse jeito?
Ele aguardou a resposta, e então começou a andar perante os demais. Parando em frente a Harald Hardrada, perguntou:
- Monsieur, poderia me dizer o seu nome? Você parece ter vindo de muito longe e confesso que estou curioso a respeito de sua fama. Apenas alguém com alguma fama ou que é amigo de Pierre teria sido convidado para participar desse evento. - Em seguida, o mosqueteiro se postou em frente à Valentina, e como um bom cavalheiro, retirou brevemente o chapéu de sua cabeça, reverenciando-a. - Prazer em conhecê-la, madame. Você é o tipo de pessoa que normalmente é esperada em celebrações como essa, mas devo admitir que há alguma coisa de diferente em você. Eu ainda hei de descobrir - complementou em tom de brincadeira, rindo.
E, por último, ele ficou de frente com o capitão Zabuza. Lorenzo se demorou mais nele do que nos outros, como se estivesse tentando se lembrar de algo.
- Acho que já ouvi falar de você - disse, por fim. E seu rosto já não estava tão amigável como antes. - Você, por acaso, não seria o capitão de um navio que tem tentado inutilmente fundar uma ordem para derrubar o imperador?
OFF-GAME (Todos):
Pessoal, Agora que estão todos juntos em cena, fiquem à vontade para interpretar as primeiras impressões dos seus personagens em relação aos demais e a interagirem entre vocês. Como vocês serão um grupo, é importante que os personagens criem relações interessantes uns com os outros, seja relação de confiança, medo ou amizade.
Zabuza fingiu estar surpreso com a impressão que Lorenzo obteve dele. Um fidalgo um tanto impressionante para identificar características referentes a sua pessoa, pois sempre procura agir na penumbra, fazendo parecer um simples mercador com um navio. Olhou para Valentina como se deixasse subtendido para que o ajudasse a passar uma falsa impressão. Fez um gesto para que Lorenzo não percebesse que estava tentando fazer com que a Valentina o ajudasse. Fez um sinal como de que iria responder a pergunta, e esperou que a mesma identificasse e o ajudasse nessa situação lastimável. Olhando para sua vestimenta respondeu a Lorenzo:
- Imagine, sou um humilde mercador que trabalha em um navio mercante, transportando diversos tipos de mercadorias para que os lordes me pagam. Uma forma justa de um homem sobreviver frente este mundo tão extenso.
Olhou para Lorenzo esperando um gesto que evidencia a credulidade de um individuo que parecia inverossímil frente a suas crença, que um tanto incomodavam Zabuza. Um pirata que não queria estar na presença de um homem que servisse a alguma monarquia que causasse sofrimento a população. Com suas vestimentas pretas e um olhar serio, encarou o grande mentecapto a sua frente. Percebendo que precisa de uma pessoa para confirmar o fato, levando em consideração a hipótese de Lorenzo ter visto Valentina chegar em sua embarcação. Mencionou a seguinte frase a aristocrata:
- Este homem parece um tanto curioso, deve saber que você veio junto comigo como minha convidada em meu navio para chegar ao seu destino. Você poderia contar as coisas que tem no meu navio e o que faço para sobreviver a esse pentelho.
Dando um sorriso irônico a Lorenzo, deixou Valentina explicar a situação. Sabendo que conhece-la a pouco tempo, mas identificava algo que a diferenciava de outros indivíduos em todo sua trajetória de vida.
Tarja tentou se lembrar dos modos que suas tias e mama Odi haviam ensinado ao estar em frente a comida fresca farta. Foi difícil lembrar, já que estava tão feliz com tanta comida a sua frente, que pegava um pouco de cada, apenas para provar e decidir qual prato iria repetir. Após comer com gosto, comendo o que precisava e o que a gula manda a, pegou-se pensando se conseguiria larapiar algumas comidas da festa para seus primos pequenos.
Conversas iam e vinham, e nenhuma chamava a real atenção da jovem, fazendo sua atenção voltar para as pessoas que passavam conforme elas eram chamadas para a fila, algo que raramente fazia enquanto se apresentava, e quando acabava, logo a trupe era paga e saiam pelas portas dos fundos. Ou deixavam apenas o capitão e Mama para conversar com os nobres, enquanto ela e os demais partiam em direção da festa dos empregados, que parecem sempre mais divertidas e alegres do que essa que estava, apenas pela excessão da comida. Tarja não havia nada o que reclamar da comida.
Enquanto observava os nobres, reparou no vestido de uma das damas. Este parecia cintilar com o brilho dourado, chamando sua atenção. 'Seria feito de fios de ouro?' Tarja pensava, parando para realmente observar a nobre. Seus cabelos eram bonitos, gostaria de tentar fazer algo assim, talvez ela pudesse ensinar? Mas ao mesmo tempo, algo nela lembrava sua família, não sabia dizer o que exatamente.
Um homem passou perto da jovem dama, com os cabelos negros e roupas robustas, parecia ter saído de uma das histórias de seu tio Ignazio. Ficaria zangado se perguntasse 'o senhor é um pirata que guardou um tesorou amaldiçoado e batalhou contra criaturas marinhas gigantes?' Rindo consigo mesma, Tarja balançou a cabeça, seu tio nunca contava a verdade, mas ainda gostaria de escutar novas histórias de marinheiros.
Outro sorriso surgiu no rosto da garota, quando viu outro homem de cabelos avermelhados. 'O senhor parece pronto para uma batalha, contra tudo e a todos se precisar!' Tarja pensou, começando a indagar se ele vinha da mesma região que tia Broca e tio Agan, e assim seus pensamentos continuavam, enquanto acompanhava a todos até a capela.
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Como uma ótima covarde que era, quando percebeu estar em um local completamente fechado, começou a observar todas as possíveis rotas de escape. O local era fechado demais, com pessoas demais, as chances de acontecer problemas eram altas demais para ela, então andava ligeiramente tensa, puxando sua encharpe contra seus ombros. Apenas permitiu-se relaxar ligeiramente ao chegarem a capela, tendo um pouco mais de espaço para movimentar.
Entrando junto do grupo na sala privativa, Tarja sorriu, lembrando das faces que tinha observado antes, talvez uma possibilidade de conversar com novas pessoas? Mas então ouviu um mosqueteiro a frente, guiando até o artefato. Deixando os demais observarem antes dela, ela se vira para o mosqueteiro - Ora, prazer senhor Lorenzo de Castilha, responsável pela segurança da cidade, tens um título extenso, como deveria lhe chamar enquanto guia o grupo? - A garota ri levemente antes de se curvar - Meu nome é Tarja, e eu não tenho um título como o seu, então pode me chamar de Tarja.
Finalmente, com a possibilidade de ver o artefato de perto, a loira se viu quase que hipnotizada pela jóia ao centro, pouco admirando a arma. Recuou alguns passos apenas quando Lorenzo voltou a falar, tirando sua atenção do artefato.
- Até parece ter prendido uma parte do céu em uma jóia! - Ela exclama com um sorriso inocente em seu rosto. - Fico feliz que conseguiu ver minha apresentação, espero que o senhor e todos os demais que assistiram tenham gostado! - A jovem pensa antes de falar novamente. - Aprendo durante as viagens da trupe por entre as regiões de Thea, senhor. A cada novo lugar, uma nova dança, e porque se limitar apenas a um estilo, quando se pode dançar livremente em todos? - Ela sorri, antes de se voltar a todos.
Sentindo um tom um pouco mais agressivo na voz do mosqueteiro, logo engoliu em seco, aumentando a distância entre eles e ela. Sua voz, que mais parecia um sussurro agora, tentando defender o homem de cabelos negros, apenas para manter uma paz no ambiente.
- Não existem milhares de navios ao mar tentando fazer algo que o senhor descreveu? Quero dizer, perdoe minha ignorância, mas acredito que existam muitos marinheiros, de diversas aparências e peculiaridades que estejam tentando se rebelar, mas o senhor aqui parece realmente estar surpreso com sua afirmação, confusões de descrições podem ter ocorrido...? - Tarja diz sua voz sumindo a cada palavra que dava, desejando com todas as forças e preces mentais que eles não começarem uma luta.
Valentina assentiu levemente com a cabeça assim que Lorenzo de Castilha falou com ela.
- Talvez seja meu ar de dama aventureira, Senhor de Castilha. Mamãe sempre me dizia que certas coisas uma dama nunca consegue esconder. - Ela deu um sorriso doce e abaixou a cabeça escondendo uma face tímida.
Valentina controlou o impulso de olhar para o artefato. Ela havia apenas dado uma olhada de relance fingindo pouco interesse pela mesma. Mas assim que levantou o olhar devagar, seus olhos se movimentaram e focaram na adaga. Então era aquilo? A relíquia. Seus olhos se cravaram no pequeno globo, algo fez seu corpo se arrepiar e era como se algo a puxasse para o globo, como se fosse o mar esperando que ela mergulhasse até seu fundo. Ela lembrou do perigo da morte que seria esse ato e isso a fez distrair-se de olhar o globo da adaga e ela se recompôs. Respirou fundo.
- Não consigo arranjar palavras para tal artefato - murmurou.
Logo realinhou seus pensamentos e seu comportamento e voltou a acompanhar a conversa de Lorenzo com os demais. A troca de palavras entre o Capitão Zabuza e Lorenzo foi tomando um caminho que começou a deixar Valentina desconfiada.
- Este homem parece um tanto curioso, deve saber que você veio junto comigo como minha convidada em meu navio para chegar ao seu destino. Você poderia contar as coisas que tem no meu navio e o que faço para sobreviver a esse pentelho.
Maldito boca aberta!, pensou furiosa.
Ela deixou sua mascara de surpresa e doçura tomar seu rosto, mas mentalmente ela proferia as piores maldições contra aquele cretino do Zabuza. Ela teria que dá um jeito naquele idiota, antes que ele a matasse com a sua boca do tamanho de Belmont até Avalon.
- Ah Senhor Zabuza - falou com a voz melodiosa. - O que sei eu? Uma pobre dama que tentou bancar a aventureira e passou toda a viagem em um navio mercante, em sua cabine passando mal com as inconstâncias do oceano.
Ela deu um sorriso sem graça.
- Eu fiquei tão afetada com a noticia de tal artefato em Belmont, que meu espirito aventureiro falou mais alto e tive que pegar o primeiro navio para cá. - Ela respirou fundo e agarrou o leque na sua bolsa e passou os olhos por todos balançando freneticamente o leque e seus olhos se fixaram em Lorenzo - Uma loucura para uma dama da minha posição. Mas eu tinha que chegar até aqui.
Se virou de uma vez para Zabuza.
- Oh céus - exclamou - diga-me que realmente és um pirata do que um simples e entediante mercador. Você me daria anos de historia com a qual poderia me gabar com as outras damas, Capitão Zabuza!
Ela o encarou intensamente com um sorriso de quem esperava por uma resposta. Assim que todos os olhares foram em direção a Zabuza. Valentina se deixou por um segundo trucidar Zabuza com o olhar, enquanto dava um sorriso de desdém por trás do leque.
Assim que chegaram ao local do evento, Harald percebeu os olhares sobre ele. A garota que dançara sorriu ao olhar para ele, como se tivesse tido um pensamento divertido, Hadrada sorriu gentilmente de volta, antes de voltar a sua normal face dura de sempre. Após algum tempo se pôs a observar o objeto. Era realmente diferente, mas não lhe chamava muito a atenção. Ele apenas continuou a observá-lo, pois não havia mais nada para se fazer. Estava ainda olhando para a adaga quando o mosqueteiro o indagou.
- Monsieur, poderia me dizer o seu nome? Você parece ter vindo de muito longe e confesso que estou curioso a respeito de sua fama. Apenas alguém com alguma fama ou que é amigo de Pierre teria sido convidado para participar desse evento.
-Meu nome é Hadrada. Harald Hadrada. - Disse sem mudar sua expressão dura no rosto. - Sou um mercador de terras longínquas, e vim a convite para ver e dizer ao meu povo sobre isso. Aparentemente seu lorde deseja que os quatro cantos da terra saibam da posse de seu objeto.
Sua face se mantinha dura e fria enquanto falava. O mosqueteiro passou a indagar ao outro homem sobre o que ele fazia lá, e após a atenção ser deslocada de sobre si, Hadrada se aproxima mais da lâmina, apenas para vê-la com mais cuidado. Alheio a todos os assuntos que eram falados, ele pergunta, de costas a todos que estavam na sala:
- Realmente é uma bela peça, com uma joia enigmática no centro. - Suspira de maneira a entender que seu interesse não era tanto quanto parecia. - Mas... o que é que isso faz, afinal de contas? Tem alguma utilidade prática ou é só uma peça bonitinha com uma bola interessante no meio?
O mosqueteiro, por si só, havia sido uma surpresa para todo o grupo. Não era todo dia que alguém se deparava com um, visto que existiam apenas mil mosqueteiros em Théa. A jovem dançarina foi a primeira a puxar conversar com Lorenzo.
Tarja escreveu:- Ora, prazer senhor Lorenzo de Castilha, responsável pela segurança da cidade, tens um título extenso, como deveria lhe chamar enquanto guia o grupo? Meu nome é Tarja, e eu não tenho um título como o seu, então pode me chamar de Tarja.
- Tens um bom nome. Simples, mas difícil de esquecer - disse com um esboço de sorriso nos lábios. - Os títulos vem e vão, e nesses tempos muitos podem me dirigir um olhar torto apenas por ouvirem a palavra "Castilha". Não será nenhuma desfeita se você me chamar somente de Lorenzo.
Tarja continuou falando, e contou um pouco sobre as viagens que já fizera por Thea e em como havia aprendido a dançar num estilo único e próprio. O mosqueteiro ficou satisfeito com o relato, e mais do que isso, ele se mostrava cada vez mais interessado em conhecer melhor aquele seleto grupo que adentrou a capela para observar o artefato. Quando ele perguntou sobre o vestenês, ouviu como resposta:
Harald escreveu:- Meu nome é Hadrada. Harald Hadrada. Sou um mercador de terras longínquas, e vim a convite para ver e dizer ao meu povo sobre isso. Aparentemente seu lorde deseja que os quatro cantos da terra saibam da posse de seu objeto..
- E por que ele não haveria de querer isso? - questionou. - A descoberta da relíquia por Belmont coloca a cidade em evidência para todos os montenhos, incluindo o povo da capital e o l’Empereur. Podemos estar próximos de descobrir um sítio arqueológico nas redondezas, com inúmeros outros vestígios dos syrne. Será bom para o comércio local, e Pierre saberá usar isso a seu favor no cenário político em que se encontra.
Em seguida, Valentina foi a próxima a ser questionada. Lorenzo parecia desconfiar de algo nela.
Valentina escreveu:- Talvez seja meu ar de dama aventureira, Senhor de Castilha. Mamãe sempre me dizia que certas coisas uma dama nunca consegue esconder.
- Talvez... - comentou, fixando o olhar nela por um segundo a mais do que seria o normal.
Lorenzo de Castilha, apesar de ser novo na cidade, parecia estar bem informado sobre os acontecimentos recentes. De que outra forma haveria ele de suspeitar que Zabuza estava por trás de uma revolução? O capitão tomava todos os cuidados para ser discreto na obtenção de seus objetivos, sempre atuando em segredo. E, desde que chegara à Belmont, ele só havia atuado na cidade baixa, aos arredores da região portuária, bem distante do suntuoso palácio governado pelo marquês.
Para a surpresa de todos os presentes, Zabuza mencionou que Valentina viera em seu navio numa tentativa de se defender das acusações de Lorenzo. Ele alegou ser o capitão de um navio mercante, e a nobre avaloniana entrou no fingimento, tentando agora aliviar a pele de ambos. O castilhano retorceu a cara quando foi chamado de "pentelho". Ele, como todos os mosqueteiros do reino, estavam acostumados a serem tratados com o máximo de respeito e dignidade. Tarja tentou contornar a situação antes que aquilo piorasse.
Tarja escreveu:- Não existem milhares de navios ao mar tentando fazer algo que o senhor descreveu? Quero dizer, perdoe minha ignorância, mas acredito que existam muitos marinheiros, de diversas aparências e peculiaridades que estejam tentando se rebelar, mas o senhor aqui parece realmente estar surpreso com sua afirmação, confusões de descrições podem ter ocorrido...?
Lorenzo levou alguns segundos para responder Tarja. O seu corpo estava tenso e os punhos fechados, e somente quando ele relaxou o suficiente, é que teve cabeça para respondê-la.
- Você tem razão, Tarja - disse, voltando a sorrir. Por um segundo todo o clima hostil havia desaparecido com aquele sorriso. - Eu posso ter me enganado - comentou, por fim, deixando todos mais relaxados.
Apenas agora é que o vestenês, alheio à discussão, passava a admirar a Adaga Estelar.
Harald escreveu:- Realmente é uma bela peça, com uma joia enigmática no centro. Mas... o que é que isso faz, afinal de contas? Tem alguma utilidade prática ou é só uma peça bonitinha com uma bola interessante no meio?
Lorenzo se voltou a ele.
- Os estudiosos ainda irão estudá-la mais a fundo. A lâmina, ao menos, não perdeu o fio, mesmo depois de séculos soterrada, mas o globo é o grande mistério, não é mesmo? Quais as hipóteses que você imagina para ele? - perguntou, olhando também para os demais, caso alguém mais tivesse algum palpite.
Ele ouviu as conjecturas de cada um a respeito da relíquia, e então, avisou que o tempo da visita havia se esgotado. Porém, quando Zabuza se virou para sair, Lorenzo agarrou o seu pulso com demasiada força, deixando claro que suas suspeitas não haviam-se acabado.
- Ficarei de olho em você - disse, e todos os demais pararam a meio caminho da saída para ver a cena. - E, se você for quem alega não ser, desejará nunca ter pisado em Belmont - disse por entre os dentes. Ele ainda não havia soltado a mão do capitão, e aquilo começava a lhe incomodar. - Sabe a diferença de um covarde para um homem íntegro? Um covarde só age na surdina, com medo de encarar a realidade e enfrentar o que - ou quem - quer que seja. Esta é a diferença entre nós. - Lorenzo agora estava perigosamente próximo à Zabuza, com os rostos um do outro a não mais do que quinze centímetros. O seu rosto estava ao alcance de um soco com a outra mão do capitão, e de fato, o mosqueteiro parecia estar propositadamente desafiando-o. - Sinceramente, capitão - ele disse a última palavra em tom zombeteiro - eu esperava mais de você.
O capitão Zabuza olhou para os olhos de Lorenzo com ainda mais desprezo e fingiu estar ofendido com aquela situação, contudo, queria mesmo era dar um grande sopapo na cara do mosqueteiro, e demostrar de tudo que é capaz, mas isso arruinaria sua verdadeira missão. Sabendo disto, bolou um plano estratégico em sua cabeça, e proferiu as seguintes palavras ao parvo que segurava seu braço:
- Solte minha mão fidalgo, é assim que você trata os visitante a Belmont? Pensei que os famosos mosqueteiros fossem cordiais, mas me vejo decepcionado com essa situação desprezível que você me coloca. Como um nobre cavalheiro pode me olhar desse jeito? Me sinto ofendido com essa afronta perversa, mosqueteiro. Afinal, por que eu chamei tanto sua atenção? Na verdade tinha uma frase que meu pai dizia, uma verdade pode ser uma mentira e uma mentira pode ser uma verdade. Acho que esta focando em um reles mercador quando devia estar focando em outras pessoas que aqui estiveram. Sou apenas um mercador e sei de algumas informações que teria o prazer de te contar em um jantar apenas nos dois em meu navio. Sabe que minha tripulação não é de ficar no meu navio a noite. Acho que seria uma grande honra recebe-lo e sanar suas preocupações.
Zabuza fez com que ele ligeiramente solta-se seu braço. Percebeu um grande interesse do mosqueteiro na sua proposta e então bolou exigências para esse encontro, que seriam cruciais para a execução de seu plano maquiavélico. Em seguida proferiu as seguintes palavras:
- Como será uma visita informal peço que apenas nos dois fossemos vistos jantando. Afinal, seria uma lástima ter que compartilhar segredos com outras pessoas que não vejo tamanha honra quando ao senhor. Devemos nos encontrar sozinhos, pois há boatos de conspirações entre os próprios mosqueteiros. Sugiro que venha ao meu encontro daqui a uma lua. Para conferir o que estou dizendo e agradar-lhe com algumas informações que te interessam muito. O que acha? Aceita meu convite?
Com um sorriso evidente esperou a resposta de Lorenzo.
- E por que ele não haveria de querer isso? A descoberta da relíquia por Belmont coloca a cidade em evidência para todos os montenhos, incluindo o povo da capital e o l’Empereur. Podemos estar próximos de descobrir um sítio arqueológico nas redondezas, com inúmeros outros vestígios dos syrne. Será bom para o comércio local, e Pierre saberá usar isso a seu favor no cenário político em que se encontra.
"Pato", pensou Hadrada. "Foi mais fácil do que eu pensei."
Após a sua pergunta Lorenzo o faz outra pergunta
- Os estudiosos ainda irão estudá-la mais a fundo. A lâmina, ao menos, não perdeu o fio, mesmo depois de séculos soterrada, mas o globo é o grande mistério, não é mesmo? Quais as hipóteses que você imagina para ele?
-Não posso dar certeza – disse, alisando suavemente a barba, enquanto pensava um pouco. - Mas esse globo tem um interior intrigante... eu diria que há algo a ver com o tempo... passado... futuro... Ou quem sabe pode nos levar a outros lugares...não sei...são apenas delírios de um mercador – encerrou com uma expressão pensativa.
Demorou um pouco mais, pensando no que aquilo poderia fazer, e quando percebeu o mosqueteiro e o “pirata” estavam novamente trocando farpas. O capitão parecia querer amenizar a situação, mas ele já estava de saco cheio daquelas trocas de farpas.
—MAS QUE CARALHOS! – diz enquanto o resto de sua paciência se esgotava - É assim que são tratados convidados por aqui? Eu vou ser obrigado a presenciar isso mesmo? Guardem suas desavenças para vocês, porque eu não sai de minha terra para ver trocas de farpas!!! – Esbraveja enquanto se dirige em direção ao dois - Que lugar enganador do inferno! - e faz questão de passar no meio dos dois, separando-os e se dirigindo a porta —E VÃO TOMA NO CÚ! – diz ao chegar na porta, enquanto mete um chute fortíssimo nela, para abri-la. Finaliza dizendo enquanto passa pela porta. —Bando de ratos sujos do inferno!
Sai andando furioso, por além de não ter conseguido nenhuma informação útil, ainda ter perdido tempo com aquela discursão sem sentido para ele.
Tarja pareceu ficar muito mais aliviada quando o Mosqueteiro comentou sobre possivelmente estar errado. Voltando a observar a jóia ao centro do artefato, ela começa a pensar.
- Me pergunto se essa joia esconde algum tipo de mapa de algum tesouro perdido maravilhoso - ela diz com um sorriso bobo na face, sem direcionar a frase a alguém, e sim como se estivesse pensando alto e nem percebesse o que estava fazendo. Escutando a resposta de Hadrada, ela se maravilhou com a possibilidade de mexer com o tempo. - Será que poderia revelar algum segredo de um futuro, tal como uma profecia? - ela indaga com um riso inocente. - Perdoe meus pensamentos sem nexos - ela diz antes de perceber a conversa calorosa entre o capitão e o mosqueteiro.
Seu cérebro gritava para sair dali, mas a culpa por tentar fugir de uma festa enquanto era a representante de sua trupe batia no seu coração. Tremendo, ela tentou falar algo para ambos os homens quando o vestenês explodiu. Pulando levemente de seu lugar, ela, se moveu na direção oposta de todos os homens.
- S-senhor Lorenzo, deve haver mais grupos para visitar o item, acredito que todos nós já devemos partir, não? - ela disse, antes de caminhar em passos rápidos até a porta, ou o que tivesse restado, observando o caminho de volta sem muito ânimo. - P-prazer em conhecê-lo novamente! - ela disse antes de passar pela abertura e quase que correndo para fugir daquela situação inteira, de volta para os jardins e o céu aberto. Apenas se perguntava se teria de ficar esperando para ver se o Marquês iria querer conversar com ela, ou se já poderia voltar para a segurança da sua trupe.
Valentina começava a ir junto ao grupo, quando Lorenzo de Castilha agarrou o pulso do Capitão Zabuza. Merda, pensou, teria que fazer algo. Não gostava de como aquilo estava indo e esse gesto, só deixava claro que desconfiança pairava sob eles.
- Oh, não faça isso Senhor de Castilhe - suplicou com o rosto temeroso e confuso. - Não, isso não é atitude de um mosqueteiro; Homens tão dignos - ela não fingiu que aquilo estava a deixando afetada - Eu não... - deixou suas pernas amoleceram igual areia e seu corpo apenas cair. Desmaiou com um ohh no final.