A luz do Sol entrava tímida pelo quarto de Asami, iluminando através de um fio dourado o seu rosto ainda sonolento. Abriu os olhos e pôde ver através da fresta da cortina o céu colorido por um azul intenso, azul que nos últimos dias não havia apreciado mais devido o stress e correria de seus afazeres, além da semana de provas que havia passado.
Sentou-se na cama e apoiou as costas no travesseiro, ergueu os braços para se alongar e bocejou, quase sentindo o corpo todo relaxar pela espreguiçada, quando seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho de algo sendo arremessado contra a parede e se partindo logo em seguida.
- QUE ABSURDO, COMO PODEM TE ACUSAR DE UMA COISA DESSAS, ISSO É VERDADE HONOI ?
- Fique calma Misaki, você vai ver que isso não passa de fake-news, o importante agora é que a vida tem que continuar, vou chamar uma coletiva de imprensa e desfazer isso.
- Mas e a Asami, ela pode ser afetada na escola se isso for verdade, logo agora que ela..
Os gritos de sua mãe foram altos o suficiente para serem ouvidos de dentro do seu quarto, que ficava no segundo andar da casa. Asami desceu às pressas para a cozinha, encontrando o pai sentado na mesa, apoiando a cabeça com as mãos, diante de um jornal com manchetes escancaradas.
Aproximou-se dele e passou os olhos por cima da página que estava aberta:
"Diplomatas da família Taiga envolvidos em corrupção"
"Relações internacionais comprometidas?"
"Patrimônio não declarado superfaturado envergonha o japão, haverá ligações com a Yakusa?" Estava sem reação diante daquilo... como assim, o pai, sempre tido para si como exemplo de honestidade e boa conduta, envolvido em um escândalo de corrupção com aquelas proporções?
- Por favor, explique-nos o que está acontecendo! - Insistiu Misaki, em um claro tom de impaciência.
- Pai, isso não pode ser verdade! Olha pra mim - Disse tomando o rosto dele em suas mãos.
- Você não fez nada disso, não é? Por favor, acione uma coletiva de imprensa o quanto antes e desminta tudo para eles! - Seus olhos tomaram um brilho de medo de preocupação, ao mesmo tempo que tentava transmitir um pouco de calma e resolver a situação com sensatez.
Estava perdida no olhar de confusão que o homem havia ficado imerso, quando Haruko, a secretária de lar da família trouxe-a de volta a seus compromissos.
- Senhorita Asami, preciso informar que está quase na hora de ir para o colégio. O motorista pediu para avisá-la de que já está pronto para a viagem.
Só então percebeu que ainda estava de pijama e pés descalços. Teria que correr para terminar de se arrumar e chegar à tempo, afinal de contas, justamente naquele dia a primeira aula era sobre a matéria que teria prova em breve.
Deu um beijo suave na bochecha de seu pai, e outro também rápido na bochecha de sua mãe na tentativa de quebrar a tensão no ambiente. Despediu-se e foi em direção à escada que levava para o segundo andar da casa.
Tentou subir até seu quarto com a mesma agilidade que havia descido, e pode notar como sua visão fazia os degraus da escada diminuírem à medida que as pernas saltavam sobre eles com facilidade. Em poucos segundos havia chegado até a porta do cômodo, percebendo que não demorara nem
sequer metade do tempo que precisava anteriormente.
Correu até o criado mudo ao lado da cama para retirar o cabo do celular que estava carregando, e no mesmo momento que o desbloqueou para ver as horas, viu surgir a notificação de Gin. Clicou sobre a faixa branca e pôde ver a mensagem por inteiro:
*Bom dia Asami, acabei de ver a notícia no jornal. O que está acontecendo? Tá tudo bem?*
A sensação borboletas invadindo-lhe o estômago eram um misto de alegria pela mensagem de Gin juntamente à ansiedade que a invadiu quando sua mente voltou a focar no escândalo.
Balançou a cabeça para afastar os pensamentos negativos e acidentalmente seus dedos deslizaram pela tela, abrindo sem querer a foto de perfil do garoto. Sentiu as bochechas corarem pela surpresa, e quando abriu a boca para fazer um manifesto, ao invés de palavras, para sua total perplexidade deixou escapar um longo miado.
*De novo não!* - Quis gritar, mas percebeu que chamar atenção naquele momento não seria uma boa ideia. Todos naquela casa já tinham problemas o suficiente.
Andou até o espelho do banheiro que ficava localizado no quarto e constatou que sua aparência não havia mudado como naquela outra noite. Um alívio, já que tinha menos de dez minutos para se arrumar.
Abriu as portas do guarda-roupa e pôs o uniforme, agradecendo mentalmente a Haruko por ter arrumado suas roupas na noite anterior. Mal terminou de se vestir e correu para o banheiro, escovando os dentes e pegando sua mochila antes de descer apressada até a garagem de casa.
O motorista ligou o carro e deu partida, fazendo com que a janela lateral onde Asami estava sentada desse diretamente para a visão de seu pai sentado no sofá da sala, acompanhado por sua mãe, que o consolava.
Lembrou que não havia respondido a mensagem de Gin, então retirou o celular da mochila, refletiu alguns instantes olhando para a tela apagada e por fim entrou na conversa:
**Eu vi agora pela manhã os jornais, e também não sei o que está acontecendo... meu pai vai acionar uma coletiva de imprensa para desmentir essas notícias. Espero que isso tudo passe logo... mas estou bem, e você?**
Poucos minutos depois o motorista virou a quadra do colégio, e no mesmo instante um frio na barriga tomou conta de Asami... tudo ainda era muito recente, e tentava com todas as forças esperar que nada mudasse na relação com os seus colegas naquela manhã.