Foi bom ver que a jovem estava se acalmando... No momento, tudo o que menos precisava era mais histeria e desespero. Seraphine indicou para ela tocar no dragão e, para a sua surpresa, a outra tocou sem nem hesitar. Por um momento, pensou que Maju pudesse ser uma domadora que perdeu a memória... Mas não se lembrava de tê-la visto, e, ao observar bem, viu que ela não possuía a marca do batismo de fogo. Franziu o cenho dando uma risada ao ouvir a menina chamar o dragão de “Mocinho”... Talvez a perda de memória também tivesse feito a menina perder o juízo e o instinto de se proteger.
Bolcán chegou a rosnar, com a chamada “bonitinha”, mas assim que ela o tocou, ficou um pouco mais relaxado. Aparentemente, aos olhos do dragão, ela não representava perigo.
– Ele é incrível mesmo. Um mocinho e tanto – Seraphine disse em tom de sarcasmo, ouvindo rabo do dragão se mexer, para tentar derrubá-la. Ela puxou Maju rapidamente, indo para perto do corpo do animal, que certamente não queria ferir a si mesmo com o rabo de escamas pontudas e afiadas. Ele chicoteou o chão, se ajeitando para voar.
A domadora ajudou Maju a subir no dorso do animal e indicou como era para ela se segurar, se posicionando atrás da menina. Logo ele começaria a correr de no pequeno espaço aberto que tinham, as duas podiam sentir o chão tremer com cada movimento. Era bem instável, fazendo ambas se segurarem bem... As mãos desacostumadas da desconhecida poderiam até a ficar com leves cortes, pois, no instinto de não cair, acabaria buscando uma escamas do corpo do animal para se segurar... Descobrindo que não era só o rabo que tinha mecanismos de defesa.
Após a corrida, a subida também não fora fácil. A mudança de altura rápida causaria pressão nos ouvidos e um zumbido chato, em decorrência disso. Maju só conseguiria apreciar a beleza da viagem quando estivesse planando no ar, com as asas imensas de Bolcán fazendo movimentos tão leves que pareciam feitas de papiro.
– É mais bonito no verão e na primavera... Tudo isso colorido, flores, montanhas, lagos... Agora, é só neve – parecia chateada com a neve está ali, naquele momento. Ainda mais que sentia o corpo cada vez mais frio
– Eu faço isso várias vezes ao dia – deu uma risada, vendo que a menina parecia estar encantada com o “passeio.
[...]
Conversaram durante a viagem, Seraphine tentando entender mais sobre a situação da menina e explicando o que sabia de toda aquela situação... O que não era muita coisa. Deixou uma ou outra informação passada por Dominiana de lado, não se sentindo à vontade para partilhar com a jovem que acabara de conhecer... Na verdade, nem sabia se a mente dela aguentaria os horrores que aquele inverno estava causando, visto a forma que a encontrara na clareira.
Quando estavam próximas ao castelo, as duas meninas entraram em choque, vendo o número de criaturas mágicas mortas ali. Em pouco tempo, parecia ter aumentado e muito. O dragão já ia pousando quando ela viu uma pedra de gelo se mover no céu. Sem ter muito tempo, se inclinou um pouco sobre o corpo de Maju, mantendo o corpo dela firme contra o lombo do dragão e pousando a mão direita perto do pescoço dele. A marca se acendeu novamente... E Maju veria algo lindo. Entre as escamas do animal, a mesma luz que emanava dos olhos de Seraphine e da marca gigante em seu braço, começou a brilhar. Ela não parecera ouvir mais nada que a menina dizia... Naquele momento, Seraphine e Bolcán eram uma criatura só.
Tudo aconteceu em questão de segundos... Logo o dragão desviaria da pedra de forma brusca, virando de lado e depois quase dando um loop. Se a jovem botânica não estivesse presa entre o corpo da domadora e o dorso do dragão, era certeza que havia caído ali. Logo o Dragão pousaria no interior do castelo, em um pátio enorme construído para batalhas e festivais. As escamas começariam a perder o brilho amarelado, assim como o braço da menina... Logo Maju ouviria Seraphine respirar fundo e soltar um gemido de dor, se jogando para o lado e apoiando as costas no dragão.
Ela amava essa conexão... Poder ver com os olhos do animal, sentir a sensação das asas contra o vento, a magia que emana do ser místico... Mas era muito desgastante para o domador... Ainda mais no frio. Ela olhou para Maju
– Ainda acha incrível? – deu uma risada um pouco seca, começando a erguer o corpo e assentindo às palavras da outra.
- Nós vamos – disse, surpresa pela menina se incluir naquilo
– Eu só preciso... De um minuto... – deixou o corpo quase escorregar pra fora do animal, fazendo a jovem se virar sozinha para descer. Escorregar parecia a forma mais fácil. Bolcán também repousava a cabeça no chão, olhando para Seraphine, que havia descido. Ela se levantou, esfregando as coxas com as mãos, tentando aquecer o corpo, e foi até a cabeça do animal
– Você está bem?... Vou pedir os soldados para trazer carne... Não coma os soldados, por favor – riu e logo deu a volta, procurando Maju.
- Você se machucou?... - perguntou, logo continuando
- Veja bem tudo em volta... Se lembra de já ter estado aqui? – perguntou, tentando forçar um pouco a memória dela, enquanto andavam. O passo dela não estava muito apressado. Tomava o caminho para a entrada do castelo, onde vira a Imperatriz tão tristonha com a situação... E onde a pedra esquisita havia caído e feito tudo aquilo.
- Eu vi direito o que aconteceu? A pedra... Trouxe uma fada de volta à vida? – mesmo após desviar, ela ainda estava ligada ao dragão... Não tinha certeza se tinha visto certo. Foi andando com a jovem, parando somente para pedir para cuidarem do dragão e para solicitar o curandeiro da corte, antes de ir até Dominiana.