Awakening

Os corpos deslizavam, encharcados. A velocidade aumentava e a queda ali era praticamente livre. O canal era extenso. Tudo era escuro, visibilidade zero. Desciam, escorregavam como em um tobogã. O cheiro era forte e nada agradável. A sensação da queda fazia com que um vazio tomava o estomago que parecia subir ao peito. Foram longos minutos até avistarem uma fraca luz natural no final do “túnel” e enfim saíram daquela tubulação, mas não saíram em solo.

Saíram no nada. Agora estavam literalmente e queda livre, ao ar, caindo e caindo, veloz. Não estava claro, mas era possível ver o solo. Longe. Muito longe para cair e sobreviver. Estavam em queda livre como se pulassem de um avião, porém sem paraquedas algum. Há alguns quilômetros para baixo, um deserto. O paradeiro dos três corpos que caíam. Não havia possibilidade de sobrevivência, apenas a agonia e o desespero de esperar o impacto e então o silêncio.

A morte.

A contagem regressiva estava aberta.

Chris tirou a prova de que sua voz estava em condições de se comunicar perfeitamente. O cheiro do chá chegava até o quarto, e era bom. Agradável. Vincent ajudava o Doutor a se levantar, revelando que as condições corporais também estavam boas, não ser pelos problemas causados pelo tempo, como as dores lombares de David.

No quarto, adentra um senhor de idade aparente maior que a de David.


- Óh, Olá senhores, enfim acordaram. Dormiram por um dia completo. Eu os encontrei não muito distante daqui.

O senhor os encarava com uma expressão bem animada. Parecia ser até um parente esperando por sua parentela que não via a tempos.

- Por favor, venham, o chá está pronto, venham.

No próximo cômodo, a simplicidade continuava. Móveis rústicos mobiliavam o lugar. Uma mesa redonda no canto, onde estava o chá. Havia cadeiras de madeira individuais bem com um banco mais extenso noutro canto. Ele servia enquanto usava um pano para apanhar a chaleira que era inteira de ferro.

- Não quero me gabar, mas o meu chá é o melhor da região. Não que tenha muitos chás por aqui, mas... hahaha. Por favor, se acomodem.

O velho se afasta, se acomodando numa cadeira no canto, enquanto cruza as pernas e os braços.

- E então, quem são vocês? O que faziam no meio do deserto? Honestamente, não sei como estão vivos...

- Cidade?! Ahahaha! Vejo que estão com varias perguntar prontas para mim. Venham, vamos caminhar e eu responderei as que puder. Primeiro, se cubram. Entregavam-lhes roupas do mesmo estilo da que vestia.

O homem se levantava e saia para fora. O sol estava a pino.

- Senhores, primeiramente, meu nome é Isaac, eu sou o ancião dessa pequena aldeia que chamamos de Aldeia Esperança. É o que nos move e nos motivo a seguir em frente: esperança!

O Senhor parecia bastante animado. Dizia suas palavras sempre acompanhado com gestos e expressões faciais amigáveis, com um sorriso sempre estampado em meio as rugas, mesmo assim, era possível notar um certo desgaste no senhor, como se estivesse farto de estar ali, no deserto.

- A cidade mais próxima aqui é Rondo! Mas ainda assim, é um tanto longe. Não existe muitas regiões em que possuímos conhecimento. Aqui é tudo um nada. Então, arrisco dizer que essa região e a região de Rondo.

Caminhando pelo lugar, viam que Aldeia era construída em volta de um Oasis não muito grande, inclusive parecia ser insuficiente para sobrevivência de todos ali. Havia criação de cabras, mas eram todas magras. Aliás, todos dali pareciam magros. Alguns curiosos, acompanham a caminhada com os olhos.

Em resposta a Chris, o dia era um dia depois da fuga. O tempo era atual.

- E então?! Você disse que estavam na cidade... a cidade é Rondo, né? Só pode ser Rondo... Vocês vão voltar para lá?

Os olhos do senhor pareceu brilhar depois da uma confirmação, ainda que meio incerta, de que esteve em Rondo.

- Ah, não se preocupem, somos muitos hospitaleiros com os viajantes, apesar de que, para ser sincero, não é comum aparecer ninguém para nós visitar. Haha.

Em um lugar mais a frente, perto do oasis abaixo de um uma árvore que aparentava-se bastante com um coqueiro, estava um barco voador, estacionado com uma mulher que se assentava na borda da proa. As pernas e braços cruzados, observava os recém chegados de longe, com olhos firmes e até mesmo, ameaçadores. Era possível ver um movimento de homens sobre aquele barco voador, carregando caixas. Chris e toda ali perceberam, era algo diferente daqueles casebres espalhados em volta do Oasis, então era impossível não notar. Isaac, notando que a atenção do grupo caía sobre o barco, disparou. 

- aqueles são nossos guerreiros. Não temos muito perigo por aqui, mas de vez em quando, acontece algo fora do normal e eles entram em ação. Mas! 

Diz num tom animado.

Creio que existe a possibilidade de vocês nos levar também? Ou talvez... - cochichou - me levar. Para rondo! Seria um sonho realizado!

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Vincent: - é estranho ouvir isso de outra pessoa, mas eu concordo com você. Parece que eu estou incompleto, que às vezes perco o controle de meu corpo, como se algo tivesse me possuido...

O senhor David, um tanto quanto arqueado sair com as mãos nas costas, dizendo que precisava ir ao banheiro.

O Sr solta um riso engasgado. Tosse por três vezes e então se recompõe.

Isaac: - Certamente não meu jovem. Aqui a vida é bem… angustiante, acredite. Não é um lugar para se viver. A esperança deste povo aqui é que um dia, possam viver aqui. Inclusive a minha.

A expressão do homem se enche de alegria ao se mencionar na probabilidade de ser levado para dentro de Rondo.

Isaac: Isso… seria um sonho!

Chris apalpava suas vestes e percebia que não havia armas consigo. Se sentia em um mundo paralelo, talvez um ilusão? Ou talvez, havia acordado agora para a vida real? Não havia comando para se fazer, para obter ajuda alguma ali. Não tinha contato com Xanthus nem com base alguma.

Isaac ainda parecia comemorar, quando de repente, um chute no meio das costas de Isaac o faz rolar pelo chão.

? : Seu velho idiota! Esqueceu que já viveu esse “sonho” antes? Voltar para lá, NÃO É UMA OPÇÃO!! Você está infectando as pessoas daqui ainda mais que o tempo.

Rita

-Tsc! Então você é o desgraçado sortudo e, pelo visto, mal agradecido. - cruzou os braços como uma autoridade em frente a um indiciado. - Devia beijar meus pés, porque se não fosse por mim e minha equipe, você faria parte das dunas a essa hora!

O senhor, apressadamente, levantou-se com certo auxílio de Chris sorrindo num tom apaziguador.

- Hahaha, se acalmem meus jovens, não vamos criar atritos desnecessários. Chris, está a Rita, é quem mencionei agora a pouco. Ela faz parte de um pequeno grupo que garante nossa segurando aqui, na verdade, ele foi promovida a líder depois que o antigo líder decidiu "ir além". Ainda não contei, mas foi ela e sua equipe que encontrou vocês em um patrulhamento de rotina. - ele se direciona a Rita, e, agora analisando melhor, era a mesma pessoa que estava em cima do barco, observando. - Rita, entenda, este homem pode ser a nossa porta de saída daqui. Você sabe que nossos recursos está minando pouco a pouco. Quer continuar assistindo o povo de nosso vilarejo perecer de fome? Não temos recursos suficiente!

Rita: Seu maldito, você não me engana. Voltar para aquela ilusão é algo fora de cogitação. Aqui lutaremos para viver, mas viveremos algo real. E estou conseguindo convencer as pessoas de irem além, pois é isso que nossa esperança deve se rumar!

Rita, de braços cruzados e olhos atentos ouvia Chris se pronunciar. Sua expressão de seriedade abrandava-se lentamente, até vir uma curiosidade:

- Cano?… - Porém, sua indagação não prejudicou o diálogo, e então Chris, por sua vez continuou e mencionou qual era sua principal função na cidade de Rondo e suas habilidades. Nisso, Rita arregala os olhos, em surpresa e até mesmo, numa animação velada. Mas dessa vez, se conteve, por mais que sua linguagem corporal demonstrava sua inquietação e vontade de se pronunciar. Enfim, Chris finaliza externando suas curiosidades sobre algum detalhe e outro, e ela assente com a cabeça, num sinal de que a troca de informações aconteceria sem mais problemas.

- Chris, não é? Você veio de Rondo, certo? Você sabe, basta raciocinar. Aquele paraíso é um veneno que anuncia a doçura, mas uma doce sem açúcar. Aquela vida é falsa, uma ilusão. Qual o sentido de se viver, baseado num roteira a se seguir? Isso não é uma vida, mas sim um filme, algo falso, irreal.
Mas o que mais existe neste mundo, são as pessoas ignorantes, assim como aquele velho que quer perder a sua “alma” e se transformar em um robo. Sim, robos! Não vejo diferença entre um e outro.

Fechada o punho e começa a caminhar de um lado para o outro. Sua entonação aumentava conforme se empolgava nas palavras.

- Esses molengas não querer se esforçar, não querem ter o suor escorrendo pela testa e tendo que lutar por uma vida real. Mas eu luto, e lutarei até a morte.

De repente, para e o observa. Recompõe-se e limpa a garganta. “ham-ham”

- Enfim, o que nos devemos fazer e ir além. Ir além não é morrer. Pelo contrário. É lutar contra ela. É achar um escape e tentar melhorar as coisas. Ir além, é ir além ao seu pé da letra.

Apontou para seu barco voador.

- Ir além, é ter a coragem de seguir em frente e ver o que há além desse deserto maldito, ir em sentido contrário a Rondo! Agora, me diga, Chris. Qual é o seu Objetivo de vida? Servir a Rondo ou servir a sua própria vontade? … Ah!

Exclamou, como se estivesse deixando passar algo importante.

- Você disse que arruma… coisa quebradas? Seria como se fosse uma espécie de mecânico? - Apontou para seu navio voador. - A minha “13” está precisando de conserto… acho que pode dar…

Pareceu resistir a pedir ajuda. Pareceu ter um orgulho bem lustrado, mas aquilo parecia ser importante…

- …Uma olhadinha, talvez… quer dizer… você mesmo disse que se pudesse fazer algo, que faria, certo?