Campanha - NAIZEN "AKA" ISHIKAWA - LUCAS COREY.

Naizen era um soldado raso, mas estava recebendo treinamento especial para se tornar um espadachim de elite. Então, assim como os demais jovens com talento especial no uso da katana, ele era treinado diretamente por Takemaru Ishikawa, seu pai, para se tornar um soldado de elite. Ainda assim, a única diferença de tratamento que ele já havia recebido por ser filho do Mestre foi o envio da carta que ele agora tinha em mãos.

Seu pai escreveu simplesmente que teve de partir para a capital do Império a fim de tratar de “assuntos importantes” e que, durante a viagem, Naizen ficaria à disposição dos Comandantes de campo para participar de missões. O rapaz podia muito bem ter sido avisado disso como todos os outros que treinavam com seu pai, ou seja, por meio de um anúncio feito oralmente no pátio de treino. Ainda assim, o velho preferiu lhe escrever uma carta… que não dizia mais do que foi dito aos outros.

Naizen refletiu que esse mínimo de deferência devia ser o jeito de seu pai lhe mostrar que a “lição de humildade” não tinha terminado, mas que o rapaz continuava a ser um filho querido e que seu pai tinha planos para o futuro dele.

Sua mente só foi tirada dessa reflexão quando Abel - que o chamava de “Aka” porque os dois já tinham certa amizade - lhe avisou para subir no cavalo e seguir ao encontro do Comandante. Uma ordem que ele cumpriu com contentamento, pois uma das coisas que ele mais gostava de fazer na vida era cavalgar! Até preferia sair em missões que exigiam viajar um dia ou mais a cavalo.

Seguiu cavalgando ao lado de Abel pelas ruas de terra vermelha de Riviere, ainda meio molhadas de uma chuva recente. Seguiam em silêncio, pois Naizen não era de falar muito, e seu amigo de espírito confiante e animado sabia apreciar e respeitar essa característica. Naizen olhava para as ruas semi-desertas, para as casas pobres e as roupas remendadas dos transeuntes. Aquilo lhe dava saudades da Cidade da Esperança e reafirmava sua desaprovação à administração Ishi. Até chegou a sentir uma pontinha de vontade de comentar algo sobre isso, mas preferiu ficar em silêncio. Falar sobre política com um soldado raso era inútil e também indigno para um Ishikawa de sangue nobre.

Ao contrário de Abel, Naizen seguia caminho sem retribuir aos acenos dos moradores. Prestou uma atenção profunda às palavras do amigo:

- Eles nos veem com esperança Aka. De alguma forma mesmo com tudo o que acontece, é isso o que somos para essas pessoas. Isso faz o que eu faço valer a pena... nos meus sonhos, todas as pessoas em Arkádia vivem assim, felizes, seguras.

Com um tom de voz que tanto poderia ser classificado de sereno como de frio, o nobre respondeu:

- O povo de Riviere tem sorte por haver um soldado como você a serviço das forças de ocupação. Você se importa com a plebe e faz do ofício de guerreiro a razão da sua existência. Já no meu caso, lutar significa construir meu destino pessoal e cumprir os deveres da minha casta para com as castas inferiores. A plebe deve trabalhar, mover a economia do Império, e os nobres devem comandá-la e defendê-la. Eu não teria dignidade se não usasse meus talentos com a espada, a montaria e o fogo para cumprir minhas obrigações com aqueles que dependem da proteção e da liderança da casta superior. E eu também não teria nenhuma dignidade e valor aos meus próprios olhos se não lutasse pela glória guerreira, se não me dispusesse a arriscar a vida para conquistar um lugar na história do Império.

Depois dessas palavras, Naizen mergulhou novamente no silêncio, e  assim ficou por um bom quarto de hora. Refletindo ainda sobre a fala do amigo, sorriu de leve ao constatar que, por mais que se esforçasse, não conseguia se lembrar de uma única ocasião sequer em que Abel estivesse triste.

- Seu espírito confiante e otimista é também uma grande sorte para este povo, Abel. Você não se deixa esmorecer nas batalhas porque sempre confia na vitória. É assim que você consegue sobrepujar o medo da morte melhor do que a maioria. E isso faz de você também um bom amigo para os tempos de paz: você sempre inspira confiança e otimismo.

Dito isso, Naizen sorriu de maneira franca e depois retornou ao silêncio.

Naizen fitou os olhos de Dante com absoluta frieza, mas no seu espírito uma faísca de ódio já tinha surgido. Secamente, ele respondeu:

- Eu não sou tolo para exigir tratamento especial da parte de outros soldados rasos, como você, porque sei muito bem que a hierarquia do sangue não se confunde com a hierarquia militar enquanto oficiais e soldados estão de serviço. Mas você, sendo ignorante e invejoso, quer usar uma igualdade meramente funcional e temporária para fazer de conta que é realmente igual àqueles como eu.

Ao se dar conta de como estava sendo duro na resposta, apesar da expressão fria e de falar a meia voz, Naizen cerrou os punhos, embora mantendo-os abaixados, já se preparando para lutar. E prosseguiu:

- Mas, agindo desse jeito, você se rebaixa até mesmo como soldado, a única coisa para a qual eu achei que você prestava! Afinal, provocar brigas inúteis com companheiros de farda atenta contra a disciplina militar, e é isso que você está fazendo agora.

O rapaz de cabelos vermelhos estava prestes a atacar, mas fez um esforço supremo para controlar-se; não queria figurar como indisciplinado nos relatórios de seus superiores. Se Dante atacasse, porém, ele se defenderia. Brigar não era bom, mas pelo menos haveria várias testemunhas de que não foi ele quem começou.

- Acho bom não encostar mais em mim.  

Naizen gostou quando o Comandante interrompeu a discussão em seu auge, mas não iria deixar de fazer queixa de Dante e de solicitar que o mau comportamento deste constasse em relatório. Quando já estava abrindo a boca para dizer isso ao Comandante, porém, ouviu a expressão "por favor", o que fazia as ordens de não falar a respeito e de se juntar aos demais soarem como pedidos.

Um Comandante normalmente não diria "por favor" ao dar uma ordem a um soldado, e por isso Naizen concluiu que era uma deferência que o Comandante fazia ao sobrenome Ishikawa. Permaneceu calado e juntou-se aos outros. Apesar do discurso que fez a Dante sobre não se poder misturar a "hierarquia do sangue" à hierarquia militar, avaliou que não seria boa política ignorar aquele gesto de consideração do Comandante e agir de um modo que poderia ser interpretado como impulso de revanche juvenil, não como zelo pela disciplina e pela ordem.

Olhou de soslaio para Abel, ao lado de quem tinha se perfilado, e achou que o amigo havia aprovado o modo como ele se conteve de brigar e como obedeceu. Isso deixou Naizen satisfeito. Quando o Comandante finalmente explicou a missão que tinham pela frente, Naizen franziu o cenho numa expressão muito séria. Aquela missão poderia ser uma grande oportunidade para ele se destacar. Afinal, o que poderia ser mais importante do que capturar o filho do Rei deposto?

Naizen seguiu atrás do comandante e ouviu atentamente a ordem: distrair o dragão sem se aproximar… Ele olha para a criatura e sente admiração, respeito e medo: uma verdadeira força da natureza! "Sim, dois soldados chegarem perto para atacar com armas brancas não seria menos do que insensatez", ele pensa.

- Abel, vamos nos separar! Eu ataco primeiro e fujo para aquele lado. Aí você ataca de outro lado e foge para lá!

Naizen corre para onde indicou que iria ao mesmo tempo em que olha nos destroços à procura de fogo. Se encontrasse, lançaria uma Rajada de Fogo contra o dragão. Se não houvesse fogo para controlar, iria se aproximar só o suficiente para arremessar sua espada contra a criatura. Arremessar a espada normalmente é o último recurso de um espadachim, mas, na ausência de fogo, teria de ser o primeiro...

Status:

A vibração no solo alertou Naizen de que o monstro estava se aproximando, mas, no momento seguinte, pareceu afastar-se. Ele arriscou olhar por cima dos escombros e viu a fera voltada para Abel. Um virote estava cravado no flanco do Dragão, mas não parecia ter penetrado além das escamas grossas. A estratégia estava funcionando, pois era claro que Abel havia disparado.

Cabia agora a Naizen dar sequência aos ataques diversionistas, então ele saiu de onde estava e, executando movimentos rápidos e estudados com as mãos e com o corpo, fez o fogo nos destroços crescer, dar uma pequena volta no ar, e disparar contra o alvo na forma de uma rajada.