Antes que Lana pudesse sequer reagir ao que seu pretendente nipônico tentava lhe dizer, Akane entrava em uma espécie de surto furioso e descontava toda sua raiva e frustração para cima de seus recentes novos amigos. Com a interrupção, toda a tentativa do herdeiro Mikami em se declarar e se expor sentimentalmente, como nunca antes havia feito, tinha ido por água abaixo, deixando seu coração pulsar de nervosismo. Não estava acostumado de não ser lavado a sério, muito menos estorvado daquela maneira. Talvez fosse algo a se melhorar dali para frente. Uma pena que aquele não era o maior problema naquele momento.
- Akane-chan? – Perguntava extremamente confuso com a ofensa gratuita dirigida a ele pela jovem dos cabelos cor de esmeralda.
“O que foi que eu disse?” – Refletia em sua consciência enquanto a cena apenas piorava. Lana se afastava de perto dele e partia para cima de todos ali, em uma atitude tão surpreendente que Kiritsugo não conseguia acreditar, era como se Lana se transformasse uma pessoa completamente diferente.
Lana escreveu:- Eu não sei o que causou a vocês a impressão de que de repente se tornaram meus amigos, mas estão muito enganados. - a líder de torcida olhou de cima a baixo Akane - Isso vale especialmente para você, Sato. Você pode ser cega, mas nenhum de nós é surdo. Se gritar comigo novamente, vai se arrepender. - o desdém pesado da loira recaiu então sobre Keiko, quando Lana olhou dela para Gin, torcendo o nariz para ambos - Eu trouxe o seu pássaro de volta, Maeda, porque a pobre criatura não deveria pagar pelas agruras de nossos poderes. Mas o fato de que todos temos poderes não nos torna a Get Along Gang. Se tentar sentar na minha mesa para almoçar, vai descobrir que Mimi era na verdade bastante gentil e pouco criativa.
A líder de torcida era bastante alta para os padrões nipônicos e tinha uma postura impecável, que dava a ela ainda mais amplitude para olhar as duas outras garotas de cima.
- Francamente, não sei quanto a vocês... - ela olhou para os três rapazes do grupo - ... mas eu não vou arrastar minha reputação na lama por causa do Clubinho X-Men. - olhando diretamente para Gin, a loirinha completou - É evidente que teremos que nos encontrar novamente, principalmente com o envolvimento de antagonistas dentro da escola. Porém, only losers hangout with losers... - era evidente que ela se referia à Keiko e não fazia questão de disfarçar - Vocês dois têm meu número. - a loira olhava de Gin para Mikael - Mandem mensagem quando escolherem uma base neutra para encontros, após as festividades. Até lá... - a líder de torcida voltou a olhar de Akane para Keiko - ... fiquem fora do meu caminho.
“Essa é você de verdade?!” - Antes doce e angelical, Lana parecia demonstrar sua verdadeira face, uma que Kiritsugo não conseguia conceber que fosse real. Mesmo a versão “Dark” da loirinha tcheca tendo voltado para seu corpo, o carinho e afeto que o presidente do conselho tinha para com a mesma o cegavam a ponto de não perceber ou não querer perceber que talvez aquilo fazia parte dela, e de que ele teria de lidar com isso.
Porém, ouvir aquelas palavras de Lana o faziam se relembrar dos ensinamentos de seu pai sobre as pessoas, principalmente as do sexo oposto:
“Fique atento a qualquer interesseira Kiritsugo, você tem um nome muito forte e poderoso e as pessoas podem tentar te enganar apenas para se aproveitar do que você pode oferecer a elas” - A voz de seu pai ecoava em sua mente ao mesmo tempo em que Lana acabava com tudo o que Kiritsugo achava que fosse verdade, não só entre os dois, mas entre todos ali. Ele tinha confiado em todos, achava que fossem seus amigos, mas o choque de realidade vinha tão pesado como um belo soco na cara, mas com a grande diferença que o soco doeria muito menos e cicatrizaria bem mais rápido.
“Ela... Ela só me usou, esse tempo todo eu... Fui enganado!” – Sua face era de pura raiva e decepção, pois acabara se entregado e se exposto com todos ali, acreditando que eles pudessem ser seus verdadeiros amigos, algo que sua família deixava claro que nunca iria acontecer, porque amizade e amor verdadeiro não existia. Apenas uma doce ilusão.
“Amizades... Que vergonha Kiritsugo-san, como você pode ser tão fracote?” – Mais uma memória, desta vez de seu irmão mais velho, Seto, de quando o pequeno Kiritsugo fora pego tentando fugir de casa para brincar com seus amiguinhos de escola ao invés de ter mais uma exausta seção de ensino abusivo do irmão. Cerrava seu punho tão forte que pequenas faíscas descontroladas poderiam ser vistas tentando se libertar enquanto eram amassadas pela enorme pressão de seus dedos. Seu coração doía como nunca após aquela revelação, pois Lana parecia até pior do que Mimi e Kiritsugo teve de se controlar muito quando a mesma o encarou antes de resmungar insinuando que ele deveria convidar o americano e não ela para o baile.
“Mentirosa... Pensei que você fosse diferente... Mas eu vou te esquecer, eu preciso te esquecer...” – Pensou, calado.
- Faça como quiser. – A respondeu com um olhar frio, sem nenhuma emoção. Naquele momento, queria esquecer toda a ilusão que Lana teria causado a ele e seguir adiante com seu principal objetivo, se formar e adentrar em uma universidade de renome para então se tornar o líder de sua família. A garota deixava o local com pressa e Mikael confirmava o almoço, mas pedia cerca de dez minutos antes de se encontrarem, além de também deixar claro que ninguém ali era seu amigo e que seus objetivos eram muito maiores do que aquela escola podia lhe proporcionar. Kiritsugo acenava levemente com a cabeça, sinalizando para Mikael que entendia o que ele queria dizer. Agora ele entendia.
- Eu não almoço na cozinha, mas sim na sala do conselho. Me encontre lá. Sem atrasos. – Respondia ao americano com seriedade em sua voz e em seu olhar. Então quando o garoto, Gin e
Keiko - a mesma que contara o maior segredo de Kiritsugo como se aquilo não fosse nada, apenas para se livrar de uma encrenca - também deixavam o local, Kiritsugo se dirigia a solitária Akane.
- Akane-chan, insultar o presidente do conselho dessa forma sem motivos ou provas é tratado como uma violação das regras desta instituição, peço que por gentileza me encontre em minha sala assim que estiver recuperada. Tenho uma proposta a lhe fazer que talvez melhore esta sua atitude. – Então dava as costas e rumava para a sala do conselho com um semblante que transparecia um nada quase que completo.
"Svetlana me enganou, Keiko me traiu, Gin desde o começo me tratou como um desgraçado qualquer assim como Akane a pouco tempo... Como fui tão tolo?" - Refletia compulsivamente até adentrar a sala do conselho. O comodo á serviço do conselho - vazio com a exceção do próprio presidente - era bastante organizado e aconchegante, ficando no último andar da escola. Ao fundo, de costas para uma enorme janela, ficava uma grande e opulenta mesa, feita inteiramente de carvalho negro. Aquela era a mesa em que Kiritsugo passava a maior parte do tempo na escola quando não estava estudando. Sem fome, com seu bentō acima da mesa, fitava a bela e grande janela que proporcionava uma ampla visão para o pátio da escola enquanto esperava por Mikael e talvez, sucessivamente Akane.
Quando o gaijin americano enfim adentrava o local, de costas com as mãos no bolso de sua calça, Kiritsugo o recebia com uma história que iria direto ao ponto e dava o tom daquela inusitada reunião:
- Quando eu era mais jovem e ainda morava com minha família, acabei indo junto deles para um encontro de negócios na casa de alguns estrangeiros, claro que não época eu apenas queria me divertir, mas meus pais não aceitavam que um de seus filhos fosse uma criança que criasse problemas, portanto me deixaram a mercê de meus irmãos, enquanto negociavam e fechavam seus acordos milionários. Lógico que eu não suportaria meus odiosos irmãos me importunando durante todo aquele tempo, por isso eu fugi. - Se virava para Mikael e continuava.
- Acabei encontrando a sala onde meus pais estavam e ouvi por um momento o que falavam, e o pouco o que ouvi me deixou muito preocupado. Falavam sobre seus caçulas e de como eles temiam que envergonhassem o nome de suas famílias. Mas a cara do garoto que aparentava ter a mesma idade que eu parecia ainda pior. Ele estava do outro lado da porta ouvindo atentamente tudo, assim como eu. Arrisca me dizer quem era este garoto? - Terminara de perguntar e se sentava em sua confortável poltrona da mesma cor que sua mesa.
- Nós somo parecidos, por mais que você e eu não aceitemos isso, somo rejeitados por nossas próprias famílias. Por isso, irei direto ao ponto. - Se inclinava para a frente cruzando os dedos em cima da mesa e encarando Mikael com um olhar frio, porém determinado o disse:
- O vice-presidente do conselho se desligou recentemente do cargo, está se formando este ano e decidimos por tentar encontrar alguém mais jovem e ambicioso. Não consigo pensar em alguém que se encaixe melhor do que você, alguém que só não aceitaria minhas ordens facilmente como também as questionaria. Alguém que tem carisma para melhorar ainda mais a posição deste conselho. Então, o que me diz?