"A primeira impressão é a que fica"
Qualquer um já ouviu milhares de vezes esta frase clichê. Pois bem, o que devo pensar quando vejo uma garota conversando com alguém que não está entre nós? "Não vai acontecer nada", ela disse, e eu me pergunto o que poderia acontecer. O que devo pensar daquele cara que pede ajuda para Lana e para um tal de Alex? Lana é a garota ruiva e antes de eu deduzir quem seria Alex, ela se adianta e o identifica como um amigo imaginário. Eles tentam despertar um sujeito, talvez o mais estranho de todos, em estado catatônico.
Tudo isso que estou contando aconteceu poucos minutos depois de eu me apresentar. Não foi uma impressão minha. Olhando ao redor, chego a me perguntar o que diabos estou fazendo aqui.
Mas se fosse verdade que "a primeira impressão é a que fica", nem colocaria minha mochila na van. Pegaria o primeiro ônibus para casa porque não quero passar minhas férias com gente pirada; já me bastam minhas próprias angústias. Sei que a primeira impressão sempre diz mais sobre mim do que sobre os outros. É a expressão mais autêntica de meus preconceitos. Seria precipitado se me arriscasse a dizer que me juntei a um bando problemático de playboys. A bem da verdade, a outra metade do grupo até que parece normal.
Miko me ajuda a colocar minha mochila na van. Sua semelhança com a criança do filme Pet Sematary, do livro de Stephen King, me deixa um pouco desconfortável. Sinto uma curiosidade irresistível de lhe fazer uma pergunta:
- Você gosta de animais?
(Após sua resposta, pergunto se ele tem ou já teve algum animal)
…
Nem bem havia deixado a mochila no porta-malas, quando me dou conta de que é melhor pegar meu bloco de anotações. Assim, poderei consultá-lo ao longo do trajeto até Angra dos Reis. Ainda não consegui me desconectar por completo do desaparecimento da filha de Monique. Pouco antes de chegar aqui, destaquei partes de reportagens que me deixaram intrigado. Sua disposição na página parecia compor um tipo de mensagem que não consegui identificar… talvez porque eu esteja viajando na tentativa de encontrar lacunas na investigação que ninguém tenha percebido ao longo de um ano.
O levantamento do caso nos últimos dias trouxe à tona uma figura suspeita de grande relevância nacional. O deputado Irajá é filho da senadora Kátia Abreu, que se candidatou à vice-presidência no ano passado. Existe a hipótese de que ele esteja usando sua fortuna e influência política para abafar o caso de Bárbara, com quem já teve um relacionamento. Assim como muitas das famílias tradicionais de políticos no Brasil, ele também deve guardar esqueletos no armário.
Depois de folhear rapidamente minhas anotações, cruzo com o olhar de Carina. Guardo rapidamente o bloquinho no bolso como se quisesse escondê-lo, quando, na verdade, foi uma reação à consciência me alertando para me distrair do trabalho e aproveitar as novas companhias.
- Parece que você é a irmã mais velha. Estou certo? - Aponto e sorrio para Carina.