Doppelgangster escreveu:━ Eu posso ajudar, mas vai custar pelo menos duas daquelas. ━ Apontava com o rosto para a moeda na mão do meio-elfo
O cigano tomou nas mãos o instrumento de cordas, enquanto Ariela acenou positivamente com a cabeça para ele. A conexão dos Bardos com a Trama funcionava de maneira pouco ortodoxa, e se falar demais durante uma invocação de Magos já poderia ser um problema, não se arriscaria a estragar a performance do menestrel com conversinhas.
Precisava da Cura. E por mais poderoso que um Mago fosse, jamais seria capaz de emendar a carne dos vivos: sobre tais assuntos, tudo que um Mago conheceria era a necromancia e a Morte.
Revigorada pela aura curativa que a envolveu, Ariela esperou até que a Magia estivesse concluída e então gesticulou na direção do Bardo, movendo os lábios sem chegar a proferir realmente qualquer palavra.
Porém, ao pé de seu ouvido, Eron foi capaz de escutar um sussurro, inaudível para todas as outras pessoas presentes: - Magia: Mensagem - alvo: Eron:
- Nada mal, Doppelganger. Nada mal...
Os olhos da Maga desviaram então para a Boticária ruiva, que falava sobre ela como se ela não estivesse ali.
Morrigata escreveu:- Estou pronta, vamos cada segundo nosso é um segundo a menos para ela. Alias ela também terá que seguir conosco. Como pensam leva-la?
Antes que alguém tivesse a chance de responder por ela, Ariela disse simplesmente:
- Ela pode caminhar. - talvez aquele veneno fosse realmente mortal e paralisante para os
nativos, mas ela conseguiria sobreviver. Com a Cura do Bardo e o antídoto, não tinha dúvidas de que estaria bem antes da invasão às ruínas. Porém, percebendo que poderia ter causado uma má impressão à Boticária com sua resposta, emendou -
O sangue Antigo é forte em mim, Srta. Morrigan. Teremos o tempo necessário. Não se preocupe. - tentou ao máximo suavizar a voz, como quando dava aulas para os ainda muito jovens, de modo a obter um efeito mais simpático. Igualmente, tinha ouvido a jovem se apresentar para o meio-elfo, e achou que seria de bom tom mostrar que prestava atenção. Pode ser que acabasse devendo sua vida àquele grupo improvável, afinal.
Foi quando deu com os olhos amendoados do Guardião sobre si.
Ginzinho escreveu:- Uhh.. Almarë, que bom que confiou em nós a ponto de tirar suas roupas, ah, digo.. trajes.. não.
Ariela arregalou os olhos por um segundo, sentindo o coração bater apressado no peito.
SERÁ QUE ELA ESTAVA SEM ROUPAS? Olhou para baixo, e constatou que -
ufa! - elas estavam lá. Mas é, já tinham estado em melhor estado. Ainda assim, o meio-elfo parecia desconcertado. Mais um ponto que reforçava sua impressão de que havia sido criado na Corte Élfica. Ele desviava os olhos dela, e Ariela - meio sem saber porquê - se sentiu incomodada com o pensamento de que ele a achava desleixada.
Ele disse qualquer coisa sobre irem logo, antes que o veneno a paralisasse, e deu as costas à Maga. Que teve todo tipo de ideia absurda sobre conjurar em pleno ar os mais graciosos vestidos já desenhados pelo Belo Povo, e arrumar os cabelos em penteados pontilhados de pérolas e... -
"... só me traria vergonha" - mordendo o lábio inferior levemente, Ariela desviou os olhos do meio-elfo para a taverna tomada por corpos, o chão lavado em sangue, os móveis revirados como se uma criança enfurecida houvesse sacudido uma casa de bonecas. Ele não era o primeiro rapaz
muito bonito que cruzava seu caminho. Mas isso não importava, no final. Onde quer que houvesse um sujeito atraente, havia uma jovem estonteante para sorrir para ele. E ela, pequena e pálida Maga, não sabia sorrir.
Tomando a frente da comitiva, ele se apresentou como Gin e passou a instruir a todos sobre o clima local. Os Warlocks partiram e o Halfling tomou o rumo de cuidar de seus interesses. O Bardo ressaltou que, assim que recebesse o que era devido - que Ariela entendeu como sendo os dois Marcos de Ouro - faria o mesmo: partiria para cuidar da própria vida. Mas ele não veria nem a cor do dinheiro até que ela estivesse Curada do veneno, então a Maga nada disse. Se ele cumprisse sua parte no acordo, ela cumpriria a dela. Simples.
Enquanto Gin mencionava todas as provisões que esperava que tivessem, a elfa apenas tocou suavemente a si mesma na altura do peito, murmurando:
- Gnidnem¹. - suas roupas, antes bastante estragadas, agora pareciam quase novas.
Quase. Ainda havia pequenos rasgos horizontais na calça, na parte da frente de suas coxas. Ariela passou a mão por ali, alisando os defeitinhos com a testa levemente franzida. Aquela era uma magia ridiculamente simples. Não deveria haver falhas. Mas a Trama ali escapava entre seus dedos, recusando-se a entregar todo o potencial que ela sabia extrair.
Distraída por este pensamento, só se deu conta da presença de Gin bem diante dela quando o meio-elfo a chamou.
Ginzinho escreveu:- Com licença. Sei que sua condição não é das melhores, mas existe algo que você possa fazer para disfarçar nossa trilha, cheiro e barulho que fazemos enquanto avançamos? Não gosto de ser surpreendido e o clima não vai nos ajudar enquanto avançamos. Nossa posição será conhecida por todas as criaturas daquela floresta com meio focinho e uma pequena técnica de rastreamento.
Àquela distância, e olhando nos olhos de Ariela, Gin poderia perceber que as pequenas pupilas dela eram de um tom de azul muito escuro, não pretas, e tinham quase dobrado de tamanho com a aproximação dele, fazendo com que o pontinho dourado-alaranjado agora parecesse deslizar sobre as águas profundas do mar. Por outro lado, a própria Ariela não fazia ideia disso. Só sentia que o rosto queimava repentinamente e tinha vontade de se esconder, sentindo no ar uma sensação que reconheceu como sendo de perigo.
Apesar de ser algo completamente absurdo.
A Trama ali era errática, mas a verdade é que poderia pulverizar todos os ossos do corpo do meio-elfo antes que ele tivesse a chance de dizer "ai", caso isso fosse preciso. Gin não era realmente uma ameaça. Mas então por que se sentia como uma lebre sob o olhar do lobo?
- Foi você quem me carregou até o andar de cima. - a frase saiu espontaneamente, antes que pudesse perceber que na verdade não tinha nada a ver com o assunto. Corando ainda mais intensamente (agora sentia até o nariz ardendo), ela emendou -
Você cheira a floresta, cachoeira e aço. Se eu posso reconhece-lo pelo cheiro, você tem razão, qualquer animal pode. - tentou tocar a Trama e sentiu que a Magia se dissolvia ao seu redor -
Mas estou muito longe de casa. A Magia funciona... diferente aqui em Lantara. Não tem muito que eu possa fazer além de garantir velocidade ao nosso grupo² e encobrir nossa presença em brumas³.Era meio evidente para qualquer um ali que Ariela não tinha ganchos para escalada num bolso da algibeira de couro que carregava, mas isso não pareceu preocupar a Maga. Se havia comida ou água com ela, também era impossível dizer, mas o mais provável é que não houvesse nada além do grimório que trazia na mão, a algibeira ao redor da cintura e a pulseira-capa/capuz.
Saindo para o exterior da taverna, observando a trilha que parecia tão pouco usada, a Maga apenas ficou ali parada sob o sol, os cabelos perolados balançando ao vento, enquanto se ocupava mentalmente de apenas uma coisa:
sentir a localização da Žetvarot.
- Norte. - ela disse, pronta para partir. A espada tinha realmente caído em algum lugar próximo às ruínas, pelo que podia sentir. E tinha que recuperá-la, antes que caísse em mãos daqueles que não saberiam com o que estavam lidando.
¹ Magia de nível 0
Reparos.
²
Expeditious Retreat e
Longstrider.
³
Fog Cloud.