Eu estava perdido.
Não havia rumo ou direção a ser tomada. Tudo era mais fácil, mas também era repetitivo e exaustivo.
Naquela época, forças sombrias habitavam meu coração. Elas me faziam ouvir suas vozes estridentes o tempo inteiro, sem descanso nem trégua e nem piedade.
Os tambores e batuques e batidas repetiam-se incessantemente dentro de mim, contra minha vontade ou a favor dela, e eu me contorcia das formas mais inacreditáveis.
Eu freqüentava locais onde esses sons demoníacos possuíam não apenas a mim, mas à uma massa anônima, tão imbelicizada e zumbificada quanto eu mesmo.
Eu seguia padrões de comportamento ditados para mim por entidades cujo único propósito era abusar de mim e me esgotar.
Eu me vestia como eles mandavam. Eu falava como eles mandavam. Eu bebia o que eles mandavam.
Sonhava com carros amarelos, a amiga da minha irmã, com repetições seguidas e infinitas de sílabas soltas que não significavam absolutamente nada, mas mesmo assim era possível imaginar que tinham conotação sexual.
Usava bonés equilibrados sobre a cabeça, sem ousar encaixá-los apropriadamente.
Eu descia até o chão.
Deus, eu descia até o chão.
Eu não tinha rumo. Estava perdido.
Mas, um dia, um amigo me estendeu a mão para me dar rumo.
Ele tinha dois ingressos para um show.
Conferi o nome: Black Sabbath.
Subitamente, os demônios dentro de mim se contorceram, ameaçados. Um jorro de pré-conceitos e rótulos surgiam dentro de mim julgando, punindo, condenando aquilo.... sem que eu jamais soubesse o que aquilo era.
Coitado de mim, eu recusei o convite.
Eu não queria me envolver com essa coisa-ruim. Com essa coisa de maluco.
Porém, aquilo permaneceu dentro de mim. Uma dúvida, uma semente plantada, uma luz de sanidade no fim do escuro túnel do mau-gosto.
Eu havia recebido o chamado. Não havia mais volta.
No dia seguinte, procurei meu amigo, e aceitei o convite que ele havia feito.
No dia do show, caminhamos longamente até o palco, e eu observava as figuras ao meu redor. Cabelos longos, roupas pretas, tatuagens, bandanas, piercings... “não devem comer ninguém”, um demônio sussurou em meu ouvido.
Eu me ri daqueles coitados. E dei um gole no meu uísque com energético, já arrependido de estar ali.
Porém, o palco se iluminou e a multidão explodiu em um tom ensurdecedor.
Meus olhos se arregalaram, eu me assustei. Tanta devoção! Tanta emoção! Nunca havia visto nada parecido.
Sobre o palco, quatro anjos de preto. Nem eu podia recusar a presença esmagadora daquelas entidades.
Tony Iommi, Ozzy Ousborne, Geezer Butler, Bill Ward.
Eu podia jurar que eles olharam pra mim, como se reconhecessem as forces escuras que em mim habitavam.
Eu prendi a respiração. As vozes me diziam pra rir deles, mas eu não era capaz. Algo grande estava para acontecer
Como Cavaleiros Cruzados que erguem suas espadas para retomar a Cidade Sagrada de Jerusalém das mãos dos infiéis, o Black Sabbath ergueu seus instrumentos.
Notas musicais magistralmente entoadas pela guitarra do Mestre ecoaram pelo estádio, fazendo a multidão pular e o próprio solo tremer.
A bateria, o riffs, a voz debochada, o ritmo do baixo... eu apenas arregalava meus olhos. Nem percebi quando soltei o copo.
Fiquei estarrecido... aquilo era... era... poderoso.
Incapaz de fazer qualquer coisa, apenas ergui meus braços, abraçando a inundação de notas e harmonias da melodia que me invadia, que me possuía.
Minha cabeça começa a descer e a subir sozinha. Eu sinto a música em mim. Eu sinto ela vibrando através do meu corpo, alcançando minha alma, me elevando aos céus.
Não vi quando tirei a camisa. Estou no meio de uma roda de pessoas. Ouço gritos compassados com a música, mas não sou senhor de meus movimentos. Apenas ergo os braços, empurro, sou empurrado, giro, pulo...
Antes que perceba, estou nadando em um mar de pessoas que me levam pra frente e pra trás. Eu sinto a energia deles. Eu sinto a sua vibração. Eu sinto sua reverência.
Como se não houvessem regras de tempo e espaço, as luzes se apagam e a multidão explode uma última vez.
O Show acabou.
Já faz uma hora. As pessoas deixaram o estádio. Eu estou aqui, ainda de olhos arregalados. O coração não para de pular.
As vozes sumiram. Os demônios se foram. Eu fui exorcizado.
Caio de joelhos.
Estou salvo.
Não havia rumo ou direção a ser tomada. Tudo era mais fácil, mas também era repetitivo e exaustivo.
Naquela época, forças sombrias habitavam meu coração. Elas me faziam ouvir suas vozes estridentes o tempo inteiro, sem descanso nem trégua e nem piedade.
Os tambores e batuques e batidas repetiam-se incessantemente dentro de mim, contra minha vontade ou a favor dela, e eu me contorcia das formas mais inacreditáveis.
Eu freqüentava locais onde esses sons demoníacos possuíam não apenas a mim, mas à uma massa anônima, tão imbelicizada e zumbificada quanto eu mesmo.
Eu seguia padrões de comportamento ditados para mim por entidades cujo único propósito era abusar de mim e me esgotar.
Eu me vestia como eles mandavam. Eu falava como eles mandavam. Eu bebia o que eles mandavam.
Sonhava com carros amarelos, a amiga da minha irmã, com repetições seguidas e infinitas de sílabas soltas que não significavam absolutamente nada, mas mesmo assim era possível imaginar que tinham conotação sexual.
Usava bonés equilibrados sobre a cabeça, sem ousar encaixá-los apropriadamente.
Eu descia até o chão.
Deus, eu descia até o chão.
Eu não tinha rumo. Estava perdido.
Mas, um dia, um amigo me estendeu a mão para me dar rumo.
Ele tinha dois ingressos para um show.
Conferi o nome: Black Sabbath.
Subitamente, os demônios dentro de mim se contorceram, ameaçados. Um jorro de pré-conceitos e rótulos surgiam dentro de mim julgando, punindo, condenando aquilo.... sem que eu jamais soubesse o que aquilo era.
Coitado de mim, eu recusei o convite.
Eu não queria me envolver com essa coisa-ruim. Com essa coisa de maluco.
Porém, aquilo permaneceu dentro de mim. Uma dúvida, uma semente plantada, uma luz de sanidade no fim do escuro túnel do mau-gosto.
Eu havia recebido o chamado. Não havia mais volta.
No dia seguinte, procurei meu amigo, e aceitei o convite que ele havia feito.
No dia do show, caminhamos longamente até o palco, e eu observava as figuras ao meu redor. Cabelos longos, roupas pretas, tatuagens, bandanas, piercings... “não devem comer ninguém”, um demônio sussurou em meu ouvido.
Eu me ri daqueles coitados. E dei um gole no meu uísque com energético, já arrependido de estar ali.
Porém, o palco se iluminou e a multidão explodiu em um tom ensurdecedor.
Meus olhos se arregalaram, eu me assustei. Tanta devoção! Tanta emoção! Nunca havia visto nada parecido.
Sobre o palco, quatro anjos de preto. Nem eu podia recusar a presença esmagadora daquelas entidades.
Tony Iommi, Ozzy Ousborne, Geezer Butler, Bill Ward.
Eu podia jurar que eles olharam pra mim, como se reconhecessem as forces escuras que em mim habitavam.
Eu prendi a respiração. As vozes me diziam pra rir deles, mas eu não era capaz. Algo grande estava para acontecer
Como Cavaleiros Cruzados que erguem suas espadas para retomar a Cidade Sagrada de Jerusalém das mãos dos infiéis, o Black Sabbath ergueu seus instrumentos.
Notas musicais magistralmente entoadas pela guitarra do Mestre ecoaram pelo estádio, fazendo a multidão pular e o próprio solo tremer.
A bateria, o riffs, a voz debochada, o ritmo do baixo... eu apenas arregalava meus olhos. Nem percebi quando soltei o copo.
Fiquei estarrecido... aquilo era... era... poderoso.
Incapaz de fazer qualquer coisa, apenas ergui meus braços, abraçando a inundação de notas e harmonias da melodia que me invadia, que me possuía.
Minha cabeça começa a descer e a subir sozinha. Eu sinto a música em mim. Eu sinto ela vibrando através do meu corpo, alcançando minha alma, me elevando aos céus.
Não vi quando tirei a camisa. Estou no meio de uma roda de pessoas. Ouço gritos compassados com a música, mas não sou senhor de meus movimentos. Apenas ergo os braços, empurro, sou empurrado, giro, pulo...
Antes que perceba, estou nadando em um mar de pessoas que me levam pra frente e pra trás. Eu sinto a energia deles. Eu sinto a sua vibração. Eu sinto sua reverência.
Como se não houvessem regras de tempo e espaço, as luzes se apagam e a multidão explode uma última vez.
O Show acabou.
Já faz uma hora. As pessoas deixaram o estádio. Eu estou aqui, ainda de olhos arregalados. O coração não para de pular.
As vozes sumiram. Os demônios se foram. Eu fui exorcizado.
Caio de joelhos.
Estou salvo.