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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito

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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Prólogo - Cláudio de Freitas Brito

    Mensagem por Artorias Seg Fev 03, 2020 1:39 pm

    @Colher Verde

    "As nossas tragédias são sempre de uma profunda banalidade para os outros."
    Oscar Wilde




    Estava presente em uma praça bem arborizada com muitas pessoas praticando esportes em diversos campos, outras correndo, pedalando, algumas sentadas em piquenique ou apenas descansando debaixo da sombra de alguma árvore, Cláudio; ele fora passar por lá para pegar um pouco de ar fresco. Sua irmã e o namorado dela foram juntos, mas já deixaram-no só, dizendo que voltariam em instantes, ela sabia que demorariam ainda assim.

    Como era fascinante o ápice do corpo humano, a contração de cada músculo para gerar o movimento, o suor escorrendo pelo corpo todo, a satisfação de ter total controle sobre o corpo, a sensação de poder apanhar o mundo na palma da mão... No entanto, Cláudio apenas sentia inveja, amargura de não poder ser como os outros.

    [...]

    Depois de algum tempo, ainda parado e apenas olhando os outros, um pio de um pequeno pássaro tira-o de seus pensamentos, próximo, avistava um passarinho ferido, suas asas não se mexiam, não podia voar, não podia voltar para sua casa, para seus pais.

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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Pássaro Ferido

    Mensagem por Alakazam Seg Fev 03, 2020 10:53 pm

    Não sei por que ainda tento sair com minha irmã. Ela e o namorado não desgarram, parecem até cão e carrapato. E como carambas ela pensou que eu ficaria vindo para uma praça assim, onde pessoas correm, exibem-se? Eu deveria ter seguido meu trajeto de sempre: ruas simples, retas e silenciosas. Agora não posso nem ir embora sozinho porque não tenho ideia de onde estou."


    O passarinho ferido não o compadeceu. Não era a primeira vez que via um animal assim, e sabia que também não seria a última. Certa vez, quando era criança, até se preocupara com um aladinho nessas condições, mas sua mãe lhe dera uma lição que jamais esqueceria: "Não pode mexer, dá doença." Desde então não sentiu mais impelido a se importar com filhotes assim feridos. Seria a tal lei do mais forte: o fraco que cai de árvore é o fraco que acaba na barriga do gato. Se vai morrer de um jeito ou de outro, não importa; a fraqueza sempre o levará para o caminho da morte.

    "O quê?"


    Cláudio chacoalhou a cabeça, flagrando-se nos pensamentos de ódio. Que uma ave morra assim, embora inevitável, não é coisa que não mereça sequer um olhar de piedade; então Cláudio deu esse olhar. Um, dois, três segundos e... "espere!" Já sabia: o passarinho era uma metáfora. As asas quebradas eram como suas pernas, a privação do céu era como sua cadeira. Deus havia lhe enviado uma metáfora para que ele pensasse na sua própria desgraça. Se ele vivia mais que o passarinho, não era senão pela bondade daqueles que o cercavam, porque sozinho ele jamais seria capaz de se virar. Já o passarinho não tem família para cuidar dele; pelo menos não família no sentido humano; então morreria ali, sozinho, exatamente como aconteceria com Cláudio se não fosse a sorte casula de nascer gente.

    "Sim, sim."


    Essa era a metáfora. Mas que se dane o passarinho a morrer. Onde é que está sete vezes maldita de minha irmã com o setenta vezes sete vezes maldito de seu namorado? O jovem olhava impaciente ao redor, à procura deles, desejoso de ir embora daquela exibição de corpos perfeitos.
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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Re: Prólogo - Cláudio de Freitas Brito

    Mensagem por Artorias Ter Fev 04, 2020 4:54 pm

    @Colher Verde

    Preso em seu próprio corpo.
    Era como sua carne fosse sua gaiola.

    Compreendia a mensagem daquele frágil pássaro,
    mas sua vida fizera perder empatia pelos animais e pelas pessoas.
    Assim como, também,
    encontrava-se em uma existência erma.

    Seria a vida justa?
    Talvez justa para alguns?
    Por que parece que algumas pessoas nascem já para ser felizes
    e outras não?

    Tudo que Cláudio conhece
    se resume em:
    DOR!

    Alguns dizem que isso é apenas uma prova da vida,
    que Deus cria obstáculos para nos tornar fortes.

    Seria isso verdade?
    Seria Deus um sádico
    ou um ser que não se importa com nossa existência?

    Se Cláudio fosse Deus, faria diferente?

    [...]


    Um papel voa sobre o parque, como se tivesse consciência para onde ir, era firme em seu trajeto, flutuava sobre todos, até encontrar Cláudio. Pousava violentamente em seu rosto. Muito provavelmente resmungaria e mesmo antes que fosse amassar para jogar fora, as letras em caixa alta chamariam sua atenção:

    EU ENTENDO A SUA DOR, EU POSSO AJUDÁ-LO.
    Caso queira me procurar, meu número está no verso.

    ----

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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Papel no Rosto

    Mensagem por Alakazam Ter Fev 04, 2020 9:34 pm

    Cláudio estava absorto em seus próprios pensamentos...

    Preso em meu próprio corpo.
    Minha carne são asas quebradas.

    Compreendia a mensagem daquele frágil pássaro,
    mas um pássaro ferido não pode ter pena do outro.
    Assim como, tampouco,
    de qualquer ser de quatro, duas ou nenhuma perna.

    A vida não é justa.
    Na justiça de alguns não há justiça.
    As pessoas nascem para serem felizes
    ou para serem tristes.

    Tudo que o mundo conhece
    se resume a
    dor...

    Alguns dizem que a dor nos torna mais fortes,
    que Deus é bom por proporcionar a dor.

    Mas isso não é verdade.
    Deus ou é um sádico
    ou não está ciente da vida do passarinho sem asas.

    Se eu fosse Deus, faria diferente...
    Mas não sou.


    "Ah!"

    Os braços balançaram surpreendidos, e as costas bateram no encosto da cadeira. Quem foi que teria feito uma piada de tanto mal gosto com alguém que já estava tendo um péssimo dia? E nada de a irmã aparecer com o sr. namorado. 

    (Se Cláudio também tivesse uma namorada era provável que não se sentisse tão revoltado assim, mas ver sua irmã mais nova nos braços de um desconhecido enquanto se tem aquele olhar injusto e julgador de quem nunca conheceu os lábios de uma moça o irava. Sempre viu sua irmãzinha como uma companheira de aventuras e de conversas, especialmente porque ela mesma também nunca fora muito sociável. Agora que ela tinha sido roubada dele dessa maneira Cláudio entendia isso como uma ofensa pessoal).

    O papel misterioso ao menos viera para entretê-lo um pouco. Era sorte que seus pais lhe pagassem um plano de celular para o caso de haver alguma emergência, então poderia realizar a ligação e pegar o espertinho que jogara aquilo em seu rosto. "Conhecer a minha dor, que conversa é essa?" Cláudio se irritava menos com a ideia de alguém pensar que compreende o que é estar preso a vida toda a uma cadeira de ferro do que com a infantilidade de dizer arremessando-lhe um papel no rosto. 

    Com o telefone celular em uma mão e a mensagem na outra, olhou a sua volta com um sorriso desafiador, na ideia de flagrar o culpado atendendo o telefone, e, após sete segundos de hesitação e uma ajeitada nos óculos, realizou a chamada ali mesmo. Por um momento, esquecera-se da irmã.
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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Re: Prólogo - Cláudio de Freitas Brito

    Mensagem por Artorias Qui Fev 06, 2020 3:55 pm

    @Alakazam

    Em seu ato impetuoso, digita o número desconhecido para fazer a ligação, havia uma satisfação em seus olhos, pois, talvez não soubesse o porquê, mas era um dos raros momentos em que Cláudio tinha total controle sobre suas ações e vontades. Havia um embevecimento nesta situação, algo tão comum para outras pessoas, enquanto para ele era mais do que isso. E então liga...

    [...]

    [...]

    [...]

    E uma voz robótica automaticamente diz – Número inexistente.

    Aquilo certamente quebraria suas expectativas.

    "Seria um tipo de trote?"

    Poderia pensar.


    Então a sua irmã e o namorado dela chegam, ela grita de longe – Maninho, voltamos! –, depois, estando mais próximos, ela prosseguiu – Desculpa a demora! Sentiu a nossa falta?

    Após um pouco tempo a mais na praça, voltaram para casa.


    [...]


    Cláudio estava em seu quarto, sozinho, possivelmente refletindo sobre seu dia. O papel continuava em suas mãos, ainda estava inconformado, então sem querer ou não, deixou o papel cair de suas mãos e quando pousou no chão, pôde ver o possível motivo de ter dado número inexistente.

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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Na solidão de uma cama de solteiro

    Mensagem por Alakazam Sáb Fev 08, 2020 5:58 pm

    Abriu um largo sorriso quando sua irmã chegou.

    [...]

    Deitado em seu quarto, na solidão de uma cama de solteiro, Cláudio olhava em silêncio o papel misterioso que havia encontrado no parque. "Eu entendo a sua dor...", repetia. O entusiasmo de mais cedo havia passado; não o retomou nem quando cogitou a possibilidade de o número estar de cabeça para baixo. Agora ele tinha até vergonha do que fizera mais cedo. Ainda assim, fixava naqueles dígitos infames, e uma vaga ideia de suspense lhe ocorria. "Eu entendo a sua dor..." Mas desta vez não poderia tentar uma ligação: junto do entusiasmo também ia embora sua coragem extrovertida. Ficava para trás apenas a velha timidez do garoto.

    Não pensava na irmã, não pensava no namorado, não pensava na cadeira, não pensava em pegar quem lhe arremessara o bilhete. Era apenas uma dessas ações que realizamos sem pensar muito. 

    Com seu telefone celular, adicionou o número a sua lista de contatos, inserindo como nome a palavra "Papel".

    Enviaria pelo Whatsapp a mensagem:

    "Oi?"
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    Prólogo - Cláudio de Freitas Brito Empty Re: Prólogo - Cláudio de Freitas Brito

    Mensagem por Artorias Qui Fev 13, 2020 11:02 pm

    @Alakazam

    Após enviar a mensagem no WhatsApp, imediatamente é respondido. Podendo, talvez, assustar ou deixar abismado.

    – Olá.

    E continuava a escrever.

    – Eu te observei naquele parque.

    [...]

    – Reconheço essa dor de longe.

    [...]

    – Eu posso ajudá-lo.

    [...]

    – É complicado explicar por aqui, caso queira minha ajuda, procure-me neste endereço, amanhã, às 19 horas. Obs.: Esteja sozinho.

    E então deixara o endereço, era no centro urbano de Sã Alva, não muito distante de sua casa. A pessoa ficara off-line definitivamente, não retornando para responder possíveis perguntas. Muitas incógnitas poderiam vir a mente de Cláudio. Também poderia se sentir incrédulo com tal altruísmo e com que tipo de altruísmo seria capaz de ajudá-lo? Sua curiosidade tentava-o.

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