Jeanmarie estava parada sobre uma planície escura, observando o céu sem estrelas de algum lugar que ela não reconhecia. Então subitamente um clarão vermelho irrompeu no céu, como um olho gigantesco despertando, e focou diretamente na ragabash, fazendo o sangue de Tormenta congelar nas veias.
Jeanmarie acordou suando e ofegante.
Estava ainda em sua tenda, no acampamento improvisado que usava para viajar entre seu último destino e o próximo. No momento, estava voltando a Paris depois de um giro pelo norte e nordeste do país.
Ser ativista dos direitos das mulheres era difícil, mesmo na França, um páis notoriamente avançado em termos de legislação feminina. Era preciso viajar muito para fiscalizar casos de descumprimento das leis, renovar contatos com coletivos femininos em cada região, ouvir demandas de vítimas e proteroras, e reunir-se com quem detinha o poder, não raro homens criados sob o ponto de vista patriarcal que a consideravam uma "feminazi".
Além de sua missão social, Jeanmarie também tinha sua missão espiritual, definida no momento de seu nascimento pela luz de Luna. Como ragabash da tribo das Fúrias Negras, ela tinha um papel na Nação Garou, mesmo que não pertencesse formalmente a nenhuma seita e nem fosse parte de uma matilha ainda. Talvez chegasse o momento em que aliar-se a outros garous num grupo que imitava as famílias lupinas, mas era difícil imaginar a vida longe do trabalho a que ela sempre se dedicara. E ainda havia muito a fazer...
Mas talvez Tormenta não tivesse escolha. Já sabia havia algum tempo que estava sendo caçada por um misterioso caçador que não media esforços para alcançá-la. Onde ele estaria agora ou o que estaria planejando, ela não sabia, mas não podia subestimar a ameaça dele.
E ainda havia aquele Dançarino da Espiral Negra que ela confrontara meses antes. Sem conseguir matá-lo, restou à ragabash fugir com vida. Mas ele aprendera eu nome e podia vir a ser um grande problema num futuro próximo.
Enquanto pensava no quanto estava encrencada, Jeanmarie ouviu seu celular tocar. Na tela do aparelho, ela viu o nome de Meira.
Meira Antoíne era uma influencer ardorosamente feminista e muito informada sobre o que ocorria nessa área. Ela falou assim que Jeanmarie atendeu:
- Jean! Eu preciso de você em Paris agora! Uma clínica de aborto foi depredada na noite passada! Estou organizando uma manifestação na frente dela para exigir investigação e punição pelas autoridades. Preciso de você lá! Vou te passar o endereço!
Enquanto olhava a localização que Meira enviava, Tormenta pesou suas decisões. Era um ato importante para sua causa, mas ir à uma manifestação poderia arriscar novamente o Véu, e dessa vez sem nenhum andarilho do asfalto por perto para ajudá-la. Além do fato de estar exposta publicamente aos seus inimigos.
A decisão cabia a ela.