Entrei no quarto e soltei um suspiro. Não era alívio nem frustração, apenas um suspiro. Havia muito dentro de mim absorvido daquele lugar com demais de informações novas.

Eu estava agora longe de uma mãe que não me aceita e de um pai que sofreu por me aceitar. De amigos que me acolheram e de inimigos por quem eu sou. Joguei a mochila para um lado do quarto e me deitei na cama abraçado ao travesseiro. Logo mais eu teria que sair para minha primeira aula e começar a entender isso que está acontecendo comigo.

Não sou estranho a mudanças, mas revisando as regras da Paige, sinto como se tivesse entrado em uma gaiola. Não é uma gaiola ruim, já que nos alimentam e nos cuidam, só me sinto refém ao que eu sou, coisa que eu sempre lutei. Quando Kurt veio, me senti especial, me senti resgatado, mas agora parece que só sou mais um na conta de um exército de gente bizarra.

"Gente bizarra" nada Joel. Falariam pior de você. Me peguei olhando para minha mão por um tempo, relembrando da força e da fúria que tive quando meu poder despertou pela primeira vez. E agora preciso conhecer ele melhor para não ser escravo dele.

Comecei a analisar o quarto. Ele já dava metade da minha casa: aquele lugar e um trailer de redneck eram quase a mesma coisa. Se eu esticasse as pernas no meu quarto, encostava na parede com minha nuca na outra. Aqui posso me esticar. Lavei o rosto, mijei. Tirei as coisas da minha mochila e botei nos armários. Botei algumas fotos dos colegas do teatro na escrivaninha próximo do notebook (nunca tive um desses). Tinha mais uma foto minha com o pai e a mãe (de uma época onde eu não tinha esse corpo). Cabelos longos castanhos claros e sardas no rosto. Eu me pegava.

Até agora, tirando a Zoe, tá todo mundo meio tímido e tô ok com isso. Vai ser difícil para me acostumar também e espero nenhum engraçadinho resolver tirar onda comigo.

Depois de alguns minutos, sou levado para a academia.