Jack escreveu:—Acalmem-se, rapazes, essas viagens longas são boas oportunidades de aprendizado além do trabalho... Meu amigo Dasdingul, o invisível, vai nos dar uma visão melhor sobre o que esta a frente.
Jack conseguiu acalmar os rapazes, de modo que pareciam mais descontraídos e ligeiramente confiantes. Pelo menos agora não atirariam na própria sombra. Isso foi muito oportuno principalmente ao cair da noite, quando a caravana avançava quase às cegas tentando chegar ao seu ponto de parada.
A jovem Ellen Chappel mostrou-se simpática à abordagem de Raine, diferente da maioria do resto da caravana, que a encarava atemorizada enquanto caminhava com seu manto de caveiras a ocultar-lhe do Sol. A moça era uma trabalhadora séria e competente, dominando facilmente a carroça e demonstrando aptidão sobre o ofício de mercador que herdara do pai. Mas também era acessível, com palavras educadas e sorrisos discretos. Mostrou-se interessada em Raine e em conhecer a história da sombria mulher de preto.
Hope´s End era um vilarejo tão pequeno quanto poderia ser, um pequeno número de casas de cada lado da estrada, e apenas duas grandes edificações no limite da cidade oposto ao do qual vinha a caravana.
Sanes escreveu:- Noite - disse sorrindo - Uma caneca da melhor cerveja que tem. Sabe alguma noticia interessante da região e algo estranho que tem na estrada pra frente?
A procura de Sanes por uma taverna causou risos em aluns dos mais experientes da caravana, e Bert logo o acudiu com um sorriso divertido:
- Só há um estabelecimento aqui em Hope´s End, meu caro! É tão insignificante que nem sequer tem um nome! Haverá camas apenas para os nossos ricos senhores e o resto de nós se acomodará no celeiro junto às carroças, mas com certeza poderemos ao menos beber um pouco antes de dormir! Se não estivesse bem na divisa entre Mordent e Dementlieu, esse lugar não duraria em nenhuma outra parte! Mas pode ir na frente e beber um pouco, eu e os rapazes trataremos dos cavalos e logo nos juntaremos a vocês!Tal como Bert dissera, o povoado era extremamente simplório, e a chegada da caravana ao anoitecer fez com que alguns aldeões viessem às janelas e portas para cehcar desconfiadamente do que se tratava.
Bert era extremamente cuidadoso e carinhoso com os cavalos, e fez questão de desatrelar um a um, checando suas condições e alimentando-os antes dele mesmo ir beber, o que demandou um bom tempo.
Mas Sanes foi um dos primeiros a entrar na taverna sem nome. Era um salão de porte mediano, com longas mesas e bancos comunais, dando para uma porta que levava às dispensas. Uma mulher idosa de vestido castanho e lenço na cabeça, aparentando ter acordado há poucos segundos, apresentou-se para servi-lo. A cerveja servida em uma caneca de lata era águada e amarga, de um tipo barato, e estava apenas fria, não gelada.
A velha respondeu de modo esquivo:
- Está tudo em ordem, meu senhor. Tudo correndo normalmente.Segundos depois, os outros membros da caravana também entraram no salão. Como Bert previra, Ebenezer e sua filha Ellen, Barnabas Black e a família Spratt prontamente pediram suas camas, recusando quaisquer comida ou bebida, e os outros viajantes tiveram que aguardar enquanto a velha e uma mocinha que a ajudava conduziam os mercadores aos aposentos antes de poderem servir as bebidas que quase todos ansiavam.
Bert foi o último a chegar ao salão, muito depois dos outros, mas pôs-se a beber avidamente, rindo, brincando com todos e contando histórias de viagem.
Os mais cansados da jornada já se retiravam para o celeiro, procurando alguma pilha de palha confortável para repousar.