SEVEN WONDERS

Divertida, Yerin sorri com o jeito de sua mãe e retribui o beijo dela antes que ela vá para seu quarto. A jovem tinha orgulho do jeito que sua família era, diferente de uma família tradicional coreana. Afinal, que família dava beijos antes de ir dormir ou irmãos que se davam tão bem como ela e Changkyun ao ponto de terem tanta intimidade?

- Boa noite, eomma! Eu vou cuidar do cabeção do Kukyunnie, pode deixar.

Já mais relaxados, eles viam TV e lanchavam, mas ela ainda mexia em seu notebook pesquisando coisas sobre o tal Lee. Ela sentia que poderia encontrar algo bom, um furo, só precisava se dedicar mais.
Ela sorriu com a postura do irmão em querer ir até a delegacia e concordou com ele.

- Claro que eu vou, Kukunnie. Prefiro pela manhã por causa da faculdade - ela se aproximou dele e bagunçou seu cabelo e depois deu um beijo no topo da cabeça - eu sabia que você iria lá se desculpar com aquele ogro. Você é um gentleman.

Seu irmão lembrou de algo que interessou muito a jovem.

- Espera, ele estava pedindo desculpas? Para a garota da foto? Interessante - o brilho no olhar dela era conhecido do rapaz, ela não iria sossegar até arrancar todo o potencial da historia - você é ótimo, maninho!

De fato ela passou muito tempo pesquisando, até Changkyun se cansou de esperar, era quase como se ele sobrasse ali naquela relação entre a garota e seu computador.

- Boa noite, maninho - ela se virou quando ele subiu para o quarto - pode me chamar. Desculpa não te dar mais atenção, mas não posso perder minha linha de raciocínio. Até amanhã!!!

Ela mergulhou de cabeça na internet e não sossegou até ter informação suficiente sobre o rapaz. Ela não se sentia cansada e foi longe, até o raiar do dia. Ao menos tinha conseguido informações valiosas, apesar de achar triste remexer com história sobre mortos, conseguir um endereço de uma tia era muito válido. Talvez ela fosse até lá.

- Nossa! Já amanheceu - ela se espantou com tempo que passou pesquisando e decidiu que viraria a noite. Dormir já não valia mais a pena, então ela desligou seu note e foi para o quarto tomar banho, depois prepararia as coisas para entregar ao delegado: imprimiu as fotos e os áudios ela colocou em um dos muitos pen-drives que ela ganhava de brinde. Em suas redes sociais ela desejava bom dia aos seguidores e postava stories: "Indo fazer o bem" em uma foto do pen-drive bem produzida. Ela já estava pronta e aguardando o irmão acordar, mas ela estava ansiosa demais e acabou acordando Changkyun.

- Acoradaaaaaaa, bebê - ela se jogou em cima dele com um travesseiro para não machuca-lo - sua irmã maluquinha já está de pé - falou com agitação, sentou ao lado dele e com o travesseiro ficou batendo nele para ele acordar - acorda Kukunnieeeeee - ela se levantou e sentou em sua própria cama pensando que se soubesse que ia virar a noite, teria cedido a cama ao irmão - vamos logo nessa delegacia que eu ainda tenho muita coisa para fazer hoje. Vou esperar você lá embaixo para o dejejum.

Ela desceu e deixou o irmão à vontade, ligou a tv para ver as notícias e ajudar a mãe na cozinha com a refeição matinal.

- Estou ansiosa para ir à delegacia inocentar aquele troglodita e o Changkyun vai se desculpar também. Que fofo! E acho que depois eu vou para Ulsan... - ela mordeu uma maçã e voltou para a sala - anda Changkyun - ela gritou para o irmão que parecia levar uma eternidade para descer tamanha era sua agitação.

No caminho para a delegacia, ela foi a pé com o irmão até uma conveniência para comprar alguns energéticos que ela iria consumir durante o dia, de lá pegariam o metrô, rápido e tranquilo.

As informações estavam bem guardadas na memória de Yerin quando ela se preparou para o novo dia. Acreditou que Changkyun se levantaria em breve e rumou para o delicioso café da manhã.

- Que boa ideia, appa – ela se empolgou com a ideia e o carinho do pai – obrigada. O senhor é um anjo! – ela guardou a marmita que seus pais fizeram para ela e aguardou o amigo descer para o café.

Ele demorou para descer e ela tinha pressa.

- Você disse que já desceria e tenho certeza que voltou a dormir – ela tentou ficar brava com ele, mas não conseguia – dormiu bem, maninho? E não é pressa, é só ansiedade. Estou animada... – ela mordiscava seu bolinho de arroz matinal.

Eles foram tranquilamente para a delegacia, não tinham pressa, mas era visível que Yerin não estava normal.

- Eu podia ter feito isso ontem, mas a raiva não me deixou. Eu sou um monstro, não é mesmo? – ela batucava os dedos nos joelhos.

Já na delegacia, ela entregou as provas para o delegado e contou o que sabia, como sem querer ouviu a conversa da moça com a amiga. Aguardou com o irmão a chegada de Lee que estava em péssimo estado e observou o irmão se desculpar. Ela sentiu-se péssima ao ver o estado do agressor e, por tudo que pesquisou, sentiu-se mal por ele. O tal Lee também parecia sincero ao se desculpar e Yerin seguiu o irmão e fez o mesmo.

- Lee ssi – ela se curvou também – quero que me desculpe por ontem. Eu era apenas uma irmã preocupada e me excedi com você. Mas vim remediar isso... Deixei com o delegado as provas da sua inocência. Meu celular foi periciado para validar as informações e... bem... a partir daqui é com vocês... Você e a moça mau-caráter – ela se aproximou do irmão e segurou em seus ombros já o guiando para saída quando se lembrou de algo – a propósito, eu tenho um canal no Youtube, caso você queira dar a sua versão da história... Bem, é isso. Passar bem e sucesso... – e antes de sair da sala ela se vira para ele uma última vez -  e tente não se meter em encrencas – era um cutucão, mas um desejo sincero, por mais que isso lhe rendesse muitas views, afinal, ela não era ela que causava os infortúnios, ela só os repassava para os interessados, os internautas.

A dupla saiu e a moça ficou feliz ao rever seu jeep intacto e entrou.

- Quer uma carona, Kukkunnie? – sorriu para o irmão – daqui eu vou para Ulsan e você?

O sorriso sincero e o afago de seu irmão deram uma revigorada na moça, que se sentia preocupada e culpada com toda aquela situação. Ela sorriu e retribuiu o carinho.
Na delegacia ela esperou por mais malcriação por parte do Lee, mas ela se surpreendeu por não ter acontecido. Ele devia mesmo estar muito abalado. Ele ouviu as explicações e desculpas de Yerin com espanto e a moça foi surpreendida com a resposta dele, ela realmente achava que ele fosse recusar.

- Yerin... acredite, você vai me achar – ela sorriu – acredito que não ficará muito tempo aqui já que é inocente. Passar bem!

Antes de entrar no carro, ela ofereceu uma carona que foi recusada por Changkyun, mas isso não tinha sido pior do que ela ouviria em seguida.

- O que? – ela deu um coquinho no cocuruto dele – você vai se encontrar com ela mesmo depois de tudo isso? Francamente, Kukkunnie... um pouco de amor próprio não dói, sabia? – ela suspirou – olha... eu fiquei tentando falar com ela ontem a noite toda e nada. Se ela terminou com você porque gosta de outro, você deveria seguir sua vida e recomeçar. – Ela notou que foi rude com o menino e amenizou sua fala – mas... de fato acho que vocês preTcisam conversar... ou você precisa... Bom, boa sorte com isso. Só quero que tudo se resolva da melhor forma. Ela é minha amiga e acredito que também não foi fácil para ela – Yerin segura as duas bochechas fofas do irmão como despedida e parte com seu jeep para Ulsan.

No caminho, como sempre, ela ia escutando música e gravando alguns stories para suas redes sociais, afinal, estava na estrada em uma longa viagem e com paisagens diversas. Não disse dessa vez para onde estava indo por precaução. Em Ulsan, não foi difícil achar a casa da senhora Son Sook e mesmo sem graça, a menina não desmentiu ser namorada do Lee.

- Ah... namorados? Eu fico um pouco tímida com isso – ela não sabia onde enfiar a cara, mas era parte do seu trabalho investigativo e agora que já estava ali não tinha como voltar atrás – eu e o Lee... o Kwon-a – ela mudou depressa a colocação para parecer mais natural – somos muito discretos. Ele está bem... A agenda dele é muito cheia, sabe como é...

Yerin respira fundo e segue com a história e vai ficando cada vez mais chocada com o que ouve da mulher. Ela realmente não esperava algo assim.

- Um teste? Ah... ele não me disse nada sobre isso... – isso era bombástico e problemático ao mesmo tempo. Yerin jamais teria coragem de abordar algo assim com o Lee – mas eu vou conversar com ele sim. Esperar ele comentar... Senhora Son – ela segurou nas mãos da mulher – eu desobedeci ao Kwon-a. Ele queria me trazer pessoalmente, mas a agenda dele sempre tão cheia o impede. Vim sem o consentimento dele, queria tanto conhecer a senhora. Se a senhora puder não comentar com ele que estive aqui eu agradeceria muito. Sei que ele me trará aqui em breve.

Yerin se despediu da mulher após ter certeza de que ela não contaria nada para o Lee e foi para o seu carro pegar a estrada novamente. A história não saia de sua cabeça. Parou em uma conveniência na estrada, mas estava sem apetite para provar a marmita da mãe, apenas foi lavar o rosto no banheiro.

- Ah, Yerin - ela se encarava no espelho - acho que você foi longe demais nessa história - suspirou - eu não vou publicar isso. Não serei eu a causar dor a essa família mais do que eles já têm. É isso…

Voltou para o carro e rumou para Seul, sem certeza de que chegaria a tempo da aula, já que Ulsan era do outro lado do país, quase 4h de viagem, só chegaria a noite em casa.